As Testemunhas de Jeová e o Regime de Hitler

Mehmet Aslan

Índice:


Parte 1: As Alegações 'Heróicas' das Testemunhas de Jeová


As 'alegações heróicas das Testemunhas de Jeová' a respeito da era de Hitler são documentadas na revista Despertai! de 22 de agosto de 1995. O título dessa edição era "O Holocausto -- Quem denunciou? 50.° aniversário da libertação dos campos de concentração 3-15".

Logo na página 2 fica claro que as Testemunhas de Jeová fizeram isso (embora o nome delas não seja mencionado, é esse o sentido de todo o artigo) e 'denunciaram'. Lemos:

"uma voz há anos expunha as atrocidades nazistas. Mas, quem deixou de denunciar?" (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 2)

Num artigo intitulado "Uma voz no silêncio" as declarações da revista tornam-se mais claras. Novamente, é levantada a pergunta:

"Quem denunciou? Quem se omitiu? [...] No entanto, mesmo antes [itálico no original] da instalação dos campos de morte, uma voz proclamava os perigos do nazismo, por meio de Despertai!, a revista que você tem nas mãos. Originalmente chamada de A Idade de Ouro, mudou de nome para Consolação, em 1937. A partir de 1929, essas revistas, publicadas pelas Testemunhas de Jeová, alertaram corajosamente a respeito dos perigos do nazismo, mostrando-se à altura do que proclamava a capa: "Jornal de realidade, esperança e coragem". [...] Enquanto o mundo em geral desconhecia [...] as Testemunhas de Jeová não podiam se calar [...] e não temiam denunciar." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 3)

1. Na revista, alega-se que a partir de 1929 as Testemunhas de Jeová alertaram corajosamente a respeito dos perigos do regime de Hitler.

2. Alega-se que "Enquanto o mundo em geral desconhecia [...] as Testemunhas de Jeová não podiam se calar".

Nas páginas 4 e 5, são dadas as razões por que elas alegadamente "não temiam denunciar":

"Em retrospecto, pode-se dizer que o choque entre as Testemunhas de Jeová e o nazismo, ou nacional-socialismo, era totalmente inevitável. Por quê? Por causa de intransigentes exigências nazistas que esbarravam em três das fundamentais crenças bíblicas das Testemunhas de Jeová: (1) Jeová Deus é o Soberano Supremo. (2) Os cristãos verdadeiros são politicamente neutros. (3) Deus ressuscitará os que lhe forem fiéis até a morte. [...] Imitando os apóstolos de Jesus, elas "não fazem parte do mundo". (João 17:16) São politicamente neutras." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, pp. 4, 5)

3. Na revista alega-se que o choque era totalmente inevitável porque "Os cristãos verdadeiros são politicamente neutros".

Mais uma vez a revista repete a alegação de que logo em 1929, as Testemunhas de Jeová tinham enfrentado o regime de Hitler. Na página 6 dizem:

"Em 1929, mais de três anos antes de Hitler chegar ao poder, a edição em alemão de A Idade de Ouro destemidamente declarou: "O Nacional-Socialismo é ... um movimento ... diretamente a serviço do inimigo do homem, o Diabo."" (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 6)

4. Na revista, é feita a alegação de que a revista A Idade de Ouro em 1929 tinha publicado esta declaração:

"O Nacional-Socialismo é ... um movimento ... diretamente a serviço do inimigo do homem, o Diabo."" (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 6)

Sob o subtítulo "Começam os ataques", a revista tenta descrever como foi que finalmente as Testemunhas de Jeová foram banidas sob o regime de Hitler; na página 7 dizem:

"A inabalável neutralidade das Testemunhas de Jeová e sua lealdade ao Reino de Deus eram inaceitáveis ao governo de Hitler. Os nazistas não pretendiam tolerar qualquer recusa de apoio à sua ideologia." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 7)

Segundo a revista, a conseqüência foi esta:

"Logo depois do congresso em Berlim, os nazistas voltaram a confiscar a sede em Magdeburgo, em 28 de junho de 1933. [...] Logo as Testemunhas passaram a ser despedidas do emprego. [...] Apesar desses ataques iniciais, as Testemunhas de Jeová mantiveram-se firmes e denunciaram publicamente a opressão e a injustiça." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 7)

5. Na revista, alega-se que, em 28 de junho de 1933, as Testemunhas de Jeová foram banidas devido à sua posição de "neutralidade".

Na página 8 é explicado como as Testemunhas de Jeová alegadamente expuseram [ou denunciaram] as atrocidades do regime nazi. Na página 9 dizem:

"As Testemunhas de Jeová foram os primeiros alvos dos abusos nazistas, mas elas também denunciaram com veemência as atrocidades contra os judeus, os poloneses, os deficientes físicos e outros." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 9)

6. A revista alega que as Testemunhas de Jeová também denunciaram o sofrimento de outras pessoas -- incluindo o dos judeus. Depois, nas páginas 10-13, é documentado como as Testemunhas prosseguiram denunciando Hitler. No último artigo desse número da revista, intitulado "Por que as igrejas se calaram", as igrejas da cristandade são condenadas nos termos mais fortes, por terem sido negligentes em enfrentar o regime de Hitler. Na página 14 a revista apresenta a seguinte razão para explicar por que as igrejas se calaram:

"É que o clero da cristandade e seus rebanhos haviam abandonado os ensinos da Bíblia e preferido apoiar o Estado político." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 14)

A seguir ao subtítulo da página 15, a revista fala de modo muito arrojado:

"As Testemunhas de Jeová são totalmente diferentes das religiões do mundo. Não sendo parte do mundo, não participam nas guerras das nações. [...] Sim, obedecendo às instruções de Cristo, elas têm amor entre si. (João 13:35) Isto significa que jamais vão à guerra nem ferem intencionalmente outros. [...] A professora Christine King arrematou muito bem a questão: "As Testemunhas de Jeová realmente denunciaram. Denunciaram desde o início. Denunciaram em uníssono. E denunciaram com tremenda coragem, o que é uma lição para todos nós." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 15)

Ninguém pode negar que as Testemunhas de Jeová foram perseguidas sob o regime de Hitler. No entanto, será que a História prova mesmo que o comportamento delas durante esse regime foi tão impecável como elas descrevem?

[N. do T.: as partes seguintes desta série de artigos escritos por Mehmet Aslan mostrarão que as 'alegações heróicas' das Testemunhas de Jeová são falsas.]

Os fac-símiles incluídos na edição alemã da revista Despertai! [de 22 de agosto de 1995], scaneados a 300 dpi, estão disponíveis no CD-ROM "Jehovah's Witnesses Database" [Base de Dados Sobre as Testemunhas de Jeová] que pode ser comprado de Herbert Raab, Lübecker St. 40, 45145 Essen, Germany.


Parte 2: Cortejando o Favor de Hitler: A Atitude das Testemunhas em Relação ao Serviço Militar


Na revista Despertai! de 22 de agosto de 1995 as Testemunhas de Jeová alegam:

"Em retrospecto, pode-se dizer que o choque entre as Testemunhas de Jeová e o nazismo, ou nacional-socialismo, era totalmente inevitável." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 4)

Não existiam tantos motivos para fricção com o regime de Hitler como se poderia pensar, sendo a razão principal [para a ausência de fricção] que as Testemunhas de Jeová tomaram uma posição a favor do serviço militar. A maioria das Testemunhas de Jeová sabem que algumas delas foram para o campo de batalha na Primeira Guerra Mundial; no entanto, geralmente não sabem que não foi a falta de entendimento que motivou isso (contrariamente ao modo como as coisas são hoje retratadas na literatura das Testemunhas de Jeová), mas a razão foi que essa era uma doutrina oficial da associação deles.

Por exemplo, na página 13 da Sentinela de 1.º de maio de 1996 dizem:

"Já em 1886, Charles Taze Russell escreveu no livro The Plan of Ages (O Plano das Eras): "Nem Jesus nem os Apóstolos interferiram de algum modo nos assuntos dos governantes terrestres.... Ensinavam à Igreja a obedecer as leis e a respeitar os em autoridade por causa do seu cargo, [...]" Alguns entendiam isso como significando sujeição total aos poderes existentes, mesmo a ponto de aceitar serviço nas forças armadas durante a Primeira Guerra Mundial. [...] É óbvio que se precisava dum entendimento mais claro da sujeição do cristão às autoridades superiores." (A Sentinela, 1.º de maio de 1996, p. 13, §12)

Como é que a revista diz? "É óbvio que se precisava dum entendimento mais claro da sujeição do cristão às autoridades superiores." Que uma questão com a importância de saber se era permitido a um cristão tornar-se soldado pudesse ter ficado sem resposta, ou que eles tenham negligenciado em responder a essa questão, é apenas uma farsa. É razoável assumir que eles NÃO negligenciaram em responder a essa pergunta. Tal assunto surgiria INEVITAVELMENTE, visto que todo o homem das Testemunhas tinha de enfrentar na sua vida a questão de saber se devia prestar serviço militar ou não. Nesse caso, ele certamente estaria desejando ter um "entendimento mais claro", para usar a expressão da Sentinela.

A posição oficial das Testemunhas de Jeová sobre esta matéria encontra-se, por exemplo, no livro Berean Studies [Estudos Bereanos]. É uma espécie de comentário bíblico com curtas explicações da Bíblia, incluindo referências à literatura da Torre de Vigia. Assim, na página 567 desse livro, sob "Romanos 13:7", diz-se:

"Pode assumir-se que, considerando certas circunstâncias, até os militares são necessários, e que nós podemos corretamente ser recrutados para serviços militares." (Berean Studies [Estudos Bereanos], p. 567)

Essa é uma posição clara a favor do serviço militar, pois diz que as Testemunhas de Jeová podem "corretamente ser recrutados para serviços militares". Era assim que as Testemunhas de Jeová entendiam o assunto durante décadas, embora esta doutrina não fosse do agrado de todas as Testemunhas de Jeová e algumas delas não se vergassem a essa doutrina. Hoje, estas poucas Testemunhas de Jeová [que não obedeceram à posição oficial da organização de participação na guerra] são retratadas como heróis; nesse tempo elas agiram em harmonia com a sua consciência e em contraste com a doutrina da associação à qual pertenciam. E isso não agradou à Sociedade naquele tempo, tal como não agrada à Sociedade hoje quando as Testemunhas fazem o mesmo.

Mais algumas fontes que provam a posição das Testemunhas de Jeová sobre o serviço militar.

  • Zion's Watch Tower, 1.º de julho de 1898, página 204: diz que as Testemunhas de Jeová têm permissão para marcharem para a guerra, mas devem disparar para o ar e assustar o inimigo.
  • Zion's Watch Tower, 1.º de agosto de 1898, página 231: diz que não há qualquer ordem bíblica proibindo a prestação do serviço militar.

Desde a fundação da associação por C. T. Russell, o serviço militar era PERMITIDO. Era uma parte oficial da doutrina deles; isso fica muito claro a partir das revistas Zion's Watch Tower que citamos. Até que data, então, foi o serviço militar permitido para as Testemunhas?

A revista Der Wachtturm [edição em língua alemã da Sentinela] de 1.º de dezembro de 1939, página 360 diz que não há qualquer autorização para que os cristãos marchem para a guerra. Diz que eles devem permanecer neutros, e devem abster-se do serviço militar bem como de serviços alternativos [em substituição ao serviço militar]. (Segundo o livro Unidos na Adoração do Único Deus Verdadeiro [publicado em 1983], p. 165 e seguintes, as Testemunhas declararam publicamente que recusam serviços militares desde há 50 anos).

Tudo isto certamente não soa como se elas se tivessem comportando de forma neutra, contrariamente ao que as Testemunhas de Jeová alegam. Não foi senão pouco tempo antes da guerra que elas se pronunciaram contra o serviço militar. E o regime de Hitler nunca -- até 1.º de dezembro de 1939 -- acusou as Testemunhas de Jeová de recusarem a prestação do serviço militar.

Certamente Hitler sabia que as Testemunhas de Jeová (então chamadas Estudantes da Bíblia) tinham marchado para o campo de batalha na Primeira Guerra Mundial, e que elas eram soldados leais que cumpriam os seus deveres como cidadãos. Durante a Primeira Guerra Mundial, apareciam freqüentemente na revista Wacht-Turm (edição em língua alemã da Sentinela) relatórios sobre os irmãos que estavam na guerra, coisa que seria impensável hoje, considerando a presente atitude das Testemunhas de Jeová. A página 2 da Wachtturm de julho de 1915 diz:

"Dos nossos Irmãos no Campo [de Batalha]

"Visto que tantos dos nossos irmãos foram recrutados para o serviço militar (mais de 200), nós não deixamos de encorajar e agradar estes queridos irmãos através de cartas especiais e tratados na nossa melhor habilidade.

"Já recebemos uma grande quantidade de cartas e postais, e gostaríamos de compartilhar o nosso deleite com todos os irmãos reproduzindo estas cartas. No entanto, temos de nos contentar com transmitir os cumprimentos.

"Estes são os queridos irmãos que enviam os seus melhores desejos:

"R.Basau, H.Dwenger, F.Heß, W.Hellmann, H.Rothenstein, J.Finger, F.Jung, F.Balzereit, A.Degert, B.Buchholz, R.Weber, H.Brandt, W.Bader, H.Crämer, H.Hagen, W.Keller, W.Hüners, G.Zeglatis, P.Schmidt, Aug.Meier, H.Bäuerle, Aug.Meis, J.Kohlmann, W.Hildebrandt, M.Modes, M.Karl, R.Seifert, W.Micklich, M.Stein, O.Strube, J.Rodemich, G.Patzer, B.Martin, A.Oehler, H.Marksteiner, W.Huhle, B.Göldner, G.Petermann, O.Stephan, E.Morbach, C.Förster, F.Ensenbach, O.Oschee, H.Bobsin, H.Bongardt, J.Apostel, C.Labuszewski, O.Friedrichs, R.Elsässer, E.Bergerhof, F.Brüggert, M.Freschel, H.Foist, C.Conzelmann, F.Enkelmann, A.Hinz, H.Gutwill, O.Höhme, P.Sauerwein, F.Hilbich, J.Raschke, A.Krafzig, C.Jendral, A.Kreutle, E.Kipke, F.Keßler, Th.Kalkowski, F.Kownatzki, F.Kliegel, W.Wottmann, A.Noak, O.Speckmann, F.Nungesser, O.Neumann, C.Henningsen, M.Nitzsche, J.Masanek, F.Maske, K.Meyer, Oskar Meyer, W.Müller, W.Nölke, L.Niezboralla, A.Riedel. W.Rüttmann, J.Rohwer, H.Riedeberger, G.Rottmair, G.Salewski, A.Stähler, M.v.d.Steil, A.Stein, G.Stroot, A.Schulte, H.Scheuch, E.Vorsteher, H.Vollrath, K.Vogt, K.Stolte, O.Waldenburger, M.Unrecht, P.Werth, P.Wellershaus, M.Wnedt, W.Zahn, M.Zenk, A.Kröger, W.Sommerfeld.

"Estamos encantados por estes irmãos estarem de bom humor e fiéis ao Senhor, e pedimos a vós, queridos irmãos, que se lembrem deles intercedendo por eles junto conosco, pois este é o nosso dever e glorioso privilégio."

[O primeiro item no índice da edição de agosto de 1915 da Wachtturm [Sentinela] era "'Dos Nossos Irmãos no Campo [de Batalha]' -- página 114".]

A participação no serviço militar recebeu a bênção da organização da Torre de Vigia. A organização da Torre de Vigia fez o que pôde para "encorajar e agradar estes queridos irmãos através de cartas especiais e tratados". É uma farsa quando agora se alega que as Testemunhas de Jeová tinham agido daquela forma devido a falta de entendimento, pois a organização até tentou "encorajar e agradar" os irmãos no campo de batalha nessa situação. Já por dois mil anos a Bíblia dizia: "Não matarás", e este mandamento também estava ali na Bíblia em 1915. Certamente era improvável que alguém levantasse o dedo e perguntasse: "Será que aquilo que fazemos é absolutamente correto?", quando a Sentinela defendia a opinião de que as Testemunhas de Jeová podiam "corretamente ser recrutados para serviços militares".

Isso estava completamente de acordo com a linha de Hitler.


Parte 3: Cortejando o Favor de Hitler: A Atitude Anti-Semita dos Líderes das Testemunhas de Jeová


Além do fato de que as Testemunhas de Jeová tomaram uma posição a favor do serviço militar, existe ainda outro aspecto que estava de acordo com a linha de Hitler. Na revista Despertai! de 22 de agosto de 1995 faz-se a alegação:

"As Testemunhas de Jeová foram os primeiros alvos dos abusos nazistas, mas elas também denunciaram com veemência as atrocidades contra os judeus, os poloneses, os deficientes físicos e outros." [Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 9]

Não apresentam quaisquer referências -- além disso, a atitude das Testemunhas de Jeová para com os judeus era muito diferente daquela que eles descrevem acima e é uma atitude que eles têm tentado esconder: era anti-semita.

Até agora, não percebi muito bem por que Hitler abusou tanto dos judeus. Eles eram cidadãos normais que, talvez, tinham opiniões culturais diferentes mas diziam abertamente que eram cidadãos alemães, prestavam serviços ao Estado, pagavam os seus impostos, e cumpriam as suas obrigações militares.

Certamente esta era uma razão: o ódio infundado, e o dinheiro que iria parar a outros donos se os judeus fossem extintos.

Podia-se ouvir constantemente a acusação contra os judeus de que eles tinham um "espírito ganancioso". Palavras como ganância, gananciosos, etc., eram sempre usadas pelo regime de Hitler ao falar dos judeus. Certamente havia alguns judeus que trabalhavam de um modo desonesto -- tal como alguns não-judeus também. Mas a maioria deles tinham ganho o seu dinheiro de forma honesta, com diligência e dignidade, ou não? E não era o regime de Hitler realmente a ganância personificada?

Qualquer pessoa razoável podia ver através dessa loucura.

Será que a organização da Torre de Vigia foi capaz de denunciar essas atrocidades? Foram eles capazes de defender a dignidade humana para essas pessoas? Pelo menos, é isso o que a revista Despertai! afirma:

"As Testemunhas de Jeová [...] denunciaram com veemência as atrocidades contra os judeus, os poloneses, os deficientes físicos e outros." [Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 9]

Onde é que fizeram isso, e especificamente de que modo?

Durante o famoso congresso de Berlim-Wilmersdorf, realizado em 25 de junho de 1933, foi adotada uma Declaração especial. Nesta Declaração, lemos:

"Esta companhia de povo alemão, que são cidadãos pacíficos e obedientes à lei de todas as partes da Alemanha, todos eles trabalhando honestamente para o mais alto bem estar do povo desta terra, estando agora devidamente reunidos em Berlim neste 25.º dia de junho de 1933 A.D., declaram alegremente a nossa completa devoção a Jeová, o Deus Todo-Poderoso." [Fonte: The Christian Quest, Vol. 3, No. 1, pp. 61-69]

O modo como as Testemunhas de Jeová estavam "trabalhando honestamente para o mais alto bem estar do povo desta terra" é rapidamente tornado claro nessa Declaração. Antes de ir ao ponto central da questão, esse documento diz:

"Quando Jesus foi ter com os judeus para lhes dizer a verdade, foi o clero judeu, quer dizer, os Fariseus e sacerdotes, que se opuseram violentamente a ele". [Fonte: The Christian Quest, Vol. 3, No. 1, pp. 61-69]

E depois as Testemunhas de Jeová falam de forma muito clara:

"Judeus

"Através do termo 'clero', tal como é usado na nossa literatura, é feita referência à classe de professos instrutores religiosos, sacerdotes e jesuítas que empregam meios políticos impróprios para atingir os seus fins e juntar forças até mesmo com aqueles que negam Deus e o Senhor Jesus Cristo. Essa é a mesma classe a quem Jesus se referiu como seus perseguidores. Nós não temos qualquer criticismo em relação a qualquer instrutor religioso honesto." [Fonte: The Christian Quest, Vol. 3, No. 1, pp. 61-69]

A quem se referem eles quando falam dessa "classe a quem Jesus se referiu como seus perseguidores"? O título desse parágrafo responde:

"Judeus"

Agora as Testemunhas de Jeová são mais do que bruscas:

"Têm sido os judeus comerciantes do império britânico-americano que construíram e têm mantido os Grandes Negócios como um meio de explorar e oprimir os povos de muitas nações." [Fonte: The Christian Quest, Vol. 3, No. 1, pp. 61-69]

Isto segue precisamente a linha do regime de Hitler. O povo alemão conhecia essa fraseologia. Os judeus: eles são os Iníquos, os Exploradores e os Opressores. Certamente alguns judeus tinham a sua parte nos Grandes Negócios, mas deles também eram empregadores de muitas pessoas que de outro modo estariam desempregadas. Sem dúvida também existiam alguns judeus desonestos, mas suprime-se [na Declaração] que muitos judeus eram pessoas de mentalidade bastante social [com preocupações sociais]. O tratado continua:

"Este fato aplica-se particularmente às cidades de Londres e de Nova Iorque, o baluarte dos Grandes Negócios. Este fato é tão manifesto na América que até existe um provérbio a respeito da cidade de Nova Iorque que diz: 'Os judeus são os donos dela, os católicos irlandeses governam-na, e os americanos pagam as contas' [...] Resolvem, que cópias desta Declaração sejam respeitosamente entregues a altos funcionários do governo e que seja dada à mesma [Declaração] grande publicação para o povo, para que o nome de Jeová possa ser mais conhecido.

"Watch Tower Bible and Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados],

"Magdeburgo" [Fonte: The Christian Quest, Vol. 3, No. 1, pp. 61-69]

Embora as Testemunhas de Jeová concluam o seu tratado desejando "que o nome de Jeová possa ser mais conhecido", certamente o modo correto de conseguir isso não é espalhando palavras cheias de ódio contra um grupo que de qualquer modo já estava a sofrer muito.

E se as Testemunhas de Jeová pretendiam dar a esse tratado uma "grande publicação", é amplamente conhecido que elas se aplicaram de forma séria e decidida a isso: 2.500.000 cópias dessa campanha de ódio foram metidas nas caixas de correio e inflamaram ainda mais o ódio contra os judeus.

Este documento de 1933 prova que as Testemunhas de Jeová tiveram a sua quota parte de responsabilidade, de modo que as atrocidades contra os judeus não foram condenadas, mas antes aprovadas pelas Testemunhas de Jeová.

A revista Trost (a edição alemã da Consolation [Consolação, o antigo nome da revista Despertai!]) de 15 de julho de 1938 também prova que os judeus não eram bem vistos pelas Testemunhas de Jeová. Em seções dessa revista, as Testemunhas de Jeová dizem que os judeus eram "aliados dentro da organização do Diabo".

Dizem ainda isto:

"Os Judeus na Palestina

"Por esta razão os olhos deles estão cegos e os ouvidos deles estão surdos para a verdade de Deus. As coisas que Deus disse através dos seus profetas para o seu povo apóstata desde tempos imemoriais, hoje estão muito atualizadas. Tal como eles confiaram na 'Vara do Egito' em vez de em confiarem em Jeová, eles agora confiam na Inglaterra. De forma muito eloqüente, os judeus ingleses tentam convencer o governo inglês de como a Inglaterra precisa de um estado político judaico na palestina por razões imperialistas inglesas, e de quão leais são os judeus hoje são ao Império Britânico, e que eles estão mais uma vez preparados para derramar o seu sangue por esse império.

"Assim, aqui mais uma vez no seu antigo país nativo, este povo segue um caminho sem o conhecimento de Jeová e do seu Rei ungido Jesus, o Messias. Através de meios e pensamentos humanos eles tentam tomar posse desse país, e eles não vêem como Jeová continua a 'tirar as rodas dos seus carros' para que eles não alcancem os fins estabelecidos por eles mesmos. Eles clamam por mais 'religiosidade' tal como todos os outros aliados dentro da organização do Diabo. Os judeus também estão cegos para com o fato de que a 'velha bruxa' em Roma devota toda a sua energia para impedir que os judeus se tornem independentes. Os sacerdotes dela são os agitadores mais maliciosos; os seus 'lugares santos' ficam em perigo, clamam eles, se os judeus se tornarem mais numerosos! É por isso que a Inglaterra, no seu acordo com a Itália, tem de garantir os 'justificados interesses italianos (isto é católicos)'; nomeadamente, o direito de a 'velha bruxa' embaçar as mentes das pessoas pobres nas suas escolas e mosteiros para por fim sangrá-los até ficarem brancos.

"Os judeus são a epítome do fato de quão terrível é não estar sob as bênçãos de Jeová. Separados da graça de Deus, também aqui eles andam agitados. Semeando ventos, eles estão ceifando tempestades! Por quanto tempo mais?" [Trost (Consolação), de 15 de julho de 1938]

Foi essa a pergunta feita pela revista. Não por muito mais tempo! Hitler já tinha os seus planos para os judeus, e as Testemunhas de Jeová apoiaram a campanha de ódio contra os judeus.

Hitler deve ter ficado satisfeito com isso. Muito satisfeito.


Parte 4: Cortejando o Favor de Hitler: A Declaração de 25 de Junho de 1933


Na edição de 22 de agosto de 1995 da revista Despertai!, página 4, diz-se:

"Em retrospecto, pode-se dizer que o choque entre as Testemunhas de Jeová e o nazismo, ou nacional-socialismo, era totalmente inevitável." (Despertai!, 22 de agosto de 1995, p. 4)

De fato, não há dúvida absolutamente nenhuma que o choque era inevitável. Embora as Testemunhas de Jeová tivessem tomado uma posição a favor do serviço militar e tivessem participado na iníqua campanha de ódio contra os judeus, esta associação aborrecia Hitler intensamente. Talvez isso se devesse ao fato de a 'mãe' americana apoiar a 'filha' alemã.

Em 24 de junho de 1933 as Testemunhas de Jeová e a sua organização foram banidos. (A causa para esse banimento será estudada na Parte 5). No dia seguinte, as Testemunhas de Jeová realizaram um congresso em Berlim-Wilmersdorf -- sendo o objetivo, agora que estavam banidas, proclamar publicamente que as Testemunhas de Jeová -- exceto pelas suas opiniões religiosas -- estavam em completa harmonia com o regime de Hitler e APOIAVAM-NO.

Na seqüência da assembléia de Berlim, foi lançada uma campanha de ódio na forma de um tratado e foi publicada uma Declaração [ou carta] para o Chanceler do Reich -- que não era outro senão o próprio Hitler.

Para as Testemunhas de Jeová hoje, o conteúdo da carta é profundamente repulsivo. Eis o que a carta dizia:

"SOCIEDADE TORRE DE VIGIA
"DE BÍBLIAS E TRATADOS
"EDITORES DA ASSOCIAÇÃO DOS ESTUDANTES DA BÍBLIA

"ESCRITÓRIOS GERAIS: RAMO ALEMÃO:
"117 ADAMS STREET WACHTTURMSTR: 1-19
"BROOKLYN MAGDEBURG
"NEW YORK, USA POSTSCH.-K.: MAGDEBURG 4042

"TELEPHONE, MAGDEBURG 405 56, 405 57, 405 58
"RADIO AND CABLE ADDRESS: WATCHTOWER MAGDEBURG

"Caro Chanceler,

"Em 25 de Junho de 1933, no Sporthalle Wilmersdorf, em Berlim, houve uma conferência de aproximadamente 5.000 Estudantes da Bíblia (Testemunhas de Jeová), representando diversos milhões de alemães que são amigos e seguidores deste movimento por muitos anos. O objetivo desta conferência, à qual compareceram representantes de todas as comunidades de estudantes da Bíblia da Alemanha, foi encontrar meios e formas de informar ao Chanceler, bem como a outras altas autoridades do Reich alemão e o governo de seus países individuais do que se segue:

"Em diversas partes do país, ações estão sendo tomadas contra uma corporação de sérios cristãos, homens e mulheres, que tem no cristianismo positivo o seu fundamento. Devido à sua origem, tais ações só podem ser descritas como perseguição de cristãos contra outros cristãos, já que as acusações -- as quais tem levado a tais ações contra nós -- provêm primariamente de clérigos, especialmente católicos, e são inverídicas.

"Estamos absolutamente convencidos da imparcialidade das autoridades do governo que lidam com esta situação. Ainda assim, concluímos que o conteúdo de nossa literatura e o propósito de nosso movimento são amplamente mal interpretados em razão das acusações dirigidas a nós por nossos opositores religiosos e que poderiam resultar em um ponto de vista deturpado. Isto também poderia se dever ao volume de nossa literatura e a alta sobrecarga de trabalho sobre os respectivos funcionários.

"Por esta razão, os assuntos discutidos na conferência foram expostos na forma de uma declaração da Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, a fim de informá-lo, Sr. Chanceler, bem como as altas autoridades do Reich Alemão e seus países, com um documento, do fato de que os Estudantes da Bíblia da Alemanha têm apenas um objetivo em seu trabalho, a saber, conduzir as pessoas de volta a Deus e ser testemunhas do nome de Jeová, o altíssimo, o pai de Nosso Senhor e redentor aqui na terra, Jesus Cristo. Estamos convencidos de que o Sr. Chanceler não permitirá que tais atividades sejam perturbadas.

"As congregações dos Estudantes da Bíblia da Alemanha e seus membros são, em geral, conhecidos como respeitáveis defensores do Altíssimo e zelosos estudantes da Bíblia. As autoridades policiais locais deverão atestar o fato de que os Estudantes da Bíblia têm de ser contados dentre os elementos do país e seu povo que são conhecidos pelo seu amor e apoio à ordem. Sua única missão é conduzir os corações humanos a Deus.

"A Torre de Vigia de Bíblias e Tratados (situada em Magdeburg/Alemanha) é o centro organizador da missão dos Estudantes da Bíblia.

"A sede de Brooklyn da Sociedade Torre de Vigia é -- e sempre tem sido -- extremamente amigável à Alemanha. Em 1918, o presidente da sociedade e sete membros da diretoria nos Estados Unidos, foram sentenciados a 80 anos de prisão, por motivo de que o presidente se recusou a permitir que duas revistas nos Estados Unidos, as quais ele editava, fossem usadas para fazer propaganda de guerra contra a Alemanha. Estas duas revistas, "A Sentinela" e "Estudante da Bíblia" (mensal), foram as únicas revistas nos Estados Unidos que se recusaram a publicar propaganda anti-germânica e, por esta razão, foram proibidas e suprimidas na América durante a guerra.

"Da mesma maneira, no curso dos meses recentes, o conselho de diretores de nossa sociedade não apenas recusou engajar-se em propaganda contra a Alemanha, mas até tomou posição contra isto. A declaração anexa assinala este fato e enfatiza que as pessoas na liderança de tal propaganda de horror nos Estados Unidos (homens de negócios judeus e católicos) são também os mais severos perseguidores do trabalho de nossa sociedade e seu conselho de diretores. Esta e outras declarações destinam-se a repudiar a injuriosa acusação de que os Estudantes da Bíblia são apoiados pelos judeus.

"A conferência de 5.000 delegados recebeu a declaração do governador em Magdeburg com grande satisfação, o qual disse não se poder provar que haja qualquer relação entre os Estudantes da Bíblia e os Comunistas ou Marxistas, como foi declarado por nossos opositores religiosos (o que quer dizer que tais declarações não passam de injúria). Uma reportagem de imprensa no Magdeburg Daily News n.º 104, de 5 de Maio de 1933, diz:

""A declaração do governo referente à ocupação da sede dos Estudantes da Bíblia: O departamento de Imprensa emitiu a seguinte informação: 'A Ocupação da propriedade da Sociedade dos Sérios Estudantes da Bíblia em Magdeburg foi suspensa em 29 de Abril, já que nenhum material que confirmasse as atividades comunistas foi encontrado'."

"Outra reportagem no Magdeburg Daily News n.º 102, de 3 de Maio de 1933, diz:

""O escritório dos Estudantes da Bíblia informou-nos que as ações tomadas contra a Sociedade Torre de Vigia e a Sociedade dos Estudantes da Bíblia foram abolidas. Toda a propriedade foi devolvida já que uma ampla revista resultou em que nada pode ser afirmado contra esta sociedade, seja por atividades políticas ou criminosas. Também concluiu-se que ambas as sociedades são de natureza absolutamente apolítica e religiosa. A pedido, o governo confirmou a correção de tais declarações."

"A conferência de 5.000 delegados enfatizou que, em face destas circunstâncias, considerou aquém de sua dignidade até mesmo defender-se, no futuro, de quaisquer acusações desonrosas sobre atividades marxistas ou mesmo comunistas. Tal injúria refutada de nossos opositores religiosos indubitavelmente carrega o sinal da competição religiosa. O objetivo deles é sufocar um proclamador honesto por meios repulsivos ao invés de pelo uso da palavra de Deus.

"A conferência de 5.000 delegados também afirmou -- como expresso na declaração -- que os Estudantes da Bíblia da Alemanha estão lutando pelos mesmos elevados objetivos éticos e ideais, os quais o governo nacional do Reich Alemão proclamou no que se refere à relação dos humanos com Deus, isto é: a honestidade do ser criado em relação ao seu criador.

"A conferência chegou à conclusão de que não há quaisquer divergências entre os Estudantes da Bíblia da Alemanha e o governo nacional do Reich Alemão. Ao contrário, em relação aos objetivos puramente religiosos e apolíticos e o empenho dos Estudantes da Bíblia, pode-se dizer que estão em pleno acordo com os objetivos idênticos do Governo Nacional do Reich Alemão.

"Em razão do suposto linguajar áspero de nossa literatura, alguns de nossos livros foram banidos. A convenção de 5.000 delegados salientou que o conteúdo de nossos livros que foram desaprovados referiam-se apenas a circunstâncias no Império Mundial Anglo-americano e que este -- especialmente a Inglaterra -- deve ser responsabilizado pela Liga das Nações, pelo tratamento injusto e pelos fardos impostos à Alemanha. As coisas ditas no espírito acima mencionado são, desta forma, dirigidas -- quer em sentido financeiro, político ou Católico Romano -- contra os opressores do país e do povo alemão, não contra a Alemanha combatendo estes fardos. De modo que esta proscrição (contra a literatura dos Estudantes da Bíblia) não faz sentido.

"Em algumas partes do país os Estudantes da Bíblia são proibidos até mesmo de se reunirem para orações e serviços religiosos e, por muitas semanas, esperam por uma solução para esta situação, a qual é sufocante para suas vidas religiosas. Sobre esta situação, foi expresso o seguinte:

""Nós queremos viver de acordo com a proibição a nós imposta, pois estamos confiantes de que o Sr. Chanceler e o alto governo irão suspender tal proibição -- a qual força dezenas de milhares de homens e mulheres cristãos ao martírio que só pode se comparar ao dos primitivos cristãos -- após terem obtido entendimento da real situação."

"Finalmente, a conferência de 5.000 delegados expressou que tanto os Estudantes da Bíblia quanto Organização Torre de Vigia são pela manutenção da ordem e da segurança dentro do estado, bem como pela promoção dos elevados ideais do Governo Nacional no campo da religião. A fim de dar a conhecer tais coisas ao Sr. Chanceler e às outras altas autoridades do Reich, os sentimentos acima expressos de forma resumida foram expostos em detalhes na declaração anexa.

"A Declaração anexa foi lida pelo secretário aos 5.000 delegados da conferência dos Estudantes da Bíblia. Ela foi aprovada unanimemente e adotada com a instrução de se enviar uma cópia simples da mesma, juntamente com este relato da conferência, ao Sr. Chanceler e todos os outras altas autoridades do governo do Reich e seus países.

"Isto é feito com o mais respeitoso apelo de que o pedido expresso na declaração, seja recebido com favor: Ou seja, que uma comissão composta por nossos membros tenha a oportunidade de, pessoalmente, explicar a verdadeira situação ao próprio Sr. Chanceler ou ao ministro de assuntos internos. Alternativamente, pedimos ao Sr. Chanceler que designe uma comissão de homens que não tenham qualquer preconceito religioso contra nós -- homens que não tenham interesses profissionais religiosos, mas que estejam apenas interessados em aderir aos justos princípios como foram estabelecidos pelo próprio Chanceler -- para investigar nossa situação imparcialmente. Os princípios mencionados referem-se ao parágrafo 24 do programa do Partido Nacional socialista dos Trabalhadores Alemães (partido nazista), que diz:

""Nós reclamamos a liberdade de todas as denominações religiosas dentro do estado, conquanto que elas não ponham o próprio estado em perigo ou violem os valores morais da raça germânica.

"O partido, como tal, representa o ponto de vista do cristianismo positivo sem estar ligado a qualquer denominação particular. Ele luta contra o espírito judeu-materialista de dentro e de fora do país e está convencido de que uma recuperação duradoura de nosso povo só pode provir de dentro para fora."

"Estamos plenamente convencidos de que, uma vez tenhamos sido julgados imparcialmente, com base, primeiro, na palavra de Deus e, segundo, nos parágrafos acima mencionados, o governo nacional da Alemanha não encontrará qualquer razão para impedir nossos serviços religiosos e atividades missionárias.

"Ansiosos por sua gentil aprovação, a qual esperamos receber em breve, desejamos afirmar nossa mais alta estima ao honorável Sr. Chanceler.

"Sinceramente,
"Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados
"Magdeburg"

[Fonte: The Christian Quest, Vol. 3, No. 1, p. 77 e seguintes. Tradução para português de Odracir.]

A frase em que dizem: "Nós reclamamos a liberdade de todas as denominações religiosas dentro do estado, conquanto que elas não ponham o próprio estado em perigo ou violem os valores morais da raça germânica" estava em plena harmonia com o parágrafo 24 do programa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães [partido nazista]. Esse parágrafo era a declaração de guerra contra pessoas de origem ou crença judaica. Para enfatizar a sua posição anti-semita, as Testemunhas de Jeová também lançaram a campanha de ódio com o tratado.

Todas estas coisas não soam como se as Testemunhas de Jeová tivessem encarado seriamente as admoestações da Bíblia e da sua própria consciência a respeito da proteção da dignidade humana.

No entanto, não adiantou às Testemunhas de Jeová terem cortejado o favor de Hitler. Hitler continuou inflexível, e de uma forma cruel e desumana perseguiu essa associação -- tal como fez com todos aqueles que não se adaptavam às maquinações e ilusões dele.


Parte 5: Como as Testemunhas de Jeová Foram Ilegalizadas: O Caso de Ewald Vorsteher

Escrito por Mehmet Aslan · Editado por M. James Penton


A edição de 22 de agosto de 1995 da revista Despertai! é completamente omissa quanto à razão por que as Testemunhas de Jeová foram proscritas na Alemanha em 1933 ou como foi que passaram a ser perseguidas pelo regime de Hitler. As Partes 2, 3 e 4 desta série já demonstraram que originalmente os líderes e porta-vozes da organização que governa essa religião, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Nova Iorque, procuraram transigir com os Nazis em vez de os enfrentarem como têm alegado já há muito tempo.

A ordem de proscrição de 24 de junho de 1933 contra as Testemunhas de Jeová surgiu em resultado de um erro da parte das autoridades -- um erro pelo qual as Testemunhas de Jeová se deviam sentir dolorosamente embaraçadas hoje, pois esse erro prova que elas estavam muito prontas a transigir nos seus princípios.

Até agora as políticas das Testemunhas de Jeová têm geralmente sido descritas [por elas] como refletindo crédito sobre a sua história. A verdade -- tal como em muitos casos a respeito delas -- é muito diferente. Constitui uma condenação gravíssima dos líderes dessa religião que afirma ser 'o representante de Deus na terra', de fato, o único 'canal de comunicação' entre Deus e o homem.


Ewald Vorsteher

A base para a ordem de proscrição dos Nazis em 24 de junho de 1933 foi -- conforme já mencionado -- um erro da parte das autoridades. Os fatos são estes: em maio de 1933 a Gestapo fez uma busca na casa de Ewald Vorsteher. Eles encontraram escritos que denunciavam implacavelmente os objetivos anti-semitas e desumanos do regime de Hitler. Esses escritos diziam que os Nazis fizeram uso das mentiras mais iníquas jamais ditas por um partido político e que Hitler, Göring e Frick eram ministros latindo com sede de sangue; eles eram monstros semelhantes a Nero, cuja intenção era massacrar os seus oponentes. O sofrimento de vários grupos de pessoas foi completamente revelado e claramente condenado nesses escritos.

Ewald Vorsteher é um herói e a sua memória deve ser honrada. É por isso que a documentação aqui apresentada sobre as Testemunhas de Jeová e o Regime de Hitler é dedicada a ele.

Ele é um herói da fé cristã que lutou pela dignidade humana e estava disposto a nadar contra a onda do regime de Hitler e das Testemunhas de Jeová.

Em 1921 e 1922, Ewald Vorsteher, de Wuppertal-Barmen, era um trabalhador na filial da Sociedade Torre de Vigia em Barmen. Em 1923 ele foi desassociado ou excomungado por se ter conscienciosamente recusado a seguir as ordens religiosas e políticas do Juiz J. F. Rutherford, o presidente americano da Sociedade Torre de Vigia. Outros juntaram-se à volta dele, chamando a si mesmos 'Amigos da Verdade'. Os Nazis imputaram às Testemunhas de Jeová a responsabilidade pelas atividades de Ewald Vorsteher. Isto foi um erro da parte deles, mas deu-lhes uma base substancial para ilegalizar o movimento das Testemunhas.

As Testemunhas de Jeová ficaram embaraçadas pelas atividades de Vorsteher. Em vez de concordarem com os ataques muito justificados dele ao regime de Hitler, elas dissociaram-se de Vorsteher e condenaram-no severamente. Numa carta datada de 28 de janeiro de 1935, dirigida ao Nazi Home Ofice [Escritório da Sede Nazi], um dos representantes oficiais da Sociedade Torre de Vigia, Hans Dollinger, deixou claro que as Testemunhas de Jeová não estavam dispostas a ter nada que ver com as atividades de Vorsteher.

A carta diz:

"A causa da proscrição [das Testemunhas de Jeová pelo governo alemão] de 24 de junho de 1933, e o único incidente específico afetando essa proscrição, foi o relatório apresentado pelo chefe da polícia em Wuppertal em 31 de maio de 1933, Ref.-Nr. I Ad 60001. Este relatório foi dado erroneamente, como a sede da polícia de Wuppertal reconhece. O relatório da sede da polícia em Wuppertal foi dado com base na suposição de que o incidente em questão se relaciona com a Associação dos Estudantes da Bíblia [Testemunhas de Jeová]. Isto foi subseqüentemente reconhecido como um erro."1

Se as Testemunhas de Jeová queriam levantar as suas vozes em protesto contra os Nazis, como afirmam que fizeram na edição de 22 de agosto de 1995 da revista Despertai!, esta teria sido a sua melhor oportunidade para falar abertamente a este respeito. No entanto, em vez de concordarem com a denúncia do regime de Hitler feita por Vorsteher, elas dissociaram-se completamente dele e das suas atividades.

A carta de Dollinger citada acima prossegue dizendo:

"O incidente relatado pela sede da polícia, que depois levou à ordem proibitiva contra a Sociedade, consistia em acusações rancorosas contra o Chanceler do Reich, feitas por um certo Ewald Vorsteher de Barmen em 31 de maio de 1933, que foi preso imediatamente. [...] Depois de 1923, ele já não manteve qualquer contato com a Associação dos Estudantes da Bíblia, tendo a Sociedade, por seu lado, desassociado ele oficialmente (1923)."2

As Testemunhas de Jeová acusam Vorsteher de ter dirigido "acusações rancorosas contra o Chanceler do Reich". Será que os ataques de Vorsteher não eram justificados -- ataques contra o menosprezo da dignidade humana pelo regime de Hitler? Será que essas "acusações rancorosas" de Vorsteher não eram também ataques indiretos àquelas Testemunhas que tomaram uma posição de transigência e de anti-semitismo a favor de Hitler? As Testemunhas de Jeová não levantaram as suas vozes em defesa de Ewald Vorsteher, nem denunciaram a injustiça de Hitler e dos Nazis nesse tempo, contrariamente ao que querem fazer acreditar ao público em geral hoje. A carta de Dollinger conclui com as seguintes palavras:

"Este incidente [envolvendo Vorsteher] prova ser o único "material" específico levando à ordem proibitiva."3

Hoje, dificilmente qualquer Testemunha de Jeová ou membros neutros do público em geral sabem que, segundo o representante da Sociedade Torre de Vigia, esse foi o "o único "material" específico levando à ordem proibitiva." Se é assim, certamente isso não reflete nenhum crédito sobre a história das Testemunhas de Jeová.

Hitler e os Nazis não ficaram impressionados com o comportamento transigente das Testemunhas. A ordem proibitiva não foi alterada em resultado da carta de Dollinger. Uma carta posterior dele para o servo civil sênior do Reich, datada de 29 de janeiro de 1935, diz:

"Prezado Senhor:

"[...] A partir [da leitura] dessa cópia [do relatório do chefe da polícia de Wuppertal], fiquei dolorosamente a saber da coisa ultrajante que este homem chamado Vorsteher fez. Certamente posso compreender que o Estado Nacional Socialista não tolerará tal coisa."4

O representante da Torre de Vigia enfatizou como foi "ultrajante" o comportamento de Vorsteher e -- conforme diz a carta -- que o Estado Nacional Socialista, razoavelmente, não iria tolerar tal coisa.

Quanto ao comportamento "ultrajante" de Vorsteher, será que ele não fez aquilo que as Testemunhas de Jeová alegam hoje que fizeram, nomeadamente, enfrentar heroicamente o regime de Hitler desde o início?

Se há uma pessoa que podia ter corretamente alegado ter feito isso, era Ewald Vorsteher. Podemos imaginar qual deve ter sido o destino dele às mãos dos Nazis.

Na sua carta, Hans Dollinger foi cândido até ao ponto de ser rude:

"Sinto uma profunda dor por este ato de loucura de um homem maluco, que parece ter enviado arbitrariamente os seus "produtos" para todos os endereços que conseguiu obter, ter servido como a base para a ordem proibitiva contra uma denominação de mentalidade verdadeiramente cristã, a Associação dos Estudantes da Bíblia."5

O comportamento corajoso de Vorsteher é descrito como um "ato de loucura de um homem maluco". Será que não poderíamos chamar corretamente ao comportamento das Testemunhas de Jeová para com o regime de Hitler um "ato de covardia e transigência"?

Dollinger continua com o seu argumento quanto a por que a Sociedade não devia ser confundida com Vorsteher:

"Estou convencido de que da parte das autoridades não houve perspicácia suficiente para o fato de que os Amigos da Verdade não têm absolutamente nenhuma ligação com a Associação dos Estudantes da Bíblia, e que esta é a única causa à qual a ordem proibitiva contra a Associação dos Estudantes da Bíblia pode ser traçada. Durante todos os anos em que o Nacional Socialismo tem lutado pela Alemanha, a Associação dos Estudantes da Bíblia nunca tentou enfraquecer essa luta. [...] Nós temos de recusar claramente sermos responsabilizados pelo que este Vorsteher fez."6

Isto não soa como se as Testemunhas de Jeová tivessem levantado as suas vozes contra Hitler; em vez disso, elas transigiram na sua integridade devido a medo e oportunismo.


Parte 7: Os Traidores: O Artigo na Revista Der Spiegel de 19 de Julho de 1961


O público na Alemanha tomou conhecimento daquilo que aconteceu durante o regime de Hitler -- incluindo o fato de que pastores espirituais abandonaram o seu rebanho para salvar a própria pele.

O artigo na revista [semanal alemã] Der Spiegel de 19 de Julho de 1961 é apenas mais uma peça de um puzzle que prova que as explicações da Parte 6 [desta série de artigos] são verdadeiras.

Certamente não é motivo de orgulho para uma associação -- e sobretudo para os seus representantes -- se numa situação de emergência eles seguirem a linha de menor resistência. E ainda mais -- isto aplica-se primariamente ao público alemão -- se isso aconteceu durante o regime de Hitler.

O artigo da revista Der Spiegel centra-se principalmente na pessoa de Erich Frost. Diz:

"[...] Frost, se sessenta anos de idade, é considerado a autoridade ideológica."

É de grande interesse na Alemanha o fato de essa "autoridade ideológica" ter cooperado com este sistema durante a era de Hitler.

O artigo refere-se aos ficheiros da Gestapo (Polícia Política Secreta) e menciona como Frost denunciou nome atrás de nome. Podemos imaginar o que aconteceu às pessoas afetadas. O regime de Hitler atacou e as pessoas detidas foram levadas -- graças à ajuda de Erich Frost -- para os campos de concentração.

Frost, porém, saiu-se razoavelmente bem; sobreviveu e tornou-se uma "autoridade ideológica" para as Testemunhas alemãs.

Que ele tenha conseguido dormir facilmente com uma consciência tranqüila depois de tudo isso, continua a ser um mistério. Segundo o artigo da revista Der Spiegel, Frost contou as suas experiências a 10.000 ouvintes durante um congresso em Hamburgo -- claro que contou do seu próprio ponto de vista. Em relação com isto, foi lançada uma edição da Wachtturm [a Sentinela em língua alemã] que conta a biografia dele.

O que realmente aconteceu -- isto é, que ele traiu os seus irmãos -- não é mencionado nessa edição da Sentinela por razões óbvias.


Scans da Revista Der Spiegel de 19 de Julho de 1961, páginas 38 e 39

Der Spiegel, 19 de Julho de 1961, p. 38 Der Spiegel, 19 de Julho de 1961, p. 39

Tradução:

Testemunhas de Jeová

Väterchen Frost [Paizinho Frost]

Milhares de carpinteiros, canalizadores e operários -- todos eles ajudantes voluntários não assalariados -- estão presentemente a transformar o grande local de festividades do Hamburg Municipal Park num 'Salão do Reino a céu aberto'.

Uma seita religiosa pretende reunir-se neste local ventoso -- uma seita que conta mais de 70.000 membros, mas que não consegue aparecer no mundo civilizado sem que as pessoas se riam deles ou os persigam: as Testemunhas de Jeová.

Ansiosos por fazer trabalho missionário, os sectários com sede na América proclamam que Deus tem de se justificar perante o mundo, visto que Ele permitiu que Lúcifer envenenasse os homens, os Estados políticos e as igrejas, incluindo o papa em Roma.

No salão Hanseatic, sem teto, as Testemunhas pretendem realizar uma assembléia internacional de 18 a 23 de junho [de 1961], com delegados de 50 países. Para esses dias de edificação, estão sendo colocadas 75.000 cadeiras, estão sendo levantadas tendas provisórias e estão sendo plantadas 12.000 flores.

No meio deste palco de flores, um trio vai expor-se à audiência [das Testemunhas de] Jeová, consistindo em.

  • o chefe da organização mundial, o senhor Nathan Homer Knorr, de Brooklyn (Nova Iorque)
  • o chefe da filial alemã das Testemunhas de Jeová, o 'superintendente da filial' Konrad Franke, de Wiesbaden, e
  • o antecessor de Franke, Erich Frost.

Neste triunvirato, Frost, de sessenta anos de idade, é considerado a autoridade ideológica. Ele é o chefe da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Wiesbaden, o centro espiritual das Testemunhas de Jeová alemãs, bem como o editor responsável da 'Wachtturm' [revista A Sentinela].

Entre outras coisas, o Väterchen Frost [Paizinho Frost], como é chamado entre os amigos devido à sua afabilidade, pretende usar a ocasião propícia para comemorar as 2.000 vítimas sob o regime de Hitler que são choradas pela seita.

No entanto, em ficheiros da Gestapo que foram revelados, o papel que o próprio Frost ocupou nessa altura de dificuldade para as Testemunhas de Jeová, é descrito de forma muito diferente do artigo que o músico da coffeehouse Frost publicou na 'wachtturm' [Sentinela] sob o título 'Libertação da Inquisição Totalitária pela Fé em Deus', mesmo antes da assembléia de Hamburgo.

Durante o período Nazi, quando as Testemunhas de Jeová na Alemanha apenas podiam trabalhar clandestinamente, Frost ocupava a posição de um assim chamado Reichsdiener. O Reichsdiener era o funcionário supremo dos jeovás; subordinados a ele estavam os servos de distrito perante quem os servos de circuito e locais tinham de responder.

Como os servos de Jeová se opuseram corajosamente ao Terceiro Reich e afirmaram que a Alemanha de Hitler também era o trabalho de Lúcifer, elas depararam-se com o decreto do Führer para se desmantelarem depois de 1933. Escritórios e instalações de impressão de tratados foram encerradas, o dinheiro da associação foi transferido para a organização Nazi de bem estar do povo, e toda a literatura foi confiscada.

Mas as Testemunhas não se deixaram abater por esse assédio. Quando em 1936 uma assembléia-Jeová em Lucerna [Suíça] resolveu lançar uma grande ação de [distribuição de] panfletos na Alemanha contra a proibição da seita, Frost relatou prontamente a ação. Em 12 de setembro de 1936 -- entre as 5 e as 6 da tarde -- os panfletos contendo a assim chamada Declaração de Lucerna -- 300.000 cópias ao todo -- foram colocadas nas caixas de correio e em fendas escondidas, em todas as cidades do Reich. Além disso, as Testemunhas de países estrangeiros enviaram 20.000 telegramas para 'Sua Excelência, o Sr. Hitler, Alemanha'.

Na Alemanha de Hitler bem como -- menos perigoso -- e todos os outros países, as Testemunhas de Jeová recusaram-se a prestar serviço militar -- mesmo em tempo de paz e como ajudantes médicos.

Mais ainda: os Estudantes da Bíblia alemães, que eram controlados a partir dos E.U.A. e da Checoslováquia, abstiveram-se corajosamente de saudar Hitler. A conseqüência: Muitas Testemunhas foram parar a prisões e campos de concentração durante o Terceiro Reich.

Mas mesmo depois de uma extensa onda de prisões em 1936, a organização trabalhou com precisão, visto que o corpo supremo de funcionários ainda permanecia anônimo. Isto mudou depois de, em 1937, a Gestapo ter conseguido apoderar-se do Reichsdiener Frost. Frost recorda:

"Em 21 de março [de 1937], às 2 horas da madrugada, fortes pancadas e pontapés contra a porta do apartamento. Em segundos escondi um pequeno rolo de papel no colchão da minha cama, mesmo antes de entrarem dez homens da Gestapo: 'Veste-te, Frost. A festa acabou!'"

De acordo com essa história de detenção, digna de um filme, Frost tinha nessa altura conseguido esconder da Gestapo a lista com os nomes dos seus companheiros de crença. Quando Frost mais tarde foi interrogado ele tinha reconhecido pela 'torrente irada de palavras' dos inquisidores que 'os irmãos ... não tinham caído na armadilha montada pela polícia'.

Nesse momento Frost pediu ajuda a Jeová durante dias, conforme ele agora relata na 'Wachtturm' [Sentinela], 'para que eu pudesse manter-me silencioso, para bem dos irmãos.' Nesta angústia, Frost de fato dá a impressão que resistiu aos seus inquisidores tal como 'Daniel na cova dos leões'.

No seu ficheiro de detenção No. 292 do escritório da Gestapo em Berlim, Departamento II B 2, porém, vemos que isto aconteceu de modo muito diferente. Segundo os registos dos interrogatórios, que ainda existem, assinados por Frost, o Reichsdiener-Jeová deu um relatório detalhado sobre os seus seguidores, em 2, 15, 20, 21, 24, 26, e 29 de abril de 1937.

Segundo a transcrição do interrogatório, Frost descreveu as atividades da sua organização por extenso [ou completamente], e denunciou dois locais de reunião dos seus funcionários: 'A estação Alexanderplatz em Berlim' e 'Reiche in Zeuthen-Niersdorf, Lange Str. No. 5'.

Finalmente, segundo a transcrição [do interrogatório], ele deu à Gestapo os nomes dos seus servos de distrito.

  • Arthur Nawroth (Silesia Ocidental, partes da Saxônia)
  • Otto Dauth (Berlim, Brandemburgo)
  • Fred Meier (Saxônia Ocidental, Anhalt)
  • Walter Friese (Thuringia, the Harz, Hannover)
  • Heinrich Ditschi (Schleswig-Holstein, Oldenburg, Westphalia, the Ruhr)
  • Albert Wandres (Rhineland, Baden, e Wurttemberg), e
  • Karl Siebeneichler (Baviera).

Destes funcionários, apenas Frost tinha sido preso; os outros só depois perderam a sua liberdade -- conforme Konrad Franke, o sucessor de Frost, confirma --; até se diz que o servo de distrito Siebeneichler morreu no campo de [concentração de] Sachsenhausen.

Depois de ter sido interrogado pela Gestapo, o próprio Frost recebeu autorização para mudar da sua cela para um local de trabalhos forçados em Emsland marsh, foi enviado para o Campo de [Concentração de] Sachsenhausen durante um curto período durante a guerra, e 'mais tarde ele aterrou na ilha rochosa de Alderney (ao largo da costa francesa) como [parte de uma] brigada de construção das SS.'

Nessa ilha do Canal, Frost observou, conforme escreve no seu artigo da 'wachtturm' [Sentinela], a Invasão Aliada durante uma noite estrelada.'

No fim do relatório de Frost -- na 'wachtturm' [Sentinela] dada a cada delegado da assembléia de Hamburgo, para que eles pudessem ter um melhor entendimento sobre os pensamentos frostianos -- o anterior Reichsdiener subitamente cita o jornalista sueco Björn Hallström que disse acerca das Testemunhas de Jeová sofredoras sob Hitler: 'Pela sua fé em Deus, elas conseguiram sobreviver melhor do que outras pessoas.'


Parte 8: Os Hipócritas: Serviço Militar Permitido na Suíça, Proibido na Alemanha


Que a organização das Testemunhas de Jeová está de fato disposta a transigir, é provado pelo seu passado. Será que isso será realmente diferente no futuro?

O fator decisivo não é o bem estar das pessoas mas antes os interesses da associação. Estes interesses são definidos por palavras como.

  • Crescimento numérico
  • Unidade
  • Limpeza
  • Manutenção do poder.

Dificilmente alguma Testemunha de Jeová hoje sabe que a sua associação tomou uma posição a favor do serviço militar durante décadas. Até 1939, até mesmo Hitler não acusou a associação sobre este assunto; antes, o argumento era sobre o fato de as Testemunhas de Jeová se recusarem veementemente a saudar Hitler e terem o hábito de fazerem coisas que o regime de Hitler achava desagradáveis.

Embora as Testemunhas de Jeová na Alemanha, segundo o artigo de 1939, se tenham recusado fiel e heroicamente a prestar serviço militar, elas foram muito mais obsequiosas neste assunto na Suíça. A página 2 da edição suíça da revista Trost [Consolação, o antigo nome da Despertai!] de 1.º de outubro de 1943 diz:

"Cada guerra traz sofrimento indescritível para a humanidade. [...] Mesmo as Testemunhas de Jeová não foram poupadas a este destino. [...] Declaramos expressamente que a nossa associação nem ordena, nem recomenda, nem sugere de nenhum outro modo que se aja contra as ordens militares. [...] Centenas dos nossos membros e companheiros de crença cumpriram os seus deveres militares e continuam a cumpri-los. [...] Associação Suíça das Testemunhas de Jeová [...] Berna, 15 de setembro de 1943".7

A razão para esta ação era que o escritório da filial suíça não devia ser fechado. Mesmo hoje, a liderança das Testemunhas está muito disposta a transigir caso os seus interesses sejam afetados. Na página 141 do livro secreto dos anciãos, Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho, dizem:

"Se o governo solicitasse temporariamente, em época de emergência, o uso de Salões do Reino ou de equipamento da congregação, ceder não seria violação da neutralidade."

"[É]poca de emergência" pode ser tempos de guerra; nesse caso as Testemunhas de Jeová são autorizadas a colocar o seu salão à disposição. Aquilo que é proibido a indivíduos, é permitido à organização.

Durante a era de Hitler algumas pessoas tiveram de morrer devido à sua neutralidade, mas sempre que os interesses da organização estavam em jogo -- por incrível que pareça -- eram tomadas medidas diferentes. Algumas Testemunhas de Jeová negam que o serviço militar tenha sido permitido para elas na Suíça. Mas a Wachtturm [edição alemã da Sentinela] de 15 de janeiro de 1948 prova que o que afirmamos está correto. Essa edição refere-se à revista Trost:

"Esta declaração apaziguadora causou muita preocupação na Suíça bem como em certas partes da França."8

Portanto eles não negam que isso aconteceu. Claro que a Wachtturm [edição alemã da Sentinela] tenta compor as coisas, como se o escritório da filial tivesse agido sem o consentimento da sede. Mas:

  1. As Testemunhas na Suíça também conheciam a ordem proibitiva de 1939 sobre o serviço militar; certamente elas ficaram ansiosas e foram acalmadas.
  2. Por que não agiu a Sociedade antes de terem passado cinco anos, e por que não agiru antes de a guerra ter acabado?9

Portanto, isto foi meramente uma tentativa de justificar o comportamento de uma associação que certamente teria agido se o comportamento da filial suíça não tivesse estado de acordo com os seus interesses.


Parte 10: Os Encobrimentos das Testemunhas de Jeová: Análise das Alegações Históricas Delas


Na Parte 1 desta série de artigos, foi analisada a edição de 22 de agosto de 1995 de revista Despertai!, no que diz respeito às alegações das Testemunhas de Jeová.

Essa edição tinha o título: "O Holocausto -- Quem denunciou? 50.° aniversário da libertação dos campos de concentração 3-15".

O regime de Hitler causou sofrimento incalculável às pessoas, e o mero pensamento sobre esse sistema traz emoções desagradáveis. Qualquer pessoa que tenha apoiado esse sistema nesse tempo, devia hoje ser banida -- quer ainda esteja viva ou não -- e quaisquer pessoas que enfrentaram esse sistema desumano deviam ser honradas e deviam ganhar o favor público, especialmente na Alemanha.

A Sociedade Torre de Vigia sabe isso, e tenta habilmente usar o seu passado como um meio para atingir um fim, e fazer um nome melhor para si mesma junto do público. Não negamos que Testemunhas de Jeová resistiram ao regime de Hitler, que [centenas] delas foram mortas nos campos de concentração. Isto é a memória de indivíduos que deve ser respeitada, e esta documentação também não pretende mudar esse fato. Que Deus as recompense no céu.

No entanto, o modo como a organização das Testemunhas se comportou durante o regime de Hitler, e o modo como se tenta adornar com essas vítimas individuais -- é completamente impróprio, desonesto, e anti-cristão. Em vez de admitir os erros e mostrar remorso, os fatos estão sendo distorcidos a seu favor através de manipulação e argumentação astuta.

No artigo acima mencionado, são feitas as seguintes alegações:

Alegação 1 na revista: As Testemunhas de Jeová alertaram contra os perigos do regime de Hitler a partir de 1929.

Os fatos revelam que as Testemunhas de Jeová tomaram uma atitude a favor de Hitler até serem banidas em 1933, e que tentaram chegar a uma acomodação com esse sistema da melhor forma possível. Não existe evidência absolutamente nenhuma de que elas tivessem avisado contra os perigos do regime de Hitler desde 1929 -- absolutamente nenhuma evidência.

Alegação 2 da revista: "Enquanto o mundo em geral desconhecia [...] as Testemunhas de Jeová não podiam se calar".

A Despertai! de 22 de agosto de 1995 mostra que essa alegação está errada. Na página 14 é mencionado que um representante da igreja protestante tinha estado num campo -- em última análise pelas mesmas razões que as Testemunhas de Jeová: porque não estava disposto a entender-se com o regime de Hitler. Centenas de ministros protestantes e católicos foram para aos campos, eles também denunciaram. É uma deturpação dizer que só as Testemunhas de Jeová resistiram ao regime de Hitler.

Alegação 3 da revista: O choque era totalmente inevitável porque "Os cristãos verdadeiros são politicamente neutros".

Os fatos provam que as Testemunhas de Jeová não foram politicamente neutras em momento algum. Na documentação apresentada, provou-se que as Testemunhas de Jeová eram anti-semitas e a favor de Hitler.

Alegação 4 da revista: Dizem que a revista A Idade de Ouro em 1929 tinha publicado esta declaração: "O Nacional-Socialismo é ... um movimento que está agindo ... diretamente a serviço do inimigo do homem, o Diabo."

Conforme já foi dito, as Testemunhas de Jeová nunca disseram tal coisa em 1929; e até agora ninguém dentro da Sociedade Torre de Vigia conseguiu revelar onde se encontra essa citação. É simplesmente uma invenção, ou foi construída à base de remendos. Eu também não consegui descobrir onde tal citação se encontra.

Alegação 5 da revista: Devido à sua posição de "neutralidade", as Testemunhas de Jeová foram banidas em 28 de junho de 1933.

Esta alegação também não condiz com os fatos. A ordem de proibição das Testemunhas de Jeová foi feita com base num equívoco da parte das autoridades, conforme foi mostrado na documentação. Foi a atividade de Ewald Vorsteher que as autoridades ligaram às Testemunhas de Jeová, e isso foi a causa para a proibição.

Alegação 6 da revista: As Testemunhas de Jeová também denunciaram veementemente o sofrimento de outras pessoas -- incluindo o dos judeus.

Os fatos revelam que durante o regime de Hitler as Testemunhas de Jeová eram anti-semitas e contribuíram com a sua quota parte na campanha de ódio contra os judeus, o que é muito embaraçoso para elas atualmente. É obvio que os fatos sobre o comportamento das Testemunhas de Jeová durante o regime de Hitler são extremamente repulsivos -- em primeiro lugar a sua atitude anti-semita. Esse fato é como um pano vermelho para um touro, no caso do público alemão, e poderia contribuir para um considerável dano na reputação das Testemunhas de Jeová.

Portanto, as alegações das Testemunhas de Jeová têm de ser questionadas em muitos pontos, e o comportamento delas durante o regime de Hitler -- o comportamento da organização -- não devia ser louvado, mas antes condenado pelo público.


Parte 11: Conclusão: As Testemunhas de Jeová e o Regime de Hitler


Atualmente as Testemunhas de Jeová, ao mesmo tempo que alegam que levantaram a voz contra o regime de Hitler, empregam métodos que fazem lembrar muito os do sistema político de Hitler.

Hoje Hitler e o seu sistema político estão sendo abertamente condenados pelas Testemunhas de Jeová -- e justamente, na minha opinião -- mas o espírito desse sistema sobreviveu; primariamente entre pessoas das quais não esperaríamos tal coisa.

As Testemunhas de Jeová emanam um espírito de escravatura na medida em que elas -- tal como grupos similares -- atropelam os direitos humanos. Em última análise, a propaganda das Testemunhas de Jeová é desonesta.

Uma das ofensas mais sérias desse grupo contra os direitos humanos é a restrição sobre a liberdade de expressão. Do mesmo modo que Hitler não tolerava qualquer opinião divergente, as Testemunhas de Jeová hoje estão agindo da mesma forma de modo espiritual.

Liberdade de expressão só é possível dentro de limites impostos pelas Testemunhas de Jeová. É exatamente como Hitler: qualquer pessoa que expresse uma opinião diferente da opinião oficial é colocada sob restrições e pressão. Mais: a liberdade de expressão implica que temos o direito de nos informarmos a partir de fontes disponíveis para podermos formar uma opinião. A organização das Testemunhas não gosta mesmo nada disso, porque os fatos lhes são muito desfavoráveis.

As Testemunhas de Jeová estão a fazer o que Hitler teria feito no lugar delas. Tentam tirar de circulação essas fontes de informação.

Numa carta datada de 25 de outubro de 1990, a Sociedade Torre de Vigia diz:

"Na sua carta de 17 de outubro de 1990, uma comissão judicativa da congregação de XXXXXX informou-nos que em algumas congregações de XXXXXX, os publicadores lêem o livro Crise de Consciência do apóstata Franz."

Este livro do assim chamado "apóstata Franz" é a autobiografia de um anterior membro do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová -- o grupo que dirige essa associação -- que dá um relato exaustivo sobre essa associação; tão exaustivo que qualquer Testemunha de Jeová que leia o livro tira dele as conclusões óbvias. Para a organização das Testemunhas, isso significará uma possível perda das suas ovelhas. Os anciãos tentam evitar isso da forma descrita a seguir:

"Entretanto, os irmãos foram informados desse fato pelo corpo de anciãos da congregação XXXXXX, e pedimos que os irmãos nos notifiquem e digam se conseguiram descobrir quais são os irmãos que possuem este livro. Em cada caso, é necessário que dois anciãos falem com esses irmãos seriamente e com urgência e os avisem sobre os perigos da apostasia. Pode também ser apropriado dar um discurso durante a próxima reunião, e chamar a atenção da audiência para os perigos da literatura apóstata e avisar urgentemente os publicadores. Por favor informem-nos, também, quanto a se os irmãos envolvidos levaram a peito o vosso conselho e estão dispostos a destruir a literatura apóstata."

Este são os mesmos métodos que Hitler usou, não são? Os anciãos devem averiguar se algum publicador possui esse livro; e caso haja alguém nessas condições, eles devem proceder do modo descrito nessa carta e notificar o fato à organização das Testemunhas.

Numa carta posterior, com a data 3 de dezembro de 1990, os anciãos mais uma vez são lembrados do seu dever:

"Como ainda não recebemos qualquer resposta dos irmãos quanto a este assunto, pedimos que nos enviem a vossa declaração imediatamente."

Isto é controlo totalitário! Tão totalitário como só Hitler fazia! Não adianta fazer mais comentários, além deste:

Através de propaganda desonesta, as Testemunhas de Jeová estão advogando um sistema no qual sobrevive um espírito totalitário. Uma mácula para o verdadeiro cristianismo!

Notas

1 Documentos g23 e g24:

Documento g23

Documento g24

Tradução dos Documentos g23 e g24:

"Sobre a Associação dos Estudantes da Bíblia

A causa da proscrição de 24 de junho de 1933, e o único incidente específico afetando essa ordem:

O relatório apresentado pelo chefe da polícia em Wuppertal em 31 de maio de 1933, Ref.-Nr. I Ad 60001.

Este relatório foi dado erroneamente, como a sede da polícia de Wuppertal reconhece.

O relatório da sede da polícia em Wuppertal foi dado com base na suposição de que o incidente em questão se relaciona com a Associação dos Estudantes da Bíblia. Isto foi subseqüentemente reconhecido como um erro.

I

O signatário [Dollinger] e o cidadão americano M. C. Harbeck, Brooklyn, contataram a sede da polícia em Wuppertal em 10 de fevereiro de 1933; a reunião teve lugar enquanto se examinavam os ficheiros no diretor do Departamento Político (Sr. Beine). Foi declarado:

II

O incidente relatado pela sede da polícia, que depois levou à ordem proibitiva contra a Sociedade, consistia em acusações rancorosas contra o Chanceler do Reich, feitas por um certo Ewald Vorsteher de Barmen em 31 de maio de 1933, que foi preso imediatamente. Até 1923, Vorsteher tinha sido um Estudante da Bíblia; em 1923 ele deixou a associação e estabeleceu um movimento separado chamado Sociedade dos Amigos da Verdade, cuja principal tarefa era lutar contra a Associação dos Estudantes da Bíblia. A revista dele, publicada pela primeira vez em 1923, tinha cessado a publicação em 1925 ou 1926 devido a falta de leitores. Depois de 1923, ele já não manteve qualquer contato com a Associação dos Estudantes da Bíblia, tendo a Sociedade, por seu lado, desassociado ele oficialmente (1923).

III

Em Dusseldorf, Vorsteher foi enviado para a prisão por ter caluniado o governo (Ref. Nr. 16 b KM 45/33 St. A. Dusseldorf). O registo do tribunal deve confirmar a nossa explanação.

IV

A sede da polícia em Wuppertal sabe que o relatório então dado está errado. Por ocasião da visita em 10 de janeiro de 1933 mencionada acima, isto foi explicitamente confirmado pelo diretor do Departamento Político (Sr. Beine) [em resposta] à minha pergunta. Este último disse-nos que sabia que Vorsteher não é Estudante da Bíblia, mas antes um Amigo da Verdade. A minha pergunta quanto a se ele sabia que os Amigos da Verdade nem são o mesmo que a Associação dos Estudantes da Bíblia, nem mantêm contato com eles, foi confirmada na afirmativa. Ao meu pedido quanto a se ele podia relatar o incidente ao Prussian Home Office [Escritório Prussiano da Sede], esse funcionário sugeriu que peçamos ao Escritório da Sede para requerer um relatório que ele daria. Literalmente, ele disse: 'Têm de certificar-se de que o Escritório da Sede pede um relatório neste caso, então nós corrigiremos o assunto de acordo com os fatos entretanto declarados.'

V

O caso foi apresentado ao Prussian Home Office [Escritório Prussiano da Sede] em 10 de maio de 1933 (a Fischer, o Chefe do Departamento do Ministério). Foi feito um requerimento para pedir o relatório de Wuppertal.

VI

Este incidente prova ser o único "material" específico levando à ordem proibitiva."

2 Ibid.

3 Ibid.

4 Documentos g25 e g26:

Documento g25

Documento g26

Tradução dos Documentos g25 e g26:

"Para o servo civil sênior do Prussian Home Office

Prezado Senhor,

Tenho a honra de entregar a cópia anexa do relatório do chefe da polícia de Wuppertal, tal como prometido. A partir [da leitura] dessa cópia, fiquei dolorosamente a saber da coisa ultrajante que este homem chamado Vorsteher fez. Certamente posso compreender que o Estado Nacional Socialista não tolerará tal coisa.

Sinto uma profunda dor por este ato de loucura de um homem maluco, que parece ter enviado arbitrariamente os seus "produtos" para todos os endereços que conseguiu obter, ter servido como a base para a ordem proibitiva contra uma denominação de mentalidade verdadeiramente cristã, a Associação dos Estudantes da Bíblia.

Estou convencido de que da parte das autoridades não houve perspicácia suficiente para o fato de que os Amigos da Verdade não têm absolutamente nenhuma ligação com a Associação dos Estudantes da Bíblia, e que esta é a única causa à qual a ordem proibitiva contra a Associação dos Estudantes da Bíblia pode ser traçada.

Durante todos os anos em que o Nacional Socialismo tem lutado pela Alemanha, a Associação dos Estudantes da Bíblia nunca tentou enfraquecer essa luta.

Nem em qualquer discurso proferido, nem em qualquer forma escrita, nem em todas as suas políticas alguma vez a associação fez qualquer declaração negativa contra o Nacional Socialismo. Isto aplica-se à [Associação dos Estudantes da Bíblia na] Alemanha e às suas muitas centenas de milhares de concrentes [dela] bem como [aqueles] em países estrangeiros em geral.

Nós temos de recusar claramente sermos responsabilizados pelo que este Vorsteher fez.

Vorsteher é um indivíduo isolado que foi desassociado por nós em 1922 ou 1923 porque ele não estava disposto a obedecer às regras que são seguidas pela associação e que estão de acordo com a lei.

Devia ser um ponto a favor da associação que sob nenhuma circunstância ela tolerou pessoas agindo independentemente com respeito a matérias de conformidade com a lei. O fato de a associação sempre ter lidado estritamente com tais matérias é uma garantia dada às autoridades de que nenhuns elementos dúbios de qualquer espécie foram tolerados e que nenhuns indivíduos agindo independentemente tiveram permissão de usar a associação como trampolim ou plataforma.

Ao longo dos anos nós atribuímos a maior importância a esta posição, e não há qualquer caso em que seguidores da associação tenham eles próprios entrado em conflito com a lei ou tenham arrastado a associação para um tal conflito.

Por isso só podemos descrever como trágico o fato de num caso em que a associação provou a sua intenção de ser estritamente obediente à lei, estarmos sendo contrariados devido a circunstâncias pelas quais não podemos ser responsabilizados.

Espero e peço-lhe que examine estas matérias no futuro, e que nos possa ser dada a oportunidade de prestar contas a si -- pois deste modo a imensa dor espiritual dos meus concrentes será levada a um fim por uma completa reabilitação [da nossa associação] por ordem das autoridades.

Mit deutschem Gruß [uma forma branda de 'Heil Hitler']

5 Ibid.

6 Ibid.

7 Documento g44: Declaração cujo texto apareceu na Trost [Despertai!] de 1.º de outubro de 1943.

Tradução do documento g44:

"Declaração

"Cada guerra traz sofrimento indescritível para a humanidade. Cada guerra traz dilemas morais difíceis para milhares, sim, milhões de pessoas. Isto aplica-se especialmente a esta guerra, que não poupou nenhum canto da terra e tem-se espalhado pelo ar, mar e terra. É por conseguinte inevitável que em tais épocas, não apenas indivíduos, mas também comunidades de todos os tipos, de forma não intencional ou deliberadamente sejam falsamente suspeitas.

"Mesmo as Testemunhas de Jeová não foram poupadas a este destino. Fomos acusados de sermos uma associação cujo objetivo ou atividade é descrita como "minar a disciplina militar, especialmente forçar ou enganar os convocados para o serviço militar para insubordinação contra as ordens militares, negligência ou recusa do dever, ou tornar-se fugitivos."

"Tal opinião só pode ser apresentada por alguém que não compreende de todo o espírito e atividade da nossa Sociedade ou que apesar do seu melhor conhecimento, distorce-o de forma malévola.

"Declaramos expressamente que a nossa associação nem ordena, nem recomenda nem sugere de nenhum outro modo que se aja contra as ordens militares. Perguntas desse tipo não são tratadas pelas nossas congregações nem pela literatura publicada da Sociedade. Nós não nos preocupamos de todo com tais perguntas. Vemos que a nossa atividade é unicamente prestar um testemunho a Jeová Deus e a proclamar a verdade da Bíblia a todos os povos. Centenas dos nossos membros e companheiros de crença cumpriram os seus deveres militares e continuam a cumpri-los.

"Nós nunca presumimos e jamais teremos a presunção de encarar a prestação do serviço militar, conforme delineado pelos vossos estatutos, como uma ofensa contra os princípios e aspirações da associação das Testemunhas de Jeová. Nós incentivamos todos os nossos membros e companheiros de crença a proclamarem a mensagem do Reino de Deus (Mateus 24:14), a confinarem-se estritamente à proclamação da verdade da Bíblia, e a evitarem sempre dar azo a mal entendidos, e certamente a nunca serem mal interpretados como se estivessem dando qualquer incitamento à insubordinação contra ordens militares.

Associação Suíça das Testemunhas de Jeová
Presidente: Ad. Gammenthaler
Secretário: D. Wiedenmann

Berna, 15 de setembro de 1943."

8 Tradução do documento g45:

"Saberão Que Eu Sou Jeová (Eze. 35:15)

"DER WACHTTURM

"Volume: 51

"Magdeburgo, 15 de janeiro de 1948, n.º 2

"Por exemplo, no número da Trost (a edição suíça da revista Consolation) de 1.º de outubro de 1943, portanto durante a crescente tribulação da última Guerra Mundial, quando a neutralidade política da Suíça parecia estar em perigo -- o escritório da filial suíça aventurou-se a publicar uma Declaração que continha a seguinte frase: "Centenas dos nossos membros e associados cumpriram -- e continuam a cumprir -- os seus deveres militares". Esta declaração apaziguadora causou muita preocupação na Suíça bem como em certas partes da França. Encontrando aplausos calorosos, o Irmão Knorr enquanto presidente agora explicou corajosamente que aquelas palavras da declaração são rejeitadas porque não descrevem o ponto de vista da Sociedade, e não estão em harmonia com princípios cristãos conforme claramente delineados na Bíblia. Agora tinha chegado o tempo para os irmãos suíços fazerem uma confissão perante Deus e Seu Cristo; e como resposta ao convite do Irmão Knorr para se expressarem, muitos irmãos levantaram as suas mãos para tornar conhecido à audiência que retiraram o seu assentimento tácito à declaração de 1943 e de nenhum modo a queriam apoiar mais."

9 Os cinco anos mencionados são os que decorreram entre 1943 (data da Declaração de Berna) e 1948 (data da retratação na Wachtturm de 15 de janeiro de 1948). Em 1948 a guerra já tinha acabado. [N. do T.]


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