A Tradução do Novo Mundo e os Seus Críticos

Ian Croft


Na revista Awake! de 22 de Março de 1987 aparece um artigo escrito por Nicholas Kip, que tem sido um conferencista de Grego desde a década de 1960, e que parece ter-se tornado numa Testemunha de Jeová porque descobriu que a New World Translation [Tradução do Novo Mundo] concorda com muitas das suas opiniões acerca do Grego do Novo Testamento.1

Kip faz parte do que pode ser descrito como "a nova vaga de Apologistas das Testemunhas de Jeová," um número crescente de Testemunhas de Jeová que estão a tornar-se competentes em línguas bíblicas, e aptos a debater as suas crenças à maneira dos eruditos. Os comentários de Kip acerca da New World Translation [Tradução do Novo Mundo] são os seguintes:

"Visto que não aprendi Grego de um teólogo que ensina o Grego do Novo Testamento, sou provavelmente muito mais objectivo acerca desta língua. Eu podia assim encarar as palavras com um olhar fresco, livre das noções doutrinais tradicionais... A qualidade da exegese Grega na The Kingdom Interlinear Translation of the Greek Scriptures [Tradução Interlinear do Reino das Escrituras Gregas], contudo, é muito boa... Penso que é uma das maiores jóias subavaliadas das publicações da Watchtower Society [Sociedade Torre de Vigia]."2

Junto do artigo de Kip, aparece uma lista de comentários feitos por "peritos Gregos" acerca da New World Translation of the Christian Greek Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs]. (A The Kingdom Interlinear Translation [Tradução Interlinear do Reino] é uma versão interlinear da New World Translation [Tradução do Novo Mundo].)3

Cada um dos comentários será tratado separadamente.

1. Edgar J. Goodspeed, tradutor do Novo Testamento Grego em An American Translation. (Carta, supostamente dirigida à Sede da Watchtower Society, datada de 8 de Dezembro de 1950).

"Estou interessado no trabalho missionário da vossa gente, e no seu alcance mundial, e muito satisfeito com a tradução livre, franca e vigorosa. Dá mostras de uma vasta quantidade de estudo sólido e sério, conforme posso testemunhar."

Bill Cetnar, que trabalhava em Betel (Sede da Watchtower Society, em Nova Iorque) durante o período em que a New World Translation [Tradução do Novo Mundo] estava a ser preparada, foi enviado para entrevistar o Dr. Goodspeed em Março de 1954, para obter os seus comentários acerca do primeiro volume da New World Translation of the Hebrew Greek Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs]. Cetnar escreve:

"Durante a entrevista com ele, que durou duas horas, tornou-se óbvio que ele conhecia bem o volume, pois era capaz de citar as páginas onde estavam as passagens em relação às quais ele tinha objecções. Uma das passagens que ele apontou como sendo especialmente desastrada e gramaticamente pobre foi Juizes 14:3, onde são postas estas palavras na boca de Salomão: 'Her get for me...' ['Ela obtém-na para mim'] Quando já estava de saída, perguntei ao Dr. Goodspeed se ele recomendaria a tradução para o público em geral. Ele respondeu, 'Não, receio não o poder fazer. A GRAMÁTICA É LAMENTÁVEL. Tenham cuidado com a gramática. Certifiquem-se de corrigir isso."4 (ênfase acrescentada)

É claro que o Dr. Goodspeed não estava aqui a falar acerca das Escrituras Gregas (Novo Testamento), mas sim acerca das Escrituras Hebraicas (Velho Testamento) e os seus comentários favoráveis citados anteriormente referiam-se às Escrituras Gregas.

É interessante notar, contudo, que os comentários do Dr. Goodspeed foram feitos em 1950, mas são conspícuos pela sua ausência nos registos mais antigos de citações da Watchtower. Por exemplo, não aparecem no artigo que trata deste assunto no livro da Watchtower intitulado All Scripture Is Inspired Of God And Beneficial [Toda a Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa], publicado em 1963.5

2. Alexander Thomson, descrito como um "perito em Hebraico e Grego," que escreveu no The Differentiator, Abril de 1952, pp. 52-57.

"A tradução é evidentemente o trabalho de peritos hábeis e espertos, que procuraram extrair do verdadeiro significado do texto Grego tanto quanto a língua Inglesa é capaz de expressar."

Enquanto os comentários de Goodspeed são notáveis pela sua ausência no artigo do livro All Scripture Is Inspired Of God And Beneficial [Toda a Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa], é digno de nota que Thomson é o único crítico cujos comentários aparecem nesse livro. Desta vez, porém, ele está a fazer uma apreciação do mesmo volume que recebeu comentários desfavoráveis do Dr. Goodspeed. Em vista disto, os comentários de Thomson são interessantes e reveladores:

"Traduções originais das Escrituras Hebraicas para o Inglês são muito raras. Por essa razão dá-nos muita satisfação receber a primeira parte da New World Translation [Tradução do Novo Mundo], de Génesis a Rute. É evidente que esta versão fez um esforço especial para que fosse perfeitamente possível lê-la. Ninguém pode dizer que é deficiente na sua frescura e originalidade. A terminologia não é de modo nenhum baseada na terminologia de versões anteriores."6

Num sentido técnico, o comentário de Thomson tornaria a tradução numa "fraude pseudo-histórica." Os textos Gregos que formam a base de todas as traduções competentes estão na categoria "versões anteriores." Para sermos justos com Thomson, contudo, estamos certos de que ele se referia a versões Inglesas anteriores. Num número posterior da sua revista (Junho de 1959), Thomson declarou:

"Embora em três ocasiões eu tenha submetido ao The Differentiator pequenas recensões críticas de partes da versão New World da Bíblia, não deve ser subentendido que concordo com os ensinos das assim chamadas 'Testemunhas de Jeová.' Globalmente, a versão é bastante boa, embora a tenham enchido de muitas palavras Inglesas que não têm equivalente no Grego ou Hebraico."7

Thomson era co-editor da revista intitulada The Differentiator. A revista já não é publicada, mas tinha uma periodicidade bimensal, e tinha uma circulação muito reduzida. Segundo o seu co-editor, Thomson "nem sequer estudou formalmente Grego ou Hebraico em nenhuma escola." Ele não era um perito em Hebreu ou Grego, como tinham pretendido as Testemunhas de Jeová. "Thomson era empregado num banco na Escócia e não acreditava que Jesus fosse Deus."8 Ele era um Universal Restitutionist, isto é, ele acreditava que todos os homens seriam salvos, independentemente daquilo em que acreditavam e do seu grau de envolvimento com Deus.

Em vista disto, dois pontos parecem relevantes:

a) Aparentemente, os comentários de Thomson basearam-se no texto Inglês da New World Translation [Tradução do Novo Mundo], pois ele não tinha competência para comentar a tradução propriamente dita.

b) Não lhes parece que a opinião de um educador profissional e erudito bíblico quanto à qualidade da gramática da Bíblia tem mais valor do que a opinião de um funcionário bancário que não é um perito em línguas?

3. Robert M. McCoy, que escreveu no Andover Newton Quarterly em Janeiro de 1963.

"A Tradução do Novo Testamento é evidência da presença no movimento de peritos qualificados para lidar de forma inteligente com os muitos problemas da tradução bíblica."

O parágrafo completo de onde esta citação foi tirada diz isto:

"A Tradução do Novo Testamento é evidência da presença no movimento de peritos qualificados para lidar de forma inteligente com os muitos problemas da tradução bíblica. Esta tradução, conforme J. Carter Swain observa, tem as suas peculiaridades e as suas excelências. Em conclusão, parece que é actual uma reconsideração do desafio deste movimento às igrejas históricas."9

A opinião de McCoy acerca da tradução e até das Testemunhas de Jeová é muito favorável; contudo, ele não lhes dá a sua aprovação total. Ele critica vários pontos na tradução:

a) Ao discutir a tradução de Mateus 5:9, ele diz, "Poder-se-ia questionar porque é que os tradutores não seguiram mais de perto o significado original, como fazem a maioria dos tradutores."10 (ênfase acrescentada)

b) A respeito da alegação dos tradutores de terem evitado "a influência enganadora de tradições religiosas que têm as suas origens no paganismo," ou seja, procuraram evitar preconceitos doutrinais que acham serem evidentes noutras traduções, McCoy escreve, "Não são poucas as passagens da New World Translation [Tradução do Novo Mundo] que têm de ser consideradas 'traduções teológicas.' Este facto é especialmente evidente naquelas passagens que expressam ou deixam implícita a divindade de Cristo."11 Como exemplo, ele menciona a tradução "I have been" ["Tenho sido"] em João 8:58, indicando que "do ponto de vista gramatical, não existe justificação para a tradução" e ele também mostra que o contexto desautoriza a visão "anti-divindade" [de Cristo] que essa tradução introduz.12

O Sr. McCoy, à data da escrita da sua recensão crítica, era graduado pelo Andover Newton Seminary (associado com a Baptist Church [Igreja Baptista] e United Churches of Christ [Igrejas Unidas de Cristo]) sendo possuidor dos graus de Bachelor of Divinity (1955) pela Boston University School of Theology e Master of Sacred Theology pela Andover Newton. Ele não é um "reconhecido" perito Grego.

4. S. MacLean Gilmour, no Andover Newton Quarterly, Setembro de 1966.

"A tradução do Novo Testamento foi feita por um comité cujos membros nunca foram conhecidos - um comité que possui uma competência em Grego que é pouco usual."

A citação completa no original é assim:

"Em 1950 as Testemunhas de Jeová publicaram a sua New World Translation of the New Testament [Tradução do Novo Mundo do Novo Testamento], e a preparação do New World Old Testament está agora bem avançada. A tradução New Testament foi feita por um comité cujos membros nunca foram conhecidos - um comité que possui uma competência em Grego que é pouco usual e que se baseou no texto Grego de Westcott e Hort para fazer a sua tradução. É claro que muitas considerações doutrinais influenciaram em muitos sítios a tradução, mas o trabalho não é uma fraude de excêntricos ou pseudo-histórica."13

Os comentários do Dr. Gilmour podem ser encontrados num artigo intitulado "The Use And Misuse of the Book of Revelation" ["O Uso e o Abuso do Livro de Revelação"]. Não se pense que o Dr. Gilmour vê com simpatia a religião das Testemunhas de Jeová. A razão porque ele se lhes refere é obvia na citação seguinte (o artigo é o texto de uma conferência dada pelo Dr. Gilmour em 1966):

"Mais adiante nesta palestra falarei do abuso do Livro de Revelação por seitas milenaristas ao longo dos séculos, e em particular pelas Testemunhas de Jeová durante os últimos cem anos."14

O Dr. Gilmour era Norris Professor of New Testament no Andover Newton Seminary, editor do Andover Newton Quarterly e autor de um comentário acerca do Livro de Revelação.

Com o devido respeito que o Dr. Gilmour merece, as declarações dele a respeito da New World Translation [Tradução do Novo Mundo] são incorrectas.

As Testemunhas de Jeová não publicaram, nem em 1950 nem em qualquer outra altura, um livro intitulado New World Translation Of The New Testament. Em vez disso, publicaram um livro intitulado New World Translation Of The Christian Greek Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs]. Talvez o Dr. Gilmour simplesmente não tenha notado que o nome era pouco usual.

Um erro mais sério, contudo, é a afirmação de que "O New World Old Testament [Velho Testamento do Novo Mundo] está agora bem avançado." Conforme foi dito anteriormente, ele escreveu aquele artigo em 1966. Na verdade, a New World Translation Of The Hebrew Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Hebraicas] foi publicada em cinco volumes entre 1953 e 1960. Foi terminada uns seis anos antes de o Dr. Gilmour ter feito aquelas declarações. De facto, uma edição de toda a Bíblia num só volume foi publicada em 1961. O Dr. Gilmour podia ter verificado isto facilmente, bastava pegar numa cópia dessa tradução, o que nos faz pensar se ele de facto alguma vez viu uma cópia.

Uma nota de fim de página no artigo dele mostra que a informação a respeito da New World Translation [Tradução do Novo Mundo] veio do artigo de McCoy anteriormente citado. O artigo de Gilmour não tem nenhuma citação da New World Translation [Tradução do Novo Mundo]; esta nem sequer esta é mencionada na Bibliografia. O único livro que é ali mencionado a respeito das Testemunhas de Jeová é The Challenge of the Sects [O Desafio das Seitas] de Horton Davies, a respeito do qual o Dr. Gilmour diz que "Está muito preocupado em atacar as crenças da seita."15

Se o Dr. Gilmour nem sequer viu uma cópia da New World Translation [Tradução do Novo Mundo] não está em posição que lhe permita fazer um juízo de valor acerca dela. O artigo não dá mostras de ele ter lido essa tradução, sendo o comentário acima citado o único que ele faz acerca da tradução. Os comentários dele são baseados na recensão crítica feita por outra pessoa, e não há indício nenhum que indique ter o Dr. Gilmour usado os seus conhecimentos de Grego para fundamentar a sua declaração.

Resumindo, o Dr. Gilmour não merece ser citado em apoio de um livro que

(a) ele parece não ter lido;
(b) ele não consegue dizer correctamente o título e
(c) ele não sabe que foi acabado uns seis anos antes.

Terem as Testemunhas de Jeová usado o comentário dele neste contexto revela desonestidade.

5. Thomas N. Winter, no The Classical Journal, Abril-Maio, 1974.

"Esta não é uma interlinear qualquer: a integridade do texto é preservada e o Inglês que aparece por baixo é simplesmente o significado básico da palavra Grega... Depois de examinar uma cópia, forneci-a como texto auxiliar a vários estudantes de Grego do segundo ano... A tradução feita pelo comité anónimo é completamente actualizada e consistentemente exacta... Em suma, quando uma Testemunha vem à porta, o clássico, o estudante de Grego e igualmente o estudante da Bíblia faria bem em recebê-lo e encomendar um exemplar."

Infelizmente, uma cópia do The Classical Journal no qual este comentário apareceu não está disponível e não se podem fazer nenhuns comentários acerca dele. Só é incluído aqui para que não sejamos acusados de não ter mostrado toda a evidência. A única informação a respeito do escritor da citação é que ele é "da Universidade do Nebraska."

Será Que Eles São Peritos Bíblicos?

Três das citações acima mencionadas referem as qualificações académicas dos tradutores. Conforme diz o Dr. Gilmour, o comité de tradução da Watchtower nunca revelou a sua composição. Segundo o livro Jehovah's Witnesses In The Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino], "o único pedido do comité de tradução foi que os seus membros permanecessem anónimos mesmo depois da sua morte."16 Quando interrogado num tribunal da Escócia acerca da razão para este anonimato, Frederick Franz, então Vice Presidente do movimento Testemunhas de Jeová, declarou:

"Porque o comité de tradução queria permanecer anónimo e não procurava honra e glória ao fazer uma tradução, nem queria ter nenhuns nomes associados à tradução."

O advogado que tinha feito a pergunta comentou:

"Escritores de livros e tradutores nem sempre recebem glória e honra pelos seus esforços, não lhe parece?"17

Embora se tenha dito muito acerca da pretensão dos tradutores ao anonimato, trabalhadores da Sede em Betel estavam a par do que se passava, e os tradutores não fizeram nenhuma tentativa de manterem o anonimato durante o período em que a tradução foi feita. Segundo Bill Cetnar, que estava lá durante esse tempo, os cinco membros conhecidos do comité foram: Nathan H. Knorr, na altura Presidente da Watchtower Bible and Tract Society; Frederick W. Franz; Albert D. Schroeder; George Gangas e Milton Henschel. Todos os cinco têm sido membros do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Destes homens, diz-se que apenas Franz teve uma educação Universitária, e mesmo ele desistiu depois do segundo ano. Nenhum deles era um perito qualificado em línguas bíblicas.18

Embora Franz tenha dito sob juramento que era capaz de ler tanto Hebreu como Grego, quando lhe pediram, não conseguiu traduzir do Hebreu uma passagem que peritos disseram não apresentar nenhuma dificuldade para um estudante de Hebreu do segundo ano.19

Que o comité fez um trabalho genericamente competente na tradução, à parte a inadequação de alguns aspectos gramaticais e a introdução de preconceitos teológicos, parece ser devido, não ao conhecimento que o comité tinha das línguas originais, mas ao inquestionavelmente alto nível de pesquisa feito nas várias ferramentas de tradução disponíveis.

Devido ao seu pretenso anonimato, o comité não está em condições de revelar a forma como fez o trabalho, nem pode responder aos muitos indivíduos que os criticam. Os factos são estes: por cada citação que o comité consegue encontrar em seu apoio, (por exemplo, deste artigo, eles podiam extrair estes comentários "favoráveis": "...o comité fez um trabalho genericamente competente na tradução... devido... ao inquestionavelmente alto nível de pesquisa") existem dezenas que não são favoráveis.

Os Críticos Dão a Sua Opinião

O que é que os críticos têm a dizer a respeito da New World Translation of the Holy Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas] ?

Edmund C. Gruss, Professor de História e Apologética no Los Angeles Baptist College, critica cinco aspectos principais da tradução:

(1) O uso de paráfrases, em contradição com o propósito anunciado dos tradutores;

(2) A inserção injustificada de palavras que não se encontram no Grego. Alexander Thomson faz um comentário similar numa declaração citada acima.

(3) Tradução errada de palavras Gregas.

(4) Notas de fim de página e apêndice enganadores.

(5) Uso e abuso de maiúsculas ao tratar do nome divino. (Para detalhes acerca das críticas, veja a nota 20.)

Gruss conclui que a New World Translation Of The Christian Greek Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs], "embora à primeira vista pareça um trabalho de peritos, em muitos aspectos é exactamente o contrário. A intenção é trazer os erros das Testemunhas para a Palavra de Deus. Esta tradução não tem nenhuma autoridade, excepto para os que a fizeram e para os seus fiéis seguidores, e deve ser rejeitada como uma perversão da Palavra de Deus."21

Ray C. Stedman, autor internacionalmente conhecido, docente da Bíblia, pastor, evangelista.

"Um exame detido, que vá além da aparência superficial de exegese, revela uma verdadeira trapalhada de fanatismo, preconceito e predisposição tendenciosa que viola todas as regras de criticismo bíblico e todos os padrões de integridade académica."22

Walter Martin e Norman Klann (O falecido Dr. Martin era um destacado apologista Cristão, conhecido internacionalmente pelos seus estudos acerca das Testemunhas de Jeová e outros grupos.)

"Uma vez que se veja que as Testemunhas de Jeová só estão interessadas no que conseguem fazer as escrituras dizer, e não no que o Espírito Santo já revelou perfeitamente, o estudante cuidadoso rejeitará inteiramente as Testemunhas de Jeová e a tradução da Watchtower."23

Estes autores afirmam que a New World Translation [Tradução do Novo Mundo] não tem exegese digna do nome e, de facto, reflecte desonestidade.

Anthony Hoekema:

"A New World Translation [Tradução do Novo Mundo] da Bíblia não é de modo nenhum uma tradução objectiva do texto sagrado para Inglês moderno, mas é em vez disso uma tradução tendenciosa na qual muitos dos ensinos peculiares da Watchtower Society são introduzidos sorrateiramente no texto da própria Bíblia."24

O Dr. Hoekma foi Professor of Systematic Theology, Calvin Theological Seminary, Grand Rapids, E.U.A., e autor de um dos mais respeitados trabalhos de referência acerca das Testemunhas de Jeová.

F. F. Bruce, Professor of Biblical Criticism and Exegesis Emeritus, University of Manchester, Inglaterra. Ele é um exegeta bíblico de renome mundial que fez a sua própria tradução do Novo Testamento e vários trabalhos académicos acerca de temas do Novo Testamento. As Testemunhas de Jeová citaram-no como uma autoridade no Novo Testamento em várias ocasiões.

"Algumas das passagens traduzidas reflectem as interpretações bíblicas que nos habituámos a associar com as Testemunhas de Jeová... Algumas das passagens que estão livres de tendências teológicas parecem bastante boas..."25

Bruce M. Metzger, Professor de Língua e Literatura do Novo Testamento no Princeton Theological Seminary, uma das maiores autoridades no mundo inteiro na língua Grega e reconhecido como tal pelas Testemunhas de Jeová, que o citam por vezes de modo favorável. Escreveu em 1950 um artigo apontando os erros em muitas passagens relativas a Cristo na New World Translation of the Christian Greek Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs].26

H. H. Rowley, um eminente perito Inglês do Velho Testamento, escreveu a respeito do primeiro volume da New World Translation of the Hebrew Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Hebraicas]. Os comentários dele devem ser contrastados com os do Dr. Goodspeed, citados atrás:

"A tradução é marcada por um literalismo empedernido que só vai exasperar qualquer leitor inteligente - se é que algum dos seus leitores é inteligente - e em vez de mostrar a reverência que os tradutores dizem ter pela Bíblia, é um insulto à palavra de Deus... este volume é um exemplo brilhante de como a Bíblia não deve ser traduzida."27

Os comentários acima são apenas uma amostra dos muitos que têm sido feitos ao longo dos anos. Existem muitos outros criticando pontos específicos da tradução e especialmente a frase "...e a palavra era um deus" que aparece em João 1:1 na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs. Considerações de espaço impedem-nos de os incluir neste artigo.

A Exegese da Watchtower Continua Sem Apoio

No início deste artigo mencionou-se Nicholas Kip. A sinceridade e a fé dele na religião das Testemunhas de Jeová não estão em questão, nem a opinião firmemente estabelecida que ele tem a respeito da qualidade do trabalho de tradução na New World Translation of the Holy Scriptures [Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas]. Ele tem direito à sua opinião.

Contudo, outros têm expresso opiniões que estão em forte desacordo com a do Sr. Kip, e como perito ele faria bem em considerar estas opiniões. Provou-se que o apoio que a revista Awake! [Despertai!] dá à posição dele não é de maneira nenhuma tão forte como a revista (e presumivelmente, por implicação, o Sr. Kip) gostariam que o leitor acreditasse. De facto, a quantidade de opiniões de peritos contra a New World Translation [Tradução do Novo Mundo] parece ultrapassar em muito as que a apoiam.

Poucos peritos, Cristãos ou outros, pensam que podem condenar a New World Translation [Tradução do Novo Mundo] de qualquer maneira. As dificuldades deles não estão relacionadas com a sinceridade do comité de tradução, mas sim com certos aspectos da gramática usada e com o carácter teologicamente tendencioso presente no trabalho. Isto é particularmente evidente nas passagens Cristológicas (i.e., que envolvem a pessoa de Cristo). É por esta razão que os comentários a respeito do Velho Testamento (ou Escrituras Hebraicas) estão limitados quase inteiramente à qualidade da gramática.

O que acontece é que peritos, tanto Cristãos como não-Cristãos, têm atacado fortemente a exegese da New World Translation [Tradução do Novo Mundo] quando esta pretende impingir uma determinada posição teológica, pois essa exegese tem influenciado as vidas de milhões de pessoas em todo o mundo.

As Testemunhas de Jeová que se preocupam com a sua vida eterna e com a dos outros, e que desejam adorar o Deus vivo e verdadeiro tal como Ele é revelado nas páginas da Sua Palavra, darão consideração a estes factos, e perguntarão a si mesmas porque é que a Watchtower Bible and Tract Society precisa de apresentar na sua literatura citações em apoio da exegese dos seus escritores, quando já se provou há muito tempo que esse "apoio" não é tão fiável nem tão decisivo como se julgava. Porque é que se invocou em apoio da tradução da Bíblia da Sociedade um perito que não leu o livro, não sabia correctamente o nome e nem sequer sabia que o trabalho de tradução tinha sido completo uns seis anos antes de ele ter feito os seus comentários incorrectos?

A resposta é simples. É porque não conseguiram encontrar um apoio mais forte!

Este é apenas um exemplo dos muitos erros na exegese das Testemunhas de Jeová. Pode-se provar que a organização Watchtower está construída sobre uma base sem consistência, que pode sofrer o colapso a qualquer momento. A evidência requer que a fé das Testemunhas de Jeová seja questionada.

É ou não possível que os peritos que constituem a vasta maioria dos que comentaram a tradução estejam correctos, e Kip (e talvez Winter, se ele for tão útil para as Testemunhas de Jeová como elas parecem supor) esteja errado?


Notas

1 Kip, N., "How Knowing Greek Led Me To Know God," Awake! Mar. 22, 1987, 10-14.

2 Kip, 13.

3 Kip, 15.

4 Cetnar, W.I. & J., Questions For Jehovah's Witnesses Who Love The Truth (Kunkletown, Pennsylvania: W.I. Cetnar, 1983) 64.

5 All Scripture Is Inspired Of God And Beneficial [Toda a Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa] (New York: Watchtower Bible and Tract Society of New York, 1963) 319-326.

6 All Scripture... , 325.

7 Thomson, A., The Differentiator 21:98, Junho, 1959.

8 Cetnar, 53.

9 McCoy, R.M., "Jehovah's Witnesses And Their New Testament," Andover Newton Quarterly, Jan. 1963, 31

A referência a J. Carter Swain pode ser encontrada na p. 40 do seu livro Right And Wrong Ways To Use The Bible (Philadelphia: The Westminster Press, 1963).

10 McCoy, 24.

11 McCoy, 29.

12 McCoy, 29.

13 Gilmour, S.M., "The Use And Abuse Of The Book Of Revelation," Andover Newton Quarterly, Setembro, 1966, 26.

14 Gilmour, 26.

15 Gilmour, 27.

16 Jehovah's Witnesses In The Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no propósito Divino] (New York: Watchtower Bible And Tract Society Of New York, 1959) 258.

17 "Pursuers Proof of Douglas Walsh vs The Right Honourable James Latham, M.P., P.C., Scottish Court of Sessions, Nov. 1954, p. 92" conforme citado em Cetnar, 64.

18 Cetnar, 64.

19 Cetnar, 65.

20 Gruss, E.C., Apostles of Denial (Phillipsburg: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1970) 200 e seguintes. Entre as descobertas por Gruss, estão: (conforme detalhado no texto)

(1) Embora os tradutores afirmem dar uma tradução tão literal quanto possível, usam frequentemente paráfrases para evitar qualquer possibilidade de apoio da divindade de Cristo. Por exemplo, em João 1:1-15, a palavra en é traduzida "in" ("em") em algumas partes e "in union with" ("em união com") nas restantes. Esta última forma de traduzir é uma paráfrase.

(2) Em Col. 1:16, 17 a palavra "other" ("outras") é inserida, embora não exista no texto Grego. Isto acontece quatro vezes nestes dois versículos. Existem situações similares em outros versículos.

(3) Embora os tradutores digam que usam os significados literais das palavras, por vezes não traduzem de acordo com o significado que certas palavras tinham no primeiro século. Por exemplo, em Mateus 25:46 traduzem a palavra kolasis como "arrancar," enquanto em todas as 107 ocorrências conhecidas dessa palavra em escritos do primeiro século, o significado é sempre "punição," não é "arrancar," embora a palavra tivesse tido esse significado alguns séculos antes (é usada dessa forma na Septuaginta e nos Apócrifos).

(4) Por exemplo, Col. 1:16, 17 tem uma nota de fim de página para Lucas 13:2-4, para mostrar um paralelo. Contudo, as duas passagens não são de maneira nenhuma paralelas.

(5) Em João 1:1, devido à inexistência de um artigo ("o"), a Palavra é chamada "um deus." Contudo, no versículo 18, que também não tem artigo, a palavra "Deus" começa com maiúscula. Existem muitos outros exemplos similares.

21 Gruss, 211.

22 Stedman, R.C., "The New World Translation of the Christian Greek Scriptures," Our Hope 50; 34, Julho, 1953. 30 conforme citado em Gruss, 209.

23 Martin, W., & Klann, N., Jehovah of the Watchtower, (Minneapolis: Bethany, 1974) 161.

24 Hoekema, A., The Four Major Cults (Exeter: Paternoster, 1963) 208-9.

25 Bruce, F.F., The English Bible: A History of Translations (London: Lutterworth Press, 1961) 184 conforme citado em Gruss, 210.

26 Metzger, B.M., "The New World Translation of the Christian Greek Scriptures" The Bible Translator 15:152, July, 1964.

27 Rowley, H.H., "Jehovah's Witnesses' Translation of the Bible," The Expository Times 67:107, Janeiro 1956 conforme citado em Gruss, 213 e "How Not to Translate the Bible," The Expository Times conforme citado em Gruss, 212.


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