As Testemunhas de Jeová São Uma Seita?

Chester Harris

O termo "seita" assumiu uma definição muito negativa para a maioria das pessoas. Acusar alguém de pertencer a uma seita provavelmente irá insultá-lo. Identificar candidatos dignos para esta palavra insultuosa é um exercício bastante subjetivo -- um facto muitas vezes ignorado por aqueles que a usam livremente. A religião da Torre de Vigia foi acusada inúmeras vezes e por inúmeras pessoas de ser uma seita. Em muitos casos, os acusadores ignoravam as crenças da Torre de Vigia, o que praticamente anula a sua acusação. Se pressionados, muitos deles teriam dificuldade em definir "seita" de forma a evitar a inclusão da sua própria religião.

As Testemunhas de Jeová não! As Testemunhas de Jeová estão completamente equipadas para definir este termo, graças aos seus pensadores em Brooklyn. Qualquer um pode provar isso perguntando à próxima Testemunha de Jeová que bater à sua porta para fornecer uma definição para esta palavra. Se a Testemunha de Jeová fornecer uma definição improvisada, como a maioria das pessoas faria, provavelmente será possível mostrar-lhe que a sua definição é seriamente falha pelo preconceito, ou que ela acabou de definir a sua própria religião, ou ambas. Se, por outro lado, ela for uma Testemunha de Jeová experiente, talvez se lembre de que a "Mãe" forneceu tudo o que ele precisa para usar no serviço de campo e que deveria confiar nas definições dela. Ela irá até a 'santíssima' de todas as publicações da Torre de Vigia em busca de ajuda, o Índice de Publicações da Torre de Vigia.

Sua mão provavelmente alcançará primeiro o índice que cobre os anos 1930-1985, já que é o maior e contém mais informações. Em "Seita", ele encontra apenas três citações; mas o último parece promissor. A última citação diz: "Testemunhas de Jeová não são uma seita", e o remete à sua mais valiosa ferramenta para a pregação de porta em porta: o livro Raciocínios. Certamente, isto fornecerá a resposta segura para o morador curioso. Ou não?

Não-Ortodoxa

Raciocínios à Base das Escrituras, página 387, dá a definição de "seita" e "culto" da Sociedade Torre de Vigia. De acordo com esse manual, "Culto é uma religião dita não-ortodoxa ou que enfatiza a devoção de acordo com rituais prescritos." (ênfase acrescentada) Isso se enquadra na Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados? Apelo às Testemunhas: A Sentinela de 15 de Junho de 1984. A página 5 diz: "Todas essas igrejas [católica romana, anglicanas, luteranas, calvinistas (presbiteriana, reformada), batistas, metodistas, e outras], se consideram religiões "estabelecidas", "ortodoxas", e "respeitáveis"."

George D. Gangas disse, em A Sentinela de 15 de Junho de 1967, p. 381, que "a Igreja Ortodoxa a ensinava" [a doutrina do "inferno de fogo"]. Todas essas igrejas concordam doutrinariamente com a Sociedade Torre de Vigia? Dificilmente! Então, não é verdade que a religião da Torre de Vigia é "considerada não-ortodoxa" por todas estas igrejas? E a referência de George Gangas à crença da Igreja Ortodoxa na doutrina do fogo do inferno não exclui a religião Torre de Vigia das fileiras da ortodoxia? Alguém argumentará o contrário?

O livro Raciocínios afirma que "O padrão do que é ortodoxo, contudo, deve ser a Palavra de Deus" (p. 387). Isso é verdade -- não há argumento aí; mas isso não tem relação com a questão: "A Torre de Vigia é uma religião dita não-ortodoxa?" O leitor deve determinar por si mesmo se é mencionada como sendo não-ortodoxa.

Ritual

Além disso, de acordo com sua definição de "culto", as Testemunhas de Jeová 'enfatizam a devoção de acordo com o ritual prescrito' de bater às portas nas manhãs de sábado. Para responder àqueles que protestariam contra a aplicação da palavra "ritual" ao serviço de campo das Testemunhas de Jeová, a seguinte definição foi tirada do Webster's New Universal Unabridged Dictionary (Novo Dicionário Universal Não Abreviado de Webster): "ritual, n. 1. um conjunto de formas ou sistema de ritos, como no culto público". Bem, será que o serviço de campo se qualifica como um "rito"? Você decide. O Webster diz: "rito, n. 1. um ato, observância ou procedimento cerimonial ou formal e solene de acordo com uma regra ou costume prescrito, como no uso religioso." Novamente, o leitor pode determinar se o serviço de campo é um "procedimento de acordo com uma regra ou costume prescrito".

Líder Humano Vivo

O segundo critério no livro Raciocínios que as seitas devem verificar é que "Muitos cultos seguem um líder humano vivo [...]". A religião Torre de Vigia tem um "líder humano vivo"? O facto de a Sociedade Torre de Vigia ter um presidente sobre a sua corporação não prova por si só que tenha um "líder". Na verdade, a liderança é assumida por um grupo empresarial -- um "corpo governante". Este corpo é a figura de proa do "escravo fiel e discreto" da Torre de Vigia.

Sobre esse "escravo", a publicação da Torre de Vigia, Estudo Perspicaz das Escrituras, volume 1, diz na página 836:

«Mas isso [impossibilidade hipotética] não exige que o "escravo" aponte para apenas uma pessoa específica a ter um privilégio tão grande [a ponto de ser colocada sobre todos os pertences do senhor]. As Escrituras trazem exemplos do uso de uma palavra no singular para se referir a um grupo. Vemos um exemplo disso quando Jeová se dirigiu à nação de Israel e disse: "Vós sois as minhas testemunhas [plural], ... sim, meu servo [singular] a quem escolhi."»

Isso argumenta fortemente que o chamado "escravo fiel e discreto" é uma entidade singular. Funciona ostensivamente como uma unidade singular, cada membro em harmonia com todos os outros membros.

Estabelecida a sua singularidade funcional, surge a questão: "Será que este escravo funciona como líder das Testemunhas de Jeová?" Volumes foram escritos e distribuídos entre as Testemunhas de Jeová no esforço de inculcar nelas o conceito correto sobre seu escravo. Algumas destas muitas declarações serão suficientes para demonstrar que este "escravo" serve como líder da congregação mundial das Testemunhas de Jeová.

A Sentinela de 1.º de dezembro de 1982, p. 19, nos diz:

«Visto que Cristo Jesus é agora o entronizado Líder e Comandante de todos os que lutam a favor da verdade e da justiça, nós podemos unicamente 'aprender por observá-lo', assim como os 300 aprenderam por observar a Gideão. (Juízes 7:17) Mas, como é que podemos 'observar' hoje a Cristo, já que ele é invisível? Nós o 'observamos' no sentido de que discernimos os seus sinais conforme dados por intermédio do seu visível "escravo" designado sobre todos os interesses terrestres do seu reino. (Mateus 24:45-47) É por meio deste instrumento designado pelo espírito [o corpo governante] que suas diretrizes e sua estratégia são comunicadas a todos os seus "soldados".»

É uma conclusão aceita pelos cristãos que Cristo Jesus é o seu líder, mas qual é o propósito da declaração acima citada se não é para fazer com que as Testemunhas de Jeová olhem para a sua "classe escrava" como líder? Em outro lugar (A Sentinela de 1.º de agosto de 1982, p. 28), foi declarado: «Este "escravo fiel e discreto", associado com as Testemunhas de Jeová, deveras tem sido usado por Jeová Deus para guiar, fortalecer e orientar o Seu povo.» Pergunte a si mesmo: Qual é o propósito de um guia? Um guia não é para liderar? O que se espera que as Testemunhas de Jeová façam além de seguir este guia? É claro que em nenhum lugar A Sentinela declarou descaradamente: "Nós somos o seu líder, siga-nos", mas não é a intenção óbvia das afirmações acima citadas criar a impressão nas mentes das Testemunhas de Jeová fiéis de que sua "classe escrava" também é seu líder?

Peça a qualquer Testemunha de Jeová que lhe conte como Pedro respondeu a Jesus quando Jesus, em João 6:67, lhes perguntou: "Será que vocês também querem ir?" Fiz a mesma pergunta às Testemunhas de Jeová muitas vezes quando estava entre elas, e sempre obtive a mesma resposta. Pedro é sempre citado erroneamente como tendo dito: "Senhor, para onde iremos?" Por que você acha que parece ser um mal-entendido universal entre as Testemunhas de Jeová que Pedro tenha perguntado "para onde", em vez de "para quem"? Poderia ser, talvez, que A Sentinela tenha causado propositadamente este mal-entendido? Eu penso que sim. Um exemplo incriminatório de deturpação é encontrado na edição de 15 de agosto de 1981, p. 19. Aí está escrito:

«[...] os precedentes estabelecidos pela organização do "escravo fiel e discreto" nos mais de 100 anos passados obrigam-nos a chegar à conclusão que Pedro expressou quando Jesus perguntou se os seus apóstolos também queriam abandoná-lo, a saber: "Para quem havemos de ir?" (João 6:66-69) Não há dúvida sobre isso. Todos nós precisamos de ajuda para entender a Bíblia, e não podemos encontrar a orientação bíblica de que precisamos fora da organização do "escravo fiel e discreto".»

A pergunta de Pedro, justaposta ao comentário da Sentinela, perpetua a noção errada das Testemunhas de Jeová de que é para onde um cristão vai, e não para quem um cristão vai, que leva à satisfação espiritual e à salvação.

Acredito que as citações acima, vistas em conjunto, apoiam a acusação de que a Sociedade Torre de Vigia incorpora um "líder humano vivo". Alguns defensores ferrenhos da Sociedade Torre de Vigia poderão ter dificuldade em negar essa conclusão. Estas palavras, emprestadas do último artigo citado, na página 19, aplicam-se a eles: "Se estiver decidido a não crer, então nenhuma evidência o convencerá; porque quando alguém procura desculpas, sempre poderá encontrá-las, algumas razões plausíveis para não aceitar a responsabilidade que a crença traz para ele."

Isolamento da Sociedade

Retornando à definição de "culto" do livro Raciocínios (p. 387), encontramos o seguinte determinante: "é comum seus adeptos viverem em grupos, apartados do resto da sociedade." "Comum" é a palavra-chave aqui. "Comum" não é "sempre", então pouco esforço será gasto para demonstrar que as Testemunhas de Jeová se isolam da sociedade. Eles não se isolam geograficamente (exceto nos vários Betéis ao redor do mundo); mas eles se isolam de fato social e culturalmente.

Liberdade de Pensamento, Consciência e Religião

A Sociedade Torre de Vigia está começando a sentir o aperto. O número de 15 de fevereiro de 1994 da revista A Sentinela respondeu aos seus detratores com um artigo em duas partes, tentando contrariar a reação negativa que merecidamente está sofrendo. Algumas das suas declarações são revoltantes no seu grau de hipocrisia. Tomemos, por exemplo, a sua citação na página 6 do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Eles dizem: "declarava que as Testemunhas devem desfrutar liberdade de pensamento, consciência e religião, e que elas têm o direito de falar sobre sua fé e de ensiná-la a outros." Isso eles deveriam! A própria Sociedade Torre de Vigia é o maior obstáculo que os impede de fazer isso!

Vou oferecer um exemplo específico de sua hipocrisia. Tenho em meus arquivos uma carta datada de 14 de março de 1989, da Sociedade Torre de Vigia. Está endereçado a mim. Diz, em parte: "Você admitiu aos anciãos que, se não estivesse de acordo com a Sociedade em algumas coisas, teria de seguir a sua própria consciência." A Sociedade usou essa "admissão" (não era uma admissão; era uma forma de vangloriar!) como prova de que eu não estava mais apto para ser usado como um "ancião" na sua religião. Parece que eles estão me encorajando a "desfrutar da [minha própria] liberdade de pensamento, consciência e religião..."? Como isso se compara com a declaração na página 205 do Anuário das Testemunhas de Jeová de 1989: "Não obrigamos a ninguém a agir contra a sua consciência. Desejamos que as pessoas raciocinem à base das Escrituras, que é a maneira de chegarmos a conclusões corretas"? (ênfase acrescentada) Uma cópia da carta completa, citada acima, será enviada a qualquer pessoa que a solicite para verificação.

Todas as citações impressas acima foram fornecidas pela Sociedade Torre de Vigia, e não por qualquer um dos seus opositores. Jesus predisse:

"Eu lhes digo que os homens prestarão contas no Dia do Julgamento por toda declaração sem valor que fizerem; pois pelas suas palavras você será declarado justo e pelas suas palavras será condenado." (Mateus 12:36, 37)