The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson (1937-2023), pp. i-viii.

Os Tempos dos Gentios
Reconsiderados


Cronologia e a Volta de Cristo

Carl Olof Jonsson


A idéia de que os "tempos dos Gentios" mencionados em Lucas 21:24 formam um período de 2.520 anos, tem levado a especulações e desapontamento entre muitos que esperaram a volta de Cristo durante os últimos dois séculos. Como é que esta crença surgiu e se desenvolveu? O que mostram os fatos históricos e bíblicos?


TERCEIRA EDIÇÃO  l  REVISTA E AUMENTADA



OS TEMPOS DOS GENTIOS

RECONSIDERADOS


Carl Olof Jonsson

Terceira Edição
Revista e Aumentada


COMMENTARY PRESS  l  ATLANTA  l  1998


Devido ao assunto tratado, neste livro os textos bíblicos são em geral citados da Tradução do Novo Mundo (representada pela abreviatura TNM), publicada pela Watchtower Bible and Tract Society de New York, Inc. As abreviaturas para outras traduções da Bíblia citadas no texto ou nas notas de rodapé, são:

ASV American Standard Version [Versão Padrão Americana]
KJV King James Version [Versão Rei James]
LXX Septuagint Version [Versão Septuaginta (em grego)]
MT Masoretic text [texto Massorético(em hebraico)]
NAB New American Bible [Nova Bíblia Americana]
NASB New American Standard Bible [Nova Bíblia Padrão Americana]
NEB New English Bible [Nova Bíblia Inglesa]
NIV New International Version [Nova Versão Internacional]
NKJV New King James Version [Nova Versão Rei James]
NRSV New Revised Standard Version [Nova Versão Padrão Revista]
RSV Revised Standard Version [Versão Padrão Revista]
RV Revised Version [Versão Revista]

THE GENTILE TIMES RECONSIDERED
OS TEMPOS DOS GENTIOS RECONSIDERADOS

PRIMEIRA EDIÇÃO © 1983 por Hart Publishers Ltd. of Lethbridge, Alta., Canada and Good News Defenders of La Jolla, CA, U.S.A. para Christian Koinonia International

SEGUNDA EDIÇÃO © 1986 Publicada por Commentary Press, Atlanta, GA 30336

TERCEIRA EDIÇÃO, REVISTA E AUMENTADA © 1998 Publicada por Commentary Press, Atlanta, GA 30336

Copyright da tradução portuguesa © 1999-2000 Osarsif. Todos os direitos reservados. https://osarsif.blogspot.com/

Produzido nos Estados Unidos da América
ISBN: 0-914675-06-0
Library of Congress Catalog Card No.: 86-70168


Conteúdo
Prefácio v
Introdução 1
1 História de uma Interpretação 23
2 Cronologia Bíblica e Secular 72
3 A Duração dos Reinados dos Reis Neo-Babilônicos 89
4 A Cronologia Absoluta da Era Neo-Babilônica 153
5 Os Setenta Anos para Babilônia 191
6 Os "Sete Tempos" de Daniel 4 236
7 Tentativas de Enfraquecer a Evidência 283
Apêndice 312
Índices 352


Prefácio


O assunto dos "tempos dos Gentios" é crucial para milhões de pessoas atualmente. Cristo só empregou essa expressão uma vez, em resposta à pergunta dos seus discípulos sobre a sua volta futura e o fim da era. Nos séculos seguintes, desenvolveram-se muitas interpretações e aplicações dessa expressão a períodos de tempo.

Embora este livro forneça uma abordagem muito ampla do assunto, incide principalmente numa interpretação proeminente que, num sentido muito real, define para milhões de Testemunhas de Jeová o tempo em que vivem, fornece o que elas consideram um critério poderoso para julgar o que constitui "as boas novas do Reino" que Cristo disse que seriam pregadas, e funciona para elas como uma pedra de toque para avaliar a validade das pretensões de qualquer organização religiosa que afirme representar Cristo e os interesses do seu Reino. Um fato fora do comum é que a base para esta interpretação foi "tomada de empréstimo" de outros, pois, como o autor documenta, originou-se cerca de meio século antes de a organização religiosa das Testemunhas de Jeová começar a aparecer na cena mundial.

Raramente uma única data desempenhou um papel tão influente e estruturante da teologia de uma religião como a data enfatizada por esta interpretação: a data 1914. Mas existe outra data por detrás dessa data e sem o seu apoio 1914 fica desprovida do significado que lhe conferem. Essa data anterior é 607 A.E.C. e é a ligação que a religião das Testemunhas faz entre essa data e um acontecimento específico -- o derrube de Jerusalém por Babilônia -- que está na origem do problema.

Aqueles de entre nós que participamos em editar o presente trabalho e que éramos, há vinte anos atrás, parte da equipa de redação e editorial na sede internacional das Testemunhas de Jeová, em Brooklyn, Nova Iorque, lembramo-nos do efeito atordoador que teve sobre nós a chegada, em Agosto de 1977, de um tratado sobre os "tempos dos Gentios", escrito por Carl Olof Jonsson, da Suécia. Não apenas o volume da documentação, mas ainda mais o peso da evidência deixou-nos de algum modo desconcertados. De fato, nós não sabíamos o que fazer com o material. Esse tratado mais tarde foi a base do livro de Carl Olof Jonsson, intitulado The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados], agora na sua terceira edição.

Ao lermos este livro, estamos a tirar proveito de mais de duas décadas de investigações extensas e cuidadosas. Não apenas a imensa quantidade de tempo, mas também o acesso às fontes de informação que tornaram possível um estudo tão profundo, é algo que poucos de nós temos ao dispor. O autor fez uso de meios como o Museu Britânico e teve contatos pessoais e assistência de membros desse museu, bem como especialistas em Assíriologia de vários países.

A investigação transporta-nos para dois milênios e meio no passado. Muitos de nós talvez pensemos que essa era uma época "primitiva" e por isso talvez seja uma surpresa apercebermo-nos do avanço de certos povos antigos, de como os seus escritos não se limitam a relatar meros acontecimentos históricos e dinastias de monarcas, mas também tratam de documentos de negócios, datados, como registos comerciais, contratos, inventários, facturas de vendas, letras, escrituras e outros documentos similares. Eles tinham um conhecimento extraordinário de astronomia, dos movimentos progressivos e cíclicos dos corpos lunares, planetários e estelares, numa época em que ainda não existiam telescópios. À luz da declaração de Gênesis, segundo a qual os luminares celestes servem para "marcar os tempos fixos, os dias e os anos", isto assume um significado especial, em particular num estudo em que a cronologia desempenha um papel central.1 Nada, exceto os modernos relógios atômicos, ultrapassa esses corpos celestes na medição precisa do tempo.

Quanto à qualidade da investigação sobre o período Neo-Babilônico, o Professor de Assíriologia Luigi Cagni escreveu:

Várias vezes durante a minha leitura [do livro de Jonsson] fui sobrepujado por sentimentos de admiração e profunda satisfação pela forma como o autor lida com argumentos relacionados com o campo da Assíriologia. Isto é particularmente verdade no caso da discussão que ele faz da astronomia de Babilônia (e do Egito) e da informação cronológica encontrada em textos cuneiformes do primeiro milênio A.E.C., fontes que desempenham uma posição central na argumentação de Jonsson.

... A sua seriedade e meticulosidade são evidentes no fato de ter contatado freqüentemente Assíriologistas com uma competência especial nos campos da astronomia e da cronologia Babilônicas, como os Professores H. Hunger, A. J. Sachs, D. J. Wiseman, o senhor C. B. F. Walker do Museu Britânico e outros.

No que diz respeito ao campo com o qual estou mais familiarizado, os textos econômico-administrativos dos períodos Neo-Babilônico e Achemita, posso dizer que Jonsson interpretou-os de forma muito correta. Eu testei Jonsson durante a leitura do livro. Quando acabei de o ler, tive de admitir que ele passou o teste de forma esplêndida.2

Os leitores das edições anteriores deste livro encontrarão nesta terceira edição muitas coisas novas. Foram acrescentadas seções inteiras, incluindo alguns capítulos novos. Contribuindo para uma leitura mais fácil do livro, foram incluídas cerca de trinta ilustrações, incluindo cartas e outros documentos. Muitas das ilustrações são raras e sem dúvida são uma novidade para muitos leitores.

A investigação original que está por trás do livro colocou inevitavelmente o autor em rota de colisão com a organização Watch Tower e -- como seria de prever -- levou à sua excomunhão como "apóstata" ou herético em Julho de 1982. Esta história dramática, que não foi contada nas edições anteriores, é agora apresentada na seção da Introdução, intitulada "A expulsão".

A discussão da cronologia do período Neo-Babilônico foi grandemente aumentada. As sete linhas de evidência contra a data 607 A.E.C. apresentadas em edições anteriores foram agora duplicadas para catorze. A evidência proveniente dos textos astronômicos forma uma capítulo em separado. O peso da evidência apresentada nos capítulos 3 e 4 é de fato enorme e revela a desarmonia irremediável da cronologia da Watch Tower Society para este período antigo, além de refutar essa cronologia.

Apesar da riqueza de informação de fontes seculares antigas, este livro é primariamente bíblico. No capítulo "Cronologia Bíblica e Secular", esclarece-se uma noção incorreta que é muito comum e grave, quanto à forma como chegamos à "cronologia bíblica", e esclarece-se também a idéia errada que diz que rejeitar a data da Watch Tower, 607 A.E.C., significa colocar a cronologia secular acima da "cronologia bíblica".

Estamos confiantes que a leitura deste livro único ajudará muitos a obter, não só um conhecimento mais exato do passado, mas também uma perspectiva mais esclarecida a respeito do seu próprio tempo, e um maior apreço pela fidelidade e historicidade das Escrituras.

Os Editores


The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson (1937-2023), pp. 1-22.

OS TEMPOS DOS GENTIOS RECONSIDERADOS

Introdução

Carl Olof Jonsson


O processo de desilusão, por vezes dramático, que resultou na decisão de publicar este tratado poderia encher um livro inteiro. Contudo, devido a considerações de espaço, essa informação adicional só pode ser aqui mencionada de forma breve.

As Testemunhas de Jeová são ensinadas a pôr grande confiança na Watch Tower Society e na sua liderança. Contudo, perto do fim dos meus vinte e seis anos como Testemunha de Jeová ativa, tinham-se acumulado sinais indicando que essa confiança estava enganada. Até ao último momento eu tinha esperanças que os líderes da organização encarariam de forma honesta os fatos a respeito da sua cronologia, mesmo se esses fatos provassem ser fatais para algumas das doutrinas centrais e pretensões singulares da organização deles. Mas quando por fim me apercebi que os líderes da Sociedade -- aparentemente por razões de política organizacional ou "eclesiástica" -- estavam determinados a perpetuar o que, em última análise, é enganar milhões de pessoas, fazendo isto por supressão de informação que consideraram e continuam a considerar como indesejável, parecia não haver para mim outra saída a não ser publicar o que tinha descoberto, dando assim a todos os indivíduos que se preocupam com a verdade a oportunidade de examinar a evidência e tirar as suas próprias conclusões.

Cada um de nós é responsável por aquilo que sabe. Se uma pessoa tem em seu poder informação que outros precisam para poderem ter um entendimento correto da sua situação na vida -- informação que além disso lhes é ocultada pelos seus líderes religiosos -- então seria moralmente incorreto continuar em silêncio. Torna-se dever dele ou dela tornar essa informação disponível a todos os que querem saber a verdade, independentemente da forma como os outros o encarem por causa disto. É por essa razão que este livro foi publicado.

O papel da cronologia nos ensinos da Watch Tower Society

São poucas as pessoas que conhecem bem o papel central desempenhado pela cronologia nas alegações e ensinos da Watch Tower Society. Mesmo muitas Testemunhas de Jeová não se apercebem completamente da ligação indissolúvel entre a cronologia da Sociedade e a mensagem que eles pregam de casa em casa. Ao serem confrontadas com as muitas evidências contra a sua cronologia, algumas Testemunhas de Jeová tendem a desvalorizá-la como sendo algo que podem dispensar. "Afinal de contas, a cronologia não é assim tão importante", dizem elas. Muitas Testemunhas prefeririam não discutir o assunto de maneira nenhuma. Então, qual é a verdadeira importância da cronologia para a organização Watch Tower?

Um exame da evidência demonstra que a cronologia constitui a própria fundamentação [ou base] para as pretensões e mensagem deste movimento.

A Watch Tower Society alega ser o "único canal" e "porta-voz" de Deus na terra. Resumindo os seus ensinos mais característicos: eles afirmam que o reino de Deus foi estabelecido no céu em 1914, que os "últimos dias" começaram nesse ano, que Cristo voltou de forma invisível nesse tempo para "inspecionar" as denominações cristãs, e que ele por fim rejeitou-as a todas exceto a Watch Tower Society e seus associados, a quem designou em 1919 como o seu único "instrumento" na terra.

Durante cerca de setenta anos, a Sociedade empregou as palavras de Jesus em Mateus 24:34 a respeito de "esta geração" para ensinar claramente e de forma inflexível que a geração de 1914 não passaria de maneira nenhuma sem vir primeiro o fim definitivo na "batalha do Armagedom", quando todos os humanos vivos, com excepção dos membros ativos da organização Watch Tower, seriam destruídos para sempre. Milhares de Testemunhas de Jeová da "geração de 1914" esperavam convictamente viver o suficiente para ver e sobreviver a esse dia de destruição e depois viver para sempre no paraíso na terra.


1914 -- a geração que não passaria

À medida que as décadas foram passando, deixando 1914 cada vez mais para trás, esta idéia tornou-se cada vez mais difícil de defender. Depois de terem passado 80 anos, a idéia tornou-se praticamente absurda [ou ridícula]. Assim, na edição de 1.º de Novembro de 1995 da revista Watchtower [Sentinela], (páginas 10-21), foi adotada uma nova definição da expressão "esta geração", que permitiu à organização "desligá-la" da data 1914 enquanto ponto de partida. Apesar desta mudança monumental, eles ainda retiveram a data 1914 -- de fato, eles não podiam proceder de outro modo sem desmantelar os seus ensinos principais a respeito da "segunda presença" de Cristo, do início do "tempo do fim", e da designação da sua organização como o único instrumento de Cristo e o único canal de Deus na terra. Embora agora reconheçam que "esta geração" é definida pelas suas características em vez de o ser por um período cronológico (com um ponto de partida específico), eles ainda arranjaram um modo de incluir 1914 na sua nova definição. Conseguiram fazer isto incluindo na definição um fator arbitrariamente adicionado, nomeadamente, que a "geração" é composta por "aquelas pessoas que vêem o sinal da presença de Cristo mas deixam de emendar os seus caminhos", resultando na sua destruição. Como o ensino oficial continua a ser que o "sinal da presença de Cristo" tornou-se visível desde e a partir de 1914, isto permite que essa data continue como uma parte chave da definição de "esta geração".

Assim, todos estes fatores provam o papel altamente crucial que 1914 desempenha nos ensinos da Watch Tower Society. Se a própria data, como é óbvio, não aparece nas Escrituras, então qual é a sua origem?

Essa data é o produto de um cálculo cronológico, segundo o qual os assim chamados "tempos dos Gentios" mencionados por Jesus em Lucas 21:24 constituem um período de 2.520 anos, com início em 607 A.E.C. e fim em 1914 E.C.1 Este cálculo é a base real da principal mensagem do movimento. Eles dizem que até mesmo o evangelho cristão, as "boas novas" do reino (Mateus 24:14) está fortemente associado a esta cronologia. Portanto, o evangelho pregado por outros cristãos professos nunca foi o verdadeiro evangelho. A revista The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Maio de 1981, na página 17 disse [tradução a partir da edição inglesa]:

Que a pessoa de coração honesto compare o tipo de pregação do evangelho do Reino feito pelos sistemas religiosos da cristandade durante todos os séculos com aquele feito pelas Testemunhas de Jeová desde o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Não são do mesmo tipo. O das Testemunhas de Jeová é realmente "evangelho", ou "boas novas", quanto ao reino celestial de Deus que foi estabelecido através da entronização do seu Filho Jesus Cristo no fim dos Tempos dos Gentios em 1914. [itálico acrescentado.]

Em consonância com isto, a revista The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Maio de 1982, disse que "de todas as religiões na terra, as Testemunhas de Jeová são os únicos que hoje estão a dizer às pessoas da terra estas 'boas novas'." (Página 10) Uma Testemunha de Jeová que tente minimizar o papel da cronologia nos ensinos da Sociedade está, talvez sem se aperceber disso, a minar radicalmente a principal mensagem do movimento. Tal tentativa de "minimizar" a cronologia não é aprovada pela liderança da Watch Tower. Pelo contrário, The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Janeiro de 1983, página 12, enfatizou que "o fim dos tempos dos gentios na segunda metade de 1914 ainda continua numa base histórica como sendo uma das verdades fundamentais do Reino à qual temos de aderir hoje."2

Na realidade, a Watch Tower Society encara a rejeição da cronologia que aponta para 1914 como sendo um pecado com conseqüências fatais. Eles dizem que o estabelecimento do reino de Deus no fim dos "tempos dos Gentios" é "o acontecimento mais importante do nosso tempo", perante o qual "todas as outras coisas se tornam insignificantes."3 Dizem que aqueles que rejeitam o cálculo [que leva a 1914] incorrem na ira de Deus. Entre estes, está "o clero da Cristandade" e os seus membros que, por não subscreverem essa data, são acusados pela Watch Tower de terem rejeitado o reino de Deus e por isso serão "destruídos na 'grande tribulação' que é iminente."4 Membros das Testemunhas de Jeová que questionem abertamente ou rejeitem o cálculo [que leva a 1914], correm o risco de serem tratados de forma muito severa. Se não se arrependerem e não mudarem de idéias, serão desassociados [excomungados] e classificados de "apóstatas" iníquos, que "irão, quando morrerem, ... para a Geena," sem qualquer esperança de uma ressurreição futura.5 A situação não se altera em nada se a pessoa continuar a acreditar em Deus, na Bíblia e em Jesus Cristo. Quando um dos leitores da The Watchtower [A Sentinela] escreveu e perguntou "Porque têm as Testemunhas de Jeová desassociado (excomungado) por apostasia algumas pessoas que ainda professam crer em Deus, na Bíblia e em Jesus Cristo?" a Sociedade respondeu, entre outras coisas:

A associação aprovada com as Testemunhas de Jeová requer aceitar por inteiro o conjunto de ensinos verdadeiros da Bíblia, incluindo aquelas crenças bíblicas que são únicas às Testemunhas de Jeová. O que incluem estas crenças? ... Que 1914 marcou o fim dos tempos dos Gentios e o estabelecimento do Reino de Deus nos céus, bem como o tempo para a predita presença de Cristo. [Itálico acrescentado. Tradução feita a partir da versão inglesa.]6

Portanto, ninguém que repudie o cálculo segundo o qual os "tempos dos Gentios" terminaram em 1914 é aprovado pela Sociedade como uma das Testemunhas de Jeová. De fato, mesmo uma pessoa que secretamente abandone a cronologia da Sociedade e possa ainda ser formalmente considerada como uma das Testemunhas de Jeová, na realidade, já rejeitou a mensagem essencial da Watch Tower Society e, segundo a critério da própria organização, de fato já não é mais parte do movimento.

Como começou esta investigação

Não é fácil para uma Testemunha de Jeová questionar a validade deste cálculo profético básico. Para muitos crentes, especialmente num sistema religioso fechado como a organização Watch Tower, este sistema doutrinal funciona como uma espécie de "fortaleza" dentro da qual eles podem procurar abrigo, sob a forma de segurança espiritual e emocional. Se alguma parte dessa estrutura doutrinal é questionada, esse tipo de crentes tendem a reagir emocionalmente; tomam uma atitude defensiva, sentindo que a sua "fortaleza" está sob ataque e que a sua segurança está ameaçada. Este mecanismo de defesa torna muito difícil para eles escutarem e examinarem os argumentos sobre o assunto de forma objetiva. Inconscientemente, a sua necessidade de segurança emocional tornou-se mais importante para eles do que o respeito pela verdade.

É extremamente difícil ultrapassar esta atitude defensiva tão comum entre as Testemunhas de Jeová, e encontrar mentes abertas e dispostas a escutar -- especialmente quando uma doutrina tão fundamental como a cronologia dos "tempos dos Gentios" está sendo questionada. Tal questionamento abala as próprias fundações do sistema doutrinal das Testemunhas e isso muitas vezes faz com que elas se tornem defensivas de uma forma beligerante, qualquer que seja o nível que ocupam dentro da organização. Eu experimentei repetidamente tais reações desde 1977, quando apresentei pela primeira vez o material contido neste volume ao Corpo Governante das Testemunhas de Jeová.

Foi em 1968 que o presente estudo começou. Nesse tempo eu era um "pioneiro" ou evangelista a tempo inteiro para as Testemunhas de Jeová. No decorrer do meu ministério, um senhor a quem eu estava a dar um estudo bíblico desafiou-me a provar que estava certa a data que a Watch Tower Society tinha escolhido para a desolação de Jerusalém pelos babilônios, isto é, 607 A.E.C. Ele indicou que todos os historiadores assinalavam esse acontecimento como tendo ocorrido cerca de vinte anos mais tarde, em 587 ou 586 A.E.C. Eu estava bem a par disto, mas o homem queria saber as razões porque os historiadores preferiam esta última data. Eu disse que a datação deles seguramente não passava de uma suposição, baseada em fontes e registos antigos que eram deficientes. Tal como outras Testemunhas, eu supunha que a datação que a Sociedade faz da destruição de Jerusalém em 607 A.E.C. era baseada na Bíblia e portanto não podia ser abalada por aquelas fontes seculares. Contudo, prometi ao senhor que analisaria o assunto.

Em resultado disso, eu fiz uma investigação que acabou por ser muito mais extensa e completa do que eu esperava. Continuou periodicamente durante vários anos, desde 1968 até ao fim de 1975. Nesta altura, o crescente peso da evidência contra a data 607 A.E.C. forçara-me a concluir, relutantemente, que a Watch Tower Society estava errada.

Mais tarde, durante algum tempo depois de 1975, discuti a evidência com alguns amigos próximos, também inclinados para a investigação. Como nenhum deles conseguiu refutar a evidência demonstrada pela informação que eu reunira, decidi desenvolver um tratado elaborado sistematicamente sobre toda esta questão, que pretendia enviar para a sede da Watch Tower Society, em Brooklyn, Nova Iorque.

Esse tratado foi preparado e enviado para o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová em 1977. O presente trabalho, que é baseado nesse documento, foi revisto e ampliado durante o ano de 1981 e depois foi publicado numa primeira edição em 1983. Durante os anos que passaram desde 1983, foram feitas muitas descobertas novas e observações relevantes para o assunto, e as mais importantes dentre elas foram incorporadas nesta nova edição. As sete linhas de evidência contra a data 607 A.E.C. apresentadas na primeira edição, por exemplo, foram agora duplicadas para catorze.

Correspondência com a sede da Watch Tower

Em 1977 comecei a corresponder-me com o Corpo Governante a respeito da minha investigação. Depressa se tornou evidente que eles não conseguiam refutar a evidência que eu apresentara. De fato, eles nem sequer fizeram qualquer tentativa nesse sentido até 28 de Fevereiro de 1980. Entretanto, eles avisaram-me repetidamente para não revelar as minhas descobertas a outros. Por exemplo, numa carta que o Corpo Governante me enviou, datada de 17 de Janeiro de 1978, foi-me dado este aviso:

Contudo, independentemente de quão forte a argumentação em apoio desses pontos de vista possa ser, eles têm de, por agora, ser encarados como a sua opinião pessoal. Não é algo que o irmão deva falar ou tentar divulgar entre outros membros da congregação.7

E ainda mais, numa carta datada de 15 de Maio de 1980, eles declararam:

Estamos certos que o irmão compreende que não seria apropriado da sua parte começar a divulgar os seus pontos de vista e conclusões sobre cronologia que diferem daqueles publicados pela Sociedade, de modo a causar questões e problemas graves entre os irmãos.8

Eu aceitei esse conselho, pois a impressão que me deram foi que os meus irmãos espirituais na sede da Watch Tower precisavam de tempo para reexaminar todo o assunto de forma exaustiva. Na primeira resposta que eles deram ao meu tratado, datada de 19 de Agosto de 1977, declararam: "Lamentamos que a quantidade de trabalho aqui não nos tenha permitido até agora dar [ao tratado] a atenção que gostaríamos." E na carta de 17 de Janeiro de 1978, escreveram:

Ainda não tivemos a oportunidade de examinar este material, pois outros assuntos urgentes estão a ocupar a nossa atenção. Contudo, analisaremos este material quando tivermos oportunidade.... Pode estar certo que os seus pontos de vista serão examinados por irmãos responsáveis.... Na altura própria, esperamos analisar o seu tratado e avaliar o que está contido nele.

A julgar por estas declarações e outras similares, os representantes da Watch Tower na sede de Brooklyn pareciam estar preparados para examinar de forma honesta e objetiva a informação que lhes apresentei. Contudo, num curto espaço de tempo o caso tomou um rumo muito diferente.

Interrogação e difamação

No início de Agosto de 1978, Albert D. Schroeder, um membro do Corpo Governante, teve uma reunião na Europa com representantes dos escritórios das filiais da Watch Tower da Europa. [Continua na p. 10]

WATCH TOWER BIBLE AND TRACT SOCIETY OF PENNSYLVANIA
124 COLUMBIA HEIGHTS, BROOKLYN, NEW YORK 11201, U.S.A.
GEA:ESB
17 de Janeiro, 1978

Carl Olof Jonsson
Hjeltegatan 14
S-662 00 AMAL
Suécia

Prezado Irmão Jonsson:

Recebemos a sua carta de 12 de Dezembro de 1977, e também o tratado que preparou, intitulado "Os Tempos dos Gentios Reconsiderados."

Ainda não tivemos a oportunidade de examinar este material, pois outros assuntos urgentes estão a ocupar a nossa atenção. Contudo, analisaremos este material quando tivermos oportunidade.

Apreciamos a sua sinceridade em querer tornar conhecidos os seus pontos de vista. Contudo, independentemente de quão forte a argumentação em apoio desses pontos de vista possa ser, eles têm de, por agora, ser encarados como a sua opinião pessoal. Não é algo de que o irmão deva falar ou tentar divulgar entre outros membros da congregação. Mencionamos isto porque o irmão diz na sua carta que vários irmãos examinaram o seu tratado e que "estamos todos aguardando ansiosamente os vossos comentários."

Conforme pode calcular, o que o irmão declara no seu tratado representa um abandono radical do entendimento atual que as Testemunhas de Jeová têm da cronologia. Estamos certos que compreenderá que se forem feitas mudanças importantes, deverão sê-lo de forma ordeira, tal como foi o caso no primeiro século, sendo dada direcção central. (Actos 15:1, 2) Estamos também certos que compreenderá que se indivíduos promovessem e advogassem essas mudanças, isso iria ter, não um efeito unificador, mas um efeito de divisão que produziria confusão. Mencionamos-lhe isto em vista do fato de o tratado que o irmão enviou conter uma declaração na página inicial descrevendo-o como "preparado por Testemunhas de Jeová, para Testemunhas de Jeová." Dizer que algo é "preparado por Testemunhas de Jeová" implica que tem a aprovação das Testemunhas de Jeová como um corpo, e estamos certos que o irmão compreende que este não é o caso com o tratado em causa. Isto poderia dar uma impressão falsa e estamos certos que este não é os seu desejo. Pode estar certo que os seus pontos de vista serão examinados por irmãos responsáveis e que se em algum momento for necessário fazer uma mudança doutrinal, esta virá através dos canais próprios. Isto é importante para preservar a unidade da organização de Jeová.

Esperamos que o irmão acate o conselho dado acima. Na altura própria, esperamos analisar o seu tratado e avaliar o que está contido nele.

Enviamos-lhe o nosso amor caloroso e os melhores cumprimentos.

Seus irmãos,

Watch Tower B. & T. Society
OF PENNSYLVANIA
Pelo Departamento de Redacção
do Corpo Governante

Nessa reunião, ele disse à audiência que estava em andamento uma campanha, tanto no interior do movimento como no exterior, para derrubar a cronologia da Sociedade a respeito de 607 A.E.C.-1914 E.C.9 No entanto, a Sociedade não tem qualquer intenção de abandonar essa cronologia, declarou ele.

Três semanas mais tarde, em 2 de Setembro, fui convocado para uma audição perante dois representantes da Watch Tower Society na Suécia, Rolf Svensson, um dos dois superintendentes de distrito do país, e Hasse Hulth, um superintendente de circuito. Fui informado que eles tinham sido encarregados pelo escritório da filial da Sociedade de fazer esta audição porque "os irmãos" na sede de Brooklyn estavam profundamente preocupados com o meu tratado. Mais uma vez, fui avisado que não devia espalhar a informação que tinha reunido. Rolf Svensson também me disse que a Sociedade não precisava, nem queria, que Testemunhas de Jeová individuais se envolvessem em investigações deste tipo.

Em parte devido a esta reunião, eu renunciei à minha posição como ancião na congregação das Testemunhas de Jeová local e também de todas as minhas outras tarefas e designações na congregação e no circuito. Fiz isto sob a forma de uma longa carta, dirigida aos anciãos locais e ao superintendente de circuito, Hasse Hulth, na qual expliquei de forma resumida as razões que motivaram a posição que tomei. Depressa se tornou do conhecimento geral entre os meus irmãos Testemunhas em várias partes da Suécia que eu e outros tínhamos rejeitado a cronologia da Sociedade.

Nos meses seguintes, eu e outros que tínhamos questionado a cronologia começamos a ser condenados em privado, bem como das tribunas dos Salões do Reino (locais de reuniões congregacionais) e em assembléias ou convenções de Testemunhas. Nós fomos caracterizados publicamente nos termos mais negativos, como "rebeldes", "presunçosos", "falsos profetas", "pequenos profetas que inventaram a sua própria cronologiazinha" e "hereges". Fomos chamados "elementos perigosos nas congregações", "escravos maus", "blasfemadores", bem como "indivíduos imorais, desregrados". Em privado, alguns dos nossos irmãos Testemunhas, incluindo vários representantes viajantes da Watch Tower Society, também insinuaram que nós estávamos "possuídos por demônios", que tínhamos "inundado a Sociedade com criticismo" e que "já devíamos ter sido desassociados [excomungados] há muito tempo". Estes são apenas alguns exemplos da difamação em larga escala, que tem continuado desde esse tempo até agora, embora eles nunca tenham mencionado publicamente os nossos nomes, por obvias razões legais.

Que essa obvia difamação não era apenas um fenômeno local, mas tinha a aprovação do Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, torna-se evidente a partir do fato de declarações similares terem sido impressas na revista The Watchtower [A Sentinela].10

Esta descrição da situação que se desenvolveu não é feita com o objetivo de criticar as Testemunhas de Jeová como indivíduos. Estas pessoas normalmente são gentis e sinceras nas suas crenças. Em vez disso, esta descrição foi feita para ilustrar como é fácil um indivíduo cair involuntariamente vítima das reações psicológicas irracionais, descritas anteriormente nesta introdução. Numa carta para Albert Schroeder, datada de 6 de Dezembro de 1978, eu descrevi o novo rumo dos acontecimentos, chamando a atenção para o triste fato de apesar do meu tratado ter sido elaborado com a maior das atenções e enviado para a Sociedade com toda a sinceridade, eu tornara-me a vítima de maledicência, vilificação e assassínio de caráter:

Como é trágico observar como se desenvolve uma situação em que a atenção é desviada da questão que foi levantada -- a validade da data 607 A.E.C. -- e direcionada para a pessoa que a levantou a questão, e essa pessoa -- em vez da questão -- é encarada como sendo o problema! Como é possível que uma situação deste tipo se tenha desenvolvido no nosso movimento?

A resposta a esta pergunta, à qual a Sociedade nunca respondeu, encontra-se no mecanismo psicológico de defesa descrito pelo Dr. H. Dale Baumbach:

Indivíduos inseguros, quando confrontados com um problema que expõe a sua insegurança, respondem instintivamente tentando destruir aquilo que expõe a sua insegurança ou banindo isso para o recôndito da mente.11

Espero que o conhecimento da existência deste mecanismo ajude aqueles leitores que estão associados com as Testemunhas de Jeová a examinarem a evidência apresentada neste trabalho com a devida consideração e uma mente aberta.

Posteriormente, a Watch Tower Society tentou refutar a evidência contra a data 607 A.E.C., mas isto só aconteceu depois de um representante especial do Corpo Governante na Suécia ter escrito à Sociedade pedindo-lhes que providenciassem uma resposta ao conteúdo do tratado que lhes fora enviado, dizendo-lhes que o autor ainda estava à espera de uma resposta. Este representante era o coordenador da obra da Sociedade na Suécia, Bengt Hanson.

Hanson tinha-me feito uma visita em 11 de Dezembro de 1979, para discutir a situação que se desenvolveu. Durante a nossa discussão, ele foi forçado a ver que era a evidência contra a data 607 A.E.C. que eu tinha apresentado à Sociedade -- não era eu nem os meus motivos ou atitude -- que constituía o verdadeiro problema. Se a evidência contra a data 607 A.E.C. era válida, então isto era um problema que devia ser motivo de igual preocupação para todas as Testemunhas na organização. Sob tais circunstâncias, a minha atitude pessoal e motivos eram tão irrelevantes como os das outras Testemunhas.

Como resultado disto, no início de 1980 Hanson escreveu uma carta ao Corpo Governante, explicando a situação, dizendo-lhes que eu ainda estava à espera de uma resposta para a evidência que reunira contra a cronologia deles. E foi assim que, cerca de três anos depois de eu lhes ter enviado o material da pesquisa, numa carta datada de 28 de Fevereiro de 1980, eles fizeram uma tentativa de lidar com a questão, em vez de se ocuparem com o questionador.

Contudo, a argumentação apresentada por eles era afinal em grande parte uma repetição de argumentos anteriores, encontrados em vários sítios na literatura da Watch Tower Society, argumentos esses que já tinham sido provados insatisfatórios no tratado. Numa carta datada de 31 de Março de 1980, eu respondi aos argumentos deles e ainda acrescentei duas novas linhas de evidência contra a data 607 A.E.C. Assim, a Sociedade não só falhou em defender a sua posição, mas a evidência contra ela também se tornou consideravelmente mais forte.

A Sociedade não fez qualquer tentativa adicional de lidar com a questão até ao verão de 1981, quando apareceu uma pequena discussão acerca do assunto no "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino" (páginas 186-190). Esta última discussão não acrescentou nada de novo aos argumentos anteriores, e para qualquer pessoa que tenha estudado cuidadosamente o assunto da cronologia antiga, não parece ser nada mais além de uma débil tentativa de defender uma posição insustentável através da ocultação de fatos. Isto é claramente demonstrado no último capítulo do presente trabalho, intitulado "Tentativas de enfraquecer a evidência". O conteúdo do "Apêndice" da Watch Tower Society, porém, convenceu-me finalmente que os líderes desta organização não estavam dispostos a deixar os fatos interferir com doutrinas fundamentais tradicionais.

"Esperando em Jeová"

Note-se que enquanto os representantes da Sociedade se sentem perfeitamente à vontade para publicar todo e qualquer argumento em apoio da sua cronologia, eles foram a grandes extremos para tentar manter as Testemunhas de Jeová na maior parte em ignorância quanto ao peso enorme da evidência contra a sua cronologia. Foi por isso que eles não só me avisaram repetidamente para não partilhar com outros a minha evidência contra a data 607 A.E.C., mas também apoiaram a difamação espalhada a respeito de toda e qualquer Testemunha de Jeová que tivesse questionado a cronologia da organização. Este modo de proceder não é apenas injusto para com aqueles que questionaram a cronologia; é também muito injusto para com as Testemunhas de Jeová em geral. Elas têm o direito de ouvir ambos os lados da questão e tomar conhecimento de todos os fatos. É por essa razão que decidi publicar Os Tempos dos Gentios Reconsiderados.

Curiosamente, foram apresentados por representantes da Watch Tower Society vários argumentos para justificar a posição que diz que fatos e evidência que contraria os seus ensinos não devia ser divulgada entre as Testemunhas de Jeová. Uma das linhas de raciocínio é esta: Jeová revela a verdade gradualmente através da sua classe do "escravo fiel e discreto", a quem Cristo designou "sobre todos os seus bens". (Mateus 24:47, TNM) Esta classe do "escravo" expressa-se através daqueles que supervisionam a publicação e a redação da literatura da Watch Tower. Portanto, nós devíamos esperar em Jeová -- por outras palavras, esperar até que a organização publique "novas verdades". Qualquer pessoa que "corra à frente" da organização é então presunçoso, pois pensa que sabe mais do que "o escravo fiel e discreto".

Contudo, esse argumento é inválido se as suposições da Sociedade a respeito da cronologia bíblica forem erradas. Como assim? Porque o próprio conceito de que é possível identificar hoje uma "classe do escravo fiel e discreto" a quem Cristo, tal como o "amo" na parábola de Mateus 24:45-47, designou "sobre todos os seus bens", baseia-se inequivocamente no cálculo cronológico que diz que o "amo" chegou em 1914 e fez tal designação poucos anos depois, em 1919. Se, conforme se mostrará neste trabalho, os tempos dos Gentios não acabaram em 1914, então desaparece a base para se afirmar que Cristo regressou nesse ano, e os líderes da Watch Tower não podem alegar que foram designados "sobre todos os seus bens" em 1919. Se isto é assim, eles nem sequer podem corretamente dizer que têm o monopólio dado por Deus para publicar "a verdade".

Note-se também que é o "amo" da parábola quem, ao chegar, decide quem é "o escravo fiel e discreto", não são os escravos que decidem isso por si mesmos. Portanto, quando um grupo de indivíduos alegam -- na ausência do "amo" -- que são "o escravo fiel e discreto", elevando-se a si mesmos sobre todos os "bens" do amo, isso é em si mesmo uma presunção grosseira. Por outro lado, dificilmente um indivíduo que não alega ter uma posição elevada poderia ser encarado como presunçoso se publicar informação que contradiz alguns dos ensinos da Watch Tower Society.

É claro que "esperar em Jeová" é o dever de todo o cristão. Infelizmente, a Watch Tower Bible and Tract Society, tal como muitos outros movimentos apocalípticos, tem "anunciado" repetidamente que chegou o tempo para o cumprimento das profecias de Deus, fazendo isto em todos os casos sem respeitar os "tempos e épocas" do próprio Deus para o seu cumprimento. Isto tem acontecido sempre, desde que eles começaram na década de 1870.

Será que os líderes do movimento Watch Tower estavam a estabelecer um exemplo de "esperar em Jeová" quando, durante cerca de 55 anos (1876-1931), ensinaram persistentemente que Cristo tinha chegado em 1874?

Quando ensinaram que o "restante" da igreja de Cristo seria mudado (1 Tessalonicenses 4:17), primeiro em 1878, depois em 1881, depois em 1914, depois em 1915, depois em 1918 e depois ainda em 1925, será que eles "esperaram em Jeová"?12

Quando ensinaram que o fim do presente sistema de coisas viria em 1914, depois em 1918-20, depois em 1925, depois por volta de 1941-42, e depois ainda em 1975, será que estavam "esperando em Jeová"?13

Se, ao contrário do que a Watch Tower Society continua a defender, 1914 não é o ponto em que terminam os "tempos dos Gentios", então as numerosas aplicações "proféticas" atuais que têm a sua origem nessa suposição são provas adicionais de que a Sociedade ainda não está preparada para "esperar em Jeová". À luz disso, e em tais circunstâncias, parece um pouco descabido a Sociedade aconselhar outros a "esperar em Jeová". A pessoa que quer genuinamente esperar em Jeová não se pode limitar a esperar até que a Watch Tower Society esteja preparada para fazê-lo. Se, depois de uma consideração cuidadosa da evidência, ela chegar à conclusão de que a Watch Tower Society produziu, dentro do esquema geral da sua cronologia, um "cumprimento" claramente arbitrário da profecia bíblica no nosso tempo, então ela precisa de se dissociar a si própria das tentativas persistentes que são feitas para impor essa posição arbitrária sobre outros como uma crença necessária. Só então é que se poderia dizer que ela estaria preparada para começar a "esperar em Jeová".

A expulsão

Já por mais de um século, as publicações da Watch Tower têm estado cheias de críticas pesadas e contínuas aos erros e más acções das outras denominações cristãs. Este criticismo muitas vezes é genérico e superficial, mas outras vezes atinge o alvo. A literatura da Watch Tower tem denunciado frequentemente a intolerância mostrada no passado por várias igrejas contra membros dissidentes. "A cristandade tem tido seus fanáticos -- desde pessoas que incendiaram a si mesmas em protesto político até aqueles que agiram de modo intolerante para com os que tinham conceitos religiosos diferentes dos seus", observou The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Julho de 1987, na página 28. Este tipo de intolerância encontrou uma terrível expressão na Inquisição, que foi estabelecida pela Igreja Católica Romana no século XIII e durou mais de seis séculos.

A palavra "Inquisição" deriva da palavra latina inquisitio, que significa "exame". É descrita resumidamente como "um tribunal estabelecido pela Igreja Católica Romana para descobrir e punir heréticos e apóstatas".14 Qual era a situação das pessoas sob este governo intolerante do clero? The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Setembro de 1989 explicou na página 3:

Ninguém tinha a liberdade de adorar como desejasse, ou de emitir opiniões que conflitassem com as do clero. Tal intolerância clerical gerou um clima de medo em toda a Europa. A igreja instituiu a Inquisição para eliminar indivíduos que ousassem sustentar conceitos diferentes.

Estas declarações podiam dar a impressão de que a Watch Tower Society, em contraste com a Igreja Católica Romana da Idade Média, age com tolerância em relação a membros que "têm opiniões religiosas diferentes" e defende o seu direito a expressarem opiniões conflitantes com os ensinos da organização. Contudo, a verdade é que esta organização tem exatamente a mesma atitude que a Igreja Católica medieval em relação a membros que têm opiniões religiosas diferentes. "Acautele-se dos que procuram apresentar suas próprias opiniões contrárias.", avisou a The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Março de 1986 (página 17). Respondendo à pergunta porque "desassociaram (excomungaram) as Testemunhas de Jeová por apostasia a alguns que ainda professam crer em Deus, na Bíblia e em Jesus Cristo", a Watch Tower Society disse:

Os que expressam tal objeção salientam que muitas organizações religiosas que afirmam ser cristãs permitem conceitos dissidentes.... Entretanto, tais exemplos não constituem nenhuma base para nós fazermos o mesmo.... Ensinar conceitos dissidentes ou divergentes não é compatível com o verdadeiro cristianismo.15

A Watch Tower Society até estabeleceu tribunais inquisitoriais semelhantes àqueles organizados pela Igreja Católica Romana na Idade Média, a única diferença essencial é que as "comissões judicativas" da Sociedade não têm autoridade legal para torturar fisicamente as suas vítimas. Eu sabia que as conclusões a que chegara resultariam posteriormente em ser julgado e expulso por tal "tribunal da inquisição", se eu não deixasse a organização de minha própria iniciativa antes disso. Mas eu também sabia que em ambos os casos as conseqüências seriam as mesmas.

Depois de vinte e seis anos como Testemunha de Jeová ativa, eu estava agora, em 1982, preparado para deixar a organização Watch Tower. Era muito claro para mim que isto significaria uma ruptura completa com todo o mundo social do qual eu fora parte durante todos aqueles anos. As regras da Watch Tower Society requerem que as Testemunhas de Jeová cortem todos os contatos com aqueles que deixam de pertencer à organização, quer isto aconteça devido a desassociação, quer seja por renúncia voluntária. Eu sabia que perderia não apenas praticamente todos os meus amigos, mas também todos os meus familiares que estavam dentro da organização (três dos quais tinham mais de setenta anos, incluindo um irmão e duas irmãs e suas famílias, primos e suas famílias, etc.). Eu seria encarado e tratado como se estivesse "morto", embora a minha "execução" tivesse de ser adiada até à iminente "batalha do Armagedom", uma batalha na qual as Testemunhas esperam que Jeová aniquile para sempre todos os que não estão associados com a sua organização.16

Já por algum tempo, eu tinha estado a tentar preparar-me emocionalmente para esta ruptura. O meu plano era publicar o meu tratado como uma despedida pública do movimento. Contudo, não consegui ter o material pronto para publicação antes de ter chegado uma carta da filial da Watch Tower Society na Suécia, datada de 4 de Maio de 1982. Esta carta era uma convocação para um interrogatório perante uma "comissão judicativa" formada por quatro representantes da Sociedade, que tinham sido designados, dizia a carta, para "descobrir qual é a sua atitude em relação à nossa crença e organização."17

Compreendi que os meus dias dentro da organização estavam agora contados e que talvez não conseguisse ter o meu tratado pronto para publicação a tempo. Numa carta dirigida à filial, tentei adiar a reunião com a comissão judicativa. Eu disse que, conforme eles sabiam muito bem, a base para a minha "atitude em relação à nossa crença e organização" consistia na evidência que apresentara contra a cronologia da Sociedade, e se eles queriam sinceramente mudar a minha atitude, tinham de começar por lidar com o peso da evidência que era a base para a minha atitude. Por isso, pedi que os membros da comissão fossem autorizados a fazer um exame completo do meu tratado. Depois disso, poderíamos razoavelmente ter uma reunião significativa.

Mas nem o escritório da filial nem os quatro membros da comissão judicativa mostraram qualquer interesse no tipo de discussão que eu propusera, e nem sequer comentaram as condições que eu colocara para ter uma reunião significativa com eles. Numa carta lacônica, eles limitaram-se a repetir a convocação para o interrogatório com a comissão. Parecia-me óbvio que eu já tinha sido julgado de antemão e que o julgamento para o qual eu fora convocado seria apenas uma farsa macabra e sem sentido. Por essa razão, preferi não ir ao interrogatório e consequentemente fui julgado e desassociado na minha ausência em 9 de Junho de 1982.

Tentando ganhar tempo, apelei da decisão. Foi designado aquilo a que eles chamam uma "comissão de apelação" de quatro novos membros e mais uma vez repeti numa carta as condições que achava razoáveis para ter uma conversa significativa com eles. Eles nem sequer responderam a esta carta. Portanto, em 7 de Julho de 1982 a nova comissão reuniu-se para outro julgamento fingido na minha ausência e, conforme eu já esperava, eles apenas confirmaram a decisão da primeira comissão. Em ambos os casos o único assunto "judicativo" considerado foi, obviamente, este: Eu concordava totalmente ou não com os ensinos da Watch Tower? A questão de saber se as razões para a minha posição eram válidas, foi simplesmente tratada como irrelevante.

Será que as conclusões são destrutivas da fé?

Conforme disse anteriormente, as conclusões a que cheguei neste trabalho abalam as pretensões centrais e as interpretações apocalípticas da Watch Tower Society. Portanto, tais conclusões poderiam causar alguma agitação entre as Testemunhas de Jeová, e os líderes da Sociedade temiam claramente que a sua disseminação quebrasse a unidade do seu rebanho. Eu estava bem ciente de que os meus esforços seriam interpretados pelos representantes da Watch Tower como uma tentativa de destruir a fé e quebrar a unidade da "verdadeira congregação cristã". Mas a fé deveria corretamente estar em harmonia com a verdade, com os fatos, e isto inclui os fatos históricos. Assim, senti-me confiante de que a publicação dos fatos sobre o assunto da cronologia não quebraria a paz e a unidade entre aqueles que são verdadeiramente cristãos. A verdadeira unidade é fundada sobre o amor, pois o amor é o "perfeito vínculo de união". -- Colossenses 3:14.

Por outro lado, também existe uma falsa unidade, fundada, não sobre o amor, mas sobre o medo. Tal "unidade" é característica das organizações autoritárias, tanto políticas como religiosas. É uma união mecanizada, imposta pelos líderes dessas organizações, que querem manter a sua autoridade e controlo sobre os indivíduos -- uma unidade que não depende da verdade. Em tais organizações, os indivíduos relegam para as autoridades centrais o seu direito e responsabilidade de pensar, falar e agir livremente. Como a evidência e as conclusões que são apresentadas neste trabalho derrubam as pretensões autoritárias da Watch Tower Society, é possível que a publicação deste trabalho seja uma ameaça para a unidade imposta [ou: forçada] dentro desta organização. mas a verdadeira unidade fundada sobre o amor entre os indivíduos cristãos, cuja "associação é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo", certamente não será afetada por isto. -- João 17:21-23; 1 João 1:3, NIV.

Assim, se as pretensões e interpretações proféticas da Watch Tower Society forem expostas como não tendo fundamento, nada de real valor se perderá quando estas coisas se dissolverem e desaparecerem. Um cristão ainda tem a Palavra de Deus, a verdadeira fonte de verdade e esperança. Cristo ainda é o seu Senhor, a sua única esperança para uma vida futura. E ele ainda continuará a desfrutar de paz e unidade cristã, com o seu Pai, com Jesus Cristo e com aqueles indivíduos na terra que serão os seus verdadeiros irmãos e irmãs. Mesmo se ele for expulso de um sistema religioso autoritário por aceitar aquilo que vê claramente como sendo verdade, Cristo não o abandonará, pois ele disse: "Onde dois ou três se reunirem em meu nome, ali estou eu com eles". (João 9:30, 34-39; Mateus 18:20, NIV) A resposta à pergunta: "Para onde iremos sem a organização?" continua a ser a mesma que era válida no tempo dos apóstolos, quando Pedro disse: "Senhor, para quem havemos de ir? Tu tens declarações de vida eterna". (João 6:68) É Cristo, não é uma organização, quem tem "declarações de vida eterna".18

Durante os anos que passaram desde que esta investigação começou, conheci pessoalmente ou por carta, um número crescente de Testemunhas de Jeová a diferentes níveis na organização Watch Tower que examinaram profundamente a questão da cronologia e chegaram independentemente às mesmas conclusões que são apresentadas neste volume. Alguns destes homens tentaram muito arduamente defender a cronologia da Sociedade antes de serem forçados pela evidência bíblica e histórica a abandoná-la. Entre esses estão membros da comissão de pesquisa encarregada de produzir o dicionário bíblico da Sociedade, Aid to Bible Understanding [Ajuda ao Entendimento da Bíblia].

A seção sobre cronologia nessa obra, nas páginas 322 a 348 [N. do T.: na edição brasileira: páginas 382-399; dada a diferença no número de páginas entre a edição inglesa, publicada em 1971 e a edição brasileira, publicada em 1982, suponho que a Watch Tower Society terá amputado a edição brasileira de parte do material que consta na edição inglesa] ainda é a discussão mais hábil e extensa sobre a cronologia da Watch Tower que alguma vez foi publicada por essa organização.19 No entanto, o indivíduo que escreveu esse artigo por fim apercebeu-se que a data da Sociedade para a queda de Jerusalém perante os babilônios, 607 A.E.C., não podia ser defendida, e mais tarde ele abandonou-a por completo, junto com todos os cálculos e ensinos nela baseados. Numa carta que me escreveu, ele declarou:

Ao desenvolver o assunto 'Cronologia' para Ajuda ao Entendimento da Bíblia, o período neo-babilônico, que se estende desde o reinado de Nabopolassar, pai de Nabucodonosor, até ao reinado de Nabonido e à queda de Babilônia, apresentava um problema particular. Como Testemunhas de Jeová, nós estávamos obviamente interessados em encontrar e apresentar alguma evidência, mesmo que fosse pequena, em apoio do ano 607 A.E.C. como sendo a data para a destruição de Jerusalém no décimo oitavo ano de Nabucodonosor. Eu estava bem a par do fato de os historiadores sempre apontarem para uma data uns vinte anos mais tarde e situarem o início do reinado de Nabucodonosor em 605 A.E.C. (o seu ano de ascensão), em vez de 625 A.E.C., a data usada nas publicações da Watch Tower. Eu sabia que a data 607 A.E.C. era crucial para a interpretação da Sociedade a respeito dos 'sete tempos' de Daniel capítulo quatro apontarem para o ano 1914 E.C.

Esse esforço requereu uma grande quantidade de pesquisa. Nesse tempo (1968), Charles Ploeger, membro da equipa da sede da Watch Tower, foi designado como meu assistente. Ele passou muitas semanas a procurar nas bibliotecas da cidade de Nova Iorque fontes de informação que pudessem dar alguma validade à data 607 A.E.C. como sendo a data para a destruição de Jerusalém. Também fomos à Brown University entrevistar o Dr. A. J. Sachs, um especialista em textos astronômicos relacionados com os períodos neo-babilônico e adjacentes. Nenhum destes esforços produziu qualquer evidência em apoio da data 607 A.E.C.

Devido a isto, ao escrever o artigo sobre 'Cronologia', devotei uma porção considerável do material a esforços para mostrar as incertezas existentes nas fontes históricas da antigüidade, incluindo não apenas fontes babilônicas, mas também egípcias, assírias e medo-persas. Embora ainda acredite que alguns dos pontos apresentados quanto a essas incertezas sejam válidos, sei que a argumentação nasceu de um desejo de sustentar uma data para a qual simplesmente não há qualquer evidência histórica. Se a evidência histórica, de fato, contradissesse alguma declaração clara das Escrituras, eu não hesitaria em considerar o relato bíblico como mais fiável. Mas apercebi-me de que a questão não é uma contradição de uma declaração clara das Escrituras, mas sim contradição de uma interpretação que é atribuída a certas partes das Escrituras, dando-lhes um significado que não está na própria Bíblia. As incertezas que são encontradas em tais interpretações humanas certamente são iguais às incertezas que se encontram nos relatos cronológicos da história antiga.20

Agradecimentos

Antes de concluir esta introdução, gostaria de agradecer às muitas pessoas bem informadas, ao redor do mundo, algumas das quais ainda eram Testemunhas de Jeová na época em que este tratado foi escrito, que, pelo seu encorajamento, sugestões, críticas e perguntas, contribuíram grandemente para este tratado. Em primeiro lugar, devo mencionar Rud Persson, de Ljungbyhed, Suécia, que participou no trabalho desde uma fase inicial e que, mais do que qualquer outra pessoa, me ajudou neste assunto. Outros amigos com os mesmos antecedentes, especialmente James Penton e Raymond Franz, têm sido de grande ajuda em preparar o livro para publicação ao polirem o meu inglês e a gramática.

A respeito da seção ideo-histórica (capítulo um), os meus contatos com o perito sueco Dr. Ingemar Lindén estimularam o meu interesse e iniciaram a minha investigação nesta área. Richard Rawe, de Soap Lake, Washington, e Alan Feuerbacher, de Beaverton, Oregon, também forneceram documentos importantes para esta seção. Para os capítulos sobre cronologia neo-babilônica (capítulos três e quatro), os contatos com as autoridades em textos cuneiformes babilônicos foram de incalculável ajuda. Isto aplica-se e particular ao Professor D. J. Wiseman, na Inglaterra, que é um dos maiores especialistas no período neo-babilônico; Sr. C. B. F. Walker, curador do Departamento de Antigüidades do Ocidente Asiático, no Museu Britânico, em Londres; Professor Abraham J. Sachs, nos E.U.A.; Professor Hermann Hunger, na Áustria, que desde a morte de Abraham Sachs, em 1983, é o perito principal em textos de observações astronômicas da Babilônia; e Dr. Béatrice André, do Museu do Louvre, em Paris. Finalmente, nas seções exegéticas (capítulos 5-7), vários lingüistas e hebraístas capazes compartilharam comigo os seus conhecimentos, especialmente o Dr. Seth Erlandsson, de Västerås, Suécia; o Professor Tryggve Mettinger, de Lund, Suécia; e o Dr. Tor Magnus Amble e o Dr. Hans M. Barstad, ambos de Oslo, na Noruega.

Em primeiro lugar, contudo, os meus agradecimentos vão para o Deus da Bíblia, que no Velho Testamento, desde o tempo de Moisés, tem o nome pessoal Yahweh ou Jeová, mas que encontramos no Novo Testamento e ao qual nos podemos aproximar como nosso Pai celestial, pois esta investigação foi feita sob a oração constante pela sua ajuda e entendimento. Toda a honra vai para Ele, pois é a sua Palavra de verdade que foi a base deste estudo. Embora certas teorias religiosas e interpretações se tenham provado insustentáveis e tivessem de ser rejeitadas, a sua palavra profética foi confirmada, vez após vez, durante a investigação bíblica e histórica relacionada com o assunto em discussão. Esta experiência fortalecedora da fé tem sido uma bênção real e duradoura para mim. A minha esperança é que o leitor será abençoado de modo similar.

Carl Olof Jonsson
Göteborg, Suécia, 1982
Revisto em 1998


The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson (1937-2023), pp. 23-71.

Capítulo 1: História de uma Interpretação

Carl Olof Jonsson


Todas as ideias têm um princípio. Contudo, é frequente as pessoas acreditarem numa ideia e desconhecerem por completo os seus antecedentes, origem e desenvolvimento. O facto de ignorarem essa história pode fortalecer a sua convicção de que a ideia é verdadeira, quando na realidade a ideia pode ser falsa. Tal como acontece noutros casos, esta ignorância pode ser um solo fértil para o fanatismo.

É verdade que o conhecimento acerca do desenvolvimento histórico de uma ideia não prova que ela é falsa, mas tal conhecimento permite-nos melhorar o nosso julgamento sobre a sua validade. Um exemplo claro de uma ideia -- neste caso, uma interpretação -- que é obscurecida pela ignorância é um conceito defendido por muitos, a respeito dos "tempos dos Gentios" mencionados por Cristo em Lucas 21:24:

Eles cairão pelo fio da espada e serão levados como cativos entre todas as nações; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até os tempos dos Gentios se cumprirem. -- NRSV.

Milhões de pessoas internacionalmente aceitaram a crença de que esta declaração profética aponta de forma definitiva para uma data específica do século vinte e eles até baseiam os seus planos para o presente e as suas esperanças para o futuro nessa crença. Qual é a sua história?

O "princípio ano-dia"

A duração do período chamado "tempos dos Gentios" (traduzido "os tempos designados das nações" na Tradução do Novo Mundo da Sociedade Torre de Vigia) tem sido calculado por alguns expositores, incluindo a Sociedade Torre de Vigia, como sendo 2.520 anos. Este cálculo é


Imagem da revista Awake! [Despertai!] de 8 de Outubro de 1973, página 18.

O cálculo dos "tempos dos Gentios" como sendo um período de 2.520 anos, começando em 607 A.E.C. e terminando em 1914 E.C., é a base cronológica da mensagem apocalíptica pregada mundialmente pela Sociedade Torre de Vigia.

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baseado no assim chamado "princípio ano-dia". Segundo este princípio, em profecias bíblicas relacionadas com o tempo, um dia representa sempre um ano, "exactamente como num mapa uma polegada pode representar cem milhas."1 Na Bíblia existem duas passagens em que períodos proféticos são contados explicitamente dessa forma: Números 14:34 e Ezequiel 4:6.

No primeiro texto, como punição pelos seus erros, os israelitas deviam vaguear pelo deserto durante quarenta anos, medidos segundo o número de dias que os espiões espiaram a terra, quarenta dias, "um dia por um ano."

No segundo texto Ezequiel recebeu a ordem de se deitar sobre o seu lado esquerdo durante 390 dias e sobre o seu lado direito durante 40 dias, carregando de forma profética os erros de Israel e Judá cometidos durante tantos anos quantos esses dias, "um dia por um ano."

Deve-se notar, contudo, que estas interpretações específicas são-nos dadas pela própria Bíblia. "Um dia por um ano" não é apresentado como um princípio geral de interpretação que também se aplica a outros períodos proféticos.

O desenvolvimento do conceito de que o princípio "um dia por um ano" pode de facto ser aplicado a qualquer profecia bíblica envolvendo tempo, tem uma longa história. O modo sempre diferente como o princípio tem sido aplicado ao longo dessa história certamente revela algo quanto à sua fiabilidade.

O uso do "princípio ano-dia" por estudiosos judeus

Os rabis judeus foram os primeiros a aplicar este modo de contar o tempo profético noutros casos além dos dois já citados, e eles fizeram-no com as "setenta semanas" de Daniel 9:24-27. O versículo 24 declara: "Setenta semanas foram determinadas sobre o teu povo e sobre a tua cidade santa, para acabar com a transgressão e encerrar o pecado, e para fazer expiação pelo erro, e para introduzir justiça por tempos indefinidos, e para apor um selo à visão e ao profeta e para ungir o Santo dos Santos."2

Apesar disto, a aplicação "ano-dia" só foi apresentada como um princípio geral no primeiro século E.C., pelo famoso rabi, Akibah ben Joseph (c. 50-132 E.C.).3

Passaram centenas de anos e foi só no início do nono século que vários rabis judeus começaram a estender o princípio ano-dia a outros períodos de tempo no livro de Daniel. Estes incluíam as 2.300 "noitinhas e manhãs" de Daniel 8:14, e os 1.290 dias e 1.335 dias de Daniel 12:11, 12, sendo que todos estes textos eram encarados como tendo implicações messiânicas.

O primeiro destes rabis, Nahawendi, considerava as 2.300 "noitinhas e manhãs" de Daniel 8:14 como sendo anos, contando-os desde a destruição de Siló (calculada por ele como sendo 942 A.E.C.) até ao ano 1358 E.C. Ele esperava a vinda do Messias nesse ano.4

Em breve outros seguiram Nahawendi, como por exemplo Saadia ben Joseph, do mesmo século, e Solomon ben Jeroham, do décimo século. Este aplicou o princípio ano-dia aos 1.335 dias de Daniel 12:12. Contando desde o tempo de Alexandre o Grande, ele chegou ao ano 968 E.C. como sendo a data para a redenção de Israel.

O famoso rabi, Rashi (1040-1105), dizia que os 2.300 anos-dias terminariam em 1352 E.C., data em que, segundo ele pensava, o messias viria.

Abraham bar Hiyya Hanasi (c. 1065-1136) especulou que os 2.300, os 1.290 e os 1.335 períodos de anos terminariam em diferentes datas no século quinze. Por exemplo, o fim dos 2.300 anos-dias foi fixado em 1468 E.C.5

Até ao século dezanove, muitos outros estudiosos judeus continuavam a usar o princípio ano-dia para fixar datas para a vinda do messias.

Os métodos que os estudiosos rabinos usaram ao aplicar o princípio ano-dia durante esses dez séculos eram variados e as datas a que chegaram eram diferentes. No entanto, seja qual for o método empregue, uma coisa é verdade: nada aconteceu nas datas fixadas para o fim dos períodos considerados.

Já vimos que o princípio ano-dia era relativamente comum entre as fontes judaicas desde há muitos séculos; será que o mesmo se passou entre os expositores bíblicos cristãos?

Ainda mais interessante é saber se a história do uso desse princípio entre a comunidade cristã -- e os resultados obtidos -- demonstram um contraste, ou será que vemos um padrão similar? Qual tem sido o resultado?

O "princípio ano-dia" entre os expositores cristãos

Conforme vimos, o rabi Akibah ben Joseph tinha apresentado o método ano-dia como um princípio logo no primeiro século E.C. Contudo, durante os mil anos seguintes não encontramos nenhuma aplicação do método -- dessa forma, enquanto princípio -- entre os estudiosos cristãos.

É verdade que vários expositores desde o quarto século em diante sugeriram um significado místico ou simbólico para os 1.260 dias de Revelação, mas antes do século XII eles nunca aplicaram a regra ano-dia a esses dias, nem a nenhum outro período de tempo, com a única excepção dos 3 dias e meio de Revelação 11:8. Esse período foi interpretado como sendo 3 anos e meio por vários expositores, o primeiro dos quais foi Victorinus, no quarto século.6 Isto, é claro, está longe de ser uma defesa de uma regra ou princípio ano-dia.

Joachim de Floris (c. 1130-1202), abade do mosteiro cisterciense em Corace, Itália, foi provavelmente o primeiro expositor cristão que aplicou o princípio ano-dia aos vários períodos de tempo de Daniel e de Revelação. Isto foi sublinhado durante o século XIX por Charles Maitland, um opositor destacado dessa ideia, em várias obras e artigos. Por exemplo, ao refutar os que defendiam que os 1.260 dias de Revelação 11:3 eram 1.260 anos, Maitland concluiu, após uma investigação completa, que "nunca se ouviu falar" do sistema dos 1260 anos "até que foi sonhado por um abade inculto em 1190."7

Embora muitos aderentes do princípio ano-dia do século XIX tentassem refutar a declaração de Maitland a respeito da novidade do princípio, todas as suas tentativas falharam. Depois de um exame muito completo de todas as fontes disponíveis, até o mais instruído dos seus oponentes, o Reverendo E. B. Elliott, teve de admitir que "durante os primeiros quatro séculos, os dias mencionados nas profecias de Daniel e de Apocalipse a respeito do Anticristo foram interpretados literalmente como dias, não como anos, pelos Pais da Igreja Cristã."8 Assim, ele teve de concordar com Maitland em como Joachim de Floris foi o primeiro escritor cristão a aplicar o princípio ano-dia aos 1.260 dias de Revelação 11:3, dizendo:

Perto do fim do século XII, Joachim Abbas, conforme acabámos de ver, fez uma primeira tentativa rude nesse sentido: e no século XIV, o wycliffita Walter Brute seguiu-lhe o exemplo.9

Joachim, que provavelmente foi influenciado por rabis judeus, contou os 1.260 "anos-dias" desde o tempo de Cristo e acreditava que terminariam em breve numa "era do Espírito". Embora ele não tenha fixado uma data específica para isto, parece que ele considerava o ano 1260 E.C. como uma possibilidade. Depois da sua morte, esse ano veio "a ser considerado pelos seguidores de Joachim como a data fatal que iniciaria a nova era, de tal forma que quando essa data passou sem qualquer acontecimento reconhecível, alguns deixaram de acreditar de todo nos seus ensinos."10

As obras de Joachim deram início a uma nova tradição de interpretação, na qual o "princípio ano-dia" era a própria base das interpretações proféticas. Durante os séculos seguintes foram fixadas inúmeras datas para o segundo advento de Cristo, sendo a maioria delas construídas com base no princípio ano-dia. No tempo da Reforma (no século XVI), Martinho Lutero e a maioria dos outros reformadores acreditavam nesse princípio, que era largamente aceite entre os estudiosos protestantes até bem dentro do século XIX.

O princípio aplicado aos tempos dos Gentios

Como vimos, Joachim de Floris aplicou o princípio ano-dia aos 1.260 dias de Revelação 11:3. O versículo anterior converte este período em meses, declarando que "as nações ... pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses." (Revelação 11:2, TNM) Como esta predição acerca da "cidade santa" é parecida com as palavras de Jesus em Lucas 21:24 de que "Jerusalém será pisoteada pelos Gentios, até que se cumpram os tempos dos Gentios" (NASB), alguns dos seguidores de Joachim pouco tempo depois dele começaram a associar os "tempos dos Gentios" com este período calculado, no qual os 1.260 dias se tornaram 1.260 anos.

Contudo, como eles acreditavam que Revelação 11:2, 3 e 12:6, 14 trata da igreja cristã, Jerusalém ou a "cidade santa" geralmente era interpretada como significando a igreja de Roma.11 Por essa razão, eles pensaram que o período dos "tempos dos Gentios" era o período de aflição da igreja, sendo o fim desta aflição originalmente esperado em 1260 E.C.

Outros, contudo, acreditavam que a "cidade santa" era a cidade literal de Jerusalém. O bem conhecido médico escolástico Arnold of Villanova (c. 1235-1313), identificou os tempos dos Gentios com os 1.290 dias de Daniel 12:11, convertendo estes 1290 dias em 1290 anos. Contando-os desde a remoção dos sacrifícios judeus depois da destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 E.C., ele esperava o fim dos tempos dos Gentios no século catorze. As cruzadas ainda estavam a ser realizadas no seu tempo e Arnold associou-as à esperada expiração dos tempos dos Gentios no futuro próximo, argumentando que, a menos que o fim dos tempos dos Gentios estivesse próximo, como poderia o "povo fiel" reconquistar a Terra Santa aos infiéis?12

No fim do século XIV, Walter Brute, um dos seguidores de John Wycliffe em Inglaterra, ofereceu ainda outra interpretação. Segundo ele, os "tempos dos Gentios" eram um período em que a igreja cristã era dominada por ritos e costumes pagãos. Esta apostasia, defendia ele, começou depois da morte do último apóstolo, cerca de 100 E.C. e continuaria durante 1.260 anos. Este período, e também os 1.290 "anos-dias", que ele contava desde a destruição de Jerusalém 30 anos antes (em 70 E.C.), já tinha expirado nos seus dias. Ele escreveu:

Agora, se qualquer homem observar as Chronicles [Crónicas], descobrirá que depois de se completar a destruição de Jerusalém, e depois de a forte mão do povo santo ter sido completamente dispersa, e depois do posicionamento da abominação; ou seja, o Ídolo da Desolação de Jerusalém, dentro do lugar Santo, onde o Templo de Deus estava antes, passaram 1290 dias, tomando um dia por um ano, como é costume nos Profetas. E os tempos dos povos Pagãos estão cumpridos, segundo os Ritos e Costumes de quem Deus permitiu que a Cidade santa fosse pisoteada durante quarenta e dois meses.13

Como os tempos dos Gentios já tinham expirado segundo os seus cálculos, Brute pensou que a segunda vinda de Cristo devia estar iminente.

Mudando constantemente as datas

O tempo passou e deixou para trás as muitas datas apocalípticas fixadas, ficando sem cumprimento as predições a elas ligadas. Nesta altura, contando os 1.260 ou os 1.290 anos desde a destruição de Jerusalém em 70 E.C., ou desde a morte dos apóstolos, já não podia produzir resultados significativos. Por isso, o ponto de partida teve de ser mudado para a frente, para uma data posterior.

Grupos perseguidos e rotulados de heréticos pela igreja romana em breve começaram a identificar os 'Gentios pisoteadores' com o papado de Roma. Estes grupos perseguidos geralmente viam-se a si mesmos como "a verdadeira igreja" -- representada em Revelação 12 como uma mulher que teve de fugir para "o ermo" durante "mil duzentos e sessenta dias," o período em que a Jerusalém espiritual é pisoteada. (Revelação 12:6, 14) Esta interpretação permitia-lhes agora avançar o ponto de partida, do primeiro século para uma data algures no quarto século, quando se deu o aumento da autoridade por parte da igreja romana.

Esta interpretação "ajustada" era muito comum entre os Reformadores. John Napier (1550-1617), o distinto matemático e estudante de profecias escocês, começou o período em cerca 300 ou 316 E.C., e apresentou o fim dos tempos dos Gentios na segunda metade do século dezasseis.14

O tempo foi passando e o ponto de partida foi mais uma vez movido para a frente, desta vez para o sexto ou sétimo séculos, o período em que os papas tinham realmente alcançado uma posição de poder. George Bell, por exemplo, escrevendo na Evangelical Magazine [Revista Evangélica] de Londres, em 1796, contou os 1.260 anos desde 537 ou desde 553 E.C., e predisse a queda do Anticristo (o Papa) em "1797 ou 1813."15 A respeito dos 1.260 dias, Bell diz:

A cidade santa será pisoteada pelos Gentios, ou Papistas, que, embora sejam cristãos de nome, são Gentios na adoração e na prática; adorando anjos, santos e imagens e perseguindo os seguidores de Cristo. Estes Gentios removem o sacrifício diário e estabelecem a abominação que torna desolada a igreja visível de Cristo durante o período de 1260 anos.16

Isto foi escrito em 1795, no meio da Revolução Francesa. Pouco tempo depois o Papa foi feito prisioneiro pelas tropas francesas e foi forçado a ir para o exílio (em Fevereiro de 1798). É muito interessante que estes eventos espantosos em França e Itália tenham sido até certo ponto "preditos" com quase um século de antecedência por vários expositores, dos quais o mais conhecido era o pastor escocês, Robert Fleming, Jr. (c. 1660-1716).17 Certamente, na opinião de muitos, estes importantes eventos históricos tinham confirmado a correcção das suas predições! Devido a isto, o ano 1798 foi logo em seguida defendido entre os comentadores bíblicos como sendo a data em que terminavam os 1.260 anos.

Esta interpretação -- com algumas diferenças de pormenor -- também foi adoptada por Charles Taze Russell e pelos seus seguidores. E ainda é prevalecente entre os Adventistas do Sétimo Dia.

Convulsões políticas e sociais alimentam as especulações proféticas

A Revolução Francesa de 1789-1799 teve um impacto extraordinário que se estendeu muito para além das fronteiras francesas. A seguir à remoção violenta da monarquia francesa e à proclamação da República em 1792, novos líderes extremistas não apenas provocaram um período de terror e caos na própria França, mas também inauguraram um período quase ininterrupto de guerras de conquista, que durou até 1815, quando o Imperador Napoleão foi derrotado em Waterloo. As consequências caóticas da Revolução na Europa e noutras partes do mundo excitaram interesse intensificado no estudo profético, especialmente porque algumas destas convulsões tinham sido parcialmente preditas por expositores das profecias.

Os historiadores reconhecem que a Revolução Francesa marca um destacado ponto de viragem na história mundial. Pôs termo a uma longa era de relativa estabilidade na Europa, desenraizando a ordem estabelecida e mudando profundamente o pensamento político e religioso.

Comparando as guerras da Revolução Francesa e de Napoleão Bonaparte com a anterior Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) e a posterior Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o historiador Robert Gilpin diz sobre estas três guerras que "cada uma delas foi uma guerra mundial envolvendo quase todos os estados do sistema [internacional] e, pelo menos retrospectivamente, pode ser considerada como tendo constituído um destacado ponto de viragem na história humana."18

Outro historiador bem conhecido, R. R. Palmer, ao discutir o papel preponderante da Revolução Francesa na história moderna, diz:

Mesmo hoje, a meio do século vinte, não obstante tudo o que tem acontecido contemporaneamente a homens que ainda não são velhos, e até ... na América ou em qualquer outra parte de um mundo no qual os países da Europa já não gozam da sua anterior posição de liderança, ainda é possível dizer que a Revolução Francesa no fim do século dezoito foi o grande ponto de viragem da civilização moderna.19

O resultante desenraizamento de instituições políticas e sociais europeias muito antigas levou muitos a acreditar que estavam mesmo a viver nos últimos dias. Homens de muitos estratos sociais -- ministros, políticos, advogados e leigos -- envolveram-se em estudos das profecias. Foi produzido um volumoso corpo de literatura sobre as profecias, surgiram muitos periódicos proféticos e foram realizadas conferências proféticas em ambos os lados do Atlântico.

O reavivamento apocalíptico começou na Inglaterra, mas depressa se espalhou para o Continente e para os Estados Unidos da América, onde, neste caso, culminou no bem conhecido movimento Millerita. Baseadas nas interpretações de Daniel 8:14, as predições agora desenvolvidas apontavam em geral para 1843, 1844 ou 1847 como sendo o tempo do segundo advento de Cristo.

Foi nesta atmosfera febril que uma nova interpretação dos tempos dos Gentios nasceu, na qual, pela primeira vez, o número 1.260 anos, muitas vezes usado, foi dobrado para 2.520 anos.

A tabela apresentada na página seguinte mostra os resultados que o método "ano-dia" de contar períodos de tempo proféticos produziu ao longo de um período de sete séculos. Embora quase todos os trinta e seis estudiosos e expositores proféticos da lista estivessem a trabalhar a partir do mesmo texto básico das Escrituras que se refere a 1.260 dias, muito raramente concordaram com os mesmos pontos inicial e final para o cumprimento do período. As datas finais para os tempos dos Gentios estabelecidas por eles ou pelos seus seguidores vão desde 1260 E.C. até 2016 E.C. No entanto, todos eles apresentaram o que lhes pareciam ser razões convincentes para chegar às suas datas. Quais foram os resultados de se ter dobrado o número em relação com a declaração de Jesus a respeito dos "tempos dos Gentios"?

John Aquila Brown

Na longa história da especulação profética, John Aquila Brown, de Inglaterra, desempenha um papel notável. Embora até agora não se tenha descoberto qualquer informação biográfica sobre Brown, ele influenciou fortemente o pensamento apocalíptico do seu tempo. Ele foi o primeiro expositor que aplicou os supostos 2.300 anos-dias de Daniel 8:14 de forma que terminassem em 1843 (data mudada mais tarde para 1844).20

TABELA 1: AS MÚLTIPLAS E VARIADAS APLICAÇÕES DOS 1.260 ANOS
Expositor Data da
Publicação
Aplicação (todas
as datas são E.C.)
Observações
Joachim of Floris 1195     1-1260
Arnold of Villanova 1300 c.74-1364 Tempos dos Gentios = 1290 anos
Walter Brute 1393 134-1394
Martinho Lutero 1530   38-1328 Tempos dos Gentios = 1290 anos
A. Osiander 1545 412-1672
J. Funck 1558 261-1521
G. Nigrinus 1570 441-1701
Aretius 1573 312-1572
John Napier 1593 316-1576
D. Pareus 1618 606-1866
J. Tillinghast 1655 396-1656
J. Artopaeus 1665 260-1520
Cocceius 1669 292-1552
T. Beverley 1684 437-1697
P. Jurieu 1687 454-1714
R. Fleming, Jr. 1701 552-1794 1260 anos de 360 dias
R. Fleming, Jr. 1701 606-1848 = 1242 anos julianos
William Whiston 1706 606-1866
Daubuz 1720 476-1736
J. Ph. Petri 1768 587-1847
Lowman 1770 756-2016
John Gill 1776 606-1866
Hans Wood 1787 620-1880
J. Bicheno 1793 593-1789
A. Fraser 1795 756-1998 1242 anos julianos
George Bell 1796 537-1797
George Bell 1796 553-1813
Edward King 1798 538-1798
Galloway 1802 606-1849 1242 anos julianos
W. Hales 1803 620-1880
G. S. Faber 1806 606-1866
W. Cuninghame 1813 533-1792
J. H. Frere 1815 533-1792
Lewis Way 1818 531-1791
W. C. Davis 1818 588-1848
J. Bayford 1820 529-1789
John Fry 1822 537-1797
John Aquila Brown 1823 622-1844 1260 anos lunares
A tabela apresenta uma amostra das muitas aplicações diferentes dos 1.260 e 1.290 "anos-dias", desde Joachim of Floris em 1195 até John Aquila Brown em 1823. Teria sido fácil alargar a tabela para incluir expositores posteriores a Brown. Contudo, a tabela acaba nele pois neste tempo começou a surgir outra interpretação dos tempos dos Gentios, na qual os 1.260 anos eram dobrados para 2.520 anos.

[imagem]
O livro de John Aquila Brown, The Even-Tide [A Noite] (Londres, 1823), no qual os "sete tempos"
de Daniel 4 foram pela primeira vez explicados como sendo 2.520 anos.

Esta tornou-se uma data chave para o movimento do Segundo Adventismo.21 Ele foi também o primeiro que chegou a um período profético de 2.520 anos.

O cálculo de Brown dos 2.520 anos era baseado na sua exposição dos "sete tempos" mencionados no sonho de Nabucodonosor sobre a árvore cortada, em Daniel, capítulo 4. Foi publicado pela primeira vez em 1823 no seu trabalho em dois volumes The Even-Tide; or, Last Triumph of the Blesses and Only Potentate, the King of Kings, and Lord of Lords [A Noite; ou, Último Triunfo do Abençoado e Único Potentado, o Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores].22 Ele declara especificamente que foi o primeiro a escrever sobre o assunto:

Embora tenham sido escritos muitos volumes extensos e sábios sobre assuntos proféticos durante a sucessão das eras; ainda assim, nunca tendo vista o assunto, sobre o qual estou prestes a oferecer algumas observações, abordado por qualquer autor, eu recomendo-o à atenção do leitor, não duvidando, mas com forte confiança de que ainda serão encontrados mais elementos para confirmar a escala dos períodos proféticos, assumidos como base do cumprimento da profecia.23

Na sua interpretação, Brown diferia de outros expositores posteriores ao não associar os "sete tempos" do sonho de Nabucodonosor com os "sete tempos" da punição profética contra Israel, em Levítico 26:12-28. "Nabucodonosor foi um tipo", escreveu Brown, "dos três reinos sucessivos que hão-de surgir." Sobre os "sete tempos," ou anos, de aflição de Nabucodonosor, ele disse:

[Estes] seriam, portanto, considerados como uma grande semana de anos, formando um período de dois mil quinhentos e vinte anos, e abrangendo a duração das quatro monarquias tirânicas; no fim do qual eles aprenderão, tal como Nabucodonosor, na "época e tempo" dos dois julgamentos, que "o Altíssimo governa o reino dos homens, e dá-o a quem quiser."

Brown calculou os 2.520 anos desde o primeiro ano de Nabucodonosor, 604 A.E.C., até ao ano 1917, quando "a glória plena do reino de Israel será completada."24

O próprio Brown não associou este período com os tempos dos Gentios de Lucas 21:24. Ainda assim, o cálculo dele para os 2.520 anos, e o facto de os ter baseado em Daniel capítulo 4, desempenharam desde então um papel chave em algumas interpretações modernas desses tempos dos Gentios.

Os 2.520 anos são relacionados com os tempos dos Gentios

Não demorou muito até que outros expositores começassem a identificar o novo cálculo dos 2.520 anos com os "tempos dos Gentios" de Lucas 21:24. Mas, tal como no caso dos 1.260 dias, eles apresentaram resultados diferentes.

Nas Conferências Proféticas de Albury Park (realizadas anualmente em Albury, perto de Guildford, sul de Londres, Inglaterra, desde 1826 até 1830), um dos tópicos considerados foi os "tempos dos Gentios." Desde as primeiras discussões em 1826, os "tempos dos Gentios" foram relacionados com os 2.520 anos por William Cuninghame. Ele escolheu como ponto de partida o ano em que as dez tribos foram levadas ao cativeiro por Salmaneser (728 A.E.C., segundo os seus cálculos), chegando assim à data 1792 E.C. para o término dos tempos dos Gentios, data que nesse tempo já tinha passado.25

[imagem]

Em cima: A residência Albury Park, perto de Guildford, sul de Londres, local das Conferências Proféticas de Albury Park, 1826-1830. Nestas conferências foram desenvolvidas certas ideias que 50 anos mais tarde se tornariam partes centrais da mensagem da Sociedade Torre de Vigia, nomeadamente, os tempos dos Gentios como um período de 2.520 anos e a ideia da segunda vinda de Cristo como sendo uma presença invisível.
Em baixo: Henry Drummond, proprietário de Albury Park e anfitrião das conferências, que também publicou relatórios anuais das discussões (Dialogues on Prophecy) [Diálogos Sobre Profecias].

Muitos comentadores bíblicos contaram os "sete tempos dos Gentios" a partir do cativeiro de Manassés, que datavam em 677 A.E.C. Obviamente, faziam isto para que os tempos dos Gentios terminassem na data que fora previamente atribuída aos 2.300 dias-anos, ou seja, em 1843 ou 1844.26 Em 1835, William W. Pym publicou o seu trabalho A Word of Warning in the Last Days [Uma Palavra de Aviso nos Últimos Dias], no qual dizia que os "sete tempos" terminavam em 1847. Curiosamente, ele constrói o seu cálculo dos 2.520 anos dos tempos dos Gentios com base nos "sete tempos" mencionados em Levítico 26 bem como nos "sete tempos" de Daniel 4:

Por outras palavras, os julgamentos que Moisés usou como ameaça, que deviam decorrer durante os sete tempos, ou 2520 anos; e os julgamentos revelados a Daniel, que deviam terminar pela purificação do santuário depois de uma porção do grande número 2520.27

Outros, porém, aguardavam ansiosamente 1836 E.C., ano fixado em bases completamente diferentes pelo teólogo alemão J. A. Bengel (1687-1752), e tentaram terminar os "sete tempos" no mesmo ano.28

Ilustrando o estado de mudanças constantes existente, Edward Bickersteth (1786-1850), reitor evangélico de Watton, Hartfordshire, tentou diferentes pontos de partida para os "sete tempos dos Gentios," apresentando três datas finais diferentes:

Se contarmos o cativeiro de Israel desde 727 antes de Cristo, o primeiro cativeiro de Israel sob Salmaneser, terminaria em 1793, quando a revolução Francesa eclodiu: e se [contarmos o cativeiro de Israel desde] 677 antes de Cristo, o cativeiro sob Esar-Hadom (o mesmo período em que Manassés, rei de Judá, foi levado ao cativeiro,) (2 Reis xvii.23, 24. 2 Crón. xxxiii. 11,) terminaria em 1843: ou, se contarmos desde 602 antes de Cristo, que foi o destronamento final de Jeoiaquim por Nabucodonosor, terminaria em 1918. Todos estes períodos podem ter uma referência a eventos correspondentes no seu término, e são dignos de séria atenção.29

Um dos milenaristas mais bem conhecidos e mais sábios do século XIX foi Edward Bishop Elliott (1793-1875), responsável pela Mark's Church [Igreja de Marcos], em Brighton, Inglaterra. É ele que menciona pela primeira vez a data 1914. No seu monumental tratado Horæ Apocalypticæ [Horas com o Apocalipse] ele contou pela primeira vez os 2.520 anos desde 727 A.E.C. até 1793 E.C., mas acrescentou:

É claro que, se for calculado desde a própria ascensão de Nabucodonosor e invasão de Judá, em 606 A.C., o fim será muito mais tarde, em 1914 A.D.; apenas meio século, ou período do jubileu, [depois] da nossa data provável para a abertura do Milénio [que ele fixara em "cerca de 1862 A.D."].30

Um factor que deve ser observado aqui é que na cronologia de Elliott, 606 A.E.C. era o ano de ascensão de Nabucodonosor, enquanto na cronologia posterior de Nelson H. Barbour e Charles T. Russell, 606 A.E.C. era a data atribuída à destruição de Jerusalém por Nabucodonosor no seu 18.º ano.

O movimento Millerita

As principais obras inglesas sobre profecias foram novamente publicadas nos Estados Unidos de forma extensiva e influenciaram fortemente muitos escritores americanos sobre o assunto. Entre estes estava o bem conhecido pregador baptista William Miller e os seus associados, que apontavam para 1843 como sendo a data da segunda vinda de Cristo. Estima-se que pelo menos 50.000 e talvez até 200.000 pessoas abraçaram os pontos de vista de Miller.31

Praticamente todas as posições que eles defendiam sobre as várias profecias tinham sido ensinadas por outros expositores passados ou contemporâneos. Miller estava simplesmente a seguir outros quando terminava os "tempos dos Gentios" em 1843. Na Primeira Conferência Geral, realizada em Boston, Massachusetts, em 14 e 15 de Outubro de 1840, um dos discursos de Miller versava sobre a cronologia bíblica. Ele dizia que os "sete tempos," ou 2.520 anos, decorriam desde 677 A.E.C. até 1843 E.C.32 A segunda vinda de Cristo era esperada o mais tardar em 1844.

[imagem]

Horæ Apocalypticæ [Horas com o Apocalipse], Vol. III (1844), de E. B. Elliott

E. B. Elliott foi muito provavelmente o primeiro expositor a contar os "tempos dos Gentios" desde 606 A.E.C. até 1914 E.C. Deve-se notar, porém, que na sua cronologia o ponto de partida, 606 A.E.C., era o ano de ascensão de Nabucodonosor, enquanto na cronologia de Barbour e Russell este era o décimo oitavo ano do reinado de Nabucodonosor. Portanto, as suas cronologias eram conflitantes, embora acidentalmente as datas coincidissem.

[imagem]

A tabela "1843"

usada por William Miller (destaque) e pelos seus associados ao apresentarem a mensagem sobre 1843. Miller apresentou quinze "provas" separadas em apoio da sua data 1843, a maioria das quais eram cálculos baseados nos vários períodos de anos-dias, incluindo os 2300 e os 2520 anos-dias.

A data predita durante tanto tempo e por tantas pessoas, com suposto apoio bíblico, passou sem que nada acontecesse para satisfazer as expectativas nela baseadas.

Depois do "Grande Desapontamento" de 1844, alguns, e entre eles o próprio Miller, confessaram abertamente que o tempo era um erro.33 Outros, contudo, insistiram que o tempo em si estava certo, mas o evento esperado estava errado. Expressando o que se tem tornado uma justificação familiar, eles tinham esperado "a coisa errada no tempo certo."

Esta posição foi tomada por um grupo que mais tarde veio a ser conhecido como Adventistas do Sétimo Dia. Eles declaravam que Jesus, em vez de descer à terra em 1844, entrou no lugar mais sagrado do santuário celestial como sumo sacerdote da Humanidade, para introduzir o dia de expiação antitípico.34 Este grupo, que se separou dos outros elementos do "Segundo Adventismo" no final da década de 1840, provocou a primeira grande divisão no seio do movimento original.

Alguns líderes Milleritas que também defendiam a data 1844 -- entre eles Apollos Hale, Joseph Turner, Samuel Snow, e Barnett Matthias -- afirmavam que Jesus tinha de facto vindo como Noivo em 1844, embora espiritual e invisivelmente, "não descendo pessoalmente do céu, mas tomando o trono espiritualmente." Em 1844, diziam eles, o "reino deste mundo" tinha sido dado a Cristo.35

Ramos dissidentes do movimento Millerita

Assim, depois de 1844, o movimento Millerita do "Segundo Advento" fragmentou-se gradualmente em vários grupos Adventistas.36 Começou a aparecer uma proliferação de novas datas: 1845, 1846, 1847, 1850, 1851, 1852, 1853, 1854, 1866, 1867, 1868, 1870, 1873, 1875, etc., e estas datas, cada uma tendo os seus promotores e aderentes, contribuíram para uma fragmentação ainda maior. Um líder do Segundo Adventismo, Jonathan Cummings, declarou em 1852 que tinha recebido um "nova luz" sobre a cronologia, e que se devia esperar o segundo advento em 1854. Muitos Milleritas juntaram-se a Cummings e, em Janeiro de 1854, começaram um novo periódico, o World Crisis [Crise do Mundo], em defesa da nova data.37

Outros factores além das datas começaram a desempenhar um papel na composição do movimento do Segundo Advento. Desde então até hoje, esses factores são aspectos distintivos de vários movimentos que se desenvolveram a partir do Segundo Adventismo, incluindo a Igreja Adventista do Sétimo Dia, as Testemunhas de Jeová e certas denominações da Igreja de Deus. Estes factores incluem a doutrina da imortalidade condicional -- não inerente -- da alma, com a consequente doutrina de que o destino final daqueles que são rejeitados por Deus é a destruição ou o aniquilamento, não o tormento consciente. A crença trinitarista também se tornou num problema entre alguns sectores do Segundo Adventismo. (Para mais detalhes sobre estes desenvolvimentos e o seu efeito em contribuir para a divisão entre os ramos dissidentes dos movimentos Milleritas, veja o Apêndice para o Capítulo 1.)

A maior parte destes desenvolvimentos já tinham ocorrido quando Charles Taze Russell, ainda na sua adolescência, começou a formar um grupo de estudo da Bíblia em Allegheny, Pennsylvania. Desde o fim da década de 1860 em diante, Russell entrou cada vez mais em contacto com alguns dos grupos do Segundo Adventismo que se desenvolveram. Ele estabeleceu relações próximas com alguns dos seus ministros e leu alguns dos seus jornais, incluindo o Bible Examiner [Examinador da Bíblia] de George Storrs. Gradualmente, Russell e os seus associados adoptaram muitos dos ensinos centrais desses grupos, incluindo as suas posições condicionalistas e anti-trinitaristas e a maior parte das suas opiniões sobre a "era vindoura." Finalmente, em 1876, Russell também adoptou uma versão revista do seu sistema cronológico, que implicava que os 2.520 anos dos tempos dos Gentios expirariam em 1914. Portanto, em todos os aspectos essenciais, o movimento dos Estudantes da Bíblia de Russell pode ser descrito como mais um ramo dissidente do movimento Millerita.

Qual foi então a fonte mais directa do sistema cronológico que Russell, o fundador do movimento da Watch Tower [Torre de Vigia], adoptou, incluindo não apenas o período de 2.520 anos para os tempos dos Gentios e o seu término em 1914, mas também o ano 1874 para o início de uma presença invisível de Cristo? Essa fonte era um homem chamado Nelson H. Barbour.

Nelson H. Barbour

Nelson H. Barbour nasceu perto de Auburn, Nova Iorque, em 1824. Ele juntou-se ao movimento Millerita em 1843, aos 19 anos de idade. Ele "perdeu a sua religião" completamente depois do "Grande Desapontamento" de 1844 e foi para a Austrália, onde se tornou mineiro durante a febre do ouro ali.38 Depois, em 1859, regressou à América passando por Londres, Inglaterra. Numa retrospectiva, Barbour diz como é que o seu interesse nos períodos de tempo proféticos foi novamente estimulado durante esta viagem:

O navio deixou a Austrália com um irmão adventista a bordo [o próprio Barbour], que perdera a sua religião e estivera durante muitos anos em escuridão total. Para passar o tempo de uma viagem longa e monótona por mar, [um] capelão inglês propôs uma leitura sistemática das profecias; com o que o irmão concordou prontamente; por ter sido um Millerita em anos anteriores, ele sabia muito bem que existiam argumentos que deixariam o capelão perplexo, embora já tivesse passado algum tempo.39

Durante esta leitura Barbour pensou que descobrira o erro crucial na contagem de Miller. Por que é que Miller começara os 1.260 "anos-dias" de Revelação capítulo 11 em 538 E.C. e começara os 1.290 e os 1.335 anos-dias de Daniel 12 trinta anos mais tarde, em 508 E.C.? Não deviam os três períodos começar na mesma data? Se assim fosse, os 1.290 anos terminariam em 1828 e os 1.335 anos terminariam -- não em 1843, mas sim -- em 1873. "Ao chegar a Londres [em 1860], ele foi à biblioteca do Museu Britânico e, entre muitas outras obras extensas sobre as profecias, encontrou Horæ Apocalypticæ [Horas Com o Apocalipse], de Elliott, na qual existia uma tabela, "The Scripture Chronology of the World" [A Cronologia do Mundo Segundo as Escrituras], preparada pelo seu amigo, o Reverendo Christopher Bowen. A tabela mostrava que 5.979 anos desde a criação do homem terminavam em 1851.40 Adicionando 21 anos aos 5.979 anos, Barbour descobriu que 6.000 anos terminariam em 1873. Ele encarou isto como uma confirmação notável e encorajadora do seu próprio cálculo do período de 1.335 anos.

Ao regressar aos Estados Unidos, Barbour tentou interessar outros Segundo Adventistas na sua nova data para a vinda do Senhor. De 1868 em diante ele começou a pregar e a publicar as suas descobertas. Foram publicados vários artigos sobre cronologia no World's Crisis [Crise do Mundo] e no Advent Christian Times [Tempos do Advento Cristão], os dois principais jornais da Advent Christian Association [Associação Cristã do Advento]. Em 1870 ele também publicou o folheto de 100 páginas Evidences for the Coming of the Lord in 1873; or the Midnight Cry [Evidências em Apoio da Vinda do Senhor em 1873; ou o Grito da Meia-noite], cuja segunda edição foi citada acima.41 Em 1873 ele iniciou uma publicação mensal de sua autoria, intitulada The Midnight Cry, and Herald of the Morning [O Grito da Meia-noite, e Arauto da Manhã], cuja circulação ascendeu a 15.000 cópias em três meses.42 Quando o 'ano alvo' de 1873 estava quase a terminar, Barbour adiou o tempo do segundo advento para o Outono de 1874.43 Mas quando também esse ano passou, Barbour e os seus seguidores sentiram uma grande preocupação:

Quando 1874 chegou e não havia qualquer sinal visível de Jesus nas nuvens literais e numa forma carnal, houve um re-exame geral de todos os argumentos com base nos quais o 'Grito da Meia-noite' fora feito. E quando não se conseguiu encontrar qualquer falha ou defeito, isto levou a um exame crítico das Escrituras que pareciam comentar a maneira da volta de Cristo, e em breve se descobriu que era um erro esperar a segunda vinda de Jesus na carne....44

Uma "presença invisível"

Um dos leitores do Midnight Cry [Grito da Meia-noite], B. W. Keith (que mais tarde escreveria para a Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião]),

... tinha estado a ler cuidadosamente o capítulo xxiv de Mateus, usando a 'Emphatic Diaglott', uma nova tradução palavra por palavra do Novo Testamento, muito exacta [traduzida e publicada por Benjamin Wilson em 1864]; quando chegou aos versículos 37 e 39 ficou muito surpreendido ao descobrir que o texto diz o seguinte: 'Pois assim como foram os dias de Noé, assim será a presença do filho do homem'.

Keith descobriu assim a palavra grega parousia, geralmente traduzida por "vinda," aqui traduzida por "presença." Uma ideia muito difundida entre os expositores neste tempo era que a segunda vinda de Cristo ocorreria em duas fases, a primeira das quais seria invisível.45 Seria possível que Jesus já tivesse vindo no Outono de 1874, mas invisível, e estivesse invisivelmente presente desde então?

Para Barbour, esta explicação não só parecia atractiva, mas como ele e os seus associados não conseguiam encontrar falhas nos cálculos, também viram nela a solução para o seu problema. A data estava certa, embora as suas expectativas tivessem sido erradas.

Mais uma vez, isto foi visto como um caso de ter esperado "a coisa errada no tempo certo":

Era assim evidente que embora a maneira na qual eles tinham esperado Jesus estivesse errada, ainda assim o tempo, conforme indicado pelo Midnight Cry [Grito da Meia-noite], estava correcto, e o Noivo viera no Outono de 1874....46

Contudo, a maioria dos leitores da revista Midnight Cry, and Herald of the Morning [Grito da Meia-noite, e Arauto da Manhã] não podiam aceitar esta explicação, e os 15.000 leitores rapidamente "diminuíram para cerca de 200." O próprio Barbour estava convencido de que a manhã milenar já tinha começado a clarear numa aurora, e por isso pensava que Midnight Cry [Grito da Meia-noite] já não era um título apropriado para o seu jornal. Ele observou: "Será que alguém me pode informar como é que se pode dar um 'Grito da Meia-noite' de manhã?"47 O jornal, que cessara de ser publicado em Outubro de 1874, foi assim recomeçado em Junho de 1875 como Herald of the Morning [Arauto da Manhã], dispensando assim a primeira parte do título anterior.

Num dos primeiros números (Setembro de 1875), Barbour publicou o seu cálculo dos tempos dos Gentios, terminando-os em 1914 E.C.48 (Veja a próxima página.)

Charles Taze Russell

Em 1870, enquanto jovem homem de negócios de 18 anos em Allegheny, Pennsylvania, Charles Taze Russell, junto com o seu pai Joseph e alguns amigos, formou uma classe para estudo da Bíblia.49 O grupo foi formado em resultado dos contactos de Russell com alguns dos ex-Milleritas mencionados anteriormente, especialmente Jonas Wendell, George Storrs e George Stetson.

[imagem]

Herald of the Morning [Arauto da Manhã] de Setembro de 1875
no qual N. H. Barbour publicou pela primeira vez o ano 1914 como sendo o fim dos 2.520 anos

Wendell, um pregador da Advent Christian Church [Igreja Cristã do Advento] de Edenboro, Pennsylvania, visitara Allegheny em 1869, e por acaso Russell foi a uma das suas reuniões e ficou fortemente impressionado pelo criticismo de Wendell sobre a doutrina do inferno de fogo. Russell tinha sido criado como calvinista, mas rompera recentemente com a sua herança religiosa porque tinha dúvidas quanto às doutrinas da predestinação e do inferno de fogo. Ele estava numa séria crise religiosa nesta altura e até questionava se a Bíblia era realmente a palavra de Deus. A sua reunião com Wendell e a sua leitura posterior da revista de Storrs, a Bible Examiner [Examinador da Bíblia], restaurou a sua fé na Bíblia. Os artigos publicados nesta revista parecem ter sido discutidos regularmente no grupo de estudo de Russell.

Embora Russell soubesse que alguns adventistas, incluindo Jonas Wendell, esperavam a vinda de Cristo em 1873, ele próprio rejeitou todo o conceito do estabelecimento de tempos e fixação de datas. Depois, em 1876, ele começou a alterar a sua posição:

Foi cerca de Janeiro de 1876 que a minha atenção foi especialmente atraída para o assunto do tempo profético, e a forma como se relaciona com estas doutrinas e esperanças. Aconteceu da seguinte forma: Recebi um jornal intitulado The Herald of the Morning [O Arauto da Manhã], enviado pelo seu editor, o Sr. N. H. Barbour.50

Russell diz que ficou surpreso ao descobrir que o grupo de Barbour chegara à mesma conclusão que o seu próprio grupo no que diz respeito à maneira da volta de Cristo -- seria "como o ladrão, e não na carne, mas como ser espiritual, invisível aos homens."

Russell escreveu imediatamente a Barbour a respeito da cronologia, e mais tarde nesse ano de 1876 fez arranjos para se encontrar com ele em Filadélfia, onde Russell tinha encontros de negócios nesse Verão. Russell queria que Barbour lhe mostrasse, "se fosse capaz, que as profecias indicavam 1874 como sendo a data na qual a presença do Senhor e 'a colheita' começaram." "Ele veio," diz Russell, "e a evidência satisfez-me."51

É evidente que durante estas reuniões Russell aceitou não só a data 1874 mas também todos os cálculos de tempo de Barbour, incluindo o seu cálculo dos tempos dos Gentios.52 Enquanto ainda estava em Filadélfia, Russell escreveu um artigo intitulado "Gentile Times: When do They End?" [Tempos dos Gentios: Quando Terminam?] que foi publicado no periódico Bible Examiner [Examinador da Bíblia] de George Storrs, na edição de Outubro de 1876. Referindo-se aos "sete tempos" de Levítico 26:27, 33 e Daniel 4, na página 27 do Examiner, ele determina a duração dos tempos dos Gentios como sendo 2.520 anos, que começam em 606 A.E.C. e terminariam em 1914 E.C. -- precisamente as mesmas datas a que Barbour tinha chegado e que começara a publicar um ano antes, em 1875.

Antecipando 1914

O que significaria, exactamente, o fim dos "tempos dos Gentios" para a Humanidade? Embora se tivesse proclamado que ocorreram em 1874 eventos monumentais relacionados com a vinda de Cristo, disse-se que eram todos invisíveis, ocorrendo no domínio espiritual invisível aos olhos humanos. Será que 1914 e a terminação dos tempos dos Gentios também seriam assim, ou trariam uma mudança visível, tangível, para a terra e para a sociedade humana?

No livro The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente], publicado em 1889 (mais tarde mencionado como Volume II dos Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras]), Russell declarou que existia "evidência bíblica provando" que a data 1914 "será o limite extremo do governo dos homens imperfeitos." Quais seriam as consequências disto? Russell enumerou as suas expectativas para 1914 em sete pontos:

Em primeiro lugar, Que nessa data o Reino de Deus... terá obtido controlo completo, universal, e que será então 'colocado no lugar', ou firmemente estabelecido, na terra.

Em segundo lugar, Provará que aquele a quem pertence o direito de tomar o domínio estará então presente como novo governante da terra...

Em terceiro lugar, Provará que algum tempo antes do fim de 1914 A.D. o último membro da Igreja de Cristo divinamente reconhecida, o 'sacerdócio real,' 'o corpo de Cristo,' será glorificado com a Cabeça...

Em quarto lugar, Provará que desse tempo em diante Jerusalém não será mais pisoteada pelos Gentios, mas levantar-se-á do pó do desfavor divino, para a honra; porque os 'Tempos dos Gentios' estarão cumpridos ou completos.

Em quinto lugar, Provará que nessa data, ou antes, a cegueira de Israel começará a ser retirada; pois a sua 'cegueira parcial' devia continuar apenas 'até que entrasse a plenitude dos Gentios' (Rom. 11:25)...

Em sexto lugar, Provará que o grande 'tempo de tribulação tal como nunca houve desde que existem nações,' alcançará a sua culminação num reinado mundial de anarquia ... e os 'novos céus e nova terra' com as suas bênçãos pacíficas começarão a ser reconhecidos pela Humanidade agitada por problemas.

Em sétimo lugar, Provará que antes dessa data o Reino de Deus, organizado em poder, estará na terra e então atingirá e esmagará a imagem gentia (Daniel 2:34) -- e consumirá completamente o poder destes reis.53

Estas eram de facto predições muito audaciosas. Será que Russell acreditava mesmo que todas estas coisas notáveis aconteceriam nos vinte e cinco anos seguintes? Sim, acreditava; de facto, ele acreditava que a sua cronologia era a cronologia de Deus, não apenas a sua própria. Em 1894 ele escreveu a respeito da data 1914:

Não vemos razão para alterar os números -- nem os poderíamos mudar se quiséssemos. Estas são, acreditamos, as datas de Deus, não as nossas. Mas tenham em mente que o fim de 1914 não é a data do início, é a data do fim do tempo de tribulação.54

Assim, pensava-se que o "tempo de tribulação" começaria alguns anos antes de 1914, "não depois de 1910," alcançando o clímax em 1914.55

Porém, em 1904, apenas dez anos antes de 1914, Russell alterou a sua opinião sobre este assunto. Num artigo da edição de 1.º de Julho de 1904 da Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], intitulado "Universal anarchy -- just before or after October, 1914 A.D." [Anarquia universal -- imediatamente antes ou depois de Outubro de 1914 A.D.], ele argumentou que o tempo de tribulação, com a sua anarquia mundial, começaria depois de Outubro de 1914:

Agora esperamos que a culminação anárquica da grande época de tribulação que precederá as bênçãos milenares será depois de Outubro de 1914 A.D. -- muito depressa depois disso, na nossa opinião -- 'numa hora,' 'subitamente,' porque não se deve esperar que 'os nossos quarenta anos' de colheita, terminando em Outubro de 1914 A.D., incluam o aflitivo período de anarquia que as Escrituras indicam ser o destino da cristandade.56

Esta mudança levou alguns leitores a pensar que poderiam existir outros erros no sistema cronológico -- um leitor até sugeriu que a cronologia do Bispo Ussher podia estar mais correcta ao datar a destruição de Jerusalém como tendo ocorrido em 587 A.E.C. em vez de em 606 A.E.C. Isto faria os 2.520 anos terminar em aproximadamente em 1934 em vez de em 1914. Mas Russell reafirmou fortemente a sua crença na data 1914, referindo-se a outros alegados "paralelos de tempo" apontando para 1914:

Não temos conhecimento de qualquer razão para mudar um número: fazer isso estragaria as harmonias e paralelos tão conspícuos entre a era judaica e a era do evangelho.57

E, ao responder a outro leitor, ele disse:

A harmonia dos períodos proféticos é uma das provas mais fortes da correcção da nossa cronologia bíblica. Eles ajustam-se uns aos outros como as rodas dentadas de uma máquina perfeita. Mudar a cronologia, mesmo que fosse só um ano, destruiria toda esta harmonia, -- tão exactas são as várias provas reunidas nos paralelos entre as eras judaica e cristã.58

Estes argumentos foram adicionalmente apoiados por artigos escritos pelos irmãos Edgar, da Escócia.59

Dúvidas crescentes

Portanto, em 1904 Russell ainda estava tão convencido de que as suas datas estavam certas como em 1889, quando escreveu que o entendimento destes aspectos relacionados com o tempo era a "selagem na testa" mencionada em Revelação 7:3.60

À medida que a data 1914 se aproximava, Russell tornou-se cada vez mais cauteloso nas suas declarações. Ao responder a um estudante da Bíblia em 1907, ele disse: "nós nunca alegámos que os nossos cálculos são infalivelmente correctos; nós nunca alegámos que eram conhecimento, nem que eram baseados em evidência indisputável, factos, conhecimento; a nossa alegação sempre tem sido que os cálculos são baseados na ."61

As datas já não pareciam qualificar-se como "datas de Deus," como ele tinha declarado treze anos antes; agora podiam ser falíveis. Russell até considerava a possibilidade de 1914 (e 1915) passarem sem qualquer dos acontecimentos esperados ter ocorrido:

Mas suponhamos um caso que está bem longe das nossas expectativas: suponhamos que 1915 A.D. passava com os assuntos do mundo completamente serenos e com evidência de que os 'próprios eleitos' não tinham sido todos 'mudados' e sem a restauração do Israel natural ao favor sob o Novo Pacto. (Rom. 11:12, 15) E então? Não provaria isso que a nossa cronologia está errada? Sim, certamente! E não seria isso um profundo desapontamento? De facto, seria! ... Que desgraça isso seria! Uma das cordas da nossa 'harpa' estaria muito quebrada! Contudo, queridos amigos, a nossa harpa ainda teria as outras cordas afinadas e é disso que nenhum outro agregado do povo de Deus na terra se pode gabar.62

Outro ponto de incerteza era saber se devia ser incluído um ano zero (entre 1 A.E.C. e 1 E.C.) no cálculo ou não. Este assunto fora mencionado por Russell logo em 1904, mas foi ganhando importância à medida que o ano 1914 se aproximava.

A data 1914 tinha sido obtida simplesmente subtraindo 606 de 2.520, mas gradualmente eles aperceberam-se de que não existe ano zero no modo de contar o tempo do nosso calendário actual. Consequentemente, de 1 Outubro de 606 A.E.C. até ao início de Janeiro de 1 E.C., são apenas 605 anos e três meses, e do início de Janeiro de 1 E.C. até Outubro de 1914 são apenas 1913 anos e 9 meses, o que totaliza 2.519 anos, não 2.520 anos. Isto significaria que os 2.520 anos terminariam em Outubro de 1915, em vez de Outubro de 1914.63 Mas quando a guerra na Europa rebentou em Agosto de 1914, obviamente parecia uma má altura para corrigir este erro. Eles mantiveram o erro.

Em 1913, com 1914 às portas, a cautela a respeito deste ano tinha aumentado. No artigo "Let Your Moderation Be Known" [Tornai Conhecida a Vossa Moderação], que apareceu na edição de 1.º de Junho de 1913 da The Watch Tower [A Torre de Vigia], Russell avisou os seus leitores contra gastar "tempo e energia valiosos em tentar adivinhar o que ocorrerá neste ano, no próximo ano, etc." A sua confiança no esquema de acontecimentos que publicara anteriormente já não era evidente: "Estas são as boas notícias da graça de Deus em Cristo -- quer a igreja fique completa antes de 1914 ou não."64 Ele expressou-se ainda mais vagamente na edição de 15 de Outubro do mesmo ano:

Estamos à espera que chegue o tempo em que o governo do mundo será entregue ao Messias. Não podemos dizer que isso não ocorrerá em Outubro de 1914 ou em Outubro de 1915. É possível que estejamos desfasados alguns anos em relação à contagem correcta do assunto. Não podemos dizer com certeza. Não sabemos. É uma questão de fé, e não de conhecimento.65

Anteriormente, 1914 fora uma das "datas de Deus," e "mudar a cronologia, mesmo que fosse só um ano, destruiria toda esta harmonia." Mas agora eles podiam estar "desfasados alguns anos em relação à contagem correcta do assunto," e nada podia ser dito "com certeza" sobre a matéria. Isto foi um verdadeiro volte-face! Se de facto era "uma questão de fé," temos de nos interrogar em quê ou em quem era essa fé baseada.

A fé vacilante do próprio Russell na sua cronologia foi adicionalmente trazida à luz na The Watch Tower [A Torre de Vigia] de 1.º de Janeiro de 1914, na qual ele declarou: "Conforme já indicado, não estamos de modo algum confiantes de que este ano, 1914, testemunhará mudanças na dispensação tão radicais e rápidas como estávamos à espera."66 O artigo "The Days Are At Hand" [Os Dias São Iminentes] na mesma edição, é especialmente revelador:

Se mais tarde for demonstrado que a igreja não é glorificada por volta de Outubro de 1914, tentaremos sentir-nos satisfeitos com a vontade do Senhor, qualquer que esta seja.... Se 1915 passasse sem a transferência da igreja, sem o tempo de tribulação, etc., isso pareceria a alguns uma grande calamidade. Não o seria para nós.... Se na providência do Senhor o tempo viesse vinte e cinco anos mais tarde, então seria essa a nossa vontade.... Se Outubro de 1915 passasse e nós nos encontrássemos ainda aqui e as coisas continuando tal como estão no presente, e o mundo aparentemente fazendo progresso no sentido de resolver disputas, e não houvesse qualquer tempo de tribulação à vista, e a igreja nominal ainda não estivesse federada, etc., nós diríamos que evidentemente temos estado deslocados algures na nossa contagem. Nesse caso examinaríamos mais as profecias, para ver se poderíamos encontrar um erro. E então pensaríamos, Temos estado a esperar a coisa errada no tempo certo? A vontade do Senhor pode permitir isto.67

Novamente, na edição de 1.º de Maio de 1914 -- esquecendo-se das suas declarações anteriores sobre as "datas de Deus" e sobre a "evidência bíblica provando" que os desenvolvimentos preditos ocorreriam em 1914 -- Russell disse aos seus seguidores que "nestas colunas e nos seis volumes de STUDIES IN THE SCRIPTURES [Estudos das Escrituras] nós tornámos conhecido tudo o que se relaciona com os tempos e as épocas numa forma tentativa; isto é, não positivamente, não com a alegação de que sabíamos, mas meramente com a sugestão de que 'isto e aquilo' parece ser o ensino da Bíblia."68

Dois meses depois Russell parecia estar prestes a rejeitar completamente a sua cronologia. Respondendo a um colportor, que queria saber se os Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras] deviam continuar a ser postos em circulação depois de Outubro de 1914, "já que o senhor [Russell] tem algumas dúvidas acerca do cumprimento completo de tudo o que é esperado para Outubro de 1914 ou antes," Russell respondeu:

Pensamos que estes livros estarão à venda e serão lidos durante anos no futuro, desde que a era do Evangelho e o seu trabalho continue.... Nós não tentámos dizer que estes pontos de vista são infalíveis, mas expusemos os processos de raciocínio e de cálculo, deixando a cada leitor a tarefa e o privilégio de ler, pensar e calcular por si mesmo. Essa será uma questão interessante daqui a cem anos; e se alguém conseguir calcular e raciocinar melhor, ainda estará interessado naquilo que apresentámos.69

Assum, em Julho de 1914 Russell parecia agora estar pronto a aceitar a ideia de que a data 1914 provavelmente era um fracasso, e que os seus escritos sobre o assunto seriam meramente de interesse histórico para os estudantes da Bíblia cem anos depois!

Reacções ao eclodir da guerra

Com o eclodir da guerra na Europa em Agosto de 1914, a confiança indecisa de Russell na cronologia começou a recuperar. Embora a própria guerra não se encaixasse exactamente no padrão de eventos que fora predito -- que o "tempo de tribulação" seria uma luta de classes entre o capital e o trabalho, levando a um período de anarquia mundial -- ele viu na guerra o prelúdio dessa situação:

Acreditamos que o Socialismo é o factor principal na guerra que agora surge com furor e que será a maior guerra e a mais terrível -- e provavelmente a última.70

E mais tarde em 1914, ele escreveu:

Pensamos que a presente angústia entre as nações é meramente o começo deste tempo de tribulação.... A anarquia que se seguirá a esta guerra será a verdadeira época de tribulação. A nossa opinião é que a guerra enfraquecerá de tal maneira as nações que depois haverá uma tentativa de introduzir ideias socialistas, e isto será combatido pelos governos -- [etc., conduzindo a uma luta de classes e anarquia mundiais].71

Tal como outros autores milenaristas, Russell acreditava que o término dos tempos dos Gentios significaria uma restauração da nação judaica na Palestina. Contudo, perto do fim de 1914 a Palestina e Jerusalém ainda estavam ocupadas por Gentios. Parecia óbvio que a restauração não começaria a ocorrer em 1914 como fora predito. Assim, na edição de 1.º de Novembro da The Watch Tower [A Torre de Vigia], Russell tentou reinterpretar o fim dos tempos dos Gentios como sendo o fim da perseguição aos judeus:

O pisotear dos judeus parou. Por todo o mundo os judeus estão agora livres -- mesmo na Rússia. Em 5 de Setembro, o Czar da Rússia dirigiu uma proclamação a todos os judeus do Império Russo; e isto foi antes de os tempos dos Gentios terem terminado. Essa proclamação declarou que os judeus podem ter acesso às posições mais elevadas no exército russo, e que a religião judaica deve ter a mesma liberdade que qualquer outra religião na Rússia. Onde é que os judeus estão a ser pisoteados agora? Onde é que estão a ser sujeitos a escárnio? Actualmente eles não estão a ser perseguidos de modo nenhum. Acreditamos que o pisoteamento de Jerusalém cessou, porque acabou o tempo para os Gentios pisotearem Israel.72

Contudo, o alívio para os judeus na Rússia e noutros lugares, mencionado por Russell, acabou por ser apenas temporário. Ele não podia, é claro, prever as futuras cruéis perseguições aos judeus na Alemanha, na Polónia, e noutros países durante a Segunda Guerra Mundial.

Desde o eclodir da Primeira Guerra Mundial até à sua morte em Outubro de 1916, a confiança restaurada de Russell na sua cronologia permaneceu inabalável, conforme é demonstrado pelos seguintes excertos de vários números da The Watch Tower [A Torre de Vigia] durante esse período:

1.º de Janeiro de 1915: "... a guerra é aquela predita nas Escrituras como estando associada ao grande dia do Deus Altíssimo -- 'o dia da vingança do nosso Deus.'"73

15 de Setembro de 1915: "Traçando a cronologia das Escrituras até aos nossos dias, descobrimos que estamos agora vivendo exactamente na aurora do grande sétimo dia da grande semana do homem. Isto é abundantemente corroborado pelos eventos ocorrendo agora ao nosso redor a todo o momento."74

15 de Fevereiro de 1916: "Em STUDIES IN THE SCRIPTURES [Estudos das Escrituras], Vol. IV, indicámos claramente as coisas que estão a acontecer agora, e as condições ainda piores que estão para vir."75

15 de Abril de 1916: "Acreditamos que as datas se mostraram muito correctas. Acreditamos que os Tempos dos Gentios acabaram, e que Deus está agora a permitir que os Governos Gentios se destruam a si mesmos, para preparar o caminho para o reino do Messias."76

1.º de Setembro de 1916: "Ainda nos parece claro que o período profético que conhecemos como Tempos dos Gentios, terminou cronologicamente em Outubro de 1914. O facto de ter começado o grande dia de fúria sobre as nações marca um bom cumprimento das nossas expectativas."77

Porém, em Novembro de 1918 a Primeira Guerra Mundial acabou subitamente -- sem ocorrer depois uma revolução socialista e anarquia a nível mundial, como tinha sido predito. O último membro da "Igreja de Cristo divinamente reconhecida" não foi glorificado, a cidade de Jerusalém ainda estava a ser controlada pelos Gentios, o reino de Deus não tinha esmagado "a imagem Gentia," e os "novos céus e a nova terra" não podiam ser vistos em nenhum lado pela Humanidade afligida por problemas. Nem uma sequer das sete predições enumeradas no livro The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] se tornara realidade.78 No mínimo, os "Estudantes da Bíblia" do Pastor Russell estavam confusos.

No entanto -- embora não fosse uma das predições -- algo tinha acontecido: A Guerra Mundial. Poderia dar-se o caso de, afinal de contas, o tempo estar certo embora as predições tivessem falhado? A explicação a que os Adventistas recorreram depois de 1844 e que também foi usada por Barbour e pelos seus associados depois de 1874 -- segundo a qual eles tinham esperado "a coisa errada no tempo certo" -- parecia agora ainda mais apropriada.79 Mas como é que o tempo podia estar certo, se falharam todas as predições baseadas nele? Durante anos, muitos dos seguidores de Russell sentiram uma profunda perplexidade por não terem ocorrido os acontecimentos preditos. Depois de um lapso de alguns anos, J. F. Rutherford, o sucessor de Russell como presidente da Watch Tower Society, começou a explicar, passo a passo, o que "realmente" se cumprira de 1914 em diante.

No discurso "The Kingdom of Heaven is at Hand" [O Reino do Céu Está Iminente], na Convenção de Cedar Point que se realizou em 5-13 de Setembro de 1922, Rutherford disse à audiência que o Reino de Deus realmente tinha sido estabelecido em 1914, não na terra mas nos céus invisíveis!80 E três anos depois, em 1925, ele aplicou Revelação 12 a este evento, declarando que o Reino de Deus tinha nascido no céu em 1914, segundo esta profecia.81

Previamente, as predições da Watch Tower tinham sido todas no sentido de uma obvia e claramente visível tomada do governo da terra por Cristo. Agora isto era apresentado como algo invisível, apenas evidente para um grupo selecto.

Também na Convenção de Cedar Point em 1922, Rutherford apresentou pela primeira vez a opinião de que "em 1918, ou perto desta data, o Senhor veio ao seu templo (espiritual)."82 Anteriormente, Russell e os seus associados tinham defendido a opinião de que a ressurreição celestial ocorrera em 1878. Mas em 1927 Rutherford transferiu esse acontecimento para 1918.83 De forma semelhante, no início da década de 1930 Rutherford mudou a data para o início da presença invisível de Cristo de 1874 para 1914.84

Foi assim que Rutherford gradualmente substituiu as predições falhadas com uma série de eventos invisíveis e espirituais associados com os anos 1914 e 1918. Oitenta e quatro anos depois de 1914, as "explicações" de Rutherford ainda são defendidas pelas Testemunhas de Jeová.

Resumo

A interpretação dos "tempos dos Gentios" como tendo sido 2.520 anos, começando em 607 A.E.C. (inicialmente a data era 606 A.E.C.) e terminando em 1914 E.C., não foi uma revelação divina feita ao Pastor Charles Taze Russell no Outono de 1876. Pelo contrário, esta ideia tem uma longa história de desenvolvimento, com as suas raízes muito recuadas no passado.

Teve a sua origem no "princípio ano-dia," inicialmente proposto pelo Rabi Akibah ben Joseph no primeiro século E.C. Do século IX em diante, este princípio foi aplicado por vários rabis judeus aos períodos de tempo de Daniel.

Entre os cristãos, Joachim of Floris no século XII foi provavelmente o primeiro a adoptar a ideia, aplicando-a aos 1.260 dias de Revelação e aos três tempos e meio de Daniel. Pouco tempo depois da morte de Joachim, os seus seguidores identificaram o período de 1.260 dias com os tempos dos Gentios de Lucas 21:24, e esta interpretação era então comum entre grupos, incluindo os Reformadores, rotulados de heréticos pela igreja de Roma durante os séculos seguintes.

À medida que o tempo foi passando, e as expectativas falharam quando as anteriores explicações se mostraram erradas, o ponto inicial dos 1.260 (ou 1.290) anos foi sendo progressivamente mudado para a frente, para que esse período terminasse no futuro próximo.

Aparentemente, o primeiro a chegar a um período de 2.520 anos foi John Aquila Brown, em 1823. Embora o seu cálculo fosse baseado nos "sete tempos" de Daniel 4, ele não igualou esses períodos com os "tempos dos Gentios" de Lucas 21:24. Mas isto foi feito logo a seguir por outros expositores. Fixando o ponto de partida em 604 A.E.C., Brown chegou ao ano 1917 como sendo a data em que terminariam os sete tempos. Usando pontos de partida diferentes, outros comentadores bíblicos nas décadas seguintes chegaram a várias datas finais diferentes. Alguns escritores, que faziam tentativas com os "ciclos dos jubileus," chegaram a um período de 2.450 (ou 2.452) anos (49x49+49), que defendiam como sendo o período dos tempos dos Gentios.

A tabela anexa apresenta uma selecção de aplicações dos 2.520 (e 2.450) anos por vários autores durante o século XIX. Os cálculos eram de facto tão numerosos, que provavelmente seria

TABELA 2: APLICAÇÕES DOS 2.520 (OU 2.450) ANOS
Expositor Data Publicação Aplicação
AEC--EC
Comentários
John Aquila Brown 1823 The Even-Tide... 604-1917 = "Sete tempos" de Daniel 4
William Cininghame 1827 Dialogues on prophecy, Vol. 1 728-1792 Relatório das conferências proféticas
   em Albury Park
Henry Drummond 1827 idem 722-1798
G. S. Faber 1828 The Sacred Calendar of Prophecy 657-1864
Alfred Addis 1829 Heaven Opened 680-1840
William Digby 1831 A Treatise on the 1260 Days 723-1793
W. A. Holmes 1833 The Time of the End 685-1835
Matthew Habershon 1834 A Dissertation... 677-1843
John Fry 1835 Unfulfilled Prophecies... 677-1843
William W. Pym 1835 A Word of Warning... 673-1847
William Miller 1842 The First Report... 677-1843
Th. R. Birks 1843 First Elements of Sacred Prophecy 606-1843 Tempos dos Gentios = 2.450 anos
Edward B. Elliott 1844 Horæ Apocalypticæ, Vol. III 727-1793
idem 1844 idem 606-1914 Uma segunda alternativa
Matthew Habershon 1844 An Historical Exposition 676-1844
idem 1844 idem 601-1919 Uma segunda alternativa
William Cininghame 1847 The Fulfilling... 606-1847 Tempos dos Gentios = 2.452 anos
James Hatley Frere 1848 The Great Continental Revolution 603-1847 Tempos dos Gentios = 2.450 anos
Robert Seeley 1849 An Atlas of Prophecy 606-1914 Contados desde "606 ou 607"
idem 1849 idem 570-1950 Uma segunda alternativa
idem 1849 idem 728-1792 Uma terceira alternativa
Edward Bickersteth 1850 A Scripture Help 727-1793 Outro dos seus cálculos
   era 677-1843
idem 1850 idem 602-1918
Anónimo 1856 The Watch Tower 727-1793 Um panfleto
Richard C. Shimeall 1859 Our Bible Chronology 652-1868
J. S. Phillips 1865 The Rainbow, 1.º de Março 652-1867 Um periódico londrino editado
   por William Leask
"J. M. N." 1865 The Rainbow, 1.º de Abril 658/47-1862/73
Frederick W. Farrar 1865 The Rainbow, 1.º de Novembro 654-1866
Anónimo 1870 The Prophetic Times, Dezembro 715-1805 Um periódico editado por Joseph A.
   Seiss et al. Estes são alguns
   exemplos; o escritor apresenta doze
   alternativas diferentes!
idem 1870 idem 698-1822
idem 1870 idem 643-1877
idem 1870 idem 606-1914
idem 1870 idem 598-1922
Joseph Baylee 1871 The Times of the Gentiles 623-1896
"P. H. G." 1871 The Quarterley Journal of Prophecy, Abril 652/49-1868/71 Um periódico londrino editado por H. Bonar
Edward White 1874 Our Hope, Junho 626-1894 Periódico londrino editado por Wm. Maude
N. H. Barbour 1875 Herald of the Morning, Set. e Outubro 606-1914 Periódico publicado por Nelson H. Barbour
C. T. Russell 1876 The Bible Examiner, Outubro 606-1914 Editado por George Storrs
E. H. Tuckett 1877 The Rainbow, Agosto 651/50-1869/70
M. P. Baxter 1880 Forty Coming Wonders, 5.ª ed. 695-1825
idem 1880 idem 620-1900 Uma segunda alternativa
H. Grattan Guinness 1886 Light for the Last Days 606-1915 Estas são apenas algumas das suas
   muitas análises diferentes
idem 1886 idem 604-1917
idem 1886 idem 598-1923
idem 1886 idem 587-1934
W. E. Blackstone 1916 The Weekly Evangel, 13 de Maio 606-1915 Este artigo resume as suas opiniões
   conforme publicadas muitos anos antes
idem 1916 idem 595-1926
idem 1916 idem 587-1934

difícil encontrar um único ano entre 1830 e 1930 que não aparecesse em algum cálculo como sendo a data em que terminavam os tempos dos Gentios! Por isso, o facto de vários expositores terem apontado para 1914 ou outros anos próximos desta data, como 1915, 1916, 1917, 1918, 1919, 1922 e 1923, não nos deve causar admiração. É muito provável que a data 1914 tivesse o mesmo destino de outras datas falhadas e agora já tivesse sido esquecida, se não fosse o ano em que rebentou a Primeira Guerra Mundial.

Quando, em 1844, E. B. Elliott sugeriu 1914 como uma possível data em que terminariam os tempos dos Gentios, ele contou os 2.520 anos desde o ano de ascensão de Nabucodonosor, que calculou como sendo 606 A.E.C. Porém, N. H. Barbour contou os 2.520 anos desde a desolação de Jerusalém, no 18.º ano do reinado de Nabucodonosor. Mas como a data de Barbour para este evento era 606 A.E.C., também ele, em 1875, obteve o ano 1914 como sendo a data em que terminariam os tempos dos Gentios. Como as cronologias deles não só estavam em conflito uma com a outra, como também estavam em conflito com a cronologia historicamente estabelecida para o reinado de Nabucodonosor, o facto de terem obtido a mesma data para o fim dos tempos dos Gentios foi simplesmente uma coincidência, demonstrando quão arbitrários e sem base os seus cálculos realmente eram.

O cálculo de Barbour foi aceite por C. T. Russell na sua reunião de 1876. Barbour tinha então 52 anos de idade enquanto Russell tinha 24 -- era ainda muito novo. Embora os seus caminhos se separassem outra vez em 1879, Russell reteve os cálculos de Barbour relacionados com datas, e desde esse tempo a data 1914 tem sido o ponto fundamental nas explicações proféticas entre os seguidores de Russell.

Suplemento à terceira edição (1998), capítulo 1:

A informação apresentada neste capítulo tem estado disponível para as Testemunhas de Jeová desde 1983, quando foi publicada a primeira edição deste livro. Além disso, a mesma informação foi resumida por Raymond Franz no capítulo 7 da sua obra amplamente conhecida, Crisis of Conscience [Crise de Consciência], publicada no mesmo ano. Assim -- passados 10 anos -- em 1993 a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] finalmente sentiu-se obrigada a admitir que nem o cálculo dos 2.520 anos nem a data 1914 se originaram com Charles Taze Russell como a Sociedade tinha defendido até aí. Mais ainda, a Sociedade agora também reconhece que as predições de Russell e dos seus associados relacionadas com 1914 falharam.

Este reconhecimento encontra-se nas páginas 134-137 de Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus], um livro sobre a história do movimento, publicado pela Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] em 1993. Antes de 1993, a impressão dada [pela Sociedade] tinha sido de que Russell fora o primeiro a publicar o cálculo dos 2.520 anos, que apontava para 1914, tendo feito isto pela primeira vez na edição de Outubro de 1876 da revista Bible Examiner, de George Storrs. Também disseram que, com décadas de antecedência, Russell e os seus seguidores predisseram o eclodir da Primeira Guerra Mundial em 1914 e outros eventos associados com a guerra. Assim, o anterior livro sobre a história da organização, Jehovah's Witnesses in the Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino] citou algumas declarações muito genéricas do livro The Plan of the Ages [O Plano das Eras] (publicado em 1886) acerca do "tempo de tribulação" (que, segundo eles acreditavam originalmente, se estendia de 1874 a 1914) e afirmou:

Embora isto ainda fosse décadas antes da primeira guerra mundial, é surpreendente quão exactamente os eventos que finalmente ocorreram foram de facto previstos. (Ênfase acrescentada.)85

De modo similar, a Watchtower de 1.º de Agosto de 1971 fez as seguintes declarações pretensiosas na página 468:

A partir da cronologia bíblica, as testemunhas de Jeová logo em 1877 apontaram para o ano 1914 como sendo um ano de grande significado....

Chegou o importante ano de 1914, e com ele veio a Primeira Guerra Mundial, a convulsão mais extensa da história até esse tempo. Trouxe matança, fome, pestilência e derrube de governos sem precedentes. O mundo não esperava eventos tão horríveis como os que ocorreram. Mas as testemunhas de Jeová esperaram tais coisas, e outros reconheceram que elas o fizeram....

Como é que as testemunhas de Jeová podiam ter sabido com tanta antecedência o que os líderes do mundo não sabiam? Apenas pelo espírito santo de Deus lhes ter tornado conhecidas tais verdades proféticas. É verdade que alguns hoje alegam que aqueles acontecimentos não eram difíceis de prever, pois a humanidade tem conhecido já há muito tempo vários problemas. Mas se esses eventos não eram difíceis de prever, então por que é que todos os políticos, líderes religiosos e peritos económicos não o estavam a fazer? Por que é que estavam a dizer o contrário às pessoas? (Ênfase acrescentada.)

Infelizmente para a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia], nenhuma destas afirmações está de acordo com os factos históricos. Quer seja deliberado ou resultado de ignorância, cada uma dessas afirmações representa uma séria distorção da realidade.

Em primeiro lugar, embora existissem várias predições nas publicações da Watch Tower sobre o que aconteceria em 1914, nenhuma delas sequer se parecia com uma predição do eclodir de uma guerra mundial nesse ano.

Em segundo lugar, os líderes políticos e religiosos, contrariamente às declarações feitas na Watchtower citada acima, muito antes de 1914 já esperavam que uma grande guerra iria rebentar na Europa. Já em 1871, Otto von Bismarck, o primeiro Lord High Chancellor [Alto Chanceler] do Império Germânico, declarou que a "Grande Guerra" um dia viria. Durante décadas antes de 1914, os jornais diários e os semanários ocupavam-se constantemente com o tema. Para citar apenas um exemplo entre muitos, a edição de Janeiro de 1892 do altamente respeitado semanário inglês Black and White, explicou numa introdução editorial a um folhetim sobre a vindoura guerra:

O ar está cheio de rumores de Guerra. As nações europeias estão completamente armadas e preparadas para a mobilização imediata. As autoridades estão de acordo em como uma GRANDE GUERRA tem de rebentar no futuro imediato, e que esta Guerra será travada sob condições novas e surpreendentes. Todos os factos parecem indicar que o vindouro conflito será o mais sangrento da história, e envolverá consequências importantes para todo o mundo. O incidente que precipitará o desastre pode ocorrer a qualquer momento.86

I. F. Clarke, no seu livro Voices Prophesying War 1763-1984 [Vozes Profetizando Guerra 1763-1984], explica até que ponto a Primeira Guerra Mundial "estava a ser preparada na realidade e na ficção":

De 1871 em diante, as principais potências europeias preparavam-se para a grande guerra que Bismarck dissera que havia de vir um dia. E durante cerca de meio século, enquanto as equipas gerais dos ministérios argumentavam sobre armas, estimativas e tácticas, a história da guerra-que-há-de-vir era um tema dominante no campo da ficção de antecipação.... O período desde a década de 1880 até ao longamente esperado rebentar da próxima guerra em 1914 presenciou a emergência do maior número destas histórias sobre conflitos vindouros que alguma vez apareceram na ficção europeia.87

Por essa razão, as pessoas daquele tempo não podiam evitar ser confrontadas com as predições constantes sobre uma vindoura guerra na Europa. A questão não era se a Grande Guerra rebentaria, mas sim quando. Neste ponto havia lugar para especulações e muitas das histórias imaginativas e das novelas sugeriam várias datas. Datas específicas eram por vezes indicadas nos próprios títulos dos livros, como por exemplo, Europa in Flammen. Der deutsche Zukunftskrieg 1909 [Europa em Chamas. A Vindoura Guerra Alemã de 1909], de Michael Wagebald, publicada em 1908, e The Invasion of 1910 [A Invasão de 1910], de W. LeQueux, publicada em 1906.

Também os políticos e os estadistas tentaram algumas vezes fixar o ano específico para o rebentar da grande guerra que era esperada. Um dos mais sortudos foi M. Francis Delaisi, um membro da Câmara Francesa de Deputados. No seu artigo "La Guerre qui Vient" [A Vindoura Guerra], publicado no periódico paroquial La Guerre Social em 1911, ele discutiu longamente a situação diplomática, concluindo que "está a preparar-se uma guerra terrível entre a Inglaterra e a Alemanha." Conforme mostram os excertos do seu artigo apresentados a seguir, algumas das suas previsões políticas revelaram-se notavelmente exactas:

Está a preparar-se um conflito comparado com o qual a horrível matança da guerra Russo-Japonesa [em 1904-1905] parecerá uma brincadeira de crianças.

Em 1914 as forças [navais] de Inglaterra e da Alemanha serão quase iguais.

Um corpo do exército prussiano avançará com marchas forçadas para ocupar Antuérpia.

Nós, os franceses, teremos de fazer o combate nas planícies da Bélgica.

Todos os jornais imprimirão em cabeçalhos tão grandes como a sua mão estas palavras proféticas: A NEUTRALIDADE BELGA FOI VIOLADA. O EXÉRCITO PRUSSIANO ESTÁ A MARCHAR SOBRE LILLE.88

Na área religiosa, eram especialmente os "milenaristas" que estavam a apresentar predições sobre a proximidade do fim do mundo. Este movimento incluía milhões de cristãos de diferentes proveniências, Baptistas, Pentecostais, etc. O Pastor Russell e os seus seguidores, os "Estudantes da Bíblia," eram apenas um pequeno ramo deste extenso movimento. Um factor comum a todos eles era a sua visão pessimista do futuro. No seu livro Armageddon Now! [Armagedom Agora!], Dwight Wilson descreve a reacção deles ao eclodir da Grande Guerra em 1914:

A própria guerra não foi um choque para estes oponentes do optimismo pós-milénio; eles não só esperavam a culminação da era no Armagedom, como também antecipavam 'guerras e rumores de guerras' como sinais do fim que se aproximava.89

Wilson então cita um deles, R. A. Torrey, deão do Bible Institute of Los Angeles [Instituto Bíblico de Los Angeles] que, em 1913, um ano antes do início da guerra, escreveu no seu livro The Return of the Lord Jesus [A Volta do Senhor Jesus]: "Falamos de desarmamento, mas todos sabemos que não virá. Todos os nossos planos de paz actuais acabarão na mais aflitiva das guerras e conflitos que este velho mundo alguma vez viu!"90

Conforme Theodore Graebner diz no seu livro War in the Light of Prophecy [Guerra à Luz das Profecias], a guerra de 1914 mal tinha começado quando uma legião de escritores de várias proveniências religiosas se levantaram, alegando que a guerra tinha sido predita:

Em breve foi feito o anúncio por vários investigadores: FOI PREDITA. Imediatamente, milhares de cristãos interessaram-se. Também imediatamente, outros começaram a trabalhar sobre Gogue de Magogue, Armagedom, as Setenta Semanas, 666, 1.260, etc., e em breve os periódicos religiosos, neste país e no estrangeiro, continham a mensagem, anunciada com maior ou menor convicção, FOI PREDITA. Apareceram panfletos e tratados a promulgar a mesma mensagem, e em breve estavam no mercado vários livros, com 350 páginas cada um, que não só continham 'prova' circunstancial para as suas afirmações, como também anunciavam igualmente o tempo exacto em que a guerra terminaria, quem seriam os vencedores, e o significado da guerra para a Igreja Cristã, que agora (segundo era dito) estava prestes a entrar no seu período milenar.91

Graebner, que se sentiu compelido a examinar um grande número destas alegações, concluiu, depois de uma investigação muito extensa, que:

... toda a massa de literatura milenarista que floresceu durante a Primeira Guerra Mundial -- e foi uma massa tremenda -- foi definitiva, completa e absolutamente provada falsa pelos acontecimentos. Nem sequer num único ponto a Primeira Guerra Mundial se desenvolveu como seria de esperar depois de se ler os intérpretes quiliastas [milenaristas]. Nem um único deles predisse o desfecho da guerra. Nem um único deles predisse a entrada dos Estados Unidos [na guerra]. Nem um único deles predisse a Segunda Guerra Mundial.92

As especulações do Pastor Russell sobre a vindoura grande guerra na Europa não diferiam apreciavelmente das especulações dos escritores de novelas e expositores milenaristas contemporâneos. Na Zion's Watch Tower de Fevereiro de 1885, ele escreveu: "Nuvens tempestuosas estão a tornar-se espessas sobre o velho mundo. Parece que uma grande guerra europeia é uma das possibilidades do futuro próximo."93

Dois anos mais tarde, comentando a situação prevalecente no mundo, ele concluiu na edição de Fevereiro de 1887: "Tudo isto parece indicar que no próximo verão [1888] estará em andamento uma guerra que poderá envolver todas as nações da Europa."94 Na edição de 15 de Janeiro de 1892, ele tinha adiado a guerra para "cerca de 1905," ao mesmo tempo que enfatisava que esta Grande Guerra nada tinha a ver com 1914 e com as expectativas ligadas a essa data. Para 1914 ele esperava -- não uma guerra europeia geral -- mas o clímax da "batalha do Armagedom" (que ele pensava ter começado em 1874), quando todas as nações da terra seriam esmagadas e substituídas pelo reino de Deus. Ele escreveu:

Os jornais diários, os semanários e os mensários, religiosos e seculares, estão continuamente a discutir as perspectivas de guerra na Europa. Eles notam as ofensas e as ambições das várias nações e predizem que a guerra é inevitável num dia não muito distante, que pode começar a qualquer momento entre as grandes potências, e que as perspectivas são que eventualmente as envolverá a todas....

Mas, não obstante estas predições e as boas razões que muitos vêem para as fazer, nós não as partilhamos. Isto é, nós não pensamos que as perspectivas de uma guerra europeia geral sejam tão marcadas como é geralmente suposto.... Mesmo que uma guerra ou revolução rebentasse na Europa antes de 1905, nós não a consideraríamos como uma parte dos problemas severos preditos.

... [A] nuvem da guerra, cada vez mais escura, explodirá com toda a sua fúria destrutiva. Porém, não esperamos esta culminação antes de 1905, pois os eventos preditos requerem aproximadamente esse tempo, não obstante o rápido progresso nestas direcções agora possível.95

A amplamente esperada Grande Guerra veio em 1914. Mas provavelmente ninguém, e em qualquer caso não Charles Taze Russell e os seus seguidores, tinha predito que viria nesse ano. Os eventos muito diferentes que ele e os seus associados "Estudantes da Bíblia" tinham atribuído a essa data não ocorreram. Tal como as predições de muitos outros escritores milenaristas contemporâneos, também as profecias de Russell foram "definitiva, completa e absolutamente provada[s] falsa[s] pelos acontecimentos."

Afirmar depois, como a Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] fez repetidamente até 1993, que eles e unicamente eles conseguiram "com exactidão," "pelo espírito santo de Deus," predizer o eclodir da guerra em 1914 e outros eventos, e que "todos os políticos, líderes religiosos e peritos económicos" tinham estado a "dizer o contrário às pessoas," é demonstravelmente uma grosseira distorção dos factos históricos.

Conforme explicado anteriormente, algumas dessas alegações pretensiosas foram finalmente abandonadas, em 1993, no novo livro Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus]. O livro foi introduzido nas assembleias de distrito das Testemunhas de Jeová desse ano como sendo um "olhar cândido" sobre a história do movimento. Porém, o contexto dos reconhecimentos normalmente só revela um mínimo de informação complementar que, além disso, é apologeticamente tão tendenciosa e deformada que muitas vezes esconde mais do que revela.

É verdade que a Sociedade admite finalmente que Russell foi buscar o seu cálculo dos tempos dos Gentios a Nelson H. Barbour, que o publicara um ano antes de Russell, "nas edições de Herald of the Morning, de agosto, setembro e outubro de 1875".96 No parágrafo anterior o livro até procura enumerar os expositores do século XIX que apresentaram o cálculo dos 2.520 anos em apoio da data 1914. Esta impressão é reforçada ainda mais na frase em negrito, à esquerda do parágrafo: "Entenderam que 1914 estava claramente marcado pelas profecias bíblicas." Contudo, a apresentação da história está estritamente limitada a poucos expositores cuidadosamente seleccionados, cujos cálculos são parcialmente obscurecidos, ajustados e arranjados de modo a criar a impressão de que o cálculo dos 2.520 anos apontava unicamente para 1914. Não mencionam qualquer das muitas outras datas terminais a que chegaram os expositores anteriores a Russell. Por exemplo, embora digam que John A. Brown calculou os 2.520 anos "já em 1823", a sua aplicação particular do período é completamente disfarçada e distorcida nas frases subsequentes:

Entenderam que 1914 estava claramente marcado pelas profecias bíblicas.
134 TESTEMUNHAS DE JEOVÁ — OS PROCLAMADORES DO REINO DE DEUS

tarde, chamou-se atenção para isso mediante o subtítulo "Arauto da Presença de Cristo" que aparecia na capa da revista Zion's Watch Tower.
     O reconhecimento de que a presença de Cristo seria invisível tornou-se um importante fundamento sobre o qual se basearia o entendimento de muitas profecias bíblicas. Aqueles primeiros Estudantes da Bíblia entenderam que a presença do Senhor devia ser de interesse primário para todos os verdadeiros cristãos. (Mar. 13:33-37) Estavam vividamente interessados na volta do Amo e atentos ao fato de que tinham o dever de divulgar isso, mas ainda não discerniam bem todos os pormenores. Contudo, foi realmente notável o que o espírito de Deus bem no início já os habilitou a entender. Uma dessas verdades dizia respeito a uma data muito significativa apontada nas profecias bíblicas.

Fim dos Tempos dos Gentios
     O assunto sobre cronologia bíblica tinha sido por muito tempo de grande interesse para os estudantes da Bíblia. Comentaristas haviam apresentado vários conceitos sobre a profecia de Jesus a respeito dos "tempos dos gentios" e do relato do profeta Daniel sobre o sonho de Nabucodonosor dum toco de árvore que ficou atado por "sete tempos". — Luc. 21:24, Al; Dan. 4:10-17.
     Já em 1823, John A. Brown, cuja obra foi publicada em Londres, Inglaterra, calculara os "sete tempos" de Daniel 4 como sendo de 2.520 anos de duração. Mas ele não discerniu claramente a data em que o período profético começou, ou quando terminaria. Contudo, relacionou esses "sete tempos" com os Tempos dos Gentios de Lucas 21:24. Em 1844, E. B. Elliott, um clérigo britânico, chamou atenção para 1914 como possível data do fim dos "sete tempos" de Daniel, mas apresentou também um conceito alternativo que apontava para o tempo da Revolução Francesa. Robert Seeley, de Londres, em 1849, considerou o assunto de modo similar. O mais tardar em 1870, uma publicação de Joseph Seiss e seus associados, impressa em Filadélfia, Pensilvânia, apresentava cálculos que indicavam 1914 como data importante, embora o raciocínio contido se baseasse numa cronologia que C. T. Russell mais tarde rejeitou.
     Depois, nas edições de Herald of the Morning, de agosto, setembro e outubro de 1875, N. H. Barbour ajudou a harmonizar pormenores indicados por outros. Usando a cronologia compilada por Christopher Bowen, um clérigo da Inglaterra, e publicada por E. B. Elliott, Barbour identificou o início dos Tempos dos Gentios com a remoção do Rei Zedequias do reinado, conforme predita em Ezequiel 21:25, 26, e apontou para 1914 como marcando o fim dos Tempos dos Gentios.
     Em princípios de 1876, C. T. Russell recebeu um exemplar de Herald of the Morning. Ele escreveu prontamente para Barbour e daí passou algum tempo com ele em Filadélfia durante o verão, quando consideraram, entre outras coisas, os tempos proféticos. Pouco depois, num artigo intitulado "Os Tempos dos Gentios: Quando Terminam?" Russell também raciocinou sobre o

Página 134 do livro Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus (1993), o novo livro da Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] sobre a história do movimento.

Mas ele não discerniu claramente a data em que o período profético começou, ou quando terminaria. Contudo, relacionou esses "sete tempos" com os Tempos dos Gentios de Lucas 21:24.97

Antes pelo contrário, conforme se mostrou anteriormente neste capítulo, Brown declarou expressamente a sua firme convicção de que o período dos 2.520 anos começou em 604 A.E.C. e terminaria em 1917. Além disso, apesar da declaração que a Sociedade coloca em itálico, Brown não relacionou os 2.520 anos com os tempos dos Gentios de Lucas 21:24, porque, conforme foi indicado anteriormente neste capítulo, ele defendia que os tempos dos Gentios mencionados neste texto eram 1.260 anos (lunares), não "sete tempos" de 2.520 anos. Portanto, as duas declarações que a Sociedade faz sobre o cálculo de Brown são demonstravelmente falsas.

Além de John A. Brown, a Sociedade no mesmo parágrafo menciona Edward B. Elliott e Robert Seeley, que mencionaram 1914 como uma das datas possíveis para o fim dos "sete tempos". Porém, tanto um como o outro na realidade preferiam a data 1793 (mais tarde mudada para 1791 por Elliott) como sendo a data final.98

Por fim, afirma-se que uma publicação (cujo título não é mencionado) editada por Joseph Seiss estabelecera cálculos que apontavam para 1914 como sendo uma data significativa, "embora o raciocínio contido se baseasse numa cronologia que C. T. Russell mais tarde rejeitou."99

Porém, a verdade é que isto aplica-se a todos os quatro expositores mencionados pela Sociedade. Todos eles usaram uma cronologia que colocava a destruição de Jerusalém em 588 ou 587 A.E.C. (não 606 A.E.C. como nos escritos de Russell). Brown só obteve 1917 como data final porque contou os 2.520 anos desde o primeiro ano de Nabucodonosor (604 A.E.C.) em vez de contar a partir do seu 18.º ano, como fizeram Barbour e Russell. E os outros três expositores obtiveram 1914 contando desde o ano de ascensão de Nabucodonosor,

que eles achavam ter ocorrido em 606 A.E.C. (em vez de 605 A.E.C., a data estabelecida por historiadores modernos).100

Embora todos eles baseassem os seus cálculos em cronologias que foram rejeitadas por Russell e seus seguidores, a Sociedade afirma que estes expositores "entenderam que 1914 estava claramente marcado pelas profecias bíblicas". É espantoso como é que eles "entenderam" isso "claramente" usando cronologias que a Sociedade ainda afirma serem falsas. É claro que, para um leitor descobrir tais raciocínios inconsistentes, ele ou ela tem de verificar as obras destes expositores. O problema é que os autores da Sociedade normalmente evitam dar referências específicas. Esta prática torna virtualmente impossível para a grande maioria dos leitores descobrir os métodos subtis usados pela Sociedade para apoiar as suas interpretações indefensáveis e esconder evidência embaraçosa.

Conforme foi mencionado, a Sociedade, contrariamente às suas afirmações no passado, reconhece no novo livro que as predições ligadas a 1914 falharam. Como foi mostrado neste capítulo, as predições muito específicas e claras sobre 1914 foram resumidas em sete pontos nas páginas 76-78 do Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio], originalmente publicado em 1889. Estas predições foram apresentadas nesse livro em termos nada incertos. A discussão está repleta de palavras e expressões como "factos", "prova", "evidência bíblica", e "verdade estabelecida". Por exemplo, que 1914 presenciaria "a desintegração do governo dos homens imperfeitos" é apresentado como "um facto firmemente estabelecido pelas Escrituras."101

O que é que o novo livro de história da Sociedade faz com as afirmações pretensiosas e a linguagem muito definitiva que originalmente rodeava estas predições? Suaviza-as ou esconde-as completamente. Referindo-se à discussão acima mencionada dos tempos dos Gentios no Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio] -- mas sem citar qualquer das declarações que realmente foram feitas -- a Sociedade pergunta: "Mas o que significaria o fim dos Tempos dos Gentios?" A surpreendente resposta que é dada é que os Estudantes da Bíblia "não estavam plenamente seguros do que aconteceria"!

Embora algumas das predições sejam brevemente mencionadas, a Sociedade evita cuidadosamente aplicar-lhes os termos "predições" ou "profecias". [Segundo a Sociedade] Russell e os seus associados nunca "predisseram" ou "previram" nada, nunca afirmaram apresentar "prova" ou "verdade estabelecida". Eles apenas "pensaram", "sugeriram", "esperaram" ou "tinham esperança sincera" em como isto ou aquilo "poderia" acontecer, mas "não estavam plenamente seguros."102 É desta forma que as predições são embrulhadas numa linguagem que disfarça completamente a verdadeira natureza da agressiva mensagem apocalíptica proclamada ao mundo pelos Estudantes Internacionais da Bíblia durante mais de um quarto de século antes de 1914. É claro que disfarçando as predições presunçosas com esse tipo de palavras e expressões vagas e despretensiosas torna mais fácil admitir "humildemente" que as predições falharam.


The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson (1937-2023), pp. 72-88.

Capítulo 2: Cronologia Bíblica e Secular

Carl Olof Jonsson


Ao defender a data 607 A.E.C. como sendo o momento da desolação de Jerusalém e ponto de partida para calcular a duração dos tempos dos Gentios, representantes da Watch Tower Society alegam que estão a basear-se na Bíblia. Eles dizem que os que datam a desolação como tendo ocorrido em 587 ou 586 A.E.C. estão a basear-se em fontes seculares em vez de na Bíblia. O autor anônimo do "Apêndice ao Capítulo 14" do livro "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], por exemplo, declara:

Estamos dispostos a ser guiados principalmente pela Palavra de Deus, em vez de por uma cronologia que se baseia primariamente em evidência secular ou que discorda das Escrituras.1

Obviamente, essas declarações tentam criar a impressão de que aqueles que rejeitam a data 607 A.E.C. para a desolação de Jerusalém não têm verdadeiramente fé na Bíblia. Mas será que essas declarações apresentam uma descrição justa do assunto? Ou são apenas injúrias santimoniosas, que têm por objetivo difamar a personalidade cristã daqueles que discordam, não com as Escrituras, mas com as datações da Watch Tower Society? Ou será que até se dá o caso de os próprios defensores da cronologia da Sociedade não terem realmente compreendido a verdadeira natureza da cronologia bíblica?

A natureza da cronologia bíblica

Hoje as pessoas lêem ou usam os termos A.C. e D.C. (correspondendo a A.E.C. e E.C.) e geralmente não pensam na origem destas designações. Na realidade, a "era cristã", na qual os acontecimentos são datados relativamente ao ano do nascimento de Cristo, é uma construção muito tardia. Conforme está bem estabelecido, o sistema só foi introduzido no sexto século E.C. pelo monge e erudito romano Dionysius Exiguus. Contudo, ainda haviam de passar mais 500 anos antes de esta nova era ser geralmente aceite como um sistema de datas no mundo Católico.

Como a Bíblia foi escrita muito antes do tempo de Dionysius Exíguus, é claro que não dá quaisquer datas segundo a nossa era Cristã. Assim, embora a Watch Tower Society apresente a data 29 E.C. para o batismo de Jesus, 455 A.E.C. para o 20.º ano de Artaxerxes, 539 A.E.C. para a queda de Babilônia, e 607 A.E.C. para a desolação de Jerusalém, nenhuma destas datas se encontra na Bíblia. A Bíblia só dá datações relativas. Quais são as conseqüências disso?

Considere este exemplo relevante: Em 2 Reis 25:2 a data apresentada para a desolação de Jerusalém é o "décimo primeiro ano do Rei Zedequias", o último rei de Judá. O versículo 8 diz-nos adicionalmente que isto ocorreu no "décimo nono ano do Rei Nabucodonosor, rei de Babilônia".

Mas quando foi isso? Quão distante do nosso tempo isso ocorreu? Quantos anos antes da era Cristã isso aconteceu? A realidade é que a Bíblia não dá qualquer informação que, por si só, ligue estas datas à nossa era Cristã.

Analogamente, os livros de Reis e Crônicas falam dos reis que governaram em Israel e Judá desde Saul, o primeiro rei, até Zedequias, o último rei. Somos informados sobre quem sucedeu a quem, e durante quantos anos cada um deles governou. Somando as durações dos reinados desde Saul até Zedequias, podemos medir o espaço de tempo aproximado (existem muitos pontos incertos) entre estes dois reis. Desta forma, descobrimos que o período das monarquias hebraicas abrangeu aproximadamente 500 anos. Mas ainda não encontramos resposta para a pergunta: Em que ponto da corrente do tempo este período começou e em que ponto terminou?

Se a Bíblia tivesse continuado e desse uma série contínua e ininterrupta de anos de reinado desde Zedequias até ao início da era Cristã, a pergunta teria sido respondida. Mas Zedequias foi o último da linha Judaica de reis e o seu reinado terminou séculos antes da vinda de Cristo. A Bíblia também não nos dá qualquer informação adicional que nos identifique diretamente a duração do período desde o "décimo primeiro ano" de Zedequias (quando Jerusalém foi desolada) até ao início da era Cristã. Assim, temos um período de aproximadamente 500 anos, o período das monarquias hebraicas, mas não nos é dito quão distante do nosso tempo foi esse período nem como pode ser datado em relação à nossa era Cristã.

Se a Bíblia tivesse preservado descrições datadas e detalhadas de eventos astronômicos, como eclipses solares e lunares, ou as posições dos planetas em relação a várias estrelas e constelações, isto tornaria o nosso problema mais fácil. Os astrônomos modernos, com o seu conhecimento dos movimentos regulares da lua e dos planetas, conseguem calcular as posições que estes corpos celestes tinham no céu estrelado há milhares de anos. Mas a realidade é que a Bíblia não fornece informação deste tipo.

Portanto, a Bíblia por si só não mostra como as suas datações cronológicas podem ser relacionadas com a nossa própria era. Uma cronologia que está "suspensa no ar" neste sentido é simplesmente o tipo de cronologia chamada cronologia relativa. Só se a informação bíblica nos fornecesse a distância exata desde o tempo de Zedequias até à nossa própria era -- através de uma lista de duração de reinados completa e coerente ou por observações astronômicas detalhadas e datadas -- é que teríamos uma cronologia absoluta, isto é, uma cronologia que nos dá a distância exata desde o último ano de Zedequias até ao nosso próprio tempo.2 Parece evidente que os próprios escritores da Bíblia não estavam preocupados em fornecer isto, o seu foco de atenção estava simplesmente em outros assuntos. Então, a que fonte podemos recorrer para fazer a ligação com a contagem da nossa era?

Será que existe uma "cronologia bíblica" sem fontes seculares?

Apesar da natureza relativa das datas bíblicas, ainda assim não é impossível datar acontecimentos mencionados na Bíblia. Se conseguíssemos sincronizar a cronologia da Bíblia com a cronologia de outro país, que pudesse por sua vez ser fixada em relação à nossa era cristã, então seria possível converter a cronologia relativa da Bíblia numa cronologia absoluta. Contudo, isto significa que teríamos de nos basear em fontes extra-bíblicas, isto é, em fontes históricas seculares, para datar acontecimentos mencionados na Bíblia.

E não temos outra alternativa. Se queremos saber quando ocorreu, em relação ao nosso próprio tempo, um acontecimento mencionado na Bíblia -- seja a data para a queda de Babilônia, a data para a desolação de Jerusalém por Nabucodonosor, a data para a reconstrução do templo no reinado de Dario I, ou qualquer outra data -- então somos obrigados a recorrer a fontes históricas seculares. Este é o sério fato que todos os crentes na Bíblia têm de aceitar, quer gostem ou não. A verdade simples é que -- no que diz respeito à ligação com o modo de contar o tempo da nossa era cristã -- sem fontes seculares não há cronologia bíblica, não há datações de acontecimentos bíblicos em termos de anos "A.E.C." ou "E.C."

Isto também significa, é claro, que quem fala em usar a "cronologia da Bíblia" como uma forma unilateral e independente de medir o tempo, através da qual a correção de uma certa data pode ser estabelecida, está simplesmente a ignorar a realidade. Quando, por exemplo, algumas Testemunhas apontam o fato de os historiadores modernos datarem a queda de Babilônia em 539 A.E.C. e depois alegam que "a cronologia da Bíblia está em acordo com esta data", elas mostram que na realidade não compreenderam o que a natureza relativa da cronologia bíblica realmente implica. Onde é que a Bíblia atribui uma data para a queda de Babilônia? Uma Testemunha pode referir a profecia de Jeremias acerca dos "setenta anos" até à queda de Babilônia. Mas em que data começaram esses setenta anos, de modo a que possamos contar em diante até ao seu término? Não é fornecida qualquer data. Como a Bíblia não dá qualquer data, nem sequer uma data relativa específica, para a queda de Babilônia, a afirmação de que a Bíblia "concorda" com a datação secular deste evento como tendo ocorrido em 539 A.E.C., é completamente desprovida de sentido.3 E é igualmente desprovido de sentido e enganador dizer que a data secular para a desolação de Jerusalém, 587 ou 586 A.E.C., discorda da cronologia da Bíblia, pois a data absoluta para esse evento também não é dada na Bíblia.

Que dizer dos 70 anos de Jeremias 25:11, 12 e 29:10, que desempenham um papel tão importante na cronologia das Testemunhas? As Testemunhas, com toda a naturalidade, defendem a alegação da Watch Tower Society de que estes 70 anos se referem ao período da desolação de Jerusalém, contado desde o 18.º ano de Nabucodonosor até ao regresso dos exilados judeus no 1.º ano de Ciro (isto é, no seu primeiro ano completo ou de reinado, a seguir ao seu ano de ascensão, que começou em 539 A.E.C.). Como conseqüência desta interpretação, o intervalo de tempo entre as datas que os historiadores estabeleceram para estes dois eventos -- 587/586 e 538/537 A.E.C. -- parece ser muito curto, faltando-lhe uns 20 anos. Por isso, a Watch Tower Society escolhe rejeitar uma dessas duas datas. Eles podiam rejeitar a data do 18.º ano de Nabucodonosor (587/586 A.E.C.) ou rejeitar a data do primeiro ano de reinado de Ciro (538/537 A.E.C.). Eles rejeitam a primeira data, 587/586 A.E.C. Em que se baseiam para rejeitar essa data e não a outra?

Não existe uma razão bíblica para esta escolha. Conforme foi indicado anteriormente, a própria Bíblia não concorda nem discorda de qualquer destas duas datas, que são expressas em termos do modo de contar o tempo da era cristã. Além disso, a Bíblia simplesmente não fornece meios que nos permitam decidir qual das duas datas é a melhor, em termos de ser firmemente estabelecida. Em que base, então, devia a escolha ser feita -- admitindo que a interpretação da Sociedade sobre os 70 anos está correta?

O método mais lógico, seguro e erudito seria aceitar a data que for mais claramente estabelecida pelas fontes históricas extra-bíblicas. A razão é que estas fontes fornecem mesmo a informação que é necessária para fazer a ligação com o nosso modo de contar o tempo da era cristã. E, conforme será demonstrado nos próximos dois capítulos, estas fontes mostram de forma muito definitiva que, das duas datas mencionadas acima, a cronologia do reinado de Nabucodonosor é muito melhor estabelecida por documentos astronômicos e outros do que a cronologia do reinado de Ciro. Por essa razão, se fosse realmente necessário fazer uma escolha, e um cristão crente na Bíblia fosse confrontado com essa decisão, a escolha natural devia ser reter a data 587/586 A.E.C. e rejeitar a data 538/537 A.E.C.

No entanto, a Watch Tower Society prefere a escolha oposta. Se a razão para isto não se deve à própria Bíblia favorecer uma destas datas em vez da outra, e certamente também não é porque a evidência histórica o faça, então qual é a verdadeira razão que determina a escolha deles?

Lealdade à Bíblia? Ou Lealdade a uma especulação profética?

Se, conforme eles alegam, o período de 70 anos da profecia de Jeremias deve realmente ser contado desde o 18.º ano de Nabucodonosor até ao 1.º ano de Ciro, a Watch Tower Society devia logicamente ter começado com 587/586 A.E.C. como historicamente a mais fiável das duas datas. Contando para a frente 70 anos a partir dessa data obtém-se 518/517 A.E.C. como sendo o primeiro ano de Ciro, em vez de 538/537. Isto seria tão bíblico e de fato mais sábio do que reter 538/537 A.E.C. e rejeitar 587/586 (sendo esta última data aquela que tem o apoio documental e astronômico mais forte).

Por que é, então, que a Watch Tower Society rejeita 587/586 A.E.C. em vez de rejeitar 538/537?

A resposta é óbvia. A data 587/586 A.E.C. está em conflito direto com a cronologia da Watch Tower Society para os "tempos dos Gentios". Nessa cronologia, a sua data 607 A.E.C. para a destruição de Jerusalém é o ponto de partida indispensável. Sem a data 607 A.E.C. a Sociedade não poderia chegar a 1914 E.C. como sendo o ponto terminal. E como esta data é a própria pedra angular das pretensões e mensagem profética da organização Watch Tower, esta não permite que a data 1914 seja perturbada por nada, nem mesmo pela Bíblia ou por fatos históricos. No fundo, portanto, não é uma questão de lealdade à Bíblia nem de lealdade a fatos históricos. A escolha da data tem outro motivo muito diferente: Lealdade a uma especulação cronológica que se tornou numa condição vital para as alegações divinas da organização Watch Tower.

Nos próximos dois capítulos será demonstrado que toda a cronologia neo-babilônica é firmemente estabelecida por pelo menos quatorze linhas de evidência diferentes. Assim, a data 587/586 para o 18.º ano de Nabucodonosor (e para a destruição de Jerusalém) e a data 538/537 para o primeiro ano de Ciro, estão ambas corretas. Que nenhuma destas datas está em conflito com os 70 anos de Jeremias (Jeremias 25:11, 12 e 29:10) será demonstrado num capítulo posterior.

O colapso do ponto de partida original

Repitamos o que dissemos acima: Sem fontes seculares não há cronologia absoluta para datar acontecimentos das Escrituras. A própria Watch Tower Society teve de reconhecer este fato inevitável, embora seja um embaraço para ela. Assim, a primeiríssima coisa que a Sociedade se viu forçada a fazer, pois de outro modo não conseguiria ter qualquer cronologia bíblica, foi voltar-se para as fontes seculares e selecionar uma data na qual a sua cronologia se pudesse basear. A data que eles escolheram é a data que os historiadores estabeleceram para a queda de Babilônia, 539 A.E.C. Por conseguinte, esta data secular é a própria fundação daquilo que a Sociedade apresenta como a sua "cronologia bíblica". Por que é que a Sociedade escolheu esta data como base para a sua cronologia? E como é que os historiadores chegaram a esta data?

Quando Charles Taze Russell inicialmente adotou a "cronologia bíblica" de Nelson H. Barbour, a base secular sobre a qual essa cronologia fora estabelecida era 536 A.E.C. -- não era 539 A.E.C. Eles acreditavam que essa era a data, não da queda de Babilônia, mas sim do primeiro ano de Ciro. Somando os "setenta anos" a 536, eles obtiveram 606 A.E.C. como sendo a data para a desolação de Jerusalém, e subtraindo 606 de 2.520 (supostamente o número de anos dos tempos dos Gentios), chegaram a 1914.

Originalmente Barbour afirmou que a data 536 A.E.C. era obtida da lista de reis da antigüidade conhecida como "Cânon de Ptolomeu".4 Com o tempo, porém, descobriu-se que não era assim. Esta lista de reis não só aponta para 538 A.E.C. como sendo o primeiro ano completo de Ciro, mas também para 587 A.E.C. como sendo a data para o 18.º ano de Nabucodonosor, o ano da desolação de Jerusalém. Quando estes fatos chegaram ao conhecimento de Russell, ele rejeitou a lista de reis e começou a atacar o seu suposto originador, Cláudio Ptolomeu. Contudo, ele ainda acreditava que 536 A.E.C. era uma data geralmente aceite para o primeiro ano de Ciro, declarando:

Pode-se dizer que todos os estudantes de cronologia concordam que o primeiro ano de Ciro foi o ano 536 antes do começo da nossa era Anno Domini.5

Com o passar do tempo, alguns Estudantes da Bíblia descobriram que esta afirmação também não era verdadeira. Numa carta privada para Russell, datada de 7 de Junho de 1914, um dos seus associados mais próximos, Paul S. L. Johnson, disse-lhe que praticamente todos os historiadores defendiam 538 A.E.C. como sendo o primeiro ano de Ciro. "Consultei uma dúzia de enciclopédias", escreveu ele, "e todas exceto três apresentam a data 538 A.C."6 Russell, porém, ignorou esta informação, e Joseph F. Rutherford, o seu sucessor como presidente da Watch Tower Society, fez o mesmo.

Foi só em 1944, no livro "The Kingdom Is at Hand" [O Reino É Iminente], que a Watch Tower Society finalmente abandonou a data 536 A.E.C. Passo a passo, o primeiro ano de Ciro foi deslocado para trás, primeiro para 537 A.E.C. e depois, cinco anos mais tarde, para 538 A.E.C., data indicada pelo "Cânon de Ptolomeu".7

Para poder manter 1914 como sendo a data em que terminavam os tempos dos Gentios, tiveram de ser feitos outros "ajustes". Para começar, embora o primeiro ano de Ciro tenha começado na Primavera de 538 A.E.C., a Watchtower argumentou que este édito permitindo aos judeus regressar do exílio (Esdras 1:1-4) foi promulgado perto do fim do seu primeiro ano de reinado, isto é, no início de 537 A.E.C. Nesse caso, os judeus que partiram de Babilônia não podiam ter alcançado Jerusalém antes do Outono desse ano. Somando 70 anos a 537, a desolação de Jerusalém foi então fixada em 607 A.E.C. em vez de 606. Em seguida, eles reconheceram finalmente o fato de que não há qualquer "ano zero" incluído no início da nossa era cristã.8 Assim, do Outono de 607 A.E.C. até ao início da nossa era, passaram apenas 606 anos e três meses; e se este período for subtraído aos 2.520 anos, ainda se chega a 1914 como sendo a data final. Assim, fizeram com que três "erros" separados se cancelassem uns aos outros e o resultado foi o mesmo! Cada um dos ajustes foi feito com o objetivo de manter a data 1914.

No entanto, mover para um lado e para o outro desta maneira arbitrária a base secular da "cronologia bíblica" da Watch Tower Society dificilmente inspirava confiança. Por essa razão, desse tempo em diante, o primeiro ano de reinado de Ciro (538 A.E.C.) não era enfatizado como o ponto inicial "firmemente estabelecido". Em vez disso, a ênfase foi transferida para a data que os historiadores tinham estabelecido para a queda de Babilônia, 539 A.E.C. Esta data seria designada em breve como uma "data absoluta" nas publicações da Watch Tower. Mas por que era esta data particular vista como uma "data absoluta"?

539 A.E.C. -- a "Data Absoluta Para as Escrituras Hebraicas"?

A princípio, começando em 1952, a Watch Tower Society explicou que a data 539 A.E.C. para a queda de Babilônia tinha sido "firmemente estabelecida" pela tabuinha cuneiforme conhecida como Crônica de Nabonido.9 Evidentemente por esta razão pensou-se que esta data podia ser usada como a nova base para a cronologia A.E.C. da Sociedade. Por essa razão, nas duas décadas seguintes o ano 539 A.E.C. não só foi descrito como uma "data absoluta", mas como "a data Absoluta proeminente para o período A.C. das Escrituras Hebraicas".10 Qual é a realidade a este respeito? Será que a evidência histórica justifica esta linguagem impressionante e o que revela quanto ao entendimento dos escritores da Watch Tower sobre cronologia secular?

A Crônica de Nabonido: Este documento cuneiforme data a queda de Babilônia no "16.º dia" do "mês de Tashritu", evidentemente no 17.º ano de Nabonido. Infelizmente, o texto está danificado, e as palavras para "17.º ano" são ilegíveis. Mas mesmo que estas palavras tivessem sido preservadas, a crônica não nos teria dito nada além de que Babilônia foi capturada no 16.º dia de Tishri (o babilônico Tashritu) no 17.º ano de Nabonido. Esta informação por si mesma não pode ser traduzida para 539 A.E.C. É necessária evidência secular adicional para situar o 17.º ano de Nabonido na forma de contar o tempo da nossa era e para lhe podermos atribuir uma data expressa em termos da nossa era.

Apesar disto, as publicações da Watch Tower continuaram a dar a impressão de que a Crônica de Nabonido por si mesma fixava a data absoluta para a queda de Babilônia.11 Foi só em 1971, num artigo intitulado "Testemunho da Crônica de Nabonido", que a Sociedade finalmente admitiu que esta tabuinha não fixa o ano da queda de Babilônia. Citando a data dada na crônica (o 16.º dia de Tashritu), o escritor do artigo declara francamente: "Mas será que a Crônica de Nabonido por si só fornece a base para estabelecer o ano deste evento? Não."12

Embora a principal testemunha em apoio da "data absoluta para as Escrituras Hebraicas" tenha sido assim retirada, a Sociedade não estava preparada para fazer mais uma mudança na base secular da sua "cronologia bíblica". Por esse motivo, tinham de ser encontradas e convocadas outras testemunhas. No mesmo artigo da Watchtower citado acima, foi feita uma referência a duas novas fontes que no futuro iriam "sustentar" a data absoluta 539 A.E.C.:

Também outras fontes, incluindo o Cânon de Ptolomeu, apontam para o ano 539 A.E.C. como sendo a data para a queda de Babilônia. Por exemplo, historiadores da antigüidade, como Diodoro, Africano e Eusébio mostram que o primeiro ano de Ciro, como rei da Pérsia, correspondia à Olimpíada 55, ano 1 (560/559 A.E.C.), ao passo que o último ano de Ciro é situado na Olimpíada 62, ano 2 (531/530 A.E.C.).... Tabuinhas cuneiformes atribuem a Ciro um governo de nove anos sobre Babilônia. Isto estaria em harmonia com a data aceite para o início do seu domínio sobre Babilônia em 539 A.E.C.13

Assim, as novas fontes para validar a data 539 A.E.C. consistiam em (1) o Cânon de Ptolomeu e (2) datas da Era Olímpica Grega citadas por historiadores da antigüidade. Será que alguma destas fontes pode estabelecer 539 A.E.C. como uma "data absoluta" em relação à qual a cronologia bíblica pode ser firmemente fixada?

O Cânon de Ptolomeu: Conforme foi mostrado anteriormente, Russell inicialmente apoiou a sua cronologia referindo-se ao Cânon de Ptolomeu. Mas quando ele descobriu que a data 536 A.E.C. para o primeiro ano de Ciro não era apoiada pelo Cânon, ele rejeitou-o. E embora a Watch Tower por fim tenha recuado o 1.º ano de Ciro para 538 A.E.C., em harmonia com o Cânon de Ptolomeu, a cronologia da Sociedade ainda está em conflito com o Cânon em outros pontos.

A soma total das durações dos reinados dados pelo Cânon para os reis neo-babilônicos anteriores a Ciro, por exemplo, aponta para 587 A.E.C., não aponta para 607 A.E.C., como sendo a data para a desolação de Jerusalém no 18.º ano do reinado de Nabucodonosor. Além disso, a Watch Tower Society também rejeita os números dados pelo Cânon de Ptolomeu para os reinados de Xerxes e Artaxerxes I.14 Usar o Cânon em apoio da data 539 A.E.C. enquanto ao mesmo tempo se rejeita a sua cronologia para períodos anteriores e posteriores a esta data seria totalmente inconsistente.

Evidentemente percebendo isto, a Watch Tower Society logo no ano seguinte rejeitou outra vez o Cânon de Ptolomeu, declarando que "o próprio propósito do Cânon torna impossível a datação absoluta através dele."15 Se isto era verdade, então é claro que a Sociedade não podia usar o Cânon em apoio da data 539 A.E.C.

Com o Cânon de Ptolomeu assim removido, a base secular da "cronologia bíblica" da Sociedade agora dependia inteiramente da exatidão da segunda testemunha, o modo de contar o tempo das Olimpíadas Gregas. Que dizer deste modo de contar o tempo? De que modo fixa a queda de Babilônia no ano 539 A.E.C. e até que ponto podemos confiar nas datas Olímpicas citadas por historiadores da antigüidade?

A Era Olímpica: O primeiro ano atribuído a esta era é 776 A.E.C. Este ano, por conseguinte, é designado "Ol. I, 1", isto é, o primeiro ano da primeira Olimpíada. Ora, isto não significa que os primeiros jogos Olímpicos tiveram lugar em 776 A.E.C. Fontes da antigüidade indicam que estes jogos começaram a ser realizados muito antes. Nem significa que já em 776 A.E.C. os gregos começaram uma era fundada sobre os jogos Olímpicos. De fato, não se pode encontrar qualquer referência à era Olímpica em toda a literatura antiga até ao terceiro século A.E.C.! Conforme o professor Elias J. Bickerman indica, "a numeração das Olimpíadas foi introduzida por Timaeus ou por Eratóstenes."16 E o Dr. Alan E. Samuel especifica: "O sistema de contagem das Olimpíadas, originado por Philistus, foi subseqüentemente usado num contexto histórico por Timaeus, e depois disso encontramos cronologias históricas baseadas nas Olimpíadas."17 Timaeus Sicilus escreveu uma história da Sicília, a sua terra natal, em 264 A.E.C., e Eratóstenes, um bibliotecário na famosa biblioteca de Alexandria no Egito, publicou a sua Chronographiae algumas décadas mais tarde.

Portanto, o sistema de contagem das Olimpíadas, tal como a era cristã, foi introduzido mais de 500 anos depois do ano que foi escolhido como ponto inicial dessa era! Como é que os historiadores gregos conseguiram fixar a data da primeira Olimpíada bem como outras datas (por exemplo, o primeiro ano de Ciro) centenas de anos mais tarde? Que tipo de fontes estavam ao seu dispor?

Eles estudaram listas de vencedores dos jogos que se realizavam de quatro em quatro anos, que eram mantidas em Olímpia. Mas infelizmente essas listas não tinham sido mantidas continuamente desde o início. Como o Dr. Samuel indica, a primeira lista foi "elaborada por Hippias no fim do quinto século A.C.", isto é, por volta de 400 A.E.C.18 "Nos tempos helênicos, a lista de vencedores estava completa e razoavelmente consistente e o suporte para a cronologia estava estabelecido e aceite."19 Mas será que se podia confiar na lista? Samuel continua: "Saber se tudo isto estava correto, ou se os eventos foram corretamente atribuídos aos anos, é outra questão." Indicando que "o astuto Plutarco [c. 46-c.120 E.C.] tinha as suas dúvidas", ele prossegue alertando que "também nós devíamos ter muitas dúvidas sobre a evidência cronográfica das Olimpíadas que é muito anterior ao meio ou início do quinto século [i.e., antes de 450 ou 500 A.E.C.]."20

Porém, a confiança da Watch Tower Society no modo de contar das Olimpíadas é ainda mais ilusório. A razão disto é que, ao mesmo tempo que aceitam as datas Olímpicas dadas por historiadores da antiguidade para o reinado de Ciro, eles rejeitam as datas Olímpicas dadas por estes historiadores para o reinado de Artaxerxes I, apesar do fato de o seu reinado se situar muito mais perto do nosso tempo. Assim, quando Júlio Africano, na sua Chronography (publicada c. 221/222 E.C.), coloca a data do 20.º ano de Artaxerxes no "4.º ano da 83.ª Olimpíada", correspondendo a 445 A.E.C., esta data é rejeitada pela Watch Tower Society em favor de 455 A.E.C., conforme foi observado anteriormente (nota 14).21 Assim, tal como no caso do Cânon de Ptolomeu, a Sociedade usa novamente uma testemunha que noutras ocasiões é completamente rejeitada, e isto pela única razão de que nessas áreas a evidência é desfavorável aos seus ensinos.

À parte a inconsistência da Sociedade Torre de Vigia, as datações Olímpicas preservadas por Diodoro, Africano e Eusébio indicando 539 A.E.C. como sendo a data da queda de Babilônia, não podem ser usadas isoladamente para estabelecer essa data como uma data absoluta sobre a qual a cronologia das Escrituras Hebraicas pode ser baseada. Isto deve-se ao fato simples, já apresentado, de o sistema de contagem das Olimpíadas não ter sido realmente instituído senão no fim do terceiro século A.E.C. -- ou três séculos depois da queda de Babilônia.

Astronomia e o ano 539 A.E.C.

A discussão anterior sobre as tentativas infrutíferas da Sociedade em estabelecer uma base secular para a sua "cronologia bíblica" particular resume o conteúdo de um folheto publicado em 1981: The Watch Tower Society and Absolute Chronology [A Sociedade Torre de Vigia e a Cronologia Absoluta].22 Talvez tenha sido esta exposição que -- direta ou indiretamente -- incitou os escritores da Sociedade a fazer outra tentativa para estabelecer a data 539 A.E.C. Seja como for, foi publicada uma nova discussão da data em 1988, no dicionário da Bíblia revisto da Sociedade, Insight on the Scriptures [Estudo Perspicaz das Escrituras], no qual os autores tentam agora fixar a data astronomicamente.

Conforme foi explicado anteriormente (na nota 2), uma cronologia absoluta geralmente é melhor estabelecida com a ajuda de datas astronomicamente fixadas. Nas décadas de 1870 e 1880, escavações em Babilônia desenterraram um grande número de textos cuneiformes contendo descrições de eventos astronômicos datados das eras babilônica, persa e grega. Estes textos fornecem numerosas datas absolutas destes períodos.

O texto astronômico mais importante da era neo-babilônica é o chamado "diário", um registo de cerca de trinta observações astronômicas datado do 37.º ano de Nabucodonosor. Esta tabuinha, que é mantida no Museu de Berlim (onde é designada por VAT 4956), estabelece 568/567 A.E.C. como sendo a data absoluta para o 37.º ano de Nabucodonosor. Esta data obviamente implica que o seu 18.º ano, durante o qual ele desolou Jerusalém, corresponde a 587/586 A.E.C. Isto é 20 anos mais tarde do que a data 607 A.E.C. atribuída a esse evento pela Watch Tower Society. Uma discussão detalhada deste e de outros textos astronômicos é apresentada no capítulo quatro.

Portanto, a preocupação da Watch Tower Society é evitar o uso de tal texto antigo desfavorável e encontrar uma maneira de estabelecer a data 539 A.E.C. independentemente dele, evitando assim um conflito com a evidência acompanhante que o texto fornece e que mina a data 607 A.E.C. como data para a queda de Jerusalém. Qual é a evidência astronômica a que eles recorrem?

Strm. Kambys. 400: O texto astronômico, designado Strm. Kambys. 400, é o texto agora usado pela Watch Tower Society para estabelecer a data 539 A.E.C. É uma tabuinha datada do sétimo ano de Cambises, filho de Ciro.23 Referindo-se a dois eclipses lunares mencionados no texto -- eclipses que os peritos modernos "identifica[ram] com os eclipses lunares visíveis em Babilônia em 16 de julho de 523 AEC e em 10 de janeiro de 522 AEC", -- a Sociedade conclui:

De modo que esta tabuinha especifica o sétimo ano de Cambises II como tendo início na primavera setentrional de 523 AEC. Esta data é confirmada pela astronomia.24

Qual é a conseqüência disto? Se 523/522 A.E.C. foi o sétimo ano de Cambises, o seu primeiro ano foi necessariamente 529/528 A.E.C. e o ano anterior, 530/529 A.E.C., foi necessariamente o último ano do seu predecessor, Ciro. Contudo, para chegarmos à data da queda de Babilônia também precisamos de saber a duração do reinado de Ciro. Para isto, a Sociedade é obrigada a aceitar a informação encontrada em outro tipo de textos, as tabuinhas de contratos, isto é, documentos de negócios e administrativos, datados. Sobre estes, a Sociedade declara:

A mais recente tabuinha datada no reinado de Ciro II é do 5.º mês, do 23.º dia do seu 9.º ano.... Visto que o nono ano de Ciro II como rei de Babilônia foi 530 A.E.C., seu primeiro ano, segundo este cálculo, foi 538 AEC, e seu ano de ascensão foi 539 AEC.25

Portanto, para estabelecer a data 539 A.E.C. a Sociedade aceita sem reservas várias fontes seculares antigas: (1) uma tabuinha astronômica babilônica, e (2) tabuinhas de contratos babilônicas datadas no reinado de Ciro. No entanto, nas páginas seguintes do mesmo artigo (páginas 454-456 [páginas 608-610 na edição brasileira]) outros documentos exatamente do mesmo tipo -- textos astronômicos e tabuinhas de contratos -- são rejeitados porque apoiam a data 587 A.E.C. para a destruição de Jerusalém!

Se as críticas que a Sociedade faz a estes diários astronômicos (principalmente o fato de eles serem cópias posteriores de um original) fossem válidas, essas críticas também se aplicariam com igual força ao Strm. Kambys. 400 que eles favorecem. Tal como o VAT 4956, o Strm. Kambys. 400 também é uma cópia de um original mais antigo. De fato, até mesmo a designação 'cópia' dificilmente lhe poderá ser atribuída. O eminente perito em textos astronômicos, F. X. Kugler, indicou logo em 1903 que esta tabuinha só parcialmente é uma cópia. O copista estava evidentemente a trabalhar a partir de um texto muito defeituoso, e por essa razão tentou preencher as lacunae [lacunas] ou falhas no texto com os seus próprios cálculos. Assim, só uma parte de Strm. Kambys. 400 contém observações verdadeiras. O resto são acréscimos feitos por um copista muito pouco habilidoso, de um período muito posterior. Kugler comentou que "nenhum dos textos astronômicos que eu conheço oferece tantas contradições e enigmas não solucionados como o Strm. Kambys. 400."26

Em contraste com isso, VAT 4956 é um dos diários melhor preservados. Embora também seja uma cópia posterior, peritos concordam que é uma reprodução fiel do original.

Existe evidência de que os eclipses lunares mostrados em Strm. Kambys. 400, mencionados no livro Insight on the Scriptures [Estudo Perspicaz das Escrituras] estão entre as observações verdadeiras que aparecem na tabuinha.27 Portanto, o ponto que aqui queremos salientar não é a validade ou falta de validade dessas observações particulares mas sim que, ao mesmo tempo que aplica certo critério como base para rejeitar a evidência de VAT 4956, a Watch Tower Society não deixa que o mesmo critério afete a sua aceitação de Strm. Kambys. 400 porque ela vê este documento como dando um apoio claro às suas alegações. Esta inconsistência repetida resulta da mesma "agenda escondida" [ou segundas intenções] de tentar proteger uma data que não tem apoio histórico.

Na realidade, para fixar a data da queda de Babilônia, é muito mais seguro começar com o reinado de Nabucodonosor e contar para a frente, em vez de começar com o reinado de Cambises e contar para trás. De fato, a data 539 A.E.C. para a queda de Babilônia foi originalmente determinada desta maneira, conforme indica o Dr. R. Campbell Thompson em The Cambridge Ancient History:

A data 539 para a Queda de Babilônia foi calculada a partir das últimas datas dos contratos de cada rei deste período, contando desde o fim do reinado de Nabopolassar em 605 A.C., nomeadamente, Nabucodonosor, 43: Amel-Marduk, 2: Nergal-shar-usur, 4: Labashi-Marduk (apenas [ano] de ascensão): Nabonido, 17 = 66.28

Contudo, a Watch Tower Society aceita apenas o produto final deste cálculo (539 A.E.C.), mas rejeita o próprio cálculo e o seu ponto inicial, porque estes contradizem a data 607 A.E.C. A Sociedade rejeita os textos astronômicos em geral e o VAT 4956 em particular; por outro lado, é obrigada a aceitar o mais problemático deles todos -- o Strm. Kambys. 400. Certamente seria difícil encontrar um exemplo mais flagrante de erudição inconsistente e enganadora.

Conforme foi demonstrado acima, 539 A.E.C. não é um ponto de partida lógico para estabelecer a data para a desolação de Jerusalém. As datas mais fiáveis neste período (no 6.º século A.E.C.) que podem ser estabelecidas como absolutas, situam-se muito antes, durante o reinado de Nabucodonosor, um reinado que é fixado diretamente à nossa era pelo VAT 4956 e por outros textos astronômicos.

Além disso, a Bíblia fornece um sincronismo direto entre o reinado de Nabucodonosor e a desolação de Jerusalém. Conforme foi dito anteriormente, 2 Reis 25:8 declara explicitamente que esta desolação ocorreu no "décimo nono ano do Rei Nabucodonosor."29 Em contraste com isso, a Bíblia não dá um sincronismo direto desse tipo para a queda de Babilônia.30

Mas isto não é tudo. As durações dos reinados dos reis neo-babilônicos (conforme citadas acima pelo Dr. R. Thompson a partir das tabuinhas de contratos) desde o primeiro rei, Nabopolassar, até ao último, Nabonido, podem ser firmemente estabelecidas de várias formas diferentes. De fato, a cronologia deste período pode ser estabelecida através de pelo menos quatorze linhas de evidência diferentes! Esta evidência será apresentada nos próximos dois capítulos.


The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson (1937-2023), pp. 283-311.

Capítulo 7: Tentativas de Enfraquecer a Evidência

Carl Olof Jonsson


Conforme relatado na Introdução, o manuscrito original deste trabalho foi apresentado pela primeira vez à Watch Tower Society em 1977. Durante a correspondência posterior com a sede dessa organização, foram apresentadas linhas de evidência adicionais, que mais tarde foram incluídas na edição deste trabalho, em 1983.

De posse de toda esta informação, seria de esperar que o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová, na sede de Brooklyn, estivesse preparado para reavaliar o seu cálculo dos tempos dos Gentios de acordo com o seu anunciado interesse na verdade bíblica e nos factos históricos. Pelo contrário, eles escolheram reter e defender a data 607 A.E.C. e as interpretações baseadas nela.1

A. O APÊNDICE DO LIVRO "VENHA O TEU REINO" DA WATCH TOWER SOCIETY

A nova defesa da data 607 A.E.C. apareceu num livro publicado em 1981, intitulado "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"]. No capítulo 14 (páginas 127-140) desse livro, é apresentada outra discussão do cálculo dos tempos dos Gentios, que essencialmente não difere de discussões anteriores sobre o assunto nas publicações da Watch Tower. Mas num "Apêndice ao Capítulo 14", em separado, no fim do livro, algumas das linhas de evidência que contrariam a data 607 A.E.C. são brevemente discutidas -- e rejeitadas.2 Contudo, essa discussão tem uma grave falta de objectividade e não passa de uma fraca tentativa de esconder factos.

Na área da investigação histórica, um acontecimento é geralmente considerado um "facto histórico" se for testificado por, pelo menos, duas testemunhas independentes. Reconhecemos esta regra da Bíblia: "Pela boca de duas ou três testemunhas, todo assunto seja estabelecido". (Mateus 18:16) No Capítulo 2 da primeira edição do presente trabalho foram apresentadas sete "testemunhas" históricas contra a data 607 A.E.C., sendo que pelo menos quatro delas se qualificam claramente como testemunhas independentes. A maioria dos registos que dão este testemunho sétuplo, encontram-se em documentos preservados da própria era Neo-Babilónica. Estes incluem inscrições reais, documentos de transacções comerciais e a estela [ou coluna] de Ápis, da dinastia egípcia contemporânea Saite. Só os diários astronómicos, a cronologia Neo-Babilónica de Beroso e a lista de reis do Cânone Real ("Cânone de Ptolomeu") são encontrados em documentos posteriores, mas verificou-se que estes registos foram copiados de outros anteriores que -- directa ou indirectamente -- remontam à era Neo-Babilónica.

Nos capítulos 3 e 4 da presente edição actualizada da obra, as sete linhas de evidência originais foram duplicadas para catorze. As linhas de evidência agora acrescentadas incluem evidência prosopográfica [relacionada com as biografias de indivíduos], pontos cronológicos de articulação que se encaixam uns nos outros e um número adicional de textos astronómicos (a tabuinha de Saturno e quatro eclipses lunares). A evidência contra a data 607 A.E.C. é, pois, esmagadora, e muito poucos reinos [continua na página 289]

"Apêndice ao Capítulo 14", no livro da Watch Tower Society "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (1981), páginas 186-190:

APÊNDICE AO CAPÍTULO 14

Os historiadores sustentam que Babilônia caiu diante do exército de Ciro em outubro de 539 A.E.C. O rei era então Nabonido, mas seu filho Belsazar era co-regente de Babilônia. Alguns eruditos elaboraram uma lista de reis neobabilônicos e da duração de seus reinados, remontando desde o último ano de Nabonido até o pai de Nabucodonosor, Nabopolassar.

De acordo com essa cronologia neobabilônica, o príncipe herdeiro, Nabucodonosor, derrotou os egípcios na batalha de Carquemis, em 605 A.E.C. (Jeremias 46:1, 2) Depois de Nabopolassar falecer, Nabucodonosor voltou a Babilônia para ascender ao trono. Seu primeiro ano de reinado iniciou-se na primavera seguinte (604 A.E.C.).

A Bíblia relata que os babilônios sob Nabucodonosor destruíram Jerusalém no seu 18.º ano de reinado (19.º quando se inclui o ano de ascensão). (Jeremias 52:5, 12, 13, 29) Assim, caso se aceite esta cronologia neobabilônica, então a desolação de Jerusalém ocorreu no ano 587/6 A.E.C. Mas em que se baseia esta cronologia secular, e como se compara ela com a cronologia da Bíblia?

Algumas evidências principais desta cronologia secular são:

O Cânon de Ptolomeu: Cláudio Ptolomeu era astrônomo grego, que viveu no segundo século E.C. Seu Cânon, ou lista de reis, relacionava-se com uma obra sobre astronomia, produzida por ele. A maioria dos historiadores modernos aceita a informação de Ptolomeu sobre os reis neobabilônicos e a duração de seus reinados (embora Ptolomeu omita o reinado de Labashi-Marduque). Ptolomeu evidentemente baseou sua informação histórica em fontes que datavam do período selêucida, o qual começou mais de 250 anos depois de Ciro ter capturado Babilônia. Portanto, não surpreende que as cifras de Ptolomeu concordem com as de Beroso, sacerdote babilônico do período selêucida.

Estela de Nabonido, de Harã (NABON H 1, B): Esta estela ou coluna contemporânea com uma inscrição foi descoberta em 1956. Menciona os reinados dos reis neobabilônicos Nabucodonosor, Evil-Merodaque e Neriglissar. As cifras para estes três concordam com as do Cânon de Ptolomeu.

VAT 4956: Trata-se duma tabuinha cuneiforme que fornece informações astronômicas datando até 568 A.E.C. Diz que as observações eram desde o 37.º ano de Nabucodonosor. Isto corresponderia à cronologia que coloca seu 18.º ano de reinado em

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587/6 A.E.C. Todavia, essa tabuinha é admitidamente uma cópia feita no terceiro século A.E.C., de modo que é possível que sua informação histórica seja simplesmente a que era aceita no período selêucida.

Tabuinhas comerciais: Milhares de tabuinhas cuneiformes, neobabilônicas, contemporâneas, foram encontradas com simples registros de transações comerciais, mencionando o ano do rei babilônico em que ocorreu a respectiva transação. Tabuinhas desta espécie foram encontradas para todos os anos de reinado dos reis neobabilônicos conhecidos na cronologia aceita do período.

Do ponto de vista secular, tais tipos de evidência talvez pareçam confirmar a cronologia neobabilônica que fixa o 18.º ano de Nabucodonosor (e a destruição de Jerusalém) em 587/6 A.E.C. No entanto, nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado. Por exemplo, sabe-se que os antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam os registros para os seus próprios fins. Ou mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta, a ponto de que matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão.

Evidentemente por reconhecer tais fatos, o Professor Edward F. Campbell Jr. apresentou uma tabela que inclui cronologia neobabilônica com a cautela: "Nem se precisa dizer que estas listas são provisórias. Quanto mais se estuda a complexidade dos problemas cronológicos no antigo Oriente Próximo, tanto menos se está inclinado a pensar numa apresentação como sendo definitiva. Por este motivo, o termo circa [cerca de] poderia ser usado ainda mais liberalmente do que é." -- The Bible and the Ancient Near East (ed. 1965.), p. 281.

Os cristãos, que crêem na Bíblia, têm vez após vez encontrado que a palavra dela suporta a prova de muita crítica e tem-se mostrado exata e fidedigna. Reconhecem que, sendo a Palavra inspirada de Deus, ela pode ser usada como medidor na avaliação da história e dos conceitos seculares. (2 Timóteo 3:16, 17) Por exemplo, embora a Bíblia falasse sobre Belsazar como governante de Babilônia, os eruditos, durante séculos, estavam confusos sobre ele, porque não existia nenhum documento secular que falasse de sua existência, identidade ou posição. Finalmente, porém, os arqueólogos descobriram registros seculares

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que confirmaram a Bíblia. Sim, a harmonia interna da Bíblia e o cuidado exercido pelos seus escritores até mesmo em questões de cronologia, recomendam-na tão fortemente ao cristão, que ele coloca a autoridade dela acima das opiniões de historiadores seculares, que sempre mudam.

Mas, como nos ajuda a Bíblia a saber quando Jerusalém foi destruída, e como se compara isso com a cronologia secular?

O profeta Jeremias predisse que os babilônios destruiriam Jerusalém, e transformariam a cidade e o país numa desolação. (Jeremias 25:8, 9) Ele acrescentou: "E toda esta terra terá de tornar-se um lugar devastado, um assombro, e estas nações terão de servir ao rei de Babilônia por setenta anos." (Jeremias 25:11) Os 70 anos expiraram quando Ciro, o Grande, no seu primeiro ano, libertou os judeus e estes voltaram à sua pátria. (2 Crônicas 36:17-23) Cremos que a leitura mais direta de Jeremias 25:11 e de outros textos é que os 70 anos contam desde quando os babilônios destruíram Jerusalém e deixaram a terra de Judá desolada. -- Jeremias 52:12-15, 24-27; 36:29-31.

Todavia, os que se estribam principalmente na informação secular quanto à cronologia daquele período dão-se conta de que, se Jerusalém tivesse sido destruída em 587/6 A.E.C., certamente não se teriam passado 70 anos até Babilônia ser conquistada e Ciro deixar os judeus voltar à sua pátria. Na tentativa de harmonizar as questões, afirmam que a profecia de Jeremias começou a cumprir-se em 605 A.E.C. Escritores posteriores citam Beroso como dizendo que Nabucodonosor, após a batalha de Carquemis, estendeu a influência babilônica sobre toda a Síria-Palestina, e que, quando voltou a Babilônia (no seu ano de ascensão, 605 A.E.C.), levou cativos judaicos ao exílio. Assim calculam os 70 anos como período de servidão a Babilônia, começando em 605 A.E.C. Isto significaria que o período de 70 anos expiraria em 535 A.E.C.

Mas, esta interpretação traz vários problemas grandes:

Embora Beroso afirme que Nabucodonosor levou cativos judaicos no seu ano de ascensão, não há nenhum documento cuneiforme que confirme isso. O que é ainda mais significativo, Jeremias 52:28-30 relata cuidadosamente que Nabucodonosor levou cativos judaicos no seu sétimo ano, no seu 18.º ano e no seu 23.º ano, não no seu ano de ascensão. Também, o historiador judaico Josefo declara que, no ano da batalha de Carquemis, Nabucodonosor conquistou toda a Siria-Palestina, "exceto a Judéia", contradi-

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zendo assim Beroso e entrando em conflito com a afirmação de que os 70 anos de servidão judaica começaram no ano de ascensão de Nabucodonosor. -- Antiquities of the Jews X, vi, 1.

Além disso, em outro lugar, Josefo descreve a destruição de Jerusalém pelos babilônios e diz então que "toda a Judéia e Jerusalém, e o templo, continuaram a ser um deserto por setenta anos". (Antiquities of the Jews X, ix, 7) Declarou especificamente que "nossa cidade ficou desolada durante o intervalo de setenta anos, até os dias de Ciro". (Against Apion I, 19) Isto concorda com 2 Crônicas 36:21 e Daniel 9:2, de que os preditos 70 anos foram 70 anos de desolação total do país. O escritor Teófilo de Antioquia, do segundo século (E.C.), também mostra que os 70 anos começaram com a destruição do templo, após o reinado de 11 anos de Zedequias. -- Veja também 2 Reis 24:18 a 25:21.

Mas a própria Bíblia fornece evidência ainda mais marcante contra a alegação de que os 70 anos começaram em 605 A.E.C. e que Jerusalém foi destruída em 587/6 A.E.C. Conforme já mencionado, se fôssemos contar a partir de 605 A.E.C., os 70 anos chegariam a 535 A.E.C. Mas, o inspirado escritor bíblico Esdras relatou que os 70 anos se estenderam até o "primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia", que emitiu o decreto que permitiu aos judeus voltar à sua pátria. (Esdras 1:1-4; 2 Crônicas 36:21-23) Os historiadores aceitam que Ciro conquistou Babilônia no outubro de 539 A.E.C. e que o primeiro ano de reinado de Ciro começou na primavera (setentrional) de 538 A.E.C. Se o decreto de Ciro foi emitido mais para o fim de seu primeiro ano de reinado, os judeus podiam ter estado facilmente de volta na sua pátria por volta do sétimo mês (tisri), conforme diz Esdras 3:1; isto seria em outubro de 537 A.E.C.

Todavia, não há maneira razoável de esticar o primeiro ano de Ciro de 538 até 535 A.E.C. Alguns tentaram eliminar o problema de modo forçado alegando que Esdras e Daniel, ao falarem do "primeiro ano de Ciro", estavam usando algum conceito judaico peculiar, que diferia da contagem oficial do reinado de Ciro. Mas isto não pode ser sustentado, porque tanto um governador não-judaico como um documento dos arquivos persas concordam em que o decreto foi emitido no primeiro ano de Ciro, assim como os escritores bíblicos relatam com cuidado e especificamente. -- Esdras 5:6, 13; 6:1-3; Daniel 1:21; 9:1-3.

A "boa palavra" de Jeová está relacionada com o período predito de 70 anos, porque Deus disse:

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"Assim disse Jeová: 'De acordo com o cumprimento de setenta anos em Babilônia, voltarei minha atenção para vós, e vou confirmar para convosco a minha boa palavra por trazer-vos de volta a este lugar.'" (Jeremias 29:10)

Daniel estribou-se nesta palavra, confiando em que os 70 anos não fossem um 'número redondo', mas uma cifra exata em que se podia confiar. (Daniel 9:1, 2) E assim veio a ser.

De maneira similar, estamos dispostos a ser guiados principalmente pela Palavra de Deus, em vez de por uma cronologia que se baseia primariamente em evidência secular ou que discorda das Escrituras. Parece evidente que o entendimento mais fácil e mais direto das diversas declarações bíblicas é que os 70 anos começaram com a desolação completa de Judá, depois de Jerusalém ter sido destruída. (Jeremias 25:8-11; 2 Crônicas 36:20-23; Daniel 9:2) Assim, contando para trás 70 anos a partir de quando os judeus voltaram à sua pátria em 537 A.E.C., chegamos a 607 A.E.C. como data em que Nabucodonosor, no seu 18.º ano de reinado, destruiu Jerusalém, tirou Zedequias do trono e acabou com a linhagem de reis judeus no trono, na Jerusalém terrestre. -- Ezequiel 21:19-27.

na história antiga podem ser estabelecidos de forma tão conclusiva como o reinado de Nabucodonosor II (604-562 A.E.C.).

A-1: Deturpações de evidência histórica

No seu "Apêndice ao Capítulo 14", a Watch Tower Society menciona brevemente algumas das linhas de evidência contra a data 607 A.E.C., incluindo o "Cânon de Ptolomeu" e a lista de reis de Beroso, mas não menciona que essas duas listas de reis são baseadas no próprio período Neo-Babilónico. Em vez disso, a publicação da Watch Tower alega que a origem das datas apresentadas nesses documentos é proveniente da era Selêucida, ou seja, cerca de três séculos mais tarde.3

Além disso, a Watch Tower Society menciona pela primeira vez a Estela de Nabonido, de Harã (Nabon. H 1, B), um documento contemporâneo que estabelece a duração de toda a era Neo-Babilónica até ao nono ano de Nabonido. Mas a Watch Tower Society não menciona outra estela contemporânea do reinado de Nabonido, a estela de Hillah, que também estabelece a duração de toda a era Neo-Babilónica, incluindo o reinado de Nabonido!

Em terceiro lugar, é mencionado o diário astronómico VAT 4956. Referindo-se ao facto de este documento ser uma cópia de um texto original do reinado de Nabucodonosor, feita durante a era Selêucida, a Sociedade repete a sua teoria de que "é possível que sua informação histórica seja simplesmente a que era aceita no período selêucida."4 No entanto, este raciocínio é completamente falacioso, pois foi provado falso por outro diário astronómico, B.M. 32312, facto este que a Sociedade não comenta, embora o conheça perfeitamente.5

Finalmente, a Sociedade menciona as tabuinhas comerciais, admitindo que os milhares de documentos contemporâneos apresentam os reinados de todos os reis Neo-Babilónicos, e que as durações dos reinados dados por estes documentos concordam com todas as outras linhas de evidência mencionadas anteriormente -- o Cânon Real, a cronologia de Beroso, as inscrições reais de Nabonido e os diários astronómicos.6 Contudo, a Sociedade não menciona que essa concordância [ou harmonia] refuta a noção de que a informação presente no VAT 4956 poderia ter sido forjada durante o período Selêucida. Além das linhas de evidência acima mencionadas, a Sociedade também ignora completamente outra forte linha de evidência contra a data 607 A.E.C., nomeadamente, a sincronia [entre esses documentos] e a cronologia Egípcia, que é contemporânea e estabelecida independentemente.

Ao omitir cerca de metade das sete linhas de evidência discutidas na primeira edição do presente trabalho (a estela de Hillah, o diário B.M. 32312 e os documentos egípcios contemporâneos) e ao deturpar algumas das outras, são ocultados os factos reais acerca da força e validade da cronologia Neo-Babilónica estabelecida. Partindo desta base, os peritos da Watch Tower passaram a fazer uma avaliação crítica da limitada evidência apresentada. Eles declaram:

No entanto, nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado. Por exemplo, sabe-se que os antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam os registros para os seus próprios fins.7

Novamente, os factos são ocultados. Embora seja verdade que escribas da antiguidade por vezes distorceram a história para glorificar os seus reis e deuses, os peritos concordam que, embora essa distorção se encontre nas inscrições reais e outros documentos Assírios, os escribas Neo-Babilónicos não distorceram a história desta forma. Isto foi também sublinhado no Capítulo 3 (secção B-1-b) [pp. 105-108] do presente trabalho, onde A. K. Grayson, uma autoridade bem conhecida em registos históricos Babilónicos, foi citado como tendo dito:

Ao contrário dos escribas Assírios, os Babilónicos nem deixam de mencionar as derrotas Babilónicas, nem tentam transformá-las em vitórias.8

Acerca das crónicas Neo-Babilónicas, Grayson diz que "contêm um registo razoavelmente fiável e representativo de acontecimentos importantes no período de que se ocupam", e "dentro dos limites do seu interesse, os escritores são muito objectivos e imparciais".9 Acerca das inscrições reais Babilónicas (como a estela de Nabonido), Grayson observa que são "primariamente registos de actividade de construção e no seu todo parecem ser confiáveis".10

Portanto, a distorção feita pelos escribas refere-se à história Assíria, não se refere à história Neo-Babilónica, facto este que é ocultado no "Apêndice" do livro "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], da Watch Tower Society.

O próximo argumento apresentado pela Sociedade no "Apêndice" é que, "mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta, a ponto de que matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão."11

Evidentemente, os peritos da Watch Tower apercebem-se que toda a evidência descoberta desde meados de 1850 até agora aponta de forma unânime para 587 A.E.C. e não para 607 A.E.C. como sendo o décimo oitavo ano de Nabucodonosor. Entre as dezenas de milhares de documentos da era Neo-Babilónica já descobertos, a Watch Tower não conseguiu encontrar o menor vestígio de apoio para a sua data 607 A.E.C. -- é por isso que menciona "matéria ainda a ser descoberta." Uma cronologia que tem de se basear em "matéria ainda a ser descoberta", devido a ser demolida por toda a matéria já descoberta, está de facto baseada numa fundação muito fraca. Se a Watch Tower acha que uma ideia, refutada por uma quantidade esmagadora de evidência já descoberta, deve ser retida por se esperar que "matéria ainda a ser descoberta" irá suportá-la, então todas as ideias, por muito falsas que fossem, poderiam ser retidas. Mas deve-se ter presente que essa fé não se baseia na "demonstração evidente de realidades, embora não observadas" (Hebreus 11:1); baseia-se somente em wishful thinking [aquilo que se desejaria que fosse verdade].

Se realmente fosse verdade que (1) "nenhum historiador pode negar a possibilidade de que o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado", que (2) "sacerdotes e reis às vezes alteravam" os registos históricos Neo-Babilónicos, que (3) "mesmo quando a evidência descoberta é exata, poderá ser interpretada mal pelos eruditos modernos ou ser incompleta" e que (4) "matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período", que razão temos para aceitar qualquer data da era Neo-Babilónica determinada pelos historiadores -- por exemplo, 539 A.E.C. como sendo a data para a queda de Babilónia? Também esta data foi determinada unicamente com a ajuda de documentos seculares do mesmo tipo dos que se usaram para estabelecer 587 A.E.C. como sendo o décimo oitavo ano de Nabucodonosor. E das duas datas, 587 tem um apoio muito maior do que 539 A.E.C.!12

Se 587 A.E.C. deve ser rejeitada pelas razões acima mencionadas, então a data 539 A.E.C. também devia ser rejeitada pelas mesmas razões, ou até por razões mais fortes. E no entanto, a Watch Tower Society não só aceita a data 539 A.E.C. como sendo fiável, mas até deposita tanta confiança nela ao ponto de a tornar a própria base da sua cronologia bíblica!13 Se as razões que a Watch Tower invoca para rejeitar a data 587 A.E.C. são válidas, então são igualmente válidas para rejeitar a data 539 A.E.C. Rejeitar uma data e reter a outra não é apenas inconsistente; é também um triste exemplo de desonestidade intelectual.

A-2: Deturpação do que os peritos dizem

Em apoio das suas razões para rejeitar a cronologia Neo-Babilónica estabelecida por historiadores, é citada uma autoridade bem conhecida em história do Oriente Próximo.

"Evidentemente por reconhecer tais fatos," -- que o actual quadro da história Babilónica pode estar errado, que os antigos sacerdotes e reis podem ter alterado os registos Neo-Babilónicos, e que matéria ainda a ser descoberta poderia alterar drasticamente a cronologia do período:

o Professor Edward F. Campbell Jr. apresentou uma tabela que inclui cronologia neobabilônica com a cautela: "Nem se precisa dizer que estas listas são provisórias. Quanto mais se estuda a complexidade dos problemas cronológicos no antigo Oriente Próximo, tanto menos se está inclinado a pensar numa apresentação como sendo definitiva. Por este motivo, o termo circa [cerca de] poderia ser usado ainda mais liberalmente do que é."14

Esta citação é tirada de um capítulo escrito por Edward F. Campbell, Jr., que apareceu pela primeira vez em The Bible and the Ancient Near East (BANE) [A Bíblia e o Antigo Oriente Próximo], um trabalho editado por G. Ernest Wright e publicado por Routledge e Kegan Paul, de Londres, em 1961. Contudo, a Watch Tower Society não mencionou que o quadro mencionado neste trabalho abrange as cronologias do Egipto, Palestina, Síria, Ásia Menor, Assíria e Babilónia, desde c. 3800 A.E.C. até à data da morte de Alexandre o Grande, em 323 A.E.C., e embora o termo circa [cerca de] seja colocado antes de muitos dos reinos apresentados nas listas deste longo período, esse termo não é colocado antes de nenhum dos reinados apresentados para os reis do período Neo-Babilónico!

A questão é: Quando o Professor Campbell, em cooperação com o Professor David N. Freedman, elaborou as listas cronológicas na obra The Bible and the Ancient Near East [A Bíblia e o Antigo Oriente Próximo], será que ele pensava que "o atual quadro da história babilônica pode ser enganoso ou errado" no que diz respeito à era Neo-Babilónica? Será que ele pensava que existia alguma possibilidade de que "antigos sacerdotes e reis às vezes alteravam" os registos Neo-Babilónicos "para os seus próprios fins"? Estava ele, por alguma razão, preparado para colocar o termo circa [cerca de] antes de qualquer dos reinados dos reis Neo-Babilónicos? Por outras palavras, será que a Watch Tower Society dá uma imagem correcta das opiniões de Campbell e Freedman?

Quando estas perguntas foram colocadas ao Dr. Campbell, ele escreveu em resposta:

Conforme talvez já tenha concluído, estou consternado pelo uso que a Watch Tower Society fez das listas cronológicas de Noel Freedman e minhas. Temo que alguns sujeitos com excesso de zelo se aproveitarão de qualquer minudência para apoiar as suas conclusões previamente elaboradas. Este é certamente um caso em que se fez exactamente isso.

Deixe-me primeiro explicar que a divisão de responsabilidades nos quadros cronológicos em BANE atribuiu-me a maior parte da cronologia do Oriente Próximo e as datas bíblicas ao Professor David Noel Freedman, agora na University of Michigan. Nós de facto falámos acerca das qualificações que colocámos antes dos nossos quadros, mas não houve absolutamente nenhuma intenção de sugerir que havia um desfasamento de vinte anos nas datas relacionadas com Babilónia e Judá. Estou certo de que o Dr. Freedman torna explícito algures no texto do capítulo do BANE, que a data 587/6 não pode estar errada por mais de um ano, e a data 597 é uma das poucas datas seguras em todo o nosso repertório cronológico. Sei que ele continua convencido disto, tal como eu. Não existe absolutamente nenhuma evidência de que eu tenha conhecimento, que sugira a possibilidade de as datas em The Babilonian Chronicle [A Crónica Babilónica] terem sido alteradas por sacerdotes ou reis, por razões piedosas. Estou completamente de acordo com Grayson.15

O Dr. Campbell enviou as perguntas que lhe foram feitas ao Dr. Freedman, para lhe dar uma oportunidade de expressar os seus pontos de vista. Freedman tinha a dizer o seguinte sobre o assunto:

... Concordo inteiramente com tudo o que o Dr. Campbell lhe escreveu. É verdade que existem algumas incertezas acerca da cronologia bíblica para este período, mas essas incertezas originam-se em informação confusa e talvez conflitante da Bíblia, e não têm nada que ver com a informação e evidência cronológica para o período Neo-Babilónico proveniente de inscrições cuneiformes e outras fontes não bíblicas. Este é um dos períodos mais bem conhecidos do mundo antigo e podemos estar certos de que as datas estão correctas, com uma margem de erro de um ano ou algo semelhante, e muitas das datas são exactas com uma precisão de dia e mês. Não existe, portanto, qualquer base para os comentários ou juízos feitos pela Watchtower Society baseados num comentário acerca da nossa incerteza. O eu tinha especificamente em mente era o desacordo entre os peritos quanto a se a queda de Jerusalém deve ser datada em 587 ou 586. Peritos eminentes estão em desacordo sobre este ponto e infelizmente não temos a crónica Babilónica para esse episódio como temos para a captura de Jerusalém em 597 (esta data está agora fixada com exactidão). Mas esse é apenas um debate acerca de um ano, no máximo (587 ou 586), portanto é irrelevante para as opiniões das Testemunhas de Jeová que aparentemente querem rescrever toda a história dessa época e mudar as datas de forma muito dramática. Não existe qualquer base para isso.16

Assim, a Watch Tower Society, na sua tentativa de encontrar apoio para a data 607 A.E.C., deturpou as opiniões do Dr. Campbell e do Dr. Freedman. Nenhum deles acredita que os sacerdotes ou reis da antiguidade podem ter "altera[do] os registos" do período Neo-Babilónico, ou que "matéria ainda a ser descoberta poderá alterar drasticamente a cronologia do período em questão." E nenhum deles está disposto a colocar o termo circa [cerca de] antes de qualquer dos reinados apresentados nas suas listas para os reis da era Neo-Babilónica.

A única incerteza que eles assinalam é saber se a data da desolação de Jerusalém deve ser colocada em 587 ou em 586 A.E.C., e esta incerteza não provém de quaisquer erros ou obscuridades nas fontes extra-bíblicas, mas sim dos números aparentemente conflitantes dados na Bíblia, evidentemente as referências à destruição de Jerusalém como ocorrendo, num caso, no décimo oitavo ano [do reinado] de Nabucodonosor, e noutro caso, no seu décimo nono ano.--Jeremias 52:28, 29; 2 Reis 25:8.

A-3: Deturpação do que escritores da antiguidade disseram

As últimas três páginas do "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino" são dedicadas a uma discussão da profecia de Jeremias acerca dos setenta anos.17 Todos os argumentos apresentados nessas páginas foram completamente refutados no Capítulo 5 do presente trabalho [pp. 191-235], intitulado "Os Setenta Anos para Babilónia" (que corresponde ao capítulo 3 da primeira edição), para o qual remetemos o leitor. Aqui limitar-nos-emos a comentar alguns pontos.

Contra a declaração de Beroso, segundo a qual Nabucodonosor levou judeus como cativos no seu ano de ascensão, pouco depois da batalha de Carchemish (veja o Capítulo 5 acima, secção A-4 [p. 204]), a Watch Tower argumenta que "não há nenhum documento cuneiforme que confirme isso."18 Mas a Watch Tower Society omite isto: a declaração de Beroso é claramente apoiada pela leitura mais directa de Daniel 1:1-6.19

Daniel relata que "no terceiro ano do reinado de Jeoiaquim" (correspondendo ao ano de ascensão de Nabucodonosor; veja Jeremias 25:1) Nabucodonosor levou de Judá um tributo, consistindo em utensílios do templo e também "alguns dos filhos de Israel, e da descendência real, e dos nobres," e trouxe-os para Babilónia. (Daniel 1:1-3, TNM) É verdade que a Crónica Babilónica não menciona especificamente estes cativos judeus. Contudo, menciona que Nabucodonosor, no seu ano de ascensão, "marchou vitoriosamente em Hattu," e que "ele levou os vastos despojos de Hattu para Babilónia."20 Com toda a probabilidade, os cativos do território de Hattu estavam incluídos nestes "vastos despojos", conforme é indicado pelo Professor Gerhard Larsson:

É certo que este "pesado tributo" consistia, não apenas em tesouros mas também em prisioneiros dos países conquistados. Refrear-se de fazer isto teria sido demasiado estranho aos costumes da Babilónia e da Assíria.21

Assim, embora a Crónica Babilónica não mencione especificamente a deportação judaica (provavelmente muito pequena) no ano de ascensão de Nabucodonosor, a Crónica indica fortemente que isso ocorreu, o que concorda com as declarações directas de Daniel e Beroso.

Além disso, devemos notar que a mesma crónica Babilónica (BM 21946) fala dos vastos despojos levados para Babilónia no sétimo ano de Nabucodonosor em termos lacónicos similares. Embora seja conhecido, a partir da Bíblia (2 Reis 24:10-17; Jeremias 52:28), que estes despojos incluíam milhares de cativos judeus, a crónica não menciona nada acerca disto mas diz apenas:

Um rei da sua própria escolha ele [Nabucodonosor] designou na cidade (e) tomando o vasto tributo ele trouxe-o para Babilónia.22

Portanto, se o silêncio dos documentos cuneiformes acerca da deportação dos cativos judeus no ano de ascensão de Nabucodonosor indica, como o "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino" deixa implícito, que essa deportação não ocorreu, então o silêncio acerca da deportação no seu sétimo ano indicaria que esta também não ocorreu. Contudo, como a Bíblia menciona ambas as deportações, a crónica Babilónica evidentemente inclui-as nos "vastos despojos" ou tributos levados para Babilónia em ambas as ocasiões.

A Sociedade encontra outro argumento contra a deportação no ano de ascensão de Nabucodonosor no texto de Jeremias 52:28-30:

O que é ainda mais significativo, Jeremias 52:28-30 relata cuidadosamente que Nabucodonosor levou cativos judaicos no seu sétimo ano, no seu 18.º ano e no seu 23.º ano, não no seu ano de ascensão.23

Este argumento, contudo, pressupõe que Jeremias 52:28-30 contém um registo completo das deportações, o que manifestamente não é o caso. O total geral dos cativos judeus levados nas três deportações mencionadas na passagem é apresentado no versículo 30 como "quatro mil e seiscentas". Contudo, 2 Reis 24:14 diz que o número dos deportados em apenas uma dessas deportações foi "dez mil" (e talvez ainda outros 8.000 no versículo 16, se estes não estiverem incluídos no número anterior)!

Foram propostas várias teorias para explicar esta discrepância, mas nenhuma delas pode ser encarada como mais do que uma suposição. O dicionário bíblico da Sociedade Torre de Vigia, Estudo Perspicaz das Escrituras, por exemplo, declara que os números em Jeremias 52:28-30 "refere-se, pelo que parece, aos de certa categoria, ou aos que eram cabeças de famílias".24 A obra New Bible Dictionary [Novo Dicionário Bíblico] defende que "a diferença nos números deve-se, sem dúvida, a diferentes categorias de cativos sendo consideradas."25 Todos concordam que Jeremias 52:28-30 não dá um número completo dos que foram deportados, e alguns comentadores também sugerem que nem todas as deportações são mencionadas no texto.26

Pelo menos a deportação no ano de ascensão de Nabucodonosor, descrita por Daniel, não é mencionada por Jeremias -- o que não prova que essa deportação não ocorreu. Provavelmente a razão porque não está incluída entre as deportações enumeradas em Jeremias 52:28-30 é por ter sido apenas uma pequena deportação, consistindo em judeus escolhidos "da descendência real, e dos nobres" com a intenção de usá-los como servos no palácio real. (Daniel 1:3-4) O que é importante aqui é que Daniel, independentemente de Beroso, menciona esta deportação no ano de ascensão de Nabucodonosor.

Contra as declarações claras de Daniel e de Beroso, a Sociedade Torre de Vigia menciona o historiador judeu Josefo, que afirma que no ano da batalha de Carchemish (durante o ano de ascensão de Nabucodonosor), Nabucodonosor conquistou toda a Síria-Palestina "exceto a Judéia".27 A publicação da Sociedade Torre de Vigia argumenta que isto entra em conflito com a afirmação de que os 70 anos de servidão começaram no ano de ascensão. Josefo escreveu a sua obra mais de 600 anos depois de Daniel e quase 400 anos depois de Beroso. Mesmo que ele estivesse certo, isto não contradiria a conclusão de que a servidão das nações à volta de Judá começou no ano de ascensão de Nabucodonosor. A profecia de Jeremias aplica claramente a servidão, não aos judeus, mas sim a "estas nações" (Jeremias 25:11), isto é, às nações que rodeavam Judá. (Veja o Capítulo 5 acima, secção A-1 [p. 196].) De facto, Josefo até apoia a conclusão de que estas nações se tornaram subservientes a Nabucodonosor no seu ano de ascensão, pois ele declara que o rei de Babilónia nesse tempo "tomou toda a Síria, até Pelusium, excepto a Judéia." Pelusium fica na fronteira com o Egipto.

No entanto, não existe razão para acreditar que a declaração de Josefo é digna de mais confiança do que a informação dada por Daniel e Beroso. Aqui Josefo evidentemente apresenta uma conclusão de sua própria autoria, baseada numa interpretação errada de 2 Reis 24:1. O Dr. E. W. Hengstenberg, na sua discussão aprofundada de Daniel 1:1 e seguintes, faz este comentário acerca da expressão "excepto a Judéia", que aparece em Antiquities [Antiguidades Judaicas] X, vi, 1:

Não se deve pensar que Josefo obteve o parex tes Ioudaias [excepto a Judéia] de uma fonte que já não está à nossa disposição. O que se segue mostra claramente que ele extraíu [essa expressão] de um mal-entendido a respeito da passagem de 2 Reis 24:1. Por ter interpretado erradamente os três anos mencionados ali como sendo o intervalo entre as duas invasões, ele pensou que não se podia supôr que existiram invasões antes do 8.º ano de Jeoiaquim.28

Portanto, a declaração de Josefo tem pouco peso em comparação com o testemunho de Beroso, que evidentemente, ao contrário de Josefo, obteve a sua informação de fontes preservadas do próprio período neo-babilónico, e com o testemunho de Daniel, que esteve pessoalmente envolvido na deportação que ele próprio descreve.

Em seguida, a Sociedade Torre de Vigia cita duas passagens das obras de Josefo, nas quais os setenta anos são descritos como setenta anos de desolação (Antiquities [Antiguidades Judaicas] X, ix, 7, e Against Apion [Contra Apion], I, 19).29 Mas eles escondem o facto de Josefo, na sua última referência ao período da desolação de Jerusalém, declarar que a desolação prolongou-se por cinquenta anos, e não setenta! Essa declaração encontra-se na obra Against Apion [Contra Apion], I, 21, onde Josefo cita a declaração de Beroso acerca dos reinados babilónicos e diz:

Esta declaração é correcta e está de acordo com os nossos livros [isto é, com a Sagradas Escrituras]. Pois nestes está registado que Nabucodonosor, no décimo-oitavo ano do seu reinado, devastou o nosso templo, que durante cinquenta anos este cessou de existir, que no segundo ano de Ciro as fundações foram lançadas, e finalmente que no segundo ano do reinado de Dario foi terminado.30

Em apoio desta declaração Josefo cita não apenas os números de Beroso mas também os registos dos Fenícios, que apresentam a mesma duração para este período. Assim, nesta passagem Josefo contradiz e refuta as suas afirmações anteriores acerca da duração do período de desolação. Será que é honesto citar Josefo em apoio da ideia de que a desolação durou setenta anos, mas esconder o facto de ele ter argumentado, na sua última declaração acerca da duração do período, que a desolação durou apenas cinquenta anos? É muito possível e provável que nesta última passagem ele tenha corrigido as suas afirmações anteriores acerca da duração do período.

William Whiston, tradutor de Josefo, escreveu uma dissertação especial acerca da cronologia de Josefo, intitulada "Acerca da Cronologia de Josefo," que incluíu na sua publicação das obras completas de Josefo como Apêndice V.31 Neste estudo cuidadoso, Whiston indica que muitas vezes nas partes finais das suas obras Josefo tentou corrigir os números que deu anteriormente. Assim, Whiston demonstra que Josefo primeiro diz que a duração do período desde o Êxodo até à construção do templo foram 592 anos, número esse que ele [Josefo] mais tarde mudou para 612.32 Acerca do período seguinte, desde a construção do templo até à sua destruição, Josefo primeiro diz que durou 466 anos, número que mais tarde "corrigiu" para 470.33

Acerca dos setenta anos, que Josefo inicialmente conta desde a destruição do templo até ao regresso dos exilados judeus no primeiro ano de Ciro, Whiston diz que "esse é certamente um cálculo do próprio Josefo," e que os 50 anos para este período, apresentados em Against Apion [Contra Apion] I, 21, "são provavelmente a sua própria correcção [feita] na sua idade avançada."34

Se for este o caso, então Josefo até pode ser citado como um argumento contra a aplicação dos setenta anos feita pela Sociedade Torre de Vigia. Em qualquer caso, é óbvio que as declarações dele acerca dos setenta anos não podem ser usadas como argumento contra Beroso, como a Sociedade faz. O último número que Josefo indica para o período de desolação está completamente de acordo com a cronologia de Beroso, e Josefo até enfatisa este acordo!35

Além de Josefo, a Sociedade Torre de Vigia também se refere a Teófilo de Antioquia, que escreveu uma defesa do cristianismo cerca do fim do segundo século E.C. Conforme a Sociedade indica, ele começou a contar os setenta anos a partir da destruição do templo.36 Mas os escritores da Sociedade Torre de Vigia escondem o facto de Teófilo estar confuso quanto ao fim do período, pois ele primeiro diz que este fim ocorreu no "segundo ano" de Ciro (537/6 A.E.C.) e posteriormente diz que foi no "segundo ano ... de Dario" (520/19 A.E.C.).37

Outros escritores primitivos, incluindo Clemente de Alexandria (c. 150-215 E.C.), um contemporâneo de Teófilo, também disseram que os setenta anos acabaram "no segundo ano de Dario Histaspes" (520/19 A.E.C.), o que colocaria a desolação de Jerusalém cerca de 590/89 A.E.C.38

Eusébio, na sua crónica (publicada c. 303 E.C.) adoptou a opinião de Clemente, mas também tenta outra aplicação, começando com o ano em que Jeremias iniciou a sua actividade, quarenta anos antes da desolação de Jerusalém, e termina os setenta anos no primeiro ano de Ciro, que ele fixa em 560 A.E.C. Júlio Africano, em c. 221 E.C., aplica os setenta anos ao período de desolação de Jerusalém, cujo fim ele, tal como Eusébio mais tarde, data erradamente como sendo c. 560 A.E.C. É perfeitamente óbvio que estes escritores cristãos primitivos não tinham acesso a fontes que os poderiam ter ajudado a estabelecer uma cronologia exacta para este período da antiguidade.

Vemos assim que o uso que a Sociedade Torre de Vigia faz de escritores da antiguidade é muito selectivo. Eles citam Josefo na questão dos setenta anos de desolação mas escondem o facto de ele ter por fim apresentado esse período como sendo cinquenta anos. A referência que a Sociedade faz a Teófilo reflete os mesmos métodos: Citam-no, não porque ele realmente apresente evidência que os apoie, mas porque o cálculo dele concorda até certo ponto com o da Sociedade. Outros escritores cristãos contemporâneos, cujos cálculos diferem dos da Sociedade Torre de Vigia, são ignorados. Esta forma de proceder é uma clara deturpação do conjunto da evidência proveniente de vários escritores da antiguidade que discutiram este assunto.

A-4: Deturpação da evidência bíblica

Na continuação da sua discussão dos setenta anos, a Sociedade Torre de Vigia tenta mostrar que, mesmo que a evidência histórica esteja contra a aplicação que eles fazem deste período, a Bíblia está do seu lado. Em primeiro lugar, na página 188 do livro "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], eles afirmam, categoricamente: "Cremos que a leitura mais direta de Jeremias 25:11 e de outros textos é que os 70 anos contam desde quando os babilônios destruíram Jerusalém e deixaram a terra de Judá desolada."

O que se passa, contudo, é que a Sociedade recusa-se teimosamente a aceitar a leitura mais natural de Jeremias 25:11 e de vários outros textos relacionados com este assunto.39 Conforme foi discutido no Capítulo 5 [pp. 191-236] a leitura mais directa de Jeremias 25:11 mostra que os setenta anos são um período de servidão, não de desolação: "Estas nações servirão o rei de Babilónia setenta anos." (NASB) Além disso foi indicado que o outro texto de Jeremias que menciona os setenta anos, Jeremias 29:10, confirma este entendimento. A leitura mais directa da tradução melhor e mais literal deste texto mostra que aqueles "setenta anos" eram uma referência ao domínio babilónico: "Quando setenta anos estiverem completos para Babilónia." (NASB) Ambos os textos se referem claramente a Babilónia, não a Jerusalém.

Se os setenta anos se referem ao domínio babilónico, conforme mostram os versículos citados anteriormente, este período terminou no momento da queda de Babilónia, em 539 A.E.C.; e isto é dito directamente em Jeremias 25:12: "Então, depois de estarem completos setenta anos, punirei o rei de Babilónia e essa nação." (NRSV) Como esta punição teve lugar em 539 A.E.C., o fim dos setenta anos não se pode estender para além dessa data, seja para 537 A.E.C. ou qualquer outra data, pois isso estaria em conflito com uma leitura directa de Jeremias 25:12.40

Não pode haver nenhuma dúvida razoável sobre o assunto: A leitura mais directa da profecia de Jeremias (Jeremias 25:11-12 e 29:10) está em conflito directo com a aplicação que a Sociedade Torre de Vigia dá aos 70 anos. Apesar disto, eles declaram taxativamente:

Mas a própria Bíblia fornece evidência ainda mais marcante contra a alegação de que os 70 anos começaram em 605 A.E.C. e que Jerusalém foi destruída em 587/6 A.E.C.41

Que "evidência ainda mais marcante"? Isto:

Conforme já mencionado, se fôssemos contar a partir de 605 A.E.C., os 70 anos chegariam a 535 A.E.C. Mas, o inspirado escritor bíblico Esdras relatou que os 70 anos se estenderam até o "primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia", que emitiu o decreto que permitiu aos judeus voltar à sua pátria.42

Mas será que Esdras realmente relatou isso? Conforme foi mostrado na discussão de 2 Crónicas 36:21-23, no Capítulo 5 [pp. 191-236], Esdras não indica claramente que os setenta anos terminaram no "primeiro ano de Ciro," ou em 537, como defende a Sociedade Torre de Vigia. Pelo contrário, tal entendimento das suas palavras estaria em conflito directo com Jeremias 25:12, onde se diz que os setenta anos terminaram em 539 A.E.C.! Este texto fornece a evidência mais expressiva contra a alegação de que os setenta anos terminaram em 537 A.E.C. ou em qualquer outro ano posterior a 539.

É verdade que no manuscrito original de The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados] (enviado à Sociedade em 1977), uma das aplicações possíveis dos setenta anos considerados era de 605 a 536/35 A.E.C. Mas aplicação foi apresentada como uma alternativa menos provável. Nas edições publicadas da obra, esta sugestão foi omitida porque, tal como a aplicação do período defendida pela Sociedade Torre de Vigia, está em conflito com a profecia de Jeremias. Ao discutir esta aplicação, a Sociedade argumenta que "não há maneira razoável de esticar o primeiro ano de Ciro de 538 até 535 A.E.C."43 Como a aplicação considerada não insinuava isso, e como não tenho conhecimento de qualquer outro comentador moderno que tente esticar o primeiro ano de Ciro "até 535 A.E.C.", essa frase parece ser apenas um falso argumento criado pela própria Sociedade Torre de Vigia, que passa completamente ao lado da questão real.44

Finalmente, a Sociedade Torre de Vigia declara:

... estamos dispostos a ser guiados principalmente pela Palavra de Deus, em vez de por uma cronologia que se baseia primariamente em evidência secular ou que discorda das Escrituras. Parece evidente que o entendimento mais fácil e mais direto das diversas declarações bíblicas é que os 70 anos começaram com a desolação completa de Judá, depois de Jerusalém ter sido destruída.45

Novamente, estas declarações dão a impressão que existe um conflito entre a Bíblia e a evidência secular no que respeita aos setenta anos, e que a Sociedade Torre de Vigia está fielmente do lado da Bíblia contra a evidência secular. Mas nada podia estar mais longe da verdade. Contrariamente ao que a Sociedade diz, os dados bíblicos e históricos concordam entre si no que diz respeito ao período em discussão. Aqui, as descobertas históricas e arqueológicas, como em muitos outros casos, apoiam e confirmam as declarações bíblicas. Por outro lado, a interpretação do período de setenta anos apresentada pela Sociedade Torre de Vigia entra em conflito com factos estabelecidos pela evidência secular. Conforme foi claramente demonstrado acima e no Capítulo 5 [pp. 191-236], a interpretação da Sociedade está também em conflito flagrante com o "entendimento mais fácil e mais direto das diversas declarações bíblicas" sobre os setenta anos, como por exemplo Jeremias 25:11-12, 29:10; Daniel 1:1-6; 2:1; e Zacarias 1:7, 12, e 7:1-5.

Portanto, o conflito real não é entre a Bíblia e a evidência secular, é antes entre a Bíblia e a evidência secular de um lado, e a Sociedade Torre de Vigia no outro lado. Como a aplicação que eles fazem dos setenta anos está em conflito tanto com a Bíblia como com os factos históricos, não tem nada que ver com a realidade e merece ser rejeitada por todos os cristãos sinceros.

SUMÁRIO

Foi demonstrado amplamente acima que a Sociedade Torre de Vigia, no seu "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino", não faz uma apresentação justa da evidência contra a sua data 607 A.E.C.:

(1) Os seus escritores deturpam a evidência histórica ao omitirem da sua discussão cerca de metade da evidência apresentada na primeira edição deste livro (a estela de Hillah, o diário BM 32312, e documentos egípcios contemporâneos) e ao darem a algumas das outras linhas de evidência apenas uma abordagem tendenciosa e distorcida. Eles indicam incorrectamente que sacerdotes e reis podem ter alterado documentos históricos (crónicas, inscrições reais, etc.) da era neo-babilónica, apesar do facto de toda a evidência disponível mostrar que isso não ocorreu.

(2) Eles deturpam o que autoridades em historiografia da antiguidade disseram, ao citá-las fora do contexto e ao atribuir-lhes opiniões e dúvidas que elas não têm.

(3) Eles deturpam o que escritores da antiguidade disseram, ao esconderem o facto de Beroso ser apoiado pela leitura mais directa de Daniel 1:1-6, ao citarem Josefo quando ele fala de setenta anos de desolação sem mencionarem que no seu último trabalho ele mudou a duração do período para cinquenta anos, e ao se referirem à opinião do bispo do segundo século, Teófilo, sem mencionarem que ele termina os setenta anos, não apenas no segundo ano de Ciro, mas também no segundo ano de Dario Histaspes (tal como o seu contemporâneo Clemente de Alexandria e outros), confundindo assim os dois reis.

Finalmente, (4) eles deturpam a evidência bíblica ao esconderem o facto de a leitura mais directa das passagens que tratam dos setenta anos mostra que esses anos são o período do domínio neo-babilónico, não são o período de desolação de Jerusalém. Este entendimento está de acordo com a evidência histórica, mas está em conflito evidente com a aplicação que lhe é dada pela Sociedade Torre de Vigia. É verdadeiramente angustiante descobrir que indivíduos em cuja orientação espiritual milhões de pessoas confiam, lidam de forma tão negligente e desonesta com os factos. O "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino", que defende a cronologia deles, não passa de mais um exercício astuto na arte de esconder a verdade.

Podemo-nos perguntar porque é que os líderes de uma organização que enfatisa constantemente o seu interesse na "Verdade", na realidade acha necessário suprimir a verdade e até opor-se-lhe?

A razão obvia é que eles não têm outra escolha, enquanto continuarem a insistir que a organização deles foi designada no ano 1919 como o único canal e porta-voz de Deus na terra. Se o cálculo 607 A.E.C.-1914 E.C. for abandonado, essa pretensão desmoronar-se-á. Então estes líderes terão de admitir, pelo menos tacitamente, que a sua organização, nos últimos cem anos, apareceu na cena mundial num falso papel e com uma falsa mensagem.

Quando o questionamento da data 607 A.E.C. tem sido ocasionalmente comentado nas publicações da Torre de Vigia em anos recentes, a única defesa tem sido uma referência ao "Apêndice" de 1981. Na revista The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Novembro de 1986, por exemplo, dizem que "as Testemunhas de Jeová publicaram em 1981 evidência convincente em apoio da data de 607 AEC." Em seguida o leitor é remetido para o livro "Venha o Teu Reino", páginas 127-140 e 186-190.46

Como o "Apêndice" da Sociedade só contém uma série de tentativas falhadas de minar a evidência contra a data 607 A.E.C., e como a única "evidência convincente" apresentada em apoio da data é uma referência a "matéria ainda a ser descoberta", os escritores da Torre de Vigia evidentemente jogam com o facto de a maioria das Testemunhas desconhecerem completamente os verdadeiros factos. E os líderes da Sociedade Torre de Vigia

Quando Terminaram Realmente os "Sete Tempos"?

Alguns argumentam que, mesmo que os "sete tempos" sejam proféticos e mesmo que tenham durado 2.520 anos, as Testemunhas de Jeová ainda assim estão enganadas sobre a importância de 1914, porque usam o ponto de partida errado. Afirmam que Jerusalém foi destruída em 587/6 AEC, não em 607 AEC. Se isto fosse verdade, transferiria o começo do "tempo do fim" em uns 20 anos. Entretanto, as Testemunhas de Jeová publicaram em 1981 evidência convincente em apoio da data de 607 AEC. ("Venha o Teu Reino", páginas 127-40, 186-90.) Além disso, será que os que procuram tirar de 1914 a sua importância bíblica podem provar que 1934 -- ou, quanto a isso, qualquer outro ano -- tenha tido um impacto mais profundo, mais dramático e mais espetacular na história do mundo do que 1914?

De A Sentinela, 1.º de Novembro de 1986, página 6.

querem que essa situação se mantenha. Isto é claro se lermos os avisos que são repetidamente publicados nas publicações da Torre de Vigia contra a leitura de literatura de ex-Testemunhas que sabem os factos sobre a cronologia da Sociedade. Os líderes da Sociedade Torre de Vigia evidentemente temem que se permitirem que as Testemunhas se exponham a estes factos, elas podem descobrir que a base das pretensões proféticas do movimento não passam de especulações cronológicas sem fundamento, anti-bíblicas e anti-históricas.

Assim, embora a organização Torre de Vigia provavelmente use mais a palavra "Verdade" do que a maioria das outras organizações na terra, o facto é que a verdade se tornou um inimigo do movimento. É por isso que a Torre de Vigia tem de resistir à verdade e tem de escondê-la.

É claro que qualquer pessoa ou organização tem todo o direito de acreditar no que quiser, desde que isso não prejudique outras pessoas -- que os discos voadores existem, que a terra é plana, ou, neste caso, que Jerusalém, contrariamente ao que diz toda a evidência, foi desolada em 607 A.E.C., e que, algures, pode haver "matéria ainda a ser descoberta" para apoiar essas opiniões.

Contudo, se tais "crentes" não estão dispostos a conceder a outros o direito de discordar das suas teorias, e em vez disso classificam como apóstatas sem Deus aqueles que já não adoptam o mesmo ponto de vista deles, condenam-os à Geena se eles não mudarem de ideias, forçam os seus amigos e familiares a encará-los como criminosos iníquos sem Deus que têm de ser evitados, ostracizados e até odiados, explicando que Deus em breve vai exterminá-los para sempre junto com o resto da humanidade -- nesse caso já é tempo de tais "crentes" serem responsabilizados pelas suas opiniões, atitudes e acções. Qualquer fé que tenha tais consequências graves para outras pessoas tem de primeiro provar que está solidamente baseada na realidade, não apenas em especulações insustentáveis que só podem ser apoiadas por "matéria ainda a ser descoberta."

B. DEFESAS NÃO OFICIAIS ESCRITAS POR TESTEMUNHAS

O "Apêndice" de 1981 é até agora a única tentativa oficial feita pela Sociedade Torre de Vigia para enfraquecer as linhas de evidência contra a data 607 A.E.C. apresentadas em The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados]. Evidentemente reconhecendo que a defesa da Sociedade é irremediavelmente inadequada, algumas Testemunhas de Jeová e membros de outros grupos de Estudantes da Bíblia dedicaram-se de sua própria iniciativa a escrever artigos em defesa da cronologia dos tempos dos Gentios. Chegaram à minha atenção cerca de meia dúzia de artigos desse tipo. A maior parte deles foram-me enviados por Testemunhas de Jeová que os leram e queriam saber a minha opinião sobre eles.

Um aspecto comum nestes artigos é a sua falta de objectividade. Todos começam com uma ideia preconcebida que tem de ser defendida a todo o custo. Outro aspecto comum é que os artigos vez após vez refletem pesquisa inadequada, resultando muitas vezes em sérios erros. Infelizmente, alguns dos artigos também recorrem repetidamente a linguagem difamatória. Em publicações académicas os autores normalmente tratam-se uns aos outros com respeito, e artigos críticos são encarados como contribuições construtivas para o debate. Não seria de esperar que também os cristãos se refreassem de usar linguagem depreciativa e desonrosa quando se referem a críticos sinceros? Classificá-los de "detractores", "ridicularizadores", etc., é exactamente o oposto da atitude recomendada pelo apóstolo Pedro em 1 Pedro 3:15.

Como os argumentos mais importantes apresentados nos artigos que chegaram à minha atenção já foram considerados nos seus devidos contextos no presente trabalho, não é necessário tratá-los aqui novamente. Uma breve descrição dos artigos elaborados por dois dos mais qualificados defensores da cronologia da Sociedade Torre de Vigia pode ser de interesse para os leitores e é apresentada abaixo.47

Rolf Furuli é uma Testemunha de Jeová que vive em Oslo, Noruega. Ele é um ex-superintendente de distrito e é encarado pelas Testemunhas norueguesas como o principal apologista dos ensinos da Torre de Vigia nesse país, e as Testemunhas frequentemente recorrem a ele com os seus problemas doutrinais. Portanto não é de estranhar que ele tenha achado ser uma tarefa importante "refutar" o meu trabalho sobre a cronologia da Sociedade Torre de Vigia a respeito dos tempos dos Gentios.

A primeira tentativa desse tipo feita por Furuli, um tratado de mais de cem páginas, intitulado "Den nybabyloniske kronologi og Bibelen" ("A Cronologia Neo-Babilónica e a Bíblia"), foi-me enviado por Testemunhas da Noruega em 1987. Tal como a Sociedade Torre de Vigia, no seu "Apêndice", Furuli tentou minar a fiabilidade das fontes históricas para a cronologia neo-babilónica apresentadas no meu trabalho. Para satisfazer os desejos das Testemunhas norueguesas (que me tinham contactado em segredo), decidi escrever uma resposta ao tratado de Furuli.

As primeiras 31 páginas da minha resposta (que tinha um total de 93 páginas) foram enviadas na primavera de 1987 para as Testemunhas norueguesas, que em breve também forneceram a Rolf Furuli uma cópia. Furuli percebeu rapidamente que a sua discussão fora exposta como insustentável, e se ele continuasse a circular o seu tratado, a minha resposta também seria posta a circular. Para evitar isto, ele escreveu-me uma carta, datada de 23 de Abril de 1987, na qual descreveu o seu tratado como apenas "notas privadas" que não representavam as suas "opiniões actuais" em "todos os detalhes", mas eram somente uma expressão da informação que lhe estava disponível na época em que foram escritas. Ele pediu-me que destruísse a minha cópia do seu tratado e que não o citasse novamente.48

Três anos depois Furuli tinha preparado um segundo tratado direccionado para derrubar a evidência apresentada no meu trabalho. Durante algum tempo Furuli tinha estado a estudar hebraico na universidade em Oslo, e no seu novo tratado de 36 páginas (datado de 1 de Fevereiro de 1990) ele tentou argumentar que a minha discussão dos setenta anos "para Babilónia" estava em conflito com o texto hebraico.

Era evidente, contudo, que o conhecimento que Furuli tinha do hebraico nesse tempo era muito imperfeito. Tendo consultado vários hebraistas escandinavos proeminentes, escrevi uma resposta de 69 páginas, demonstrando em detalhe que os seus argumentos ao longo de todo o tratado eram baseados num mal-entendido da língua hebraica. Como Furuli, na sua discussão, tinha questionado a fiabilidade do texto Massorético Hebraico (MT) do livro de Jeremias, a minha resposta também incluía uma defesa deste texto contra o texto da Septuaginta Grega (LXX).49

Até agora não tenho conhecimento de qualquer outra tentativa de Furuli para defender a data 607 A.E.C., e não sei se ele já está preparado para a defender.

Philip Couture, uma Testemunha de Jeová que reside na Califórnia, E.U.A., tem sido um membro do movimento da Torre de Vigia desde 1947. Ele tem feito há alguns anos pesquisa sobre a história e cronologia neo-babilónica, evidentemente com o objectivo de encontrar algum apoio para a data 607 A.E.C.

No outono de 1989 um amigo de New Jersey, E.U.A., enviou-me uma cópia de um tratado de 72 páginas (que incluía uma secção com páginas copiadas de vários trabalhos) intitulado A Study of Watchtower Neo-Babylonian Chronology in the Light of Ancient Sources [Um Estudo da Cronologia Neo-Babilónica da Watchtower à Luz de Fontes Antigas]. Foi escrito por um apologista anónimo da Torre de Vigia, e só muito mais tarde notei que o meu amigo tinha incluído um pedaço de papel dizendo que o autor era Philip Couture.50

Embora Couture evite cuidadosamente mencionar o meu trabalho, ele cita-o repetidamente ou faz alusões ao seu conteúdo. A razão é, evidentemente, que não é suposto ele ter lido o que as publicações da Torre de Vigia classificam como "literatura apóstata." O único crítico que Couture menciona por nome é um Adventista do Sétimo Dia, William MacCarthy, que escreveu em 1975 uma brochura sobre o cálculo que a Torre de Vigia faz dos tempos dos Gentios.51

Tal como no caso de Furuli, o tratado de Couture é uma tentativa de minar a fiabilidade das fontes históricas para a cronologia neo-babilónica. Apesar dos seus esforços, contudo, ele falha em apresentar um único argumento defensável que possa mover o peso da evidência contra a data 607 A.E.C. A razão para isto é que, independentemente de quão hábil e capaz seja uma pessoa, acabará por lhe ser impossível encontrar qualquer apoio real e válido para uma ideia que é falsa e por isso basicamente indefensável.

Cerca de metade do tratado de Couture trata de astronomia e a sua relação com a cronologia neo-babilónica. Infelizmente, esta é uma área com a qual Couture, pelo menos no tempo em que escreveu o tratado, não estava muito familiarizado. Assim, embora uma secção separada do seu tratado contenha uma "palavra de cautela" a respeito do "uso e abuso de reticências", ele próprio cai repetidamente nas mesmas armadilhas contra as quais nos avisa.52

Como este e outros pontos importantes levantados por Couture foram tratados nas várias secções do presente trabalho, não são dados aqui mais comentários sobre o seu tratado.53 Tal como no caso de Furuli, não sei se Couture já está preparado para defender a sua posição.

Alguns dos outros artigos que me foram enviados apresentam discussões das passagens bíblicas que tratam dos setenta anos, mas ignoram a evidência histórica contra a data 607 A.E.C.54 Tal discussão não é, como o autor do artigo talvez sugira, uma tentativa de defender a Bíblia contra ataques baseados em fontes seculares. Em vez disso, é uma tentativa de forçar o significado de textos bíblicos para os adaptar a uma teoria que está em flagrante conflito com todas as fontes históricas do período neo-babilónico. A escolha em tais discussões não é realmente entre a Bíblia e fontes seculares; é entre uma teoria que lhes é muito cara e a evidência histórica. Quando a realidade histórica é ignorada, essas discussões não passam de exercícios fúteis de evasivas e wishful thinking.

É de esperar que continuem as tentativas para enfraquecer a evidência histórica contra a data 607 A.E.C. apresentada neste trabalho. É provável que apareçam no futuro novas discussões preparadas pela Sociedade Torre de Vigia e/ou por outros defensores dos cálculos 607 A.E.C.-1914 E.C. Se, pelo menos à primeira vista, alguns dos argumentos apresentados em tais discussões parecerem ter alguma força, terão de ser criticamente examinados e avaliados. Se se revelar necessário, será disponibilizado na Internet um comentário rápido acerca de tais discussões.


The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson (1937-2023), pp. 358-360.

Índice de Textos

Carl Olof Jonsson


Quando o número da página está em itálico, isto indica que a referência no texto está numa nota de rodapé. Quando o número da página está em negrito, isto indica que a passagem é discutida com algum detalhe.

Génesis
5:12 230
7:4 252
11:26 230
46 230
50:3 230
 
Êxodo
1:5 230
15:27 230
24:1 230
 
Levítico
25:1-7 221
25:3, 4, 8, 9 25
25:8-28 222
26:12-28 36
26:31, 33 197
26:34, 35 222
 
Números
11:16 230
14:34 24, 252
 
Deuteronómio
10:22 230
30:1-6 218
 
Juízes
1:7 230
8:30 230
12:14 230
 
2 Reis
10:1 230
22:2-23:23 318
22:3-10 318
23:21-23 318
23:29 139, 145
23:29, 30 346
23:31-35 203
23:34-37 337
24:1, 2 204, 208, 209, 298, 337, 339, 341
24:1-7 229, 341
24:7 204, 234
24:8-17 342
24:10-12 343
24:10-17 210, 296, 348
24:11, 12 254
24:12 130, 315, 325
24:14 296
24:18-25:30 315
25:1 226, 254, 347
25:1, 2 227
25:1-4 348
25:2-4 227
25:2,8 73, 87, 91, 153
25:6, 20-21 203
25:8 293, 294, 315
25:8, 9 227
25:8-12 318
25:22-25 227
25:27 348
25:27-30 254, 316
 
2 Crónicas
35:20-25 346
36:1 346
36:6 343
36:7, 10, 18 341
36:9, 10 342, 343
36:10 130, 254, 325, 348
36:20-23 220-224
36:20 200, 222
36:20, 21 214
36:21 90, 336
36:21-23 302
36:22, 23 75, 90, 223, 224
 
Esdras
1:1-4 75, 79, 90, 192
1:1-3:1 90, 200
1:5-2:70 90
3:1 90
3:1, 2 303
3:8-10 303
4:24 300
 
Neemias
1:1 319
2:1 320
2:17 197
 
Salmos
2:1-3 272
2:6-9 272
90:10 128, 230
103:19 250
110:1, 2 260, 264, 266, 267
110:5, 6 268
145:13 250
 
Isaías
14:12-15 270
23:15 230
23:15-18 195
44:28 192
45:1 251
45:13 192
49:19 197
 
Jeremias
1:3 318
9:11 197
25:1 201, 203, 247, 254, 295, 315, 344
25:1-12 195
25:10-12 76-78, 90, 195-204, 207, 209, 212, 225, 228, 229, 234, 238, 297, 301-304, 336
25:19-26 230
27:1, 3, 12 207
27:2 207
27:7 231
27:7-9, 11 198
27:17 199
28:1 207, 210, 254
28:1-4 347
28:2, 3 208
28:10, 11 208
29:1, 2 210
29:1, 20 217
29:1-30 254
29:1-32 216
29:8, 9 210
29:10 76, 77, 90, 209-214, 216, 218, 223-225, 228, 229, 234, 302, 336
29:12-14 217
32:1, 2 254
34:22 197
35:1 208
35:11 208
36:1-6 318, 319
36:1-32 196
36:9 319
36:29 196
39:5-7 203
40:13-41:10 227
43:10ss 254
44:22 197
44:30 139, 146
46:2 139, 146, 201, 203, 204, 234, 254, 314, 316, 318, 335, 338, 344
47:5-7 199
51:64 315
52:4 226
52:4-16 254
52:6, 7 227
52:9-27 203
52:12 91, 293, 315
52:12, 13 227
52:28 254, 315, 325
52:28, 29 294
52:28-30 296, 297, 315
52:29 91, 293
52:31 316, 325, 348
52:31-34 254, 316
 
Ezequiel
4:6 24, 252
8:11 230
21:27 257, 258
24:1, 2 226, 347
26:1, 7 254
29:1-20 254
33:21 348
33:24, 27 197
36:34 197
 
Daniel
1:1 207, 238, 241, 242, 254, 316, 318, 344
1:1, 2 206, 208, 228, 293, 298, 302, 335-345
1:1, 4, 6 127
1:1-6 204, 209, 229, 295, 304, 342
1:2 205
1:3, 4 297
1:21 127
2:1 206, 228, 229, 241, 242, 247, 254, 302, 304, 336-338, 344
2:1, 37, 38 238
2:8, 9 253
2:21 250, 253
2:36-44 268
2:44, 45 246
3:5, 15 253
4 236, 244-256
4:3, 34-37 251
4:16,23,25,32 244, 255, 256
4:17 250, 251
4:26, 36 253
4:28 245
4:29 247
4:30 247, 249
4:33 245
5:26-31 75, 215
5:30 200
5:31 300
6:28 75
7:1 247, 344
7:12 253
7:13,14,18,22,27 246, 264
7:25 253, 256
8:1 247, 344
8:1-4, 20 247
8:9-12 270
8:9-14,23-26 246
8:10, 11 245
8:14 25, 32
8:17, 19 246
9:1 75, 247, 344
9:1, 2 215, 216, 300
9:2 25, 78, 90, 219, 336
9:3 217
9:4-19 216, 217
9:11 218
9:13 218
9:24 25
9:24-27 25, 82, 192, 252
9:27 244, 245
10:1 127, 247, 344
10:2, 3 25
11:13, 27, 35, 40 246
11:31 244, 245
11:36, 37 245
12:1 244, 245
12:1-3 246
12:7, 11, 12 252
12:11 25, 28, 244, 245
12:11, 12 25
 
Amós
5:18-20 246
9:11ss 262
 
Jonas
3:4 252
 
Ageu
1:1, 14, 15 225
2:1-4 127
2:18, 19 226
 
Zacarias
1:7 224
1:7-12 224-226, 228, 229, 304
1:12 225, 226
1:16, 17 226
7:1 226
7:1-5 224, 226-229, 304
7:5 242
8:9 227
 
Malaquias
1:4 197
 
Mateus
4:13-16 270
5:34 264
7:15-23 11
18:16 284
18:20 19
21:43 281
24:14 4
24:15 244, 245
24:21 244, 245
24:34 2
24:37, 39 46
24:45-47 14
24:47 13
26:64 264
28:18 262, 272
 
Lucas
1:32 262
1:51, 52 251
10:1, 19 271
10:15 270
10:17, 18 271
21:24 4, 23, 28, 36, 59, 69, 89, 243, 244, 256, 259, 278, 280, 281
22:69 264
 
João
3:13 262
6:68 19
9:30, 34-39 19
12:31 271
17:21-23 19
 
Actos
4:25-28 272
10:1-48 281
13:32, 33 272
15:13-18 262
 
Romanos
1:4 272
11:25 281
 
1 Coríntios
15:24, 25 267, 268
15:24-26 269
15:24-28 266
15:25 266
 
Efésios
1:20-23 263
1:21, 22 269, 272
2:1, 2 269
6:12 269
 
Colossenses
1:13, 14 260, 261, 269
1:15, 16 269
2:10 263
2:15 269
3:14 18
 
2 Tessalonicenses
2:3-5 245
 
Hebreus
1:5 272
2:8 269
2:14, 15 270
5:5 272
8:1 264
10:12, 13 266
10:13 267
11:1 291
12:2 264
 
1 Pedro
3:15 307
3:22 269
 
1 João
1:3 19
 
Revelação
1:5 263
2:10 27
2:26, 27 273
3:21 260, 262, 264
7:3 52
11:2 28, 35, 279
11:2, 3 252
11:3 27, 28
11:8 26
11:15 261
11:15-18 272
11:17, 18 258
12:1-6 258, 272
12:1-10 260
12:1-12 271-273
12:5 272, 273
12:6, 14 28, 30, 252, 256
12:7-12 273
12:9, 10 273
12:13-17 273
16:8, 9 277
22:1, 3 264


The Gentile Times Reconsidered (Os Tempos dos Gentios Reconsiderados) (Atlanta: Commentary Press, 1998, terceira edição) de Carl Olof Jonsson (1937-2023), contracapa.

Contracapa

Carl Olof Jonsson


Os Tempos dos Gentios Reconsiderados, do autor sueco Carl Olof Jonsson, é um tratado erudito, baseado numa investigação cuidadosa e extensa, que inclui um estudo invulgarmente detalhado dos registos históricos da Assíria e Babilônia relativos à data da destruição de Jerusalém pelo conquistador babilônico Nabucodonosor.

Esta publicação traça a história de uma longa cadeia de teorias interpretativas relacionadas com as profecias que envolvem o tempo, extraídas dos livros bíblicos de Daniel e Revelação, começando com o Judaísmo da antigüidade, atravessando o Catolicismo Medieval, os Reformadores, e entrando no Protestantismo Inglês e Americano do século XIX. Revela-se a verdadeira origem da interpretação que por fim produziu a data 1914 como sendo um ano predito no qual "os tempos dos Gentios" terminariam, uma data adotada e proclamada mundialmente até à atualidade pelo movimento religioso conhecido como Testemunhas de Jeová. A importância desta data para as pretensões exclusivistas do movimento é repetidamente enfatizada nas publicações deles. A revista The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Outubro de 1990, por exemplo, diz na página 19:

"Durante os 38 anos que precederam 1914, os Estudantes da Bíblia, como as Testemunhas de Jeová eram então conhecidas, apontaram para essa data como sendo o ano em que os Tempos dos Gentios terminariam. Que prova notável isso fornece de que eles eram os verdadeiros servos de Jeová!"

O livro contém uma discussão esclarecedora da aplicação da profecia bíblica a respeito dos "setenta anos" de domínio babilônico sobre Judá. Os leitores acharão a informação agradavelmente diferente de todas as outras publicações sobre este assunto.

Um trabalho "muito valioso.... eu já chamei a atenção de vários correspondentes para o livro."
-- Donald J. Wiseman, Professor Emeritus de
Assíriologia na Universidade de Londres, Inglaterra

"Um estudo original e muito sério.... Várias vezes durante a minha leitura fui sobrepujado por sentimentos de admiração e profunda satisfação pela forma como o autor lida com argumentos relacionados com o campo da Assíriologia... Jonsson demonstra, com a ajuda de argumentos irrefutáveis, que é inválida a teoria das Testemunhas de Jeová segundo a qual 607 A.E.C. foi o ano em que Nabucodonosor II, no décimo oitavo ano do seu reinado, desolou Jerusalém."
-- Luigi Cagni, Professor de Assíriologia na Universidade
de Nápoles, Itália (excerto do seu Prefácio à edição italiana).

ISBN 0-914675-06-0


Notas do Prefácio

1 Génesis 1:14, NAB.

2 Luigi Cagni, Professor de Assíriologia na Universidade de Nápoles, Itália, no prefácio da edição italiana do livro The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados]. O Professor Cagni era, entre outras coisas, um dos maiores especialistas nas tabuinhas de Ebla, os cerca de 16.000 textos cuneiformes que foram escavados desde 1975 no palácio real da antiga cidade de Ebla (cujo nome árabe atual é Tell Mardikh), na Síria. Luigi Cagni morreu em janeiro de 1998.


Notas da Introdução

1 As designações "A.E.C." (Antes da Era Comum) e "E.C." (Era Comum) normalmente usadas pelas Testemunhas de Jeová, correspondem a "A.C." e "A.D." São muitas vezes usadas em literatura acadêmica, especialmente por autores judaicos, e foram adotadas pela Watch Tower Society, conforme se verá nas citações seguintes, retiradas das publicações da Watch Tower. A bem da consistência, estas designações, A.E.C. e E.C., são geralmente usadas nesta obra, com excepção dos casos em que é citado material onde são empregues as designações A.C. e A.D.

2 Itálico e ênfase acrescentados. O falecido presidente da Watch Tower Society, Frederick W. Franz, na discussão matinal da Bíblia com a família da sede, em 17 de Novembro de 1979, afirmou de forma ainda mais enérgica a importância da data 1914, ao dizer: "O único propósito da nossa existência como Sociedade é anunciar o Reino estabelecido em 1914 e soar o aviso da queda de Babilônia a Grande. Temos uma mensagem especial a transmitir." (Raymond Franz, In Search of Christian Freedom [Em Busca de Liberdade Cristã], Atlanta: Commentary Press, 1991, pp. 32, 33).

3 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Janeiro de 1988, pp. 10, 11.

4 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Setembro de 1985, pp. 24, 25.

5 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Abril de 1982, p. 27. Na Watchtower de 15 de Julho de 1992, página 12, tais dissidentes são descritos como "inimigos de Deus" que "odeiam Deus intensamente". Portanto, as Testemunhas são instadas a "odiar" essas pessoas "com um ódio total." Esta exortação foi repetida na Watchtower de 1.º de Outubro de 1993, página 19, onde se diz que os "apóstatas" estão tão "enraizados no mal" que "a iniquidade se tornou numa parte inseparável da sua natureza." A Watch Tower até disse às Testemunhas para pedirem a Deus que matasse os "apóstatas", em imitação do salmista Davi, que orou acerca dos seus inimigos: "Oh, que tu, ó Deus, mates o iníquo!" Desta forma as Testemunhas "deixam a Jeová a execução da vingança." Tais ataques rancorosos a ex-membros da organização refletem uma atitude que é exatamente o oposto daquela recomendada por Jesus no seu Sermão do Monte. -- Mateus 5:43-48.

6 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Abril de 1986, pp. 30, 31.

7 Nunca são dados os nomes dos autores das cartas que a Watch Tower Society escreve. Em vez disso, são usados símbolos internos. O símbolo "GEA", no canto superior esquerdo desta carta, mostra que o autor foi Lloyd Barry, um dos membros do Corpo Governante.

8 O símbolo "EF" mostra que o escritor desta carta foi Fred Rusk, do Departamento de Redação.

9 Além do meu tratado, que veio do interior do movimento, Schroeder podia estar a pensar em duas publicações, escritas por pessoas que não eram Testemunhas, que atacavam a cronologia da Sociedade: The Jehovah's Witnesses and Profetic Speculation [As Testemunhas de Jeová e as Especulações Proféticas], por Edmund C. Gruss (Nutley, N.J.: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1972), e 1914 and Christ's Second Coming [1914 e a Segunda Vinda de Cristo], por William MacCarty (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1975).

10 O abandono do cálculo 607 A.E.C.-1914 E.C. também implica abandonar aquelas interpretações fundadas nele, como a idéia de que o reino de Deus foi estabelecido em 1914 e que a "presença invisível" de Cristo começou nesse ano. Com respeito às Testemunhas de Jeová que não podem abraçar tais idéias, a revista The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Julho de 1979 declarou na página 13 [da edição em língua inglesa]: "Pessoas sem lei até tentaram penetrar na verdadeira congregação cristã, argumentando que a 'prometida presença' de nosso Senhor não é neste dia ... Pessoas deste tipo estão incluídas no aviso de Jesus registado em Mateus 7:15-23: 'Vigiai-vos dos falsos profetas que se chegam a vós em pele de ovelha, mas que por dentro são lobos vorazes.... eu lhes confessarei então: Nunca vos conheci! Afastai-vos de mim, vós obreiros do que é contra a lei". [Tradução feita a partir da edição inglesa.] Mais ainda, a The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Agosto de 1980 disse na página 19 [da edição em língua inglesa]: "Pedro também estava falando do perigo de ser 'desencaminhado' por alguns dentro das congregações cristãs que se tornariam 'ridicularizadores', menosprezando o cumprimento de profecias a respeito da 'presença' de Cristo e adotando uma atitude desafiadora da lei em relação ao 'escravo fiel e discreto', ao Corpo Governante da congregação cristã e aos anciãos designados". [Itálico acrescentado. Tradução feita a partir da edição inglesa.] Veja também o parágrafo 11 da mesma página e o parágrafo 14 da página 20 do mesmo número da revista.

11 Spectrum, Vol. 11, No. 4, 1981, p. 63. (Este jornal é publicado por Associations of Adventist Forums [Associações de Fóruns Adventistas], Box 4330, Takoma Park, Maryland, U.S.A.) A revista Awake! [Despertai!] de 22 de Novembro de 1984 explicou de forma similar que tal comportamento é um sinal de "uma mente fechada", dizendo: "Por exemplo, se formos incapazes de defender as nossas opiniões religiosas, podemos estar atacando furiosamente aqueles que desafiaram as nossas crenças, não com argumentos lógicos, mas com censuras e insinuações. Isto é evidência de preconceito e mente fechada". (Página 4 [tradução da edição em língua inglesa]; compare também com a Awake! [Despertai!] de 22 de Maio de 1990, página 12.)

12 The Watch Tower [A Sentinela], 1.º de Fevereiro de 1916, p. 38; 1.º de Setembro de 1916, pp. 264, 265; 1.º de Julho de 1920, p. 203.

13 The Time Is At Hand [O Tempo Está Próximo] (= Vol. 2 da série Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras], publicado em 1889), pp. 76-78; The Finished Mystery [O Mistério Consumado] (= Vol. 7 de Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras], publicado em 1917), pp. 129, 178, 258, 404, 542; Millions Now Living Will Never Die! [Milhões Que Agora Vivem Jamais Morrerão] (1920), p. 97; The Watchtower [A Sentinela], 9 de Setembro de 1941, p. 288; Awake! [Despertai!], 8 de Outubro de 1966, pp. 19, 20; The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Maio de 1968, pp. 271-272.

14 Enciclopédia sueca Nordisk Familjebok, Vol. 11 (Malmö: Förlagshuset Norden AB, 1953), p. 35.

15 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Abril de 1986, pp. 30, 31.

16 As regras da desassociação (excomunhão) são discutidas, por exemplo, na The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Setembro de 1981, páginas 16-31, e na The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Abril de 1988, páginas 27, 28. A respeito da destruição iminente do atual sistema mundial, The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Setembro de 1989 declara na página 19: "Apenas as Testemunhas de Jeová, os do restante ungido e os da "grande multidão", qual organização unida sob a proteção do Organizador Supremo, têm esperança bíblica de sobreviver ao iminente fim deste sistema condenado, dominado por Satanás, o Diabo.". (Compare também com The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Setembro de 1988, páginas 14, 15)

17 A ação foi provavelmente tomada a pedido da sede em Brooklyn, Nova Iorque. Conforme Raymond Franz, que foi um membro do Corpo Governante até à Primavera de 1980, me escreveu mais tarde numa carta datada de 7 de Agosto de 1982: "Suponho que era uma decisão tomada antecipadamente, a ação que a Sociedade tomaria em relação a si. No meu próprio caso, senti que era só uma questão de tempo até que eles fizessem algo a meu respeito, independentemente do 'low profile' que eu mantivesse. Não tenho dúvidas que no seu caso o escritório da filial contatou Brooklyn e foi aconselhado a tomar ação."

18 Nos comentários da Watch Tower Society sobre deste texto, Cristo foi substituído pela "organização" como sendo a entidade para quem devemos ir para encontrar "vida eterna". Veja, por exemplo, a The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Fevereiro de 1981, página 19 e 1.º de Dezembro de 1981, página 31.

19 Aid to Bible Understanding foi publicado na sua totalidade em 1971 [N. do T.: a edição brasileira, intitulada Ajuda ao Entendimento da Bíblia foi publicada em 1982, exceto o quarto volume, que foi publicado em 1983] Uma edição ligeiramente revista em dois volumes foi publicada em 1988 [N. do T.: a edição brasileira tem três volumes, publicados em 1990, 1991 e 1992, respectivamente]. A novidade mais importante é a inclusão de ajudas visuais (mapas, imagens, fotografias, etc.), todas a cores. Contudo, o nome do dicionário foi mudado para Insight on the Scriptures [Estudo Perspicaz das Escrituras] evidentemente porque os três principais autores, Raymond Franz, Edward Dunlap e Reinhard Lengtat, deixaram a sede em 1980 e dois deles, Franz e Dunlap, foram desassociados devido às suas opiniões divergentes. Em Estudo Perspicaz das Escrituras, mais de metade do conteúdo do artigo original sobre "Cronologia" foi cortado (veja Vol. 1, pp. 601-622), sendo a razão provável para esse corte a informação apresentada no tratado enviado para a sede em 1977, bem como o reconhecimento de que as alegações da organização são de natureza muito tênue.

20 Raymond Franz, ex-membro do Corpo Governante, escreveu esta carta, datada de 12 de Junho de 1982.


Notas do Capítulo 1

1 LeRoy Edwin Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética dos Nossos Pais] (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1948), Vol. II, p. 124.

2 Embora esta profecia fale de semanas, isto por si só não significa que a profecia permite uma aplicação do "princípio ano-dia". Para um judeu, a palavra hebraica para "semana", shabû'a, não significa sempre um período de sete dias como em inglês [e em português]. Shabû'a significa literalmente um "(período de) sete", ou uma "heptad." Os judeus também tinham um [período de] "sete" (shabû'a) anos. (Levítico 25:3, 4, 8, 9) É verdade que quando se queria referir "semanas de anos", a palavra para "anos" era normalmente adicionada. Mas no hebreu tardio esta palavra era frequentemente omitida por estar implícita. Quando se queria referir "semanas de dias", a palavra para "dias" podia às vezes ser acrescentada, como na passagem de Daniel em que shabû'a é mencionado. (10:2, 3) Portanto, Daniel 9:24 afirma simplesmente que "setenta períodos de sete foram determinados", e a partir do contexto (a alusão a "setenta anos" no versículo 2) pode-se concluir que "setenta períodos de sete anos" é a ideia que o escritor pretendia transmitir. É por causa desta associação textual obvia -- e não devido a qualquer "princípio ano-dia" -- que alguns tradutores (Moffatt, Goodspeed, AT, RS) apresentam "setenta semanas de anos" em Daniel 9:24.

3 Froom, Vol. II, pp. 195, 196.

4 Ibid., p. 196. Nahawendi também contou os 1.290 dias de Daniel 12:11 como sendo um período de anos, começando com a destruição do segundo templo [70 E.C.] e chegando assim à mesma data, 1358 E.C.

5 Ibid., pp. 201, 210, 211.

6 E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ, 3.ª ed. (Londres, 1847), Vol. III, pp. 233-240.

7 Charles Maitland, The Apostles' School of Prophetic Interpretation [A Escola de Interpretação Profética dos Apóstolos] (Londres, 1849), pp. 37, 38.

8 E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ, 3.ª ed. (Londres, 1847), Vol. III, pp. 233.

9 Ibid., p. 240. O falecido Dr. LeRoy Edwin Froom, que foi um defensor moderno da teoria ano-dia, chegou a uma conclusão similar no seu trabalho monumental em quatro volumes, The Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética dos Nossos Pais]. No Volume I (1950) na página 700, ele declara: "Até este tempo, durante treze séculos, as setenta semanas tinham sido geralmente reconhecidas como semanas de anos. Mas os primeiros mil anos da Era Cristã não produziram nenhumas aplicações adicionais do princípio entre os escritores cristãos, excepto um ou dois vislumbres dos 'dez dias' de Revelação 2:10 como sendo dez anos de perseguição, e os três dias e meio de Revelação 11 como três anos e meio. Mas agora Joachim aplicou pela primeira vez o princípio ano-dia à profecia dos 1260 dias."

10 Froom, Vol. I, p. 716.

11 Ibid., pp. 717, 723, 726, 727. Neste ponto a informação é baseada na obra De Seminibus Scripturarum, fol. 13v, col. 2 (conforme discutido em Froom), que foi escrito em 1205 A.D. O manuscrito é conhecido como Vat. Latin 3813.

12 Arnold of Villanova, Tractatus de Tempore Adventus Antichristi [Tratado Sobre o Tempo da Vinda do Anticristo], parte 2 (1300); reimpresso em Heinrich Finke, Aus den Tagen Bonifaz VIII (Münster in W., 1902), pp. CXLVIII-CLI, CXLVII. (Veja também Froom, Vol. I, pp. 753-756.)

13 De Registrum Johannis Trefnant, Episcopi Herefordensis (que contém os autos do julgamento de Walter Brute por heresia), conforme traduzido em John Foxe, Acts and Monuments [Actos e Monumentos], 9.ª ed. (Londres, 1684), Vol. I, p. 547. (Veja também Froom, Vol. II, p. 80.)

14 John Napier, A Plaine Discovery of the Whole Revelation of Saint John [Uma Descoberta Plena de Toda a Revelação de São João] (Edimburgo, 1593), pp. 64, 65. (Veja Froom, Vol. II, p. 458.)

15 G. Bell, "Downfall of Antichrist" [Queda do Anticristo], Evangelical Magazine [Revista Evangélica] (Londres), 1796, Vol. 4, p. 54. (Veja Froom, Vol. 2, p. 742.) Embora publicado em 1796, o artigo foi escrito em 24 de Julho de 1795.

16 G. Bell, ibid., p. 57. (Veja Froom, Vol. II, p. 742.)

17 Robert Fleming, Jr., The Rise and Fall of Papacy [A Ascensão e Queda do Papado] (Londres, 1701), p. 68. (Para notas adicionais sobre esta predição, veja o Capítulo 6, secção D: "1914 em perspectiva.")

18 Professor Robert Gilpin, "The Theory of Hegemonic War" [A Teoria da Guerra Hegemónica], The Journal of Interdisciplinary History [Jornal de História Interdisciplinar], (publicado em Cambridge, MA, e Londres, Inglaterra), Vol. 18:4, Primavera 1988, p. 606. (Ênfase acrescentada.)

19 R. R. Palmer no seu prefácio à obra de George Lefebvre The Coming of the French Revolution [O Aparecimento da Revolução Francesa] (Nova Iorque: Vintage, 1947), p. v.

20 Brown publicou pela primeira vez a sua cronologia num artigo no mensário de Londres The Christian Observer de Novembro de 1810. Segundo o seu entendimento dos tempos dos Gentios, os "Gentios pisoteadores" eram os Maometanos (ou Muçulmanos), e por isso ele encarava os tão comentados 1.260 anos como sendo anos lunares Maometanos, correspondendo a 1.222 anos solares. Ele contava este período desde 622 E.C. (o primeiro ano da era Maometana da Hégira) até 1844, data em que ele esperava a vinda de Cristo e a restauração da nação judaica na Palestina.

21 Esperava-se que o segundo advento ocorresse no ano 1843/44, contado de Primavera a Primavera como era costume no calendário judaico. Houve quem defendesse que os expositores nos Estados Unidos chegaram à data 1843 como sendo o fim dos 2.300 anos independentemente de Brown. Embora isso possa ser verdade, não pode ser provado, e curiosamente, o Christian Observer de Londres, Inglaterra, um periódico fundado em 1802 que abordava frequentemente as profecias, também tinha uma edição americana publicada em Boston, que publicava em paralelo todos os artigos da edição inglesa. Portanto o artigo de Brown sobre os 2.300 anos podia ter sido lido por muitos nos Estados Unidos logo em 1810. Pouco depois, a data 1843 começou a aparecer nas exposições proféticas americanas.

22 Publicado em Londres; a matéria relevante encontra-se no Vol. II, pp. 130-152.

23 Talvez alguns se sintam inclinados a objectar a esta afirmação tendo em conta a tabela nas páginas 404 e 405 do livro de Froom The Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética dos Nossos Pais], Volume IV. É verdade que esta tabela parece mostrar James Hatley Frere como sendo o primeiro a escrever sobre os 2.520 anos, em 1813. Mas a parte da tabela que está mais à direita, na página 405, intitulada "Dating of other time periods" [Datação de outros períodos de tempo], não tem qualquer relação especial com a coluna "Publication date" [Data de publicação], na página 404. Limita-se a dizer qual era a posição geral do autor acerca de outros períodos de tempo. Além disso, Frere nunca defendeu que os tempos do Gentios (ou os "sete tempos") fossem um período de 2.520 anos. No seu primeiro livro sobre profecias, A Combined View of the Prophecies of Daniel, Esdras and St. John [Uma Visão Combinada das Profecias de Daniel, Esdras e S. João] (Londres, 1815), ele não comenta Daniel 4 nem Lucas 21:24. Ele explica que a "cidade santa" de Revelação 11:2 é "a igreja visível de Cristo" e diz que "durante o período dos 1260 anos, a totalidade desta cidade é calcada sob os pés dos Gentios, excepto os pátios interiores do seu templo." (Página 87) Muitos anos depois Frere calculou que os tempos dos Gentios eram um período de 2.450 anos, desde 603 A.E.C. até 1847 E.C. Veja por exemplo, o seu livro The Great Continental Revolution, Marking the Expiration of the Times of the Gentiles A.D. 1847-8 [A Grande Revolução Continental, Marcando o Término dos Tempos dos Gentios A.D. 1847-8] (Londres, 1848). Veja especialmente as páginas 66-78. É claro que John A. Brown estava bem familiarizado com os muitos escritos contemporâneos sobre profecias, e Frere era um dos expositores mais conhecidos em Inglaterra. Portanto parece não haver qualquer razão para duvidar da própria declaração de Brown sobre a prioridade no que diz respeito aos 2.520 anos.

24 The Even-Tide [A Noite], Vol. II, pp. 134, 135; Vol. I, pp. XLIII, XLIV.

25 Henry Drummond, Dialogues on Prophecy [Diálogos Sobre Profecias] (Londres, 1827), Vol. I, pp. 33, 34. Neste relato das discussões em Albury, são dados nomes fictícios aos participantes. Cuninghame ("Sophron") chega aos 2.520 anos duplicando os 1.260 anos, e não por qualquer referência aos "sete tempos" de Daniel 4 ou Levítico 26. Em apoio disto, ele refere-se à autoridade de Joseph Mede, um expositor que viveu no século XVII. Embora Mede tenha sugerido que os tempos dos Gentios podiam referir-se aos quatro reinos começando com Babilónia, ele nunca disse que o período era 2.520 anos. (Mede, The Works [As Obras], Londres, 1664, Livro 4, pp. 908-910, 920.) Numa conversa posterior, "Anastasius" (Henry Drummond) liga os 2.520 anos com os "sete tempos" de Levítico 26 e, "corrigindo" o ponto de partida de Cuninghame de 728 para 722 A.C., chega a 1798 E.C. como sendo a data final. (Dialogues [Diálogos], Vol. I, pp. 324, 325)

26 John Fry (1775-1849) estava entre os que faziam isto, no seu livro Unfulfilled Prophecies of Scripture [Profecias Não Cumpridas das Escrituras], publicado em 1835.

27 Encontra-se na página 48 do seu trabalho. Citado de Froom, Vol. III, p. 576.

28 Foi o que fez W. A. Holmes, chanceler de Cashel, no seu livro The Time of the End [O Tempo do Fim], que foi publicado em 1833. Ele calculou a data do cativeiro de Manassés sob Esar-Hadom como sendo 685 A.E.C., e contando 2.520 anos desde essa data, terminou os "sete tempos" em 1835-1836.

29 Edward Bickersteth, A Scripture Help [Uma Ajuda das Escrituras], publicado pela primeira vez em 1815. Depois de 1832 Bickersteth começou a pregar sobre as profecias, o que também influenciou edições posteriores de A Scripture Help [Uma Ajuda das Escrituras]. A citação é tirada da vigésima edição (Londres, 1850), p. 235.

30 E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ [Horas com o Apocalipse], 1.ª ed. (Londres: Seeley, Burnside e Seeley, 1844), Vol. III, pp. 1429-1431. O trabalho de Elliott teve cinco edições (1844, 1846, 1847, 1851 e 1862). Nas duas últimas ele não mencionou directamente a data 1914, embora ainda sugerisse que os 2.520 anos podiam ser contados desde o início do reinado de Nabucodonosor.

31 David Tallmadge Arthur, "Come out of Babylon": A Study of Millerite Separatism and Denominationalism, 1840-1865 ["Saí de Babilónia": Um Estudo do Separatismo e Denominacionalismo Millerita, 1840-1865] (tese de doutoramento não publicada, University of Rochester, 1970), pp. 86-88.

32 William Miller, "A Dissertation on Prophetic Chronology" [Uma Dissertação sobre Cronologia Profética] em The First Report of the General Conference of Christians Expecting the Advent of the Lord Jesus Christ [Primeiro Relatório da Conferência Geral de Cristãos Esperando o Advento do Senhor Jesus Cristo] (Boston, 1842), p. 5. Outros Milleritas que enfatizavam os 2.520 anos incluíam Richard Hutchinson (editor de The Voice of Elijah [A Voz de Elias]) num panfleto de 1843, The Throne of Judah Perpetuated in Christ [O Trono de Judá Perpetuado em Cristo], e Philemon R. Russell (editor do Christian Herald and Journal [Arauto e Jornal Cristão] no número de 19 de Março de 1840 desse periódico. Os 2.520 anos também aparecem em tabelas usadas por evangelistas Milleritas. (Veja Froom, Vol. IV, pp. 699-701, 726-737.)

33 "Que estive enganado quanto ao tempo, confesso abertamente; e não tenho desejo de defender o meu modo de proceder senão dizendo que agi com motivos puros, e que resultou em glória para Deus. Confio que Deus perdoará os meus enganos e erros...." (Wm. Miller's Apology and Defense [Apologia e Defesa de William Miller], Boston, 1845, pp. 33, 34.) George Storrs, que fora um dos líderes na última fase do movimento Millerita, o assim chamado "movimento do sétimo mês," no qual o advento fora finalmente fixado em 22 de Outubro de 1844, foi ainda mais franco. Não apenas confessou e lamentou aberta e repetidamente o seu erro, como também declarou que Deus não estivera com o movimento do "tempo específico", que eles tinham sido "mesmerizados" por mera influência humana e que "a Bíblia não ensina de maneira nenhuma um tempo específico." (Veja D. T. Arthur, op. cit., pp. 89-92.)

34 Para uma discussão esclarecedora sobre o desenvolvimento desta doutrina, veja Dr. Ingemar Lindén, The Last Trump. A historico-genetical study of some important chapters in the making and development of the Seventh-Day Adventist Church [A Última Trombeta. Um estudo histórico-genético de alguns capítulos importantes na formação e desenvolvimento da Igreja Adventista do Sétimo Dia] (Frankfurt am Main, Las Vegas: Peter Lang, 1978), pp. 129-133. Anos depois a doutrina foi modificada para significar que o chamado "julgamento investigativo" dos crentes -- mortos e vivos -- começou em 22 de Outubro de 1844.

35 Froom, Vol. IV, p. 888. Uma discussão detalhada destes pontos de vista é apresentada pelo Dr. D. T. Arthur, op. cit., pp. 97-115.

36 Em 1855 um Segundo Adventista proeminente, J. P. Cowles, estimou que existiam "umas vinte e cinco divisões do que fora em tempos o único corpo do Advento." (Veja D. T. Arthur, op. cit., p. 319.)

37 Isaac C. Wellcome, History of the Second Advent Message [História da Mensagem do Segundo Advento] (Yarmouth, Maine, Boston, Nova Iorque, Londres, 1874), pp. 594-597.

38 Nelson H. Barbour, Evidences for the Coming of the Lord in 1873; or the Midnight Cry [Evidências em Apoio da Vinda do Senhor em 1873; ou o Grito da Meia-noite], 2.ª ed. (Rochester, N.I., 1871), p.32.

39 Ibid., p. 32.

40 Ibid., p. 33; E. B. Elliott, Horæ Apocalypticæ [Horas Com o Apocalipse], 4.ª ed. (Londres: Seeleys, 1851), Vol. IV; folha anexa à p. 236. O livro de Elliott nessa época, 1860, era uma obra padrão que defendia 1866 como sendo o tempo para a vinda do Senhor.

41 Nelson H. Barbour (ed.), Herald of the Morning [Arauto da Manhã] (Rochester, N.I.), Setembro de 1879, p. 36. De facto, a nova data de Barbour para o segundo advento foi adoptada por um número crescente de membros do Segundo Adventismo, especialmente da Advent Christian Church [Igreja Cristã do Advento], com a qual Barbour evidentemente se associou durante vários anos. Uma razão para esta prontidão em aceitar a data 1873 era que esta não era nova para eles. Conforme Barbour indica em Evidences... (pp. 33, 34), o próprio Miller mencionara 1873 depois do falhanço de 1843. Antes de 1843, vários expositores em Inglaterra tinham terminado os 1.335 anos em 1873, por exemplo John Fry em 1835 e George Duffield em 1842. (Froom, Vol. III, pp. 496, 497; Vol. IV, p. 337) Já em 1853 o Adventista da "era vindoura", Joseph Marsh de Rochester, N.I., concluiu, tal como outros expositores antes dele, que o "tempo do fim" era um período de 75 anos que começou em 1798 e expiraria em 1873. (D. T. Arthur, op. cit., p. 360) Em 1870 Jonas Wendell, bem conhecido pregador do Advento Cristão, incluiu a cronologia de Barbour no seu folheto The Present Truth; or, Meat in Due Season [A Verdade Actual; ou, Alimento no Tempo Apropriado] (Edenboro, PA, 1870). O crescente interesse na data levou a Advent Christian Church [Igreja Cristã do Advento] a realizar uma conferência especial de 6 a 11 de Fevereiro de 1872 em Worcester, Mass., para se examinar o tempo da vinda do Senhor e especialmente a data 1873. Muitos pregadores, incluindo Barbour, participaram nas discussões. Conforme relatado no Advent Christian Times [Tempos do Advento Cristão] de 12 de Março de 1872, "O ponto no qual parecia haver alguma unanimidade geral era o fim dos mil trezentos e trinta e cinco anos em 1873." (p. 263)

42 Nelson H. Barbour (ed.), The Midnight Cry, and Herald of the Morning [O Grito da Meia-noite, e Arauto da Manhã] (Boston, Mass.) Vol. I:4, Março, 1874, p. 50.

43 N. H. Barbour, "The 1873 Time" [O Tempo 1873], Advent Christian Times [Tempos do Advento Cristão], 11 de Novembro de 1873, p. 106.

44 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], Outubro e Novembro de 1881, p. 3 (=Reprints, p. 289).

45 Esta ideia sobre a volta de Cristo foi originalmente apresentada aproximadamente em 1828 por um banqueiro e expositor das profecias em Londres, Henry Drummond. Tornou-se rapidamente muito popular entre os expositores das profecias durante o resto do século, especialmente entre os Darbyistas, que muito fizeram para popularizar a ideia. Foi muito discutida nos principais periódicos milenaristas, em Inglaterra no Quarterly Journal of Prophecy [Jornal Trimestral de Profecia] (1849-1873) e no The Rainbow [Arco-Íris] (1864-1887), e nos Estados Unidos no Prophetic Times [Tempos Proféticos] (1863-1881). O editor principal deste último jornal (que também era amplamente lido em círculos adventistas, incluindo o de C. T. Russell e seus associados) era o bem conhecido ministro luterano Joseph A. Seiss. -- Um exame da origem e da difusão da ideia da "presença invisível" encontra-se na revista The Christian Quest [A Procura Cristã] (Christian Renewal Ministries, San Jose, CA), Vol. 1:2, 1988, pp. 37-59, e Vol. 2:1, 1989, pp. 47-58.

46 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], Fevereiro de 1881, p. 3, e Outubro-Novembro 1881, p. 3 (=Reprints, pp. 188 e 289).

47 Ibid., Abril de 1880, p. 7 (=Reprints, p. 88).

48 Na realidade, Barbour já tinha sugerido esse cálculo na edição de Junho de 1875 do Herald of the Morning [Arauto da Manhã], ao dizer que os tempos dos Gentios começaram no fim do reinado de Zedequias em 606 A.C., embora não tenha mencionado directamente a data final (p. 15). Na edição de Julho, ele declarou que os tempos dos Gentios "ainda continuariam durante quarenta anos." Embora isto pareça apontar para 1915, as edições posteriores tornam claro que Barbour tinha em mente o ano 1914. A edição de Agosto contém um artigo sobre "Cronologia" (pp. 38-42), mas não discute os tempos dos Gentios. A data 1914 é mencionada directamente pela primeira vez na edição de Setembro de 1875, na qual se encontra esta declaração na página 52: "Acredito que embora a dispensação do evangelho terminará em 1878, os judeus não serão restaurados na Palestina senão em 1881; e que os 'tempos dos Gentios,' nomeadamente os seus sete tempos proféticos, ou 2520, ou duas vezes 1260 anos, que começaram quando Deus entregou tudo nas mãos de Nabucodonosor, em 606 A.C.; não terminam senão em 1914 A.D.; ou 40 anos [no futuro] a partir de agora." Foi depois publicada uma longa discussão do cálculo na edição de Outubro de 1875, pp. 74-76.

49 Os pais de Russell, Joseph L. e Ann Eliza (Birney) Russell, eram ambos de descendência escocêsa-irlandesa. Eles tinham deixado a Irlanda durante a grande fome irlandesa de 1845-1849, quando um milhão e meio de pessoas morreram à fome e outro milhão emigrou para o estrangeiro. Joseph e Eliza estabeleceram-se em Allegheny em 1846, onde Charles nasceu em 1852, o segundo de três filhos. Como Eliza morreu cerca de 1860, Joseph teve de criar as três crianças. Enquanto jovem, Charles passou a maior parte do seu tempo livre na loja de roupas do seu pai, e numa idade precoce tornou-se parceiro de negócios de Joseph. A sua bem sucedida companhia, "J. L. Russell & Son, Gents' Furnishing Goods," desenvolveu-se depois numa cadeia de cinco lojas em Allegheny e Pittsburgh. -- Para notas biográficas adicionais sobre Russell, veja M. James Penton, Apocalypse Delayed. The Story of Jehovah's Witnesses [Apocalipse Adiado. A História das Testemunhas de Jeová] (Toronto, Buffalo, Londres: University of Toronto Press, 1985, 1997), pp. 13-15.

50 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], 14 de Julho, 1906, pp. 230, 231 (=Reprints, p. 3822).

51 Ibid. Num "Supplement to Zion's Watch Tower" [Suplemento à Torre de Vigia de Sião] de duas páginas, enviado aos leitores do 'Herald of the Morning' [Arauto da Manhã]" com o primeiro número do Zion's Watch Tower and Herald of Christ's Presence [Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo] de 1.º de Julho de 1879, Russell apresenta um relato da sua reunião com Barbour e com o seu associado John Paton em 1876 e a sua colaboração subsequente durante os três anos seguintes em espalhar a "mensagem da Colheita," e explica porque tivera de terminar a colaboração com Barbour e começar o seu próprio Jornal.

52 Isto também é indicado pelo próprio Russell, que declara: "... quando nos encontrámos pela primeira vez, ele tinha muito a aprender de mim acerca da plenitude da restituição baseada na eficácia do resgate dado por todos, tal como eu tinha muito a aprender dele acerca do tempo." -- Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], 15 de Julho, 1906, p. 231 (=Reprints, p. 3822).

53 C. T. Russell, The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] (= Vol. II da série Millennial Dawn [Aurora do Milénio]; chamada mais tarde Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras]), Pittsburgh: Watch Tower Bible and Tract Society, 1889, pp. 77, 78. Algumas das predições foram ligeiramente alteradas nas edições posteriores.

54 Zion's Watch Tower [Torre de Vigia de Sião], 15 de Julho, 1894 (=Reprints, p. 1677).

55 Ibid., 15 de Setembro, 1901 (=Reprints, p. 2876).

56 Ibid., 1.º de julho de 1904, pp. 197, 198 (=Reprints, p. 3389).

57 Ibid., 1.º de Outubro, 1904, pp. 296, 297 (=Reprints, pp. 3436, 3437).

58 Ibid., 15 de Agosto, 1904, pp. 250, 251 (=Reprints, p. 3415).

59 Ibid., 15 de Novembro, 1904, pp. 342-344; 15 de Junho, 1905, pp. 179-186 (=Reprints, pp. 3459, 3460, 3574-3579). Ênfase acrescentada.

60 C. T. Russell, The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente], p. 169.

61 Zion's Watch Tower [A Torre de Vigia de Sião], 1.º de Outubro, 1907, pp. 294, 295 (=Reprints, p. 4067).

62 Ibid.

63 The Watch Tower [A Torre de Vigia], 1.º de Dezembro de 1912 (=Reprints, pp. 5141, 5142). Como a Primeira Guerra Mundial rebentou em 1914 e este ano foi mantido como o fim dos tempos dos Gentios, o ponto em que esses tempos começaram precisava de ser recuado um ano, de 606 para 607 A.E.C. para não alterar o total de 2.520 anos. Embora alguns dos aderentes da Sociedade tivessem indicado este facto muito cedo (veja, por exemplo, a nota da página 32 de Great Pyramid Passages [Grandes Passagens das Pirâmides], 2.ª ed., 1924) este ajuste necessário só foi feito pela Sociedade Torre de Vigia em 1943, quando foi apresentado no livro The Truth Shall Make You Free [A Verdade Tornar-vos-á Livres], na página 239. Veja também o livro The Kingdom is at Hand [O Reino Está Iminente], 1944, p. 184. Para detalhes adicionais, veja o próximo capítulo, página 79.

64 The Watch Tower [A Torre de Vigia], 1.º de Junho de 1913, pp. 166, 167 (=Reprints, p. 5249).

65 Ibid., 15 de Outubro de 1913, p. 307 (=Reprints, p. 5328). Ênfase acrescentada.

66 Ibid., 1.º de Janeiro de 1914, pp. 3, 4 (=Reprints, p. 5373).

67 Ibid., pp. 4, 5 (=Reprints, p. 5374). Ênfase acrescentada.

68 Ibid., 1.º de Maio de 1914, pp. 134, 135 (=Reprints, p. 5450). Ênfase acrescentada.

69 Ibid., 1.º de Julho de 1914, pp. 206, 207 (=Reprints, p. 5496). Ênfase acrescentada.

70 Ibid., 15 de Agosto de 1914, pp. 243, 244 (=Reprints, p. 5516).

71 Ibid., 1.º de Novembro de 1914, pp. 327, 328 (=Reprints, p. 5567).

72 Ibid., pp. 329, 330 (=Reprints, p. 5568).

73 Ibid., 1.º de Janeiro de 1915, pp. 3, 4 (=Reprints, p. 5601).

74 Ibid., 15 de Setembro de 1915, pp. 281, 282 (=Reprints, p. 5769).

75 Ibid., 15 de Fevereiro de 1916, pp. 51, 52 (=Reprints, p. 5852).

76 Ibid., 15 de Abril de 1916, (=Reprints, p. 5888).

77 Ibid., 1.º de Setembro de 1916, pp. 263, 264 (=Reprints, p. 5950).

78 Veja acima, páginas 50, 51. Durante um longo período de tempo depois de 1914, defendeu-se que a "época de tribulação" (Mateus 24:21, 22) realmente começou nesse ano, mas a Sociedade Torre de Vigia abandonou finalmente este ponto de vista em 1969. (Veja The Watchtower [A Sentinela], 15 de Janeiro de 1970, pp. 49-56.)

79 A. H. Macmillan, Faith on the March [Fé em Marcha] (Nova Iorque: Prentice Hall, Inc., 1957), p. 48.

80 New Heavens and a New Earth [Novos Céus e Uma Nova Terra] (Brooklyn, N.Y.: Watchtower Bible and Tract Society, 1953), p. 225. Até 1922, ou seja, durante quarenta anos, os Estudantes da Bíblia tinham acreditado e ensinado que o reino de Deus começara a ser estabelecido no céu em 1878. Em 1922, o evento foi transferido para 1914. -- Veja The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] (= Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio], 1889, p. 101.

81 Veja o artigo "Nascimento de uma Nação" na The Watch Tower de 1.º de Março de 1925.

82 The Watch Tower, 1.º de Outubro de 1922, p. 298; 1.º de Novembro de 1922, p. 334.

83 From Paradise Lost to Paradise Regained [Do Paraíso Perdido ao paraíso Recuperado] (Brooklyn, N.Y.: Watchtower Bible and Tract Society, 1958), p. 192.

84 Em 1929 a Watch Tower Society ainda ensinava que "a segunda presença do Senhor Jesus Cristo começou em 1874 A.D." (Prophecy [Profecia], Brooklyn, N.Y.: International Bible Students Association, 1929, p. 65.) A data exacta para a transferência da segunda vinda de 1874 para 1914 é difícil de determinar com exactidão. Encontramos durante um certo período de tempo declarações confusas nas publicações. Talvez a primeira indicação de uma mudança seja a declaração na The Golden Age de 30 de Abril de 1930, página 503, segundo a qual "Jesus tem estado presente desde o ano 1914." Contudo, a The Watch Tower de 15 de Outubro de 1930, diz de forma um tanto vaga na página 308 que "o segundo advento do Senhor Jesus Cristo ocorreu cerca de 1875." Depois, em 1931, o folheto The Kingdom, the Hope of the World [O Reino, a Esperança do Mundo], indica novamente que a segunda vinda ocorreu em 1914. E em 1932 o folheto What is Truth [O Que é Verdade?] diz claramente na página 48: "A profecia da Bíblia, completamente confirmada pelos factos físicos em seu cumprimento, mostra que a segunda vinda de Cristo ocorreu no Outono do ano 1914."

85 Jehovah's Witnesses in the Divine Purpose [As Testemunhas de Jeová no Propósito Divino] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible & Tract Society, 1959), p. 31.

86 Citado por I. F. Clarke em Voices Prophesying War 1763-1984 [Vozes Profetizando Guerra 1763-1984] (Londres: Oxford University Press, 1966), pp. 66, 67.

87 Ibid., p. 59.

88 Citado por Theodore Graebner no seu livro War in the Light of Prophecy. "Was it Foretold?" A Reply to Modern Chiliasm [Guerra à Luz da profecia. "Foi Predita?" Uma Resposta ao Milenarismo Moderno] (St. Louis, Mo.: Concordia Publishing House, 1941), pp. 14, 15.

89 Dwight Wilson, Armageddon Now! [Armagedom Agora!] (Grand Rapids: Baker Book House, 1977), pp. 36, 37.

90 Ibid., p. 37.

91 Graebner, op. cit., pp. 8, 9.

92 Ibid., pp. 9, 10.

93 Reprints, p. 720.

94 Reprints, p. 899.

95 Reprints, pp. 1354-1356.

96 Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible & Tract Society, 1993), p. 134.

97 Ibid., p. 134.

98 A Watch Tower Society [Sociedade Torre de Vigia] não apresenta qualquer referência específica. E. B. Elliott publicou pela primeira vez os seus cálculos em Horæ Apocalypticæ, 1.ª ed. (Londres: Seeley, Burnside e Seeley, 1844), Vol. III, pp. 1429-1431. Robert Seeley publicou os seus cálculos em An Atlas of Prophecy: Being the Prophecies of Daniel & St. John (Londres: Seeley's, 1849), p. 9. Veja também a nota 30 do capítulo I.

99 A publicação cujo título não é mencionado é a revista The Prophetic Times. O cálculo foi apresentado no artigo "Prophetic Times. An Inquiry into the Dates and Periods of Sacred Prophecy" [Tempos Proféticos. Uma Investigação sobre as Datas e Períodos da Profecia Sagrada], escrito por um colaborador anónimo e publicada na edição de Dezembro de 1870, pp. 177-184. O autor, nas páginas 178 e 179, apresenta 12 pontos de partida diferentes para os tempos dos Gentios, desde 728 até 598 A.E.C., chegando assim a 12 datas finais diferentes que vão desde 1792 até 1922 E.C.! O ano 1914 é o penúltimo destas datas finais. O cálculo que aponta para 1914 é contado desde o ano de ascensão de Nabucodonosor, que o autor, tal como Elliott e Seeley, coloca em 606 A.E.C. Assim, também ele seguiu uma cronologia que indica para a destruição de Jerusalém a data 588 ou 587 A.E.C., não 606 A.E.C. como nos escritos de Russell, ou 607 A.E.C., como em publicações posteriores da Watch Tower.

100 Conforme mostrado neste capítulo, também Barbour e Russell começaram os tempos dos Gentios em 606 A.E.C., embora defendessem que esta era a data da desolação de Jerusalém no décimo-oitavo ano de Nabucodonosor. A data 606 A.E.C. não é mencionada em nenhum lugar no novo livro, provavelmente porque a Sociedade hoje usa 607 A.E.C. como ano inicial. Recordar aos leitores essa data anterior poderia parecer confuso, especialmente para aqueles que nunca ouviram falar dela. O modo como a Sociedade, em 1944 (no livro The Kingdom is at Hand [O Reino Está Iminente], p. 175) arranjou maneira de alterar o ponto inicial de 606 para 607 A.E.C. e ainda reter 1914 como data final, tem por sua vez uma estranha história, que foi contada no folheto The Watchtower Society and Absolute Chronology [A Sociedade Torre de Vigia e a Cronologia Absoluta] (Lethbridge, Alberta, Canadá, 1981), da autoria de "Karl Burganger" (um pseudónimo que eu usei nessa altura). Veja adiante, pp. 77-84.

101 The Time is at Hand [O Tempo Está Iminente] (=Vol. II de Millennial Dawn [Aurora do Milénio], mais tarde chamado Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras]), Pittsburg: Watch Tower Bible & Tract Society, 1889, pp. 76-102.

102 Jehovah's Witnesses -- Proclaimers of God's Kingdom [Testemunhas de Jeová -- Proclamadores do Reino de Deus (1993), página 135.


Notas do Capítulo 2

1 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1981), p. 189 [p. 190 na edição brasileira].

2 O Dr. Michael C. Astour explica: "Cronologia absoluta significa datar reinados, guerras, tratados, destruições, reconstruções e outros eventos conhecidos a partir de registos escritos e arqueológicos, em termos da moderna contagem do tempo Ocidental, i.e., em anos A.C." (Hittite History and Absolute Chronology of the Bronze Age [História Hitita e Cronologia Absoluta da Idade do Bronze], Partille, Suécia: Paul Åströms förlag, 1989, p. 1.) Essa cronologia geralmente é melhor estabelecida com a ajuda de observações astronômicas registadas na antiguidade. Conforme diz o conhecido perito em astronomia da antiguidade, Professor Otto Neugebauer, "uma 'cronologia absoluta' [é] uma cronologia que se baseia em datas fixadas através da astronomia, em contraste com a 'cronologia relativa', que só nos diz a duração de certos intervalos, e.g., o número total de anos de reinado numa dinastia." -- A History of Ancient Mathematical Astronomy [Uma História da Astronomia Matemática da Antiguidade], Livro VI (Berlim-Heidelberg-Nova Iorque: Springer-Verlag, 1975), p. 1071.

3 Segundo fontes seculares, Babilônia foi capturada pelas tropas do rei persa Ciro no 17.º ano de Nabonido, que se tornaria assim no "ano de ascensão" de Ciro. (Para informações sobre o sistema babilônico do ano de ascensão, veja o Apêndice para o Capítulo 2.) Embora a queda de Babilônia seja referida várias vezes na Bíblia, o acontecimento não é datado como tendo ocorrido em qualquer ano de reinado específico, nem no de Nabonido (que nem sequer é mencionado), nem no de Ciro. Isaías (capítulos 13, 14, 21, 45, 47, 48) e Jeremias (capítulos 25, 27, 50, 51) predisseram ambos a queda de Babilônia, mas nenhum deles deu a data do evento. Daniel, no capítulo 5, versículos 26-28, predisse que a queda de Babilônia era iminente. Depois, nos versículos 30 e 31, ele declara que "naquela mesma noite" Belsazar (o filho de Nabonido) foi morto e sucedeu-lhe "Dario, o medo". Mas quem era "Dario, o medo"? A Watch Tower Society admite que a identificação histórica desta figura "é incerta". A sugestão (do Professor D. J. Wiseman) de que "Dario o medo" não é senão outro nome para o próprio Ciro é rejeitada. (Insight on the Scriptures [Estudo Perspicaz das Escrituras], Vol. 1, Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1988, pp. 581-583 [Vol. 1, p. 660 na edição brasileira de 1990].) Além disso, embora Daniel 6:28 mencione "o reino de Dario" e o "reino de Ciro, o persa", e embora Daniel 9:1 mencione o "primeiro ano" de "Dario [...] da descendência dos medos", a Bíblia nem dá a duração do reinado de "Dario o medo", nem indica se o reinado dele deve ou não ser inserido entre a queda de Babilônia e o primeiro ano de Ciro. Assim, embora a Bíblia (em 2 Crônicas 36:22, 23 e Esdras 1:1-4) declare que os exilados judeus foram libertados "no primeiro ano de Ciro", não mostra quanto tempo depois da queda de Babilônia isto ocorreu. Portanto, a Bíblia nem sequer dá uma data relativa para a queda de Babilônia.

4 Na página 194 do seu livro Three Worlds, or Plan of Redemption [Três Mundos, ou Plano de Redenção] (Rochester, Nova Iorque, 1877), por exemplo, Barbour asseverou: "O fato de que o primeiro ano de Ciro foi 536 A.C. é baseado no cânon de Ptolomeu, apoiado pelos eclipses através dos quais as datas das eras grega e persa foram ajustadas. E a exatidão do cânon de Ptolomeu é agora aceite por todo o mundo científico e literário."

5 Zion's Watch Tower, 15 de Maio de 1896, pp. 104, 105, 113 (= Reprints, pp. 1975, 1980. Ênfase acrescentada). -- É verdade que muitas cronologias cristãs anteriores, incluindo a do arcebispo James Ussher e a de Sir Isaac Newton, dataram o primeiro ano de Ciro como sendo 536 em vez de 538 A.E.C. A razão para isto foi a aplicação que eles fizeram dos "setenta anos" de Jeremias 25:11, 12 e Daniel 9:2 ao período desde o primeiro ano de Nabucodonosor até à captura de Babilônia por Ciro. Isto parecia entrar em conflito com o "Cânon de Ptolomeu", que só dá 66 anos a este período (604-538 A.E.C.). Para chegar a 70 anos, o primeiro ano de Nabucodonosor era freqüentemente recuado de 604 para 606 A.E.C., enquanto o primeiro ano de Ciro era adiantado para 536 A.E.C. Os dois anos desde 538 até 536 A.E.C. eram atribuídos a "Dario o medo". A descoberta de milhares de tabuinhas cuneiformes da era neo-babilônica, na década de 1870, derrubou completamente estas teorias, como foi indicado logo em 1876 pelo Sr. George Smith. (Veja S. M. Evers, "George Smith and the Egibi Tablets" [George Smith e as Tabuinhas de Egibi], Iraq, Vol. LV 1993, p. 113.)

6 Esta carta foi publicada como um Apêndice à reimpressão de Paul S. L. Johnson do segundo volume de Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras] (Filadélfia, PA., E.U.A., 1937), pp. 367-382. Veja especialmente a p. 369.

7 "The Kingdom Is at Hand" [O Reino É Iminente] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1944), p. 175; The Watchtower, 1.º de Novembro de 1949, p. 326.

8 Este problema tinha sido notado logo em 1904, mas o erro nunca tinha sido corrigido. Veja The Watch Tower de 1.º de Dezembro de 1912, p. 377 (= Reprints, pp. 5141, 5142). Veja também acima, p. 53.

9 Veja The Watchtower de 1.º de Maio de 1952, p. 271. "Esta data", disse a The Watchtower de 1.º de Fevereiro de 1955, na página 94, "é tornada absoluta em virtude da descoberta arqueológica e decifração da famosa Crônica de Nabonido, que dá ela própria a data para a queda de Babilônia e cujo número os especialistas determinaram ser igual a 13 de Outubro de 539 A.C., segundo o calendário Juliano dos romanos."

10 The Watchtower, 1.º de Fevereiro de 1955, p. 94. (Ênfase acrescentada.) O livro "All Scripture Is Inspired by God and Beneficial" ["Toda a Escritura É Inspirada por Deus e Proveitosa"] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society of New York, Inc., 1963) designou similarmente 539 A.E.C. como a "Data Absoluta Para as Escrituras Hebraicas." (p. 282 [p. 271 na edição brasileira de 1966])

11 Por exemplo, a The Watchtower de 15 de Agosto de 1968, p. 490, declarou: "A fixação de 539 A.E.C. como sendo o ano quando este evento histórico ocorreu é baseada num documento de pedra conhecido como Crônica de Nabonido (Nabunaide)." (Ênfase acrescentada.) Compare também com The Watchtower de 1.º de Maio de 1968, p. 268.

12 The Watchtower, 15 de Maio de 1971, p. 316. Quando se descobriu que a Crônica de Nabonido não estabelece 539 A.E.C. como uma "data absoluta", este termo foi abandonado nas publicações da Watch Tower. Em Aid to Bible Understanding [Ajuda ao Entendimento da Bíblia], 539 é chamado "um ponto pivot" (p. 333 ["ponto fundamental" na p. 385 de Ajuda]), um termo também usado na edição revista de 1988. (Insight on the Scriptures, Vol. 1, p. 458 [Em Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, p. 613 chamam-lhe "ponto fixo".] Noutras vezes é simplesmente dito que "historiadores calculam" ou "sustentam" que Babilônia caiu em 539 A.E.C. -- Veja "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1981), pp. 136, 186.

13 The Watchtower, 15 de Maio de 1971, p. 316. (Ênfase acrescentada.) Esta declaração também foi incluída no dicionário bíblico da Watch Tower Society, Aid to Bible Understanding (1971) [Ajuda ao Entendimento da Bíblia (1982)], p. 328 [p. 319 na edição brasileira]. Ainda é mantida na edição revista de 1988 (Insight on the Scriptures, Vol. 1, p. 454 [Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, p. 608]).

14 Segundo o Cânon de Ptolomeu, Xerxes reinou durante 21 anos (485-464 A.E.C.) e Artaxerxes I reinou durante 41 anos (464-423 A.E.C.). Para ter o 20.º ano de Artaxerxes I fixado em 455 em vez de 445 A.E.C., a Sociedade estabelece o início do seu reino 10 anos antes, dando-lhe assim uma duração de 51 anos em vez de 41. Como isto deslocaria 10 anos para trás todas as datas anteriores a Artaxerxes I, incluindo a data para a queda de Babilônia, a Sociedade subtraiu 10 anos ao reinado de Xerxes, dando-lhe uma duração de 11 anos em vez de 21! A única razão para estas mudanças é que elas são necessárias para a aplicação particular da Sociedade a respeito das "setenta semanas" de Daniel 9:24-27. Esta aplicação foi originalmente sugerida pelo teólogo jesuíta Dionysius Petavius em De Doctrina Temporum, um trabalho publicado em 1627. Muitos outros adoptaram a ideia, incluindo o arcebispo anglicano James Ussher no mesmo século. Em 1832 o teólogo alemão E. W. Hengstenberg incluiu uma longa defesa dessa aplicação no seu bem conhecido trabalho Christologie des Alten Testaments. Contudo, depois desse tempo a data tem sido completamente demolida por descobertas arqueológicas. Conforme será demonstrado num estudo separado, as mudanças dos reinados de Xerxes e Artaxerxes I estão em conflito direto com numerosos documentos históricos do período.

15 Awake!, 8 de Maio de 1972, p. 26.

16 Elias J. Bickerman, Chronology of the Ancient World [Cronologia do Mundo Antigo], edição revista (Londres: Thames and Hudson, 1980), p. 75.

17 Alan E. Samuel, Greek and Roman Chronology [Cronologia Grega e Romana] (München: C. H. Beck'sche Verlagsbuchhandlung, 1972), p. 189.

18 A. E. Samuel, op. cit., p. 189.

19 Ibid., p. 190.

20 Ibid., p. 190. Bickerman (op. cit., p. 75) concorda: "A exatidão da parte mais antiga da lista dos vencedores Olímpicos, que começa em 776 AC, é duvidosa."

21 The Ante-Nicene Fathers [Os Pais Ante-Niceanos], ed. A. Roberts e J. Donaldson, Vol. VI (Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., reimpressão de 1978), p. 135.

22 Karl Burganger, The Watch Tower Society and Absolute Chronology [A Sociedade Torre de Vigia e a Cronologia Absoluta] (Lethbridge, Canadá: Christian Koinonia International, 1981), pp. 7-20. Veja acima, p. 70, nota 100.

23 Este texto, que é designado Strm. Kambys. 400, não é exatamente um "diário" em sentido estrito, embora esteja relacionado de perto com este grupo de textos.

24 Insight on the Scriptures [Estudo Perspicaz das Escrituras], Vol. 1 (Brooklyn, Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society of New York, Inc., 1988), p. 453 [p. 607 na edição brasileira de 1990].

25 Ibid., p. 453 [p. 607 na edição brasileira].

26 Franz Xaver Kugler, "Eine rätselvolle astronomische Keilinschrift (Strm. Kambys. 400)", Zeitschrift für Assyriologie, Vol. 17 (Strasburg: Verlag von Karl J. Trübner, 1903), p. 203. Para uma transcrição e tradução do texto, veja F. X. Kugler, Sternkunde und Sterndienst in Babel, Buch I (Münster in Westfalen: Aschendorffsche Verlagsbuchhandlung, 1907), pp. 61-75.

27 Apesar dos problemas que texto tem, acredita-se que os dois eclipses lunares citados pela Sociedade se baseiam em observações verdadeiras. (Kugler, ibid., pp. 73, 74) Por essa razão, a tabuinha parece estabelecer que o sétimo ano de Cambises foi 523/522 A.E.C. O Professor Robert R. Newton, que examinou a informação astronômica no texto muito cuidadosamente, concluiu: "A situação mais provável é que o ano seja -522/-521 [= 523/522 A.E.C.] e que existam alguns erros de escriba no registo. Ainda assim, a confirmação do ano não é tão forte como nós gostaríamos." -- R. R. Newton, The Crime of Claudius Ptolemy [O Crime de Cláudio Ptolemeu] (Baltimore e Londres: The Johns Hopkins University Press, 1977, p. 375.) (Veja também as edições anteriores de The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados], Capítulo 2, nota 1.)

28 R. Campbell Thompson, "The New Babylonian Empire" [O Novo Império Babilônico], The Cambridge Ancient History [História Antiga de Cambridge] ed. J. B. Bury, S. A. Cook, F. E. Adcock, Vol. III (Cambridge University Press, 1925), p. 224, nota 1.

29 O "19.º" ano aqui evidentemente corresponde ao "18.º" ano segundo o sistema babilônico de contar anos de reinado dos reis. Na Assíria e na Babilônia, o ano em que um rei chegava ao poder era contado como o seu "ano de ascensão", ao passo que o seu primeiro ano começava sempre em 1 de Nisã, o primeiro dia do ano seguinte. Conforme será discutido adiante, Judá neste tempo não aplicava o "sistema do ano de ascensão", em vez disso contava o ano de ascensão como sendo o primeiro ano. Veja o Apêndice para o Capítulo 2.

30 Veja a nota 3.


Notas do Capítulo 7

1 Vários anos antes de o tratado ser enviado para a sede em Brooklyn, alguns membros da equipa de redacção tinham começado a ver as fragilidades das interpretações proféticas ligadas à data 1914. Estes incluíam Edward Dunlap, ex-secretário da Escola de Gileade, e o membro do Corpo Governante Raymond Franz. Estes investigadores, por essa razão, concordavam com a conclusão de que a data 607 A.E.C. para a destruição de Jerusalém é cronologicamente insustentável. Outras pessoas da equipa de redacção, que também leram o tratado, compreenderam que a data 607 A.E.C. tinha uma séria falta de apoio na história e começaram a sentir sérias dúvidas sobre a data. (A equipa de redacção nesse tempo incluía cerca de 18 membros.) Até o membro do Corpo Governante Lyman Swingle se expressou perante outros membros do Corpo, dizendo que a organização Watch Tower tinha obtido a data 1914 (que depende da data 607 A.E.C.) inteiramente do Segundo Adventismo. Contudo, as tentativas de Raymond Franz e de Lyman Swingle de trazer a evidência para a discussão pelo Corpo Governante tiveram uma resposta desfavorável. Os outros membros do Corpo não acharam apropriado discutir o assunto, mas decidiram continuar a advogar a data 1914. -- Veja Raymond Franz, Crisis of Conscience [Crise de Consciência] (Atlanta: Commentary Press, 1983 e edições posteriores), pp. 140-143, 214-216.

2 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1981), pp. 186-190. O livro foi escrito pelo membro do Corpo Governante Lloyd Barry. O "Apêndice ao Capítulo 14", contudo, foi escrito por outra pessoa, possivelmente Gene Smalley, um membro da equipa de redacção. O "trabalho de cortar pedra" provavelmente foi feito por John Albu, um perito Testemunha, de Nova Iorque. Segundo Raymond Franz, Albu especializou-se em cronologia Neo-Babilónica no interesse da Watch Tower Society e fez alguma pesquisa em relação com o meu tratado, a pedido do Departamento de Redacção.

3 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"] (Nova Iorque: Watchtower Bible and Tract Society, 1981), p. 186.

4 Ibid., p. 187.

5 O diário astronómico B.M. 32312 é discutido no Capítulo 4, secção A-2 [pp. 165-168], do presente volume. Na primeira edição (1983), a discussão encontra-se nas pp. 83-86.

6 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 187.

7 Ibid., p. 187.

8 A. K. Grayson, "Assyria and Babylonia" ["Assíria e Babilónia"], Orientalia, Vol. 49:2, 1980, p. 171.

9 Ibid., pp. 170, 171.

10 Ibid., pp. 175.

11 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 187.

12 Isto foi extensivamente demonstrado anteriormente no Capítulo 2.

13 Conforme foi dito anteriormente, no Capítulo 2, desde 1955 até cerca de 1971, a data 539 era classificada como "data absoluta" nas publicações da Watch Tower. Quando se descobriu que esta data não tinha o apoio que os peritos da Watch Tower imaginavam, eles abandonaram este termo. Em Ajuda ao Entendimento da Bíblia, página 385 (= Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1, p. 613), a data 539 é considerada um "ponto fundamental" [N. do T.: no Perspicaz, chamam-lhe "ponto fixo".] E no "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], é apenas dito que "historiadores calculam", "sustentam" ou "aceitam" que Babilónia caiu em Outubro de 539 A.E.C. (pp. 136, 186, 189). Ainda assim, a Sociedade ainda 'ancora' a sua "cronologia bíblica" sobre esta data.

14 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 187.

15 Carta recebida do Dr. Edward F. Campbell, Jr., datada de 9 de Agosto de 1981. O motivo da incerteza entre os peritos quanto a se a destruição de Jerusalém ocorreu em 587 ou em 586 A.E.C. deve-se à Bíblia, não provém de fontes extra-bíblicas. Todos os peritos concordam em datar o décimo oitavo ano do reinado de Nabucodonosor como sendo 587/86 A.E.C. (de Nisã a Nisã). A Bíblia data a desolação como ocorrendo no décimo nono ano de reinado de Nabucodonosor em 2 Reis 25:8 e Jeremias 52:12 (sendo esta passagem uma repetição quase literal daquela), mas em Jeremias 52:29 diz que foi no décimo oitavo ano. Esta discrepância pode ser resolvida se for postulado para os reis de Judá um sistema não-ascensional. (Veja a secção "Métodos de reconhecimento dos anos de reinado", no Apêndice para o Capítulo 2, adiante). A data 597 A.E.C. para a anterior captura de Jerusalém e a deportação de Jeoiaquim, diz o Dr. Campbell, é uma das poucas datas históricas reconhecidas pelos peritos. O motivo é o sincronismo exacto entre a Bíblia e a Cronologia Babilónica neste ponto.--Veja as duas secções "O 'terceiro ano de Jeoiaquim' (Daniel 1:1-2)" e "Tabelas cronológicas abrangendo os setenta anos," no Apêndice para o Capítulo 5, adiante.

16 Carta recebida do Dr. David N. Freedman, datada de 16 de Agosto de 1981.

17 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 188-190.

18 Ibid., p. 188.

19 Veja a secção "O 'terceiro ano de Jeoiaquim' (Daniel 1:1-2)" no Apêndice para o Capítulo 5, adiante [p. 335].

20 A. K. Grayson, Assyrian and Babylonian Chronicles [Crónicas Assírias e Babilónicas] (Locust Valley, New York: J. J. Augustin Publisher, 1975), p. 100.

21 Gerhard Larsson, "When did the Babylonian Captivity Begin?," Journal of Theological Studies [Jornal de Estudos Teológicos], Vol. 18 (1967), p. 420.

22 A. K. Grayson, op. cit., p. 102. (Ênfase acrescentada.)

23 "Venha o Teu Reino", p. 188.

24 Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1 (1990), p. 467.

25 New Bible Dictionary [Novo Dicionário Bíblico], 2.ª edição, ed. por J. D. Douglas et al (Leicester, England: Inter-Varsity Press, 1982), p. 630.

26 Veja a discussão de Albertus Pieters em From the Pyramids to Paul [Das Pirâmides a Paulo] (New York: Thomas Nelson and Sons, 1935), pp. 184-189.

27 "Venha o Teu Reino", p. 188, citando Antiquities of the Jews X, vi, 1, de Josefo.

28 Ernst Wilhelm Hengstenberg, Die Authentie des Daniels und die Integrität des Sacharjah (Berlim, 1831), p. 57. Traduzido do [inglês, que foi traduzido do] alemão.

29 Josefo menciona os setenta anos cinco vezes nas suas obras, nomeadamente, em Antiquities [Antiguidades Judaicas] X, 6, 3; X, 9, 7; XI, 1, 1; XX, 10, 2; e Against Apion [Contra Apion], I, 19. Nestas passagens os setenta anos são referidos indistintamente como um período de escravidão, catividade, ou desolação, estendendo-se desde a destruição de Jerusalém até ao primeiro ano de Ciro.

30 O texto da obra Against Apion [Contra Apion] I, 21, de Josefo, é aqui citado a partir da tradução de H. St. Thackeray, publicada no Loeb Classical Library (Cambridge, Massachusetts, e Londres, Inglaterra: Harvard University Press, reimpressão de 1993 da edição de 1926), pp. 224-225. Alguns defensores da cronologia da Sociedade Torre de Vigia alegam que existe um problema textual com os "cinquenta anos", dizendo que alguns manuscritos têm "setenta anos" em vez de "cinquenta", em I, 21, que alguns peritos anteriores julgavam ser possivelmente uma corrupção de "setenta". Contudo, críticos textuais modernos demonstraram que essa conclusão está errada. Mostrou-se que todos os manuscritos gregos remanescentes de Against Apion [Contra Apion] são cópias posteriores de um manuscrito grego do século XI E.C., Laurentianus 69, 22. Todos os peritos modernos concordam que o número "sete" está corrompido nestes manuscritos. Mais ainda, é defendido universalmente por todos os modernos críticos textuais que as testemunhas melhores e mais dignas de confiança do texto original de Against Apion [Contra Apion] encontram-se nas citações que os Pais da Igreja fizeram desse texto, especialmente Eusébio, que faz longas citações, geralmente de forma literal e fiel, das obras de Josefo. Against Apion [Contra Apion] I, 21 é citado em duas obras de Eusébio: (1) na sua Preparation for the Gospel [Preparação para o Evangelho], I, 550, 18-22, e (2) na sua Chronicle [Crónica] (preservada apenas numa versão arménia), 24,29-25,5. Estas duas obras têm "50 anos" em I, 21. Destas duas obras, a mais importante é a primeira, da qual foram preservados vários manuscritos desde o século X em diante.

Todas as edições críticas modernas do texto grego de Against Apion [Contra Apion] têm "cinquenta" (em grego: pentêkonta) em Against Apion [Contra Apion] I, 21, incluindo as edições de B. Niese (1889), S. A. Naber (1896), H. St. Thackeray & L. Blum (1930). A edição crítica de Niese do texto grego de Against Apion [Contra Apion] ainda é vista como a edição standard, e todas as edições posteriores são baseadas nesse texto, ou são melhoramentos. Uma nova edição crítica textual de todas as obras de Josefo está a ser preparada presentemente pelo Dr. Heintz Schreckenberg, mas provavelmente ainda demorará muitos anos antes de estar pronta para publicação.

Finalmente, deve-se notar que a declaração de Josefo acerca dos "cinquenta anos" em Against Apion [Contra Apion] I, 21, é precedida da sua apresentação dos números de Beroso respeitantes aos reinados dos reis neo-babilónicos, e estes números mostram que houve um período de cinquenta anos, e não setenta, desde o 18.º ano de Nabucodonosor até ao segundo ano de Ciro. O próprio Josefo enfatisa que os números de Beroso são "tanto correctos como estão em harmonia com os nossos livros." Portanto, o contexto também obriga que a expressão correcta em Against Apion [Contra Apion] I, 21 seja "cinquenta anos".

31 Josephus' Complete Works [Obras Completas de Josefo] traduzido por William Whiston (Grand Rapids: Kregel Publications, 1978), pp. 678-708. A tradução de Whiston foi originalmente publicada em 1737.

32 Ibid., p. 684, § 14.

33 Ibid., p. 686, § 19.

34 Ibid., pp. 688, 689, § 23.

35 Against Apion [Contra Apion] I, 20-21.

36 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 189.

37 Sobre a aplicação que Teófilo faz dos setenta anos, veja A. Roberts e J. Donaldson, eds., The Ante-Nicene Fathers [Os Pais Ante-Niceanos], Vol. 2 (Grand Rapids: Wm. Eerdmans Publishing Co., reimpressão de 1979), p. 119. Provavelmente Teófilo baseou a sua data para o fim dos setenta anos em Esdras 4:24, confundindo Dario Histaspes com "Dario o Medo" de Daniel 5:31 e 9:1-2.

38 Ibid., p. 329. Esta aplicação dos setenta anos pode ter sido influenciada pelos pontos de vista rabínicos. Referindo-se à crónica rabínica Seder Olam Rabbah (SOR), o Dr. Jeremy Hughes indica que "a tradição judaica posterior reconhecia 52 anos para o exílio Babilónico (SOR 27) e 70 anos para o intervalo entre a destruição do primeiro templo e a fundação do segundo templo, apresentando como data para este evento o segundo ano de Dario (SOR 28; cf. Zc 1.12)." O período de 70 anos era "dividido em 52 anos de exílio e 18 anos desde o regresso até à fundação do segundo templo (SOR 29)." -- Jeremy Hughes, Secrets of the Times [Segredos dos Tempos] (Sheffield: JSOT Press, 1990, pp. 41 e 257.)

39 Conforme se mostra no Apêndice para o Capítulo 5, "O 'terceiro ano de Jeoiaquim' (Daniel 1:1-2)" [p. 335 e seguintes], estes textos também incluem Daniel 1:1-2 e 2:1.

40 Para uma discussão completa dos textos relacionados com os setenta anos, veja o Capítulo 5 [pp. 191-236] do presente trabalho.

41 "Let Your Kingdom Come" ["Venha o Teu Reino"], p. 189.

42 Ibid., p. 189.

43 Ibid.

44 A maioria dos comentadores considera que os setenta anos terminaram com a queda de Babilónia em 539 A.E.C., ou com o decreto de Ciro em 538, ou com o regresso do primeiro restante de judeus à palestina em 538 ou 537 (Esdras 3:1-2), ou com o início da reconstrução do templo em 536 (Esdras 3:8-10). (Cf. Professor J. Barton Payne, Encyclopedia of Biblical Prophecy [Enciclopédia de Profecia Bíblica], Grand Rapids: Baker Books, reimpressão feita em 1980 da edição de 1973, p. 339.) Curiosamente, estas alternativas (excepto a própria data 537 A.E.C. que a Sociedade Torre de Vigia defende) nem sequer são mencionadas no "Apêndice" do livro "Venha o Teu Reino"!

45 "Venha o Teu Reino", p. 190.

46 The Watchtower [A Sentinela], 1.º de Novembro de 1986, p. 6. (Ênfase acrescentada.) Uma referência similar ao "Apêndice" encontra-se na Watchtower [Sentinela] de 15 de Março de 1989, p. 22.

47 Segundo a informação que tenho, John Albu, de Nova Iorque, é provavelmente o cronologista da Torre de Vigia que tem mais conhecimentos sobre a história neo-babilónica. Disseram-me que ele preparou algum material em defesa da data 607 A.E.C., mas até agora esse material não chegou à minha atenção.

48 Como mais tarde descobri que Furuli continuou a divulgar o seu tratado junto de Testemunhas que tinham começado a questionar a cronologia da Sociedade, não vi razão para parar a circulação da minha resposta a esse tratado.

Um ponto principal na argumentação de Furuli era que as datas em alguns documentos cuneiformes da era neo-babilónica criavam "sobreposições" de alguns meses entre alguns dos reinados, que ele encarava como prova de que anos extra tinham de ser adicionados a estes reinados. Estas "sobreposições" são discutidas no Apêndice para o capítulo 3 do presente trabalho [pp. 323-329].

49 Os comentários mais importantes sobre o texto hebraico das passagens relativas aos setenta anos foram incluídos no capítulo 5 do presente trabalho, nas secções A-1, B-1, B-2, C-3 e E-1. Para comentários sobre o texto de Jeremias na LXX, veja a nota 8 do mesmo capítulo. -- Para aqueles que leram os dois tratados de Rolf Furuli e lêem sueco, as minhas respostas (93+69 páginas) estão disponíveis por uma quantia que cobre custos de cópia e de envio. O endereço é: Box 14037, S-400 20 Göteborg, Sweden.

50 Isto também me foi confirmado pelo Professor John A. Brinkman da Universidade de Chicago, autor de uma carta dirigida a Couture que fora incluída no tratado (com o nome do destinatário removido).

51 William MacCarthy, 1914 and Christ's Second Coming [1914 e a Segunda Vinda de Cristo] (Washington, D.C.: Review and Herald Publishing Association, 1975).

52 Um exemplo disto é a sua discussão do eclipse lunar de 13 de Ululu do segundo ano de Nabonido, descrito na inscrição real Nabon. No. 18, que os astrónomos modernos identificaram com o que ocorreu em 26 de Setembro de 554 A.E.C. (Este eclipse é discutido no Capítulo 3 do presente trabalho, secção B-1-c [p. 108 e seguintes].) Na página 11 do seu tratado, Couture alega que "poucos anos em qualquer das direcções existem outros eclipses lunares que são igualmente possíveis." Mas em nenhum dos seis eclipses alternativos apresentados por Couture (datando desde 563 até 543 A.E.C.) a lua se posicionou de forma a emergir da luz do sol, como é declarado explicitamente na inscrição, e três deles nem sequer são visíveis em Babilónia! Esse tipo de erros revela que Couture, pelo menos na época em que escreveu o seu tratado, não sabia como calcular e identificar eclipses lunares da antiguidade.

53 para os leitores que leram o tratado de Couture e estão interessados na minha resposta, uma refutação separada, detalhada, está disponível por uma quantia que cobre custos de cópia e de envio.

54 Um exemplo disto é um livro de 136 páginas escrito por Charles F. Redeker, The Biblical 70 Years. A Look at the Exile and Desolation Periods [Os 70 Anos Bíblicos. Um Olhar Sobre os Períodos do Exílio e da Desolação] (Southfield, Michigan: Zions Tower of the Morning, 1993). Redeker é membro dos Dawn Bible Students [Estudantes da Bíblia da Aurora], um ramo conservador de Estudantes da Bíblia, dissidente da organização Torre de Vigia, formado no início da década de 1930 em reacção às muitas mudanças nos ensinos de Russell introduzidas pelo segundo presidente da Torre de Vigia, Joseph F. Rutherford.


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